Capítulo 1 - parte 3 (não revisado)

Daniel e a esposa surgiram em casa, rindo. Trocaram de roupa e entraram no carro, satisfeitos. No restaurante, foram atendidos com muita cortesia, como sempre pelo atencioso proprietário que sempre gostou muito dele, ainda mais depois que salvou o planeta dos pais. Antes mesmo de sentarem na mesa que era sempre reservada para si, deparam-se com o João e a noiva, muito perto um do outro, cheios de amor para dar e de olhos bem brilhantes.

– Ora, ora, vejam só o meu primo mais derretido do que um torrão de açúcar à chuva. – disse Daniel, sorrindo. – Quem te viu, quem te vê, João. O namorador nato mais fisgado que sei lá o quê.

O casal ergueu os olhos e a noiva deu uma risada. Sorriram para os amigos e João disse:

– Sentem-se conosco – apontou as cadeiras na frente. – A mesa é grande e estamos só nós.

– Não vamos atrapalhar? – perguntou o primo, debochado.

– Claro que não, tchê. Estávamos pensando no dia ideal para o casamento. Já que vocês dois vão ser os padrinhos, bem que poderiam ajudar.

– Que tal amanhã mesmo, cara? – pergunta o Daniel com um sorriso no rosto. – Não embroma, índio velho.

– Sem exageros, Dan – disse o primo, mais sério. – Acho que devemos planejar isso direito.

– Bah, cara – disse o imperador, debochado. – Vocês já praticamente vivem juntos na nave. Vocês é que sabem, mas vou avisando que é melhor acelerarem a coisa porque vejo tempestade pela frente e da bem grossa. Aproveitem o tempo que têm.

– O que queres dizer com isso, tchê? – perguntou o João, perplexo. – Não acabamos com os tantorianos?

– Sim, mas descobrimos por acaso, uma ameaça muito maior. Pode ser que nunca chegue até nós, ou irromper por aí, amanhã mesmo – explicou o primo, sério. – Acontece que esse angu é bem mais difícil de digerir do que os tantorianos.

– Que raio de ameaça é essa? – perguntou o João, incrédulo.

– Axturrs com tecnologia semelhante à centuriana. Quarenta naves derrubam a Jessy, mas agora não é hora de pensar nisso. Por isso, digo-vos: aproveitem bem o tempo que a paz não vai durar muito, infelizmente.

– Acho que vamos seguir o teu conselho, Dan – disse o João, pensativo. – Afinal eles sempre foram sábios. Por falar nisso, festival especial em dois dias... Taí. Que tal após o festival?

– Por mim tudo bem – disse a Daniela, com os olhos bastante brilhantes – Está ótimo após o festival, desde que não desafies o Daniel, senão fico viúva antes de casar.

Daniel arregalou os olhos e a esposa deu uma gargalhada debochada dos dois primos, enquanto João encolheu os ombros e abanou a cabeça.

– Bem, a verdade é que eu não estava lá muito bem , naquele dia, meu amor – explicou, meio sem jeito –, do contrário não faria essa besteira. No fundo era um ciúme terrível e tu nem tinhas culpa de nada.

Daniel, procurando minimizar os fatos daquele dia, disse:

– Nenhum de nós teve, irmãozinho. Não devemos pensar mais nisso.

– Por falar nisso – disse João –, a Bia quis ficar lá?

– Ela encontrou-se – disse o primo. – Está muito feliz e apaixonada.

– Sempre achei que ela fosse apaixonada por ti, Dan – disse a amiga. – Na verdade, quase todas as garotas da aula eram, embora fosses bem mais novo que a maior parte de nós.

– A Bia confessou, uma vez, que tinha uma forte atração por mim – disse Daniel, encolhendo os ombros. – Apenas aceitou a perda para a Jéssica e depois acabou ficando com o João. Quando eu e tu começamos a namorar, aconteceu essa bagunça toda. Ela aproveitou a situação e acabou rolando. Os dois estávamos tristes e solitários, mas era só físico e sabíamos disso. No entanto, ficamos muito, muito amigos um do outro.

– Caramba, que troca-troca, vocês os quatro, hein? – questiona a Daniela, rindo. – Pelo menos acabou tudo em família.

Os três fizeram uma careta e a imperatriz riu. Os pratos chegaram nesse momento e, por coincidência, aparecem a Srina e o Zulu.

– Sentem-se aqui com a gente – convidaram os amigos.

O casal sentou-se e a Daniela achou que a amiga parecia meio estranha. Apelando para a telepatia forma a não chamar a atenção, perguntou-lhe:

– "Está tudo bem Srina?"

– "Sinto-me esquisita. Meio enjoada" – respondeu ela. Não sei o que possa ser.

– "Alguma vez estiveste doente, Srina?" – perguntou a Daniela, pensativa. – "Apesar de a probabilidade ser muito baixa, poderias ter alguma infeção anterior ou algo novo aqui da Terra. Tens o gene em grau muito baixo, mas ele deve te proteger de muita coisa."

– "É provável porque nunca estive doente, mesmo em contato com pessoas doentes" – confirmou Srina.

