Capítulo 7 - parte 2 (não revisado)

O espírito de Anjuska pairava junto ao noivo que permanecia na sua nave, observando.

– "Então, amor, como vão as coisas na superfície?" – perguntou, beijando-o com a mente. – "Não fui feita para ficar parada nesta inatividade."

– "Olha pela minha mente" – disse, retribuindo o beijo. – "Nós estamos bem em cima da Dani e lá em baixo está acontecendo uma guerra civil."

– "Nesse caso, as coisas vão-se desencadear em breve. Vou retornar para o meu corpo. Eu te amo."

– "Também te amo. Te cuida."

Na sua cadeira de comando, na Moskow, Anjsuka voltou a se mexer e suspirou fundo. Levantou-se e sentou-se no posto de pilotagem enquanto o piloto ia para o assento auxiliar.

― ☼ ―

Ifung obedeceu sem pensar e já se iam transportar quando Zulu segurou o ombro da Daniela. Ela olhou para ele, que disse:

– Vou junto, doutora, e não adianta reclamar.

Daniela fez uma careta e riu. Zulu olhou para a frente e já estavam perto da nave. Um grupo de homens rastejava para atacar os soldados do governo que ainda não havia notado.

– Não ataquem perto da nave – brabou para os seus marinheiros. – Recuar imediatamente.

O marines obedeceram na hora, mas o fator surpresa desapareceu e os homens do governo atiraram. Conseguiram atingir dois, mas o grupo recuava rápido. Os soldados ouviram um som estranho e olharam a retaguarda para se depararem com um grupo de robôs que avançava para eles. Viraram-se e atiraram nas máquinas que, em vez de os reduzirem à inatividade como era o plano original, ergueram os braços e dos cotovelos raios térmicos saíram, matando os partidários do governo. Assim que viram que os outros soldados recuavam, os robôs foram para o centro da escotilha e deram impulso, retornando para a nave. Sempre que possível, poupavam a vida por causa da programação básica.

Em dois minutos, só havia vento. O almirante olhou para os homens que recuavam e disse:

– Vamos para o quartel do palácio. A nave solariana sabe defender-se sozinha, como já viram.

Daniela fez um aceno em concordância e pegou a mão do almirante, enquanto o Zulu tocava o seu ombro. Perante o olhar arregalado dos subordinados, o trio desapareceu no ar.

― ☼ ―

Os homens do Daniel avançavam contra os soldados sem resistência e aquilo chegava a ser uma chacina.

– "Quem se render será poupado e garanto que não será executado por traição" – disse ele, usando a telepatia para não precisar de gritar. – "Só precisam de recuar para o fundo e ficar passivos."

Apesar de tudo, o seu apelo funcionou e vários soldados obedeceram, mas o chão já era um mar de corpos. Na entrada, o presidente assistia tudo, tremendo sem parar. Daniel olhou para ele e sorriu:

– Diga-me uma coisa, Ishian – afirmou. – Quem é na verdade patético e decadente?

O presidente nada disse, não havia o que discutir. Ele perdeu e sabia disso.

– No meu mundo, o povo manda – explicou Daniel. – Eu estou no poder porque foi decidido pelo povo e porque ele acho que faço bem o meu trabalho; não por acomodação ou decadência. O grande erro das pessoas, quase sempre, é julgar os outros pela aparência.

― ☼ ―

Nas ruas a três quarteirões do quartel, a refrega já durava meia hora e havia mortos dos dois lados, embora os marinheiros estivessem vencendo com uma vantagem. O grande problema, contudo, era o fato das tropas estarem muito bem entrincheiradas. Agachados atrás de uma estátua grande que volta e meia recebia tiros de calibres pesados que lhe arrancavam lascas de pedra, o general Ming, o almirante Ifung e alguns tenentes conversavam sobre uma alternativa para pegar os soldados de surpresa.

– Eu queria saber quem foi o idiota que se esqueceu de levar rádios – disse Ifung, meio irritado. – Oe meus homens vão precisar de uma boa reciclagem.

– Não os culpe, meu amigo – disse o general. – Foi tudo muito rápido e a preocupação era salvá-lo. Eu estava lá e também não me lembrei disso.

– Vou incluí-lo no próximo programa de reciclagem – disse o almirante, soltando uma gargalhada. Sério, continuou. – Com rádios podíamos pegá-los mandando uma tropa para o terraço daquele estacionamento.

– Quantos homens acha que seriam necessários? – perguntou a Daniela após olhar o local e achar bem viável.

– Uns quarenta atiradores de elite é mais do que suficiente, mas a questão é que não temos como chegar lá daqui.

– Reúna os homens e eu coloco-os lá usando o meu dom, almirante – disse a imperatriz. – Vai ser bem cansativo, mas sei que consigo.

– Doutora Chang – disse Zulu, preocupado. – Eu...

– Zulu – interrompeu Daniela. – Sei que estás preocupado pela minha segurança, mas uma guerra assim não se vence sem sacrifícios.

– Então diga para o almirante me arrumar uma arma e irei junto, doutora – insistiu ele. – Não me perdoarei se alguma coisa acontecer.

