Capítulo 8 - parte 3 (não revisado)

– Coronel Nobuntu, há uma forte perturbação energética aqui perto – disse o navegador. – Mesmo no espaço intermediário dá para sentir.

– Observatório – pediu Nobuntu. – Alguma coisa?

– Perturbações fortes que têm assinaturas de armas térmicas, senhor. Muito potentes, se me permite a observação.

– Distância?

– Um ano-luz, no máximo – respondeu o oficial. – Não é possível ser muito preciso nesta velocidade.

– A que distância estamos da Terra?

– Cerca de mil parsecs.

– Demasiado perto – comentou Nobuntu. – Reduzam a velocidade e aproximem-se. Há alguma nave nossa aqui perto?

– Não, senhor. – respondeu o navegador. – A frota está toda no Império, exceto as naves que ficaram no sistema de Tantor e as da força de libertação, da coronel Anjuska. Aquilo parece uma batalha espacial.

– Pré-alarme na nave.

Sirenes soaram em toda a nave ao mesmo tempo que luzes amarelas piscavam em alguns lugares. Todas as claraboias foram fechadas por placa de um metal duríssimo e deram lugar a imagens holográficas de três dimensões tão perfeitas quanto seria a visão normal. A engenharia ativou todos os reatores ao máximo mas deixaram o campo de super-carga desativado. Trinta segundos depois, o Daniel apareceu na ponte.

– Relatório.

– Distúrbios energéticos aqui perto, senhor – disse Nobuntu, olhando as telas. – Parece ser uma batalha e estamos perto demais do Império para ignorar.

– Emergir nas proximidades – ordenou. – Dois milhões de quilômetros.

A enorme nave emergiu como ordenado. Nesse momento o Daniel pai chegou acompanhado do almirante Leônida. Eles viram nas telas uma nave em forma de pirâmide de cerca de quinhentos metros de lado atacando uma nave esférica que tinha pouco mais de cento e cinquenta metros. Sem mudar o rumo, a Dani deslocava-se para o meio da refrega à velocidade da luz.

– Parar a nave e tentar comunicação – ordenou Nobuntou, já que Daniel não se manifestou. – A nave esférica parece estar bastante danificada. Artilharia, prontidão máxima.

– Artilharia completa e pronta, senhor.

Nesse momento, os tiros cessaram e a piramide voltou-se na direção da Dani.

– Tentar contato – disse o Daniel, apreensivo. – Apesar da nave parecer centuriana, acho que teremos uma surpresa e não será agradável, abram um canal. Tentarei falar em centuriano.

Mal o Daniel começou a falar, antes mesmo da imagem se formar, dez raios térmicos atingiram os campos de força da nave. Cada raio tinha nada menos de um metro de diâmetro.

– "O campo energético foi solicitado a três por cento de potência, senhor – disse um dos oficiais. – São muito fortes.

– Erguer o campo de supercarga – ordenou Daniel. – Observatório. Manter olho na nave esférica.

– Atenção, disse o imperador para o rádio. Parem de atacar ou vamos revidar.

– Mais dez impactos, senhor.

– Zulu. Neutralizem a nave, mas tentem mantê-la intacta.

Um disparo de canhão térmico saiu da Dani e acertou a nave na base. O raio de cinco metros de diâmetro era demasiado forte e campo energético dela vacilou, mudando para uma cor roxa.

– A nave tenta fujir.

– Impedir a fuga – ordenou. – Neutralizar a nave a qualquer preço.

– Quem tu achas que são, filho? – perguntou Daniel pai.

– Axturs - respondeu. – Eles copiaram a tecnologia centuriana. Pelo jeito, também vieram à caça.

Dois tiros acertaram a nave piramidal. O campo de força colapsou e ela foi atingida. Aparentemente, os propulsores foram avariados e apareceram focos de incêndios em vários lugares.

– A nave chama.

Desta vez, o vídeo apareceu. Eram seres humanoides, muito parecidos com os humanos. Ambos os lados olharam-se em silêncio.

– Quem são vocês? – perguntou o estrangeiro.

– Somos solarianos – disse o Daniel. – Por que motivo nos atacaram? E quem são vocês?

– Somos axturrs – responderam. – Pensamos que fossem centurianos.

– Almirante – disse o comandante. – Quatro naves iguais apareceram. Estão atacando. Aguardo instruções.

Várias descargas atingiram a nave solariana, sem no entanto fazer efeito algum.

– Revidar e destruir – ordenou Daniel. – Não são de confiança. Usar canhões de impulso.

Sem que saísse um só tiro da Dani, as naves inimigas explodiram de forma pior que pipoca no microondas.

– Como fazem isso? – perguntou o axturr. – Por que é que atacaram?

– Que eu saiba – comentou Daniel –, agimos em legítima defesa porque nos atacaram. Além do mais, vocês são inimigos dos centurianos e nós não podemos permitir isso.

