Capítulo 8 - parte 2 (não revisado)


Reunidos a portas fechadas por duas horas, o Daniel conversou com o general e o almirante, além de alguns outros como Liuan. Quando terminaram, O general subiu para uma tribuna, montada na praça em frente ao palácio.

Por todo o planeta o discurso do general foi acompanhado em silêncio.

– Leônidas – disse, olhando para o povo com toda a sua atenção. Fixou os olhos nas naves que apareciam atrás deles como montanhas de ferro e continuou. – A guerra acabou; os lagartos foram exterminados pelos solarianos e pelo valoroso Almirante Ifung. As imagens dos combates serão divulgadas para a imprensa ainda hoje e verão que os solarianos são de fato bons amigos e aliados. Por causa deles, depois de dois mil anos, vamos ter paz novamente. O presidente desejava obter poder a qualquer custo, traindo os nossos novos aliados e mandando matar os nossos heróis. Há mais de dez anos que temos um grupo que desejava acabar com o regime ditatorial e esse grupo ajudou-nos a salvar o almirante e os solarianos, que lutaram lado a lado conosco. O presidente foi deposto e está preso, acusado de crimes contra a humanidade. Os solarianos concordaram em nos ajudar a reconstruir o nosso mundo, assim como os três mundos que perdemos e fornecerão tecnologias que precisamos de sacrificar por conta da guerra. Se os deuses da Centúria desejarem, em vinte anos o nosso mundo será belo e livre da poluição.

Uma gritaria fez-se ouvir na praça.

– Nós decidimos eleger o Almirante Ifung para o nosso presidente interino. Em um ano, quando tudo estiver nos eixos, faremos eleições para o governo como era e sempre foi. Os solarianos ofereceram-nos um lugar no império, mas nós achamos que, no momento atual, precisamos de lamber as feridas e recuperar a nossa dignidade. Quando chegar a hora, um plebiscito decidirá essa situação. No momento, seremos amigos e aliados. Em breve, eles retornarão para o mundo deles. Uma comitiva irá acompanhá-los. Será formada, na sua maioria, por cientistas que receberão treinamento na tecnologia solariana, cujo objetivo é consertar o nosso mundo tão desgastado pela guerra interminável. Vocês podem finalmente respirar aliviados e saber que nenhuma mãe ou pai voltarão a perder filhos ou irmãos em uma batalha. Isso, para mim, é a melhor parte de todas, não ver os filhos de Leonid morrendo de forma inútil.

A gritaria dessa vez foi ainda mais e começaram a aclamar os solarianos e o almirante Ifung que fez um aceno e subiu ao púlpito. Ele começou a falar mas não acrescentou mais detalhes ao que o general dissera. Em compensação, elegeu vários ministros novos sendo que nomeou o Liuan ministro das relações exteriores e o general ministro da defesa e assuntos internos. Quando terminaram, Daniel informou que voltaria para a Terra e convidou uma comitiva para já os acompanhar.

Foi tudo escolhido às pressas até porque o Almirante não era homem de rodeios, como o Daniel. E, na última hora, ele decidiu acompanhar a comitiva, deixando o general no cargo administrativo. Enquanto isso, Daniel foi para a nave desativar o protocolo A e a Daniela desapareceu na ala média cara verificar se estava tudo pronto.

― ☼ ―


Na ponte da Dani, na sala de reuniões, Daniel falava com Anjuska e Pedro, que fizeram um relatório sobre como resolveram os problemas em Zirtag.

– Então vocês conseguiram e a ajuda dos dois tantorianos foi crucial – comentou o Daniel, satisfeito. – Isso alegra-me muito porque vejo aqueles dois de forma muito promissora. Na Terra, falarei com os zirtagos. Afinal, o que essa tal de Bebida dos Deuses faz exatamente?

Pedro e Anjuska olharam-se por menos de um segundo e ele disse:

– Falando em bom português, senhor, essa poção, além de ser como o soro para portadores de primeira geração, tem o poder de desnudar um homem para si mesmo e nem os portadores são imunes a ela. Poucos aguentam ver a própria realidade.

– Tem toda a razão, Major – disse Daniel após os observar por poucos segundos. – Estou satisfeito que tenham saído ilesos disso e acho que foram muito levianos. Que lhes sirva como aviso para o futuro e espero que não voltem a se colocar ambos em risco ao mesmo tempo. A cadeia de comando ficaria comprometida.

– É verdade, Almirante – disse Anjuska. – Devíamos ter sido mais cautelosos, mas eu assumo a responsabilidade. O Major Costa alertou-me para os riscos, mas eu não desejei perder tempo. Admito o meu erro.

– Eu só gostaria que me satisfizessem uma curiosidade – disse Daniel olhando para ambos bem nos olhos. – É algo que me deixou perplexo, quando eu notei.

– Claro, Almirante – disseram os dois ao mesmo tempo. – O que deseja saber?

– Quando foi que vocês aprenderam a se comunicar com os cérebros bloqueados? – perguntou ele. – Ainda por cima com tanta perfeição que eu só "escutaria" se forçasse?

– Como é que sabe disso? – perguntou Anjuska de olhos arregalados enquanto Pedro, que dava um gole no café, engasgou-se. Logo a seguir, o major caiu na gargalhada.

– Que eu saiba, Almirante – disse, sem perder o rebolado –, o senhor faz o mesmo com a sua esposa.