– Muito bem – disse a Daniela. Virou-se para o almirante e continuou no seu idioma. – Reúna os seus homens aqui e arranje uma arma para o capitão Zulu. Ele faz questão de me seguir.

– Saiba que estou de pleno acordo com ele, Majestade – disse o almirante. – E não digo isso por ser mulher, mas pelo símbolo que o seu cargo representa para o seu povo. Tenente, arranje trinta homens, apenas a elite. Para ontem, homem, vamos.

– O senhor falou quarenta.

– Trinta exigirá menos de si – respondeu o Almirante, taxativo. Pegou uma das suas pistolas e deu para o Zulu, junto com mais cinco pentes de balas. – Nem sempre tudo é perfeito.

Zulu fez um aceno para o almirante e comentou para a imperatriz:

– Preferia um bom irradiador térmico, mas não se pode ter tudo.

– Até poderia pegar um na nave, mas acho melhor não arriscar com o protocolo A ativo – disse a Daniela. Ela olhou para o lado e vários marines arrastavam-se para eles. Quando estavam aglomerados, Daniela mandou-os darem-se as mãos e segurou o primeiro enquanto Zulu destravava a arma e segurava o ombro dela. Assim que surgiram no alto do prédio, Zulu deu um berro e empurrou a doutora para longe, derrubando-a enquanto disparava contra um bando de soldados do governo que tinha tido a mesma ideia e acabava de subir pela rampa dos veículos. Apanhados de surpresa por verem um bando de homens surgirem do vácuo bem à sua frente, o grupo avançado caiu, mas um dos marinheiros que cobriu a Daniela com o corpo levou um tiro de raspão. Sem prederem tempo, cinco homens e Zulu concentraram-se na retaguarda e os demais passaram a atirar sobre os militares do governo.

Zulu avançou até à rampa e localizou uma posição estratégica, fazendo sinal para a equipe de proteção. A doutora, olhava o ferimento do soldado, preocupada. Apesar de não ser fatal, era grave e mataria se não fosse tratado com o máximo de urgência. Pesando o tempo que levaria até ser atendido no hospital, mesmo saltando com ele para lá, achou melhor usar os seus dons de forma moderada.

Sob uma chuva de tiros dos amotinados, tanto pela frente quanto pelo flanco, as tropas precisaram de recuar às pressas, sofrendo pesadas baixas.

O almirante levantou-se enquanto os seus homens avançavam, e fez sinal para as equipes descerem. O líder do esquadrão olhou para a doutora e ela disse:

– Vocês vão ter que caminhar. – Olhou para o ferido. – Eu fiquei fraca demais para transportar vocês. Curar uma coisa tão grave é muito desgastante.

– Claro, Majestade – disse ele. – Obrigado por o ajudar; ele é um grande companheiro.

– É o mínimo que eu podia fazer depois de se sacrificar para me salvar – disse Daniela, sorrindo. – Vão que eu ficarei aqui com o Zulu mais um pouco para me restabelecer.

Zulu notou que pararam de atirar e viu a doutora sentada no chão, adivinhando logo o que ela fez. Aproximou-se e perguntou:

– Muito cansada?

– Só um pouco – disse ela. – Mas nem penso em largá-lo aqui. Ele salvou-me a vida... e tu também, obrigada.

Os soldados desceram correndo e, quando o almirante não via a Daniela, ficou pálido. O tenente contou o que aconteceu e o almirante, por meio de gestos, falou para os dragões seguirem atrás dela, mas antes deu-lhes armas. Os homens apressaram-se a subir para o topo do prédio, encontrando o Zulu no meio do caminho com o soldado no colo e dando apoio para a Daniela, caminhando devagar.

Agora que os conflitos afastaram-se dali, era tudo um grande silêncio, tirando o som dos tiros ao longe, como se fosse uma cidade fantasma. O grupo parou na rua e olhou para todos os lados. Tudo o que se via, eram marcas de tiros, corpos e carros abandonados às pressas. Um pequena brisa soprava. Zulu viu um pequeno caminhão e aproximou-se dele, colocando o corpo do marine atrás e sentando a Daniela enquanto os seus homens cercavam a área, ameaçadores. Para sua surpresa, dentro do caminhão, escondido no fundo, estava o motorista, apavorado. Zulu mandou um dos dragões ajudar e acalmá-lo, mas disse para não o deixar fugir. A seguir, foi para o campo de batalha, procurar sobreviventes.

Em pouco tempo juntou quase trinta indivíduos de ambos os lados e colocou-os todos no veículo. A seguir, pegou o motorista e levou-o para a Daniela, que dormitava atrás.

– Doutora Chang – disse. – peça a este homem para nos levar ao hospital.

Daniela traduziu e, a seguir, Zulu pegou-a no colo e levou-a para a frente, sentando-se na cabine com ela e o motorista, enquanto os vermelhos sentavam-se no compartimento de carga. O motorista dirigiu devagar, consciente que havia gente ferida ali. Quando parou no hospital, os dragões ajudaram a levar os feridos e Zulu agradeceu ao nativo. Pegou a doutora e deitou-a em uma maca e deixando-a dormir.

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