– "Se te sentires pior, avisa-me que saltamos até à nave e fazemos uns exames rápidos."

– "Tá bom."

Conversaram e comeram mais um pouco, mas a doutora passou a observar a amiga com mais atenção. Daniela notou que a Srina, que adorava a comida chinesa, quase não comia, fazendo algumas caretas e isso também chamou a atenção do marido. Zulu não notou nada porque conversava animado com o João e a Daniela.

A ubrurana levantou-se para ir ao toilette e, no meio do caminho, sofreu uma tontura e caiu desmaiada. A Daniela estava de olho na amiga e deu um cutucão no braço do Daniel, enquanto se levantou e correu até ela ao mesmo tempo que ele também se levantou às pressas. Alertados, os outros viraram-se, assustados.

– "Vou levá-la para a nave" – transmitiu a esposa, pegando Srina ao colo e correndo para o sanitário de forma a não chamar a atenção para os seus dons.

– O que aconteceu? – perguntou o Zulu, desorientado.

– Vem, tchê – disse Daniel, puxando por ele. – Srina teve o desmaio e a Dani foi acudi-la. Vamos lá ver isso. João, segura as pontas que já voltamos.

Zulu acompanhou o Daniel até à porta do banheiro e entraram.

– Mas elas não estão aqu... – começou a dizer, sendo interrompido pelo amigo que o pega no braço.

– Claro que não estão. Estão na enfermaria – explicou transportando-os para a nave. – É apenas para não chamarmos demais a atenção.

Mal entraram na enfermaria, viram a Srina deitada no scanner e Zulu apressou o passo até à namorada. Pegou na sua mão e ela ensaiou um sorriso sem jeito. Nesse momento a Daniela desligou o aparelho e levantou-a com calma. A seguir deu uma ordem ao computador, selecionando um medicamento.

– O que ela tem? – perguntou o Zulu, preocupado.

– Nada – respondeu a médica, sorridente. – Absolutamente nada.

– Nada!? – exclamou o Daniel, confuso. – Meu amor, quem não tem nada, não sai por ai tendo desmaios.

– Depende – respondeu a esposa. – Quando se está grávida, sai sim. Parabéns Zulu e Srina.

– Mas nós só somos férteis após os vinte anos! – Corrigiu a garota, bastante atordoada com a notícia.

– Sim, mas tu és portadora de baixo grau – comentou a Daniela, pensativa. – Devíamos ter pensado nessa hipótese. Como o Zulu não é de primeira geração, acho que não há riscos para a criança; mas, como tu és uma incógnita, acho melhor tratá-la, já que, mal não fará.

Daniela recebeu o medicamento de um robô e aplicou na amiga, continuando.

– Isto vai estabilizar a tua pressão e também eliminará os enjoos. Queres voltar ao restaurante? Não passarás mal de novo.

– Confesso que estou com fome e já me sinto muito bem – disse, sorrindo.

– Então vamos. Precisas de te alimentar bem, especialmente agora.

Os quatro reaparecem no sanitário e voltaram para a mesa com uma Srina radiante. Nesse meio tempo, Daniel perguntou:

– "Dani, já pensaste na hipótese de não ser do Zulu?" – olhou para ela. – "Aquela tua brincadeirinha..."

– "Não te preocupes fiz um exame médico completo nela bem depois daquilo. O meu pai queria um quadro geral dela e do irmão. Era tão minucioso que teria detetado. O filho é do Zulu, de certeza" – respondeu, interrompendo.

– Mas afinal, o que ela tem? – perguntou a Daniela, curiosa.

– Nada – respondeu a homônima.

– Estou grávida, só isso – contou a Srina alegre.

– Xi, mais uma!

– Mais uma, como? - perguntou Daniel, ressabiado.

– Eu e a Daniela cometemos um pequeno descuido – explicou o João, olhando para a noiva.

– Minha nossa, – disse o Daniel, assobiando, – Quanto bebê vem por aí.

– Apenas dois! – disse joão, sem entender o comentário. – Não é tanto assim.

A Srina deu logo uma risada e o João entendeu ainda menos, olhando ora para um, ora para o outro.

– Cinco, meus amigos, cinco – respondeu o Daniel.

– CINCO?! – perguntaram João e Daniela ao mesmo tempo.

– Nós também nos descuidamos – explicou o Daniel. – E a Bia também.

– Podes ser o maior especialista em matemática do Universo inteiro, mas, de aritmética, és um desastre. Isso, meu caro, são quatro bebês. – João deu uma risada. – Apenas quatro.

– Eu vou ganhar uma irmã. Cinco.

– Santo Deus! Uma priminha, tri legal – disse o João, felicíssimo pois era ainda mais perdido por crianças do que o primo.

O resto do jantar foi em paz e alegria. Após a sobremesa, Daniel disse:

– Gente, nós vamos para casa que eu preciso dormir. – Levantou-se e acenou para todos. – Estou praticamente no limite.

– Então continua por aqui e quem sabe eu te derroto no festival, bebê – brincou o João.

– Mas que tremendo cara de pau – disse o primo. – tchau, gente.

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