Capítulo 5 - parte 1 (não revisado)

O Daniel acordou com uma sensação horrível. A boca estava seca e o corpo tremia como se tivesse febre. Alguém fazia-lhe carinho na cabeça e ele abriu os olhos. Levantou-se com dificuldade porque sentia-se muito fraco. A esposa ajudou-o a se encostar à parede e sorriu-lhe. Junto dela, estavam os sogros e o almirante mais a família.

Olhou em volta e notou que já estavam todos conscientes, a maioria sentada em grupos, falando baixo, talvez tecendo planos de todos os tipos para se libertarem.

– Quanto tempo eu estive inconsciente? – perguntou, fazendo uma careta. – Pelo jeito que me sinto, acho que não faz lá grande coisa.

– Duas míseras horas – disse o doutor Chang, antecipando-se à filha. – Filho, precisa de dormir pelo menos mais seis horas.

– Gastaste toda a tua energia comigo, meu amor – disse a Daniel, cujo rosto expressava preocupação e também repreensão. – Tu não devias ter feito isso.

– Devia sim, Danizinha – disse, sorrindo. – Estavas muito mal.

– O senhor está bem, Alteza? – perguntou o almirante Ifung, aproximando-se.

– Ensinaram-lhe a nossa língua principal, Almirante?

– E cantonês também – respondeu nessa língua. – A sua esposa tem dons espetaculares e o senhor também. Estou impressionado.

Daniel pensava rápido porque sabia que o tempo era seu inimigo se quisesse ficar livre com um mínimo de destruição. Sabia que o sogro tinha razão sobre descansar, mas também sabia que não demoraria muito para ser levado para um interrogatório e, daquela vez, muito mais sério. Precisava a todo custo melhorar sem que a Daniela precisasse de usar os seus dons. Levantando-se com dificuldade, olhou em volta e encontrou a chave que poderia ser a sua salvação.

– Zulu – disse, falando mais alto e erguendo o braço. – Preciso de ti.

O gigante de ébano aproximou-se bem a tempo de segurar Daniel, que cambaleou.

– Sente-se. Almirante – pediu. – O senhor não está nada bem. Não se preocupe que já temos um plano bem definido.

– Não – Daniel ergueu o braço, incisivo. – Não faças nada agora. O protocolo A foi ativado na nave...

– Meu Deus, senhor, isso significa que...

– Sim, poderemos morrer todos a menos que eu resolva o nosso problema, mas estou demasiado fraco para agir.

– O que precisa que eu faça – perguntou Zulu, preocupado.

– Preciso que me dês um golpe dragão branco, com o máximo de força que puderes fazer.

– Almirante, o senhor está delirando? – perguntou ele, preocupado e olhando em volta. – O senhor está fraco demais e morreria. Além do mais, o que vai ganhar com isso?

Daniela entendeu na hora e levantou-se, chegando junto ao par. Colocou a mão no ombro do artilheiro chefe e disse:

– Ele tem razão, Zulu. Daniel vai absorver e canalizar essa força como se estivesses usando o processo de cura que nós temos. Lembras no festival dos dragões?

– Isso mesmo, Zulu, um ou dois e ficarei muito melhor.

– Muito bem – disse o gigante negro. – Mas o primeiro será com uma força mínima. Desculpem-me, mas jamais me perdoaria se algo lhe acontecesse, Almirante.

Daniel afastou-se e encostou-se na parede, enquanto a esposa fazia todos os outros afastarem-se por alguns metros. Zulu preparou o golpe e executou-o. Todos ouviram o pequeno estrondo que fez as paredes de pedra vibrarem, mas o Daniel sentiu-se melhor, parando os tremores.

– Maravilha, Zulu – disse ele, sorridente. – Agora dá mais um com toda a tua força.

O artilheiro concentrou-se e golpeou usando uma força nunca antes tentada. O efeito foi imediato e os que não conheciam um dragão branco assustaram-se bastante porque ocorreu um estrondo enorme e algumas pedras da parede soltaram-se, fazendo que todos recuassem.

– Obrigado, Zulu, agora estou muito bem, embora ainda não esteja cem por cento. – Daniel aproximou-se do Almirante. – Aqui parece não haver escutas, mas falemos em português porque torna as coisas complicadas para os nossos captores. Pelo que vejo, o senhor não esperava isto. Qual é a situação política do seu mundo, Almirante?

– Alteza, desculpe-me por isto – disse Ifung com toda a sinceridade. – Jamais imaginei que o presidente fosse fazer tal absurdo. O povo é naturalmente pacífico e está desgastado pela guerra interminável. Garanto-lhe que a frota não vai engolir isto. Eles são fieis a mim. Temo que vá haver um conflito interno. Sei que há um grupo que secretamente deseja a queda do governo que instalou um regime pré-ditatorial e agora parece ter se mostrado de vez. Também sei que o meu filho faz parte desse grupo; esqueceram-se dele e isso foi um erro terrível. Só não sei quanto tempo vai levar.

– Terão de ser muito rápidos porque eu ativei o protocolo A na espaçonave quando recobrei a consciência. O prazo é de dez dias e a nave vai atacar o planeta. O computador dela não se interessa se há uma facção a favor e outra contra. Para ele, o mundo inteiro é o culpado como um todo. Somente com a minha presença ou outro oficial de alta patente será desabilitado.

– Infelizmente estou preso aqui, incomunicável.

– Não por muito tempo. Computador, coloca-me em contato com o comunicador do Liuan. – Virando-se para o almirante, acrescentou. – Ele também é da resistência e foi quem primeiro me alertou para um complô. É o motorista que me levava.

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Ishian andava de um lado para o outro, bastante irritado. Perto dele, um dos seus comparsas tentava falar em um aparelho de rádio.

– Por que os cientistas não respondem ao chamado? – perguntou, cada vez mais irritado. – Acho que vou preparar uma boa lição para cada um deles.

– Não sabemos, excelência – respondeu o outro com cuidado porque era perigoso cair em desgraça. – Algo deve ter acontecido porque ninguém consegue entrar na nave. Mandei para lá uma força tarefa e foram impedidos por um campo de força de tipo desconhecido. Será que algum tripulante escapou?

– Ataquem a nave.

– Excelência, não acho aconselhável. O senhor viu o poder de fogo da nave nos vídeos da batalha. Se ela revidar, teremos problemas graves.

– E como uma nave sozinha pode revidar? – questionou Ishian, exaltado.

– O senhor viu que o solariano disse que a nave podia ser controlada por um só homem desde que fosse o homem certo.

– Então o que sugere? – perguntou ele.

– Interrogar o Imperador com bastante persuasão – respondeu de imediato. – Um pouco de tortura e ele conta tudo...

– Mandem buscar o fedelho – ordenou Ishian. – E tragam mais um junto para usarmos de "persuasão".

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