Capítulo 1 - parte 1 (não revisado)
Daniel acompanhava com cautela o voo da nave. Ainda não haviam feito a façanha de rebocar outra espaçonave pelo espaço intermediário, mas o campo energético de subespaço operava com perfeição, envolvendo ambas as esferas, apesar de consumir alguma energia adicional. Mesmo assim, achou prudente pedir ao comandante Nobuntu que usasse uma velocidade moderada. Ao seu lado, o cientista Lafita tinha as mesmas preocupações, mas também não perdia um só detalhe do que acontecia na sala de comando da nave gigantesca, impressionado com a aparente simplicidade que era conduzir a monstruosidade onde estava. As naves lafitas também tinham uma tecnologia muito avançada, mas os solarianos possuíam recursos que o impressionavam, em especial a criatividade de usar controles virtuais, por exemplo.
Em uma das telas, via a sua nave de pesquisas, uma esfera de cento e cinquenta metros de diâmetro, mas que parecia pequena ao lado dos solarianos. No fundo, sentiu-se feliz porque, no meio de tamanho revés, conheceu um povo novo que prometia ser um grande amigo dos lafitas em um futuro próximo.
Pelas vigias da proa, um janelão de algum tipo de material aparentado com o vidro, observava o espaço cuja aparência era muito diferente por causa do método de transporte que os humanos usavam. Era tudo meio cinza-leitoso, só que uma estrela azul crescia devagar bem à frente. Ele tinha a certeza de que era por causa do efeito dopler, mas isso não lhe revelava nada sobre o destino deles. Por isso, virou-se para o novo amigo e perguntou:
– Como é a sua estrela? – apontou com o nariz. – Por causa da velocidade fica impossível ter uma noção.
– É uma estrela de classe G2 – respondeu ele, usando as unidades centurianas. – É lá que fica o mundo mais belo do Império.
– Nesse caso, somos de estrelas similares – disse o cientista, sorrindo. – O nosso sol também é dessa categoria. É engraçado, mas este setor da Galáxia é-nos desconhecido. Estou satisfeito de vocês terem aparecido.
– Também fiquei muito feliz com isso, comandante Infrime, apesar das circunstâncias negativas que os envolveram.
– Atenção à tripulação – disse Nobuntu. – Cinco minutos para chegarmos aos limites do sistema solar. Piloto, preparar redução de velocidade para cem c na órbita de Urano.
– Confirmado, comandante.
Infrime preferiu ficar calado e avaliar como os solarianos se comportavam na nave. De cara já notara que eram muito precisos e seguros, além de organizados. Foram bem poucas as vezes que presenciou uma ordem direta, como se cada um soubesse com precisão o que deveria fazer, o que era de fato verdadeiro.
Notou, também, que a tela tridimensional gigante que ocupava o centro da ponte em forma holográfica e a menor na frente das janelas passou a mostrar o mapa do sistema em que o terceiro planeta, do outro lado do sol, estava destacado em vermelho. Nesse preciso momento, viu o surgimento de inúmeros pontos no mapa e concluiu que deviam ser naves, comprovado pelo comandante que disse:
– Atenção que hoje há muito tráfego no espaço. Irradiem o código de identificação e reduzam mais a velocidade. Cinquenta c até à órbita de marte e dez até à lua. Avisar os selenitas da nossa chegada.
– Sim comandante – responderam os envolvidos na ordem. Enquanto o piloto reduziu mais a velocidade, o oficial de comunicações tratou de contatar a base na lua.
O comandante lafita notou que a tripulação parecia mais descontraída à medida que se aproximava do destino.
– Comandante, a base lunar manda as boas vindas e informa que está tudo em paz por lá. Já está conosco no radar e abrirão uma janela prioritária passando o vetor no momento oportuno. Só não entendi por que raio ele perguntou ser era sua majestade que pilotava a nave!
Nobuntu irrompeu em uma gargalhada, seguido do Daniel, que sacudiu a cabeça.
– É que certa vez o Almirante deu-lhe um grande susto, muito grande mesmo, e parece que o infeliz ficou traumatizado.
– Até imagino o que seja – disse a operadora, rindo. – Bem, acho que podemos deixar o sujeito na dúvida, então.
– Com certeza – disse Nobuntou. – Tempo?
– Dois minutos para Marte – respondeu o navegador. – A Terra está do outro lado e levará mais dez minutos.
– O senhor tem pressa, Almirante? – perguntou Nobuntu, olhando para Daniel com o olhar de quem quer aprontar. – Se estiver, manterei a velocidade.
– Acho que posso aguentar mais doze minutos, coronel – respondeu Daniel, brincalhão. – Não queremos que o nosso amigo selenita volte a ficar nervoso. Além do mais, temos bem um milhar de naves perto da Terra.
– Tem razão, Almirante – respondeu Nobuntu. A seguir, ergueu a voz e disse. – Nobuntu para a tripulação. Em onze minutos e meio estaremos orbitando a Terra. Preparem-se para o pouso.
O silêncio voltou e Infrime tratou de prestar atenção aos detalhes da aproximação, notando como o olhar de alguns tripulantes para o seu mundo era de pura devoção.
– Atenção, dez segundos para atmosfera. Desativar jatopropulsores em cinco, quatro, três, dois um, marque. Queda livre. Anti-gravidade em ponto nove g.
Agora Infrime via os oceanos e começou a entender tanto amor por aquele mundo, tão belo. Começaram a se aproximar de um continente e mudaram o rumo de forma suave, quase imperceptível.
Quando a altura se tornou baixa, ele viu a cidade e ficou fascinado com tamanha beleza. Era como se toda ela fosse um grande jardim. Ele viu um espaçoporto grande, mas a nave desviou mais para o sul. Infrime adorava as telas da nave gigante porque podia olhar em toda a volta, incluindo para baixo, parecendo que a sala de comando estava a flutuar no ar, transparente. Logo ele viu um bosque artificial cercado de jardins e prédios muito belos, parecendo que era ali o destino deles. Segundos depois, ele viu outros espaçoporto e também notou a que a nave alterou o rumo para ele, descobrindo que chegou ao seu destino.
― ☼ ―
Efeito dopler é uma alteração na percepção de um objeto quando ele está em movimento. No caso do som, quando se aproxima fica mais agudo e, quando se afasta, fica grave. Com a luz, o desvio é para o azul ou o vermelho e as velocidades precisam de ser muito mais elevadas.
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