– Sim, faço, mas eu sou grau cem e nunca vi ninguém fazer isso a não ser para quem eu ensinei, mesmo assim, nem perto da perfeição que vocês têm.

O casal olhou-se e o almirante entendeu que conversavam. Ele sorriu condescendente. Pedro virou-se e disse.

– A bebida, senhor, tem as propriedades que eu falei. Aquilo que o senhor e a sua esposa reconheceram um em relação ao outro mal se viram, aconteceu conosco através da bebida. As almas despidas, reconhecem-se, eu diria. Fazendo uma analogia, poderíamos dizer que sem as máscaras, um reconhece o outro. E olhe, Almirante, que quando a doutora Chang disse para o meu pai que reconhecia o senhor de vidas anteriores, eu pensei que ela tinha um parafuso a menos, se me permite a franqueza.

Dessa vez quem deu uma gargalhada grande foi o Daniel. Quando parou, disse:

– Só posso dizer que isso me deixa muito feliz por vocês. Esse sentimento assim é mais forte que qualquer coisa. Mas como farão, se são ambos comandantes de naves?

– Não decidimos ainda, senhor, acho que termos de dar um passo por vez – disse Anjuska.

– Por outro lado – complementou Pedro –, aprendemos mais coisas do que apenas a comunicação com os cérebros bloqueados.

– --Entendo – disse o imperador, sorrindo. – Vocês aprenderam em uma noite o que eu levei alguns anos para descobrir no templo Shaolin. Espero que saibam usar isso sabiamente. Bem, convidem a gente para o casamento.

– Será um prazer, Almirante – disse Pedro.

– Então case-nos, senhor – pediu Anjuska.

– Pra quem me chamava de apressado, amor, tu superaste todos recordes – disse Pedro e Daniel riu com Anjuska.

– Se é isso que desejam – Daniel levantou-se e destravou a porta. A seguir disse. – Nobuntou, venha aqui e traga mais uma testemunha, vamos fazer um casamento.

Daniela surgiu do nada ao lado do marido e o almirante disse.

– Já temos uma testemunha, Nobuntu, venha logo.

― ☼ ―

A Dani preparava-se para decolar e apenas aguardava a chegada dos pais do Almirante que vinham da Jessy em um planador e alguns leônidas que ainda não tinham chegado. A frota já havia dispersado após o casamento e a Vega apenas aguardava a Jessy para seguir viagem

Os cientistas que tinham ido investigar a nave por conta da traição sofrida, tinham sido neutralizados por uma droga jogada na ventilação, tal como aconteceu com a tripulação horas antes. Foram libertos e interrogados telepaticamente. Todos, sem exceção, eram inocentes pois obedeciam as ordens sob coação. Aqueles da área que o Daniel considerou restrita, fabrico de armas e tecnologia espacial, foram deixados em terra. Os demais, foram convidados a acompanhá-los. Três dias depois de terem chegado a Leônid, a esfera gigantesca ergueu-se no ar, bem devagar.

No camarote do almirante, dois casais estavam juntos, conversando. O Daniel disse para o pai, falando bem sério:

– Não devias ter trazido a mãe – sacudiu a cabeça. – Poderia haver algum perigo, embora remoto.

– Eu sei muito bem, filho – disse o Daniel pai. – Achas que eu não tentei argumentar, principalmente agora, no estado dela?

– Estado? – Daniel olhou a mãe e ergueu o sobrolho.

– Não lhe contaste Daniel?

– Não houve tempo, Alexa; foi uma correria atrás da outra.

– O que diabo estão a dizer, contar o quê?

– Bem, Dan, vais ganhar uma irmã – disse o pai. – A tua mãe está grávida há três meses. Achamos que era hora de ter outro filho.

– Caramba. – Daniel abraçou a mãe, feliz. – Vou adorar ter uma irmã. Engraçado mesmo vai ser o fato dela ter um sobrinho mais velho um mês.

O pai dele deixou cair o queixo.

– Sério?

– Nós nos descuidamos logo no início. – Ele pegou a mão da Daniela, feliz. – Estávamos tão empolgados por nos conhecermos, redescobrirmo-nos, que deu nisso.

– Puxa vida, filho – disse a mãe, também abraçando o casal e rindo. – Parabéns. Já sabem o sexo?

– Não, realmente não houve muito tempo.

– Mas eu sei – disse a imperatriz, de olhos brilhantes. – Fui fazer um scanner logo que cheguei por causa da droga que nos administraram. Está tudo bem, graças a Deus. Vais ser pai de um lindo menino.

– Xi! – exclamou o pai. – Mais um Daniel!

O imperador deu uma risada alegre.

– "Atenção tripulação. Preparar para decolar. A viagem para a Terra será de oito horas a pedido do Imperador. Este recebeu ordens médicas para dormir." – A voz do Nobuntu era, no mínimo, risonha. – "Bom descanso Alteza."

– Eu realmente preciso de dormir porque estou praticamente no limite das minhas forças.

– Descansa, filho. – Os pais abraçaram o casal e deram os parabéns mais uma vez. – Nós vamos visitar o almirante Ifung. Gostei dele.

O Daniel deitou-se e adormeceu quase de imediato. A Daniela aproveitou para fazer o mesmo porque também ainda não havia descansado direito desde que salvara o soldado.

― ☼ ―

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top