A nave tentou atacar outra vez e a artilharia completou o serviço, contrabandeando uma bomba para dentro dela. Após, a Dani passou a concentrar a atenção na nave avariada.

– Senhor – disse o oficial de comunicações. – A nave esférica mandou uma saudação e parece o idioma centuriano.

– Atendam-no – ordenou Nobuntu. – Transferir a imagem para a tela central.

No meio da enorme sala redonda que era a ponte de comando, surgiu uma imagem tridimensional com os desconhecidos. Daniel ergueu a sobrancelha ao se deparar com a terceira espécie alienígena não humana da sua vida.

Era uma figura humanoide, mas bem diferente dos humanos comuns, até mesmo dos axturrs. Pareciam ter mais de dois metros de altura e o rosto era bastante estranho. Tinham a testa enorme e um queixo muito pontiagudo. A proporção também era diferente. O rosto era demasiado aquilino e eles pareciam magros demais. Para espanto ainda maior do Daniel, falaram em centuriano.

– Salve solarianos. Somos lafitas e nós acompanhamos a vossa conversa com os axturrs – disse o estrangeiro. – Estamos com sérios danos na nossa nave e quase sem energia. Solicitamos auxílio imediato ou estaremos condenados à morte em algumas horas porque estamos impossibilitados de pedir socorro ao nosso mundo.

– Mandaremos uma naveta com auxílio agora mesmo, senhores. Aguardem um pouco – disse o Daniel. Virou-se para o comandante e ordenou. – Coronel mande preparar uma naveta. Eu vou assumir o comando de desembarque. Mande um engenheiro e, por via das dúvidas, um médico e um dragão.

A pequena naveta saiu em direção à nave lafita. Uma comporta abriu-se, e eles entraram.

– Os lafitas têm campos de contenção e atmosfera equivalente à nossa – disse o engenheiro. – Não há perigo.

O comando saiu da nave. Em frente a eles, um dos lafitas aguardava-os. Ele tinha aproximadamente dois metros e cinco, alto como previra. Daniel não perdeu tempo e invadiu a mente do homem que tinha uma barreira mental forte. O almirante não quis forçar nada e afastou-se.

– Saudações, lafita. Sou Daniel, almirante da frota solariana.

– Saudações, Almirante Daniel – disse ele. – Chamo-me Infrime. Sou o comandante desta nave de pesquisa. Estávamos fazendo análises e leituras aqui quando fomos atacados por uma frota de axturrs. A nossa nave escolta destruiu todas menos uma, mas isso foi o fim dela. Infelizmente as nossas naves de pesquisa não têm armas, vocês chegaram na hora exata.

– Durante o nosso voo detetamos o combate e retornamos ao espaço normal para observar. Como sabem o idioma centuriano?

– Há centurianos no nosso mundo, Almirante. Nos acolhemo-los dos axturrs há cerca de uns quinze milênios.

– Que bom, pois a Centúria hoje é um mundo morto, como podemos ajudá-los?

– O nosso reator não funciona mais. Precisamos de lançar o tanque de combustível ao espaço, pois estava instável e as baterias de emergência foram desgastadas com as tentativas de resistir ao ataque. Estamos reduzidos a menos de cinco por cento de energia.

– Usam antimatéria?

– Sim – respondeu Infrime. – O gerador de campo para velocidade acima da luz também está danificado e estamos a mais de cinquenta mil anos luz do nosso mundo.

– Vamos fazer o seguinte. Com os campos de força, podemos ancorar a vossa nave na nossa e rebocá-la para a Terra. Lá, terão toda a assistência necessária. Gostaria de vos conhecer melhor.

– Agradecemos qualquer ajuda que nos permita ajudar a retornar ao nosso mundo, Almirante.

– Na sua opinião, qual a probabilidade dos axturrs aparecerem aqui novamente?

– Baixa, provavelmente vinham nos seguindo. Os nossos povos vivem em equilíbrio de forças. Os axturrs são agressivos e sedentos de poder. Só atacam à traição e quando têm a certeza de que vão vencer. A nossa tecnologia é muito superior, mas somos menos numerosos.

– Quantos de vocês estão aqui.

– Somos dez cientistas, apenas isso.

– Vai ficar um pouco apertado na naveta, mas a distância é curta. Vamos para a minha nave. O piloto acoplará a de vocês, à Dani, mas seria melhor para vocês ficarem conosco por causa da energia.

A estranha comitiva entrou na Dani após um curto voo. Eles olharam maravilhados para o monstro do espaço. Os dez lafitas acompanharam o Daniel até ao centro científico da nave e apresentou-os ao doutor Chang.

