Capítulo 4 - parte 4 (não revisado)
A região portuária da capital de Leonid era uma área de grandes contrastes. Junto ao espaçoporto, estavam setores administrativos, armazéns, quarteis e todo o tipo de empresas e departamentos correlacionados. Não muito longe, em especial dos quarteis, começava outro negócio, em alguns lugares muito lucrativo e em outros nem tanto. Tratava-se da região de divertimentos, muitos deles não autorizados pelo governo que fazia vista grossa. Havia desde restaurantes, a maior parte de qualidade duvidosa, até bordeis, que só se mantinham por causa das propinas pagas às autoridades de fiscalização. Todos sabiam disso, mas ninguém falava nada até porque alguns dos proprietários eram ligados ao governo. Dizia-se, inclusive, que muitos deles estavam descontentes com os solarianos por terem acabado com a guerra porque era certo que isso provocaria uma queda nos lucros. Por outro lado, não ousavam fazer nada a respeito porque teriam uma rebelião de tamanho incalculável nas mãos. Naqueles três últimos dias, entretanto, nunca haviam lucrado tanto porque todos os marines das forças espaciais estavam em terra firme e não havia uma única casa que não estivesse cheia a abarrotar de clientes.
Bastante preocupado com a família e a situação politica do momento Ifung, caminhava por uma ruela escura por aquele submundo da cidade. Ouvia em vários lugares as músicas atrativas e os anúncios das mulheres, ou outras coisas mais. Ele não se incomodava pelo lugar que conhecia bem, apesar dos anos afastado, mas o que ele não gostava mesmo era o fato de que o local era igualmente frequentado pelos soldados que eram leais ao presidente, pelo menos a maior parte, do contrário, o usurpuador já teria caído há muito.
Por outro lado, ele sabia que os marinheiros desprezavam-nos e não gostavam de se misturar com eles. Foi com esse pensamento que alcançou a primeira das casas de gueixas. Mal entrou, sentiu que estava tudo errado porque o bordel estava quase vazio e os poucos frequentadores não eram marines. Deu meia volta e seguiu para o próximo local que era um pouco mais afastado. Estava ciente que os próximos estabelecimentos por que passaria não eram usados pelos seus e apressou o passo.
Foi com alguma surpresa que ouviu uma gritaria e sinais de luta. A porta do bordel seguinte abriu-se com violência e acabou espatifada. Com um salto, Ifung colocou-se em uma sombra, protegido pela parede e prestou atenção. Apesar de estar armado, não desejava atirar em ninguém. Quando pensava que sairia dali um batalhão de soldados, a julgar pela barulheira, saiu apenas um homem que parecia sóbrio, mas não muito. Ele era muito alto, quase dois metros, bem acima da média dos leônidas que tinham cerca de um metro e setenta. Ifung achou-o conhecido e seguiu atrás dele. Quando passou pela porta quebrada, viu o salão da casa e vários homens inconscientes enquanto as dançarinas ainda estavam no fundo com cara de medo. Com mais respeito e cuidado com o sujeito à sua frente continuou a segui-lo, mas mais de perto e com a mão na coronha.
O homem parou em baixo de um poste de luz e ele reconheceu quem era, ficando muito espantado. O sujeito pegou um telefone portátil e olhou para o painel. Sem saber que era ouvido, resmungou:
– Onde já se viu dizer que eles queriam nos invadir. Ifung é um homem honrado e jamais compactuaria com traidores. Ele dedicou a sua vida a combater os invasores.
– O meu pai é um homem íntegro, senhor, ele jamais faria uma atrocidade dessas e os solarianos vieram como amigos.
Com uma velocidade que assustou o comandante, o sujeito virou-se e já apontava a arma a Ifung.
– Quem é o senhor? – perguntou ele.
– Eu sou o comandante Ifung, segundo filho do almirante, general – respondeu, prestando continência. – Acho que se esqueceram que fui salvo pelos solarianos e não me prenderam.
O general baixou a arma e olhou para o interlocutor.
– Sim, reconheço o senhor. Não devia estar nas ruas, filho, mesmo a esta hora.
– Senhor – disse Ifung –, o que aconteceu há pouco naquele bordel?
– Há um golpe de Estado em andamento, Ifung – disse o general, sem medo de falar. – O seu pai não é traidor. Conheço-o desde os tempos da escola. A maior parte dos oficiais das forças armadas reúne-se ali e fui falar com eles, mas ou são muito burros ou fazem parte do conchavo. A sua vida corre perigo aqui, comandante.
– General, o que o senhor só vê agora, eu e alguns amigos já víamos há muitos anos. O presidente e os seus ministros querem se perpetuar no poder e usaram o meu pai como bode expiatório. O que Ishiam quer é pegar a nave dos solarianos. General, eu vi a frota deles. São um povo pacífico e conheci o imperador até acho demasiado pacífico a ponto de não ter gostado de destruir Tantor. Eu vi a tristeza dele quanto acabou a guerra contra os lagartos, mas isso não o impediu de transformar o mundo deles em pura lava. Os solarianos exterminaram a vida em Tantor, senhor, mesmo contra a vontade. Se despertarmos a ira deles, seremos esmagados mais rapidamente do que qualquer coisa que possamos imaginar e o nosso povo já sofreu demais. Precisamos de depôr o tirano e escolher um sucessor como era antigamente.
– Os meus homens são partidários do governo. Depois do que eu disse, certamente serei preso assim que recobrarem a consciência e reportarem a situação – disse o soldado, amargurado.
– Nesse caso, junte-se a nós, senhor – pediu o comandante, exaltado. – O povo esta cansado da guerra e e tirania. A frota estará do nosso lado e somos bem superiores aos soldados.
O general olhou para o comandante por alguns segundos e sorriu. Guardou a arma no coldre, colocou a mão no ombro dele e disse:
– Não há dúvida que o senhor é mesmo filho do meu bom amigo. Eu sempre disse que ele era um condutor de homens e tinha o dom de conquistar a lealdade de qualquer um. Vamos, eu acompanharei vocês.
Lado a lado os dois leônidas seguiram para o próximo ponto, um bar que estava sempre cheio de marinheiros. Mesmo meio quarteirão antes de chegar lá, Ifung já estranhou o silêncio. Mal entrou, viu que estava tudo deserto e os garçons limpavam o salão para fechar.
– O que houve? – perguntou para o atendente. – Onde estão todos os marinheiros?
– Alguém entrou aqui e berrou que prenderem o almirante deles e a família por alta traição – respondeu o proprietário. – É uma coisa que jamais esquecerei. Eles levantaram como se fossem um só homem e saíram marchando. Todos foram embora.
– Obrigado. – Ifung virou-se para o general e disse. – Devem estar no quartel. Vamos para lá.
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