– Amigos somente eu e a minha esposa sabemos o idioma centuriano – explicou Daniel. – Eu trouxe-vos aqui porque esta máquina tem condições de implantar os conhecimentos da nossa língua nas vossas mentes. Importam-se de experimentar? Leva cerca de uma hora, metade do tempo que levaremos a chegar ao nosso mundo. Assim, quando chegarmos, quatro de vocês já falarão o idioma. Infelizmente só temos duas MICs aqui. Selecionem um engenheiro vosso entre os dois primeiros para que possa orientar os nossos especialistas no conserto da nave.

– Será excelente, Almirante, eu mesmo serei o primeiro.

Dois deles sentam-se na poltrona da máquina e o doutor Chang conectou-os.

– Daniel para Nobuntu – disse o jovem para o relógio.

– Nobuntu. – O rosto do comandante apareceu no ar.

– Chame a Terra e mande vir quatro cruzadores patrulhar o local. Qualquer nave piramidal deve ser destruída, mas poderão aparecer naves esféricas. Nesse caso não atacar e contatar-nos de imediato ou escoltá-los para a Terra. Vamos aguardar a chegada da frota, então peçam-lhes que se apressem.

– Confirmado almirante – disse Nobuntu, virando-se para cumprir as ordens. Após dois minutos chamou Daniel. – Senhor, quatro naves já estão a caminho. Chegada estimada em quinze minutos.

– Obrigado – virou-se para os lafitas. - Mandei vir uma pequena frota com ordens de patrulhar o setor e escoltar alguma nave vossa, se aparecer. Vocês conseguiram pedir socorro?

– Enviamos, mas não sabemos se foi recebido.

– Não se preocupem que iremos ajudá-los. Por favor aguardem aqui. Pai - virou-se para o doutor Chang –, pode mandar o primeiro par para a ponte tão logo estejam prontos?

– Claro, filho. Vá em paz.

– Paz. – Daniel fez uma mesura e saiu.

Enquanto a Dani singrava o espaço, carregando a pequena nave tal como uma águia carregaria a sua presa, o Daniel aguardava o comandante lafita. Ele simpatizou muito com eles e acreditava que seriam grande amigos no futuro. Quando o alienígena apareceu, foram para a sala de reuniões.

– Engenheiro Aditya Kami – disse ao relógio. – Apresente-se à sala de reuniões da ponte como urgência.

– Vocês têm tecnologias impressionantes. Devem praticar a navegação estelar há milhares de anos. Apesar de a Galáxia ser muito grande, já deveríamos ter nos encontrado antes – comentou o naufrago do espaço.

– Na verdade, meu amigo, nós praticamos a navegação estelar há menos de um milênio.

– Vocês aparentam ser geneticamente idênticos aos centurianos e a raça deles tem centenas de milhares de anos!

– É verdade; nós somos idênticos e descobrimos que são nossos ancestrais. – Daniel contou a história da Terra quando colonizada pelos centurianos. – Nós desenvolvemos a navegação espacial há cerca de setecentos anos. Colonizamos cinquenta mundos e vivianos em grande paz e harmonia. Isso até há pouco tempo. As nossas naves eram desarmadas. Então, sofremos uma invasão.

– Mas e estas naves gigantes?

– Eu projetei esta nave há dois anos. Na verdade era um modelo menor. Depois aperfeiçoei-a. Era necessário – ergueu os olhos e viu o engenheiro chefe chegar. – Aqui está o nosso homem.

O engenheiro, um indiano simpático de cerca de um metro e oitenta, sentou-se e cumprimentou-os.

– Senhor Kami – principiou o Daniel. – Peço que ajude este pessoal a consertar a espaçonave deles. Precisaram de descartar o tanque de antimatéria e estão com o motor estelar danificado.

– Preciso de informações sobre o motor e sobre a conversão da antimatéria – pediu o solariano, dando um sorriso para Infrine.

– O motor basicamente gera um campo que abala a estrutura do espaço tempo, fazendo com que a nave salte de um ponto ao outro pela quinta dimensão. Os nossos cientistas estão trabalhando em conjunto com os centurianos em um novo sistema, mas ainda não o conseguimos desenvolver. Entretanto, vejo que vocês usam o modelo teorizado por nós.

– É mais seguro e eficiente. Se não fosse por ele, não vos teríamos salvo. Com um voo visual, detetamos os abalos da quinta dimensão. Provavelmente a explosão do vosso tanque de antimatéria ou das naves no combate.

– Assim vejo.

– Senhor, na Dani não temos nenhum motor obsoleto, desculpe o termo comandante. Teremos de esperar até chegar à Terra para reparar a nave.

– Bem amigos. Não nos resta muita coisa a fazer a não ser esperar. Aproveitem a estadia. São livres para ir e vir. Na Terra, receberão toda a assistência que necessitarem.

― ☼ ―

1 parsec = um ano-luz.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top