Capítulo 4 - parte 3 (não revisado)
– Pode sair daí – disse o presidente. – Pelo que vemos não há instrumentos implantados no seu organismo. Trate de se vestir.
– Óbvio que não tenho – disse Daniel levantando-se assim que foi solto da cadeira. – Nós prezamos a nossa individualidade e não gostamos desse tipo de coisa. Ninguém tem instrumentos no organismo.
Começou a se vestir sem pressa, estudando tudo com calma. A sala era pequena e muito branca, toda de azulejos e poderia partir do princípio que estaria em um hospital, mas achava pouco provável que fosse assim porque não havia o cheiro de desinfetantes nem janelas no aposento. O mais provável mesmo era que estivesse em uma sala de interrogatório e tortura, levando em conta os métodos atávicos deles.
– Não tente nada idiota – ameaçou Ishian que notou o jeito como ele olhava para as coisas ao redor. – Temos seis armas apontadas contra si.
– Grande coisa – disse o jovem, encolhendo os ombros. – Se eu desejasse acabar com vocês, nem mesmo seiscentas seriam suficientes.
– Deixe de ser infantil, meu garoto. – O presidente deu uma gargalhada. – Como uma criança pode ser o imperador? Esse império deve estar completamente decadente. Em breve, descobriremos como controlar a sua super-nave.
– Isso é algo que eu quero ver – Atalhou Daniel pegando o relógio e pondo no pulso. – O senhor ainda tem chance de se arrepender e sair vivo daqui.
Tudo o que recebeu em troca foi outra gargalhada, mas não se deu ao trabalho de falar mais. Eles teriam a sua hora. Naquele momento, tudo o que ele desejava era ver a esposa. Quando foi pegar o computador da Jéssica, o presidente não permitiu.
– Deixe isso de lado que tenho interesse nessa coisa minúscula.
– Este aparelho tem um grande valor sentimental para mim e já é obsoleto – disse o Daniel. Usando a sua sugestão hipnótica acrescentou. – Deixe-me levá-lo. Na nave há outros menores e mais modernos.
– Está bem. Agora acompanhe os guardas para o calabouço. Nós conversaremos mais em breve.
Uma porta oculta abriu-se e os guardas levaram-no para fora. Era um corredor escuro com piso de pedra e ele concluiu que devia estar no subsolo. Foi levado para uma escada de pedra e desceu vários lances até que o lugar era tão lúgubre que lembrava as masmorras dos castelos medievais com a única diferença de haver luminárias elétricas em intervalos periódicos porque todo o resto era pedra e ferro. Começou a pensar que aquele palácio devia ter milhares de anos. Entraram em um corredor largo e, depois, desceram mais uns vinte metros até que entraram em um salão amplo que tinha vários guardas sentados nas suas mesas, a maior parte deles relaxando. Alguns, ao verem o Daniel, fizeram comentários jocosos que foram apenas ignorados. Foi empurrado para nova escadaria e levado mais um lance para baixo e abriram uma porta de madeira e ferro, bem maciça. Na sala seguinte, viu os seus companheiros, trancados em quatro enormes celas. A maioria estava deitada no chão, inanimada. Os portadores, porém, já estavam acordados. Alguns deles sentindo-se um pouco tontos. Mais uma vez foi empurrado e atirado para dentro da última cela, bem menor do que as outras. Dentro, havia cerca de trinta pessoas, quase todos acordados. Trancaram a porta gradeada e saíram da sala sem dizerem uma única palavra.
– Almirante. – O comandante Nobuntu levantou-se devagar porque sentia-se bastante debilitado. – Venha aqui. A doutora Chang está muito mal.
Com um nó na garganta, Daniel moveu-se entre os subordinados que se afastaram de imediato. No fundo da masmorra encostados à parede, viu o doutor Chang e a esposa. No colo deles a Daniela contorcia-se de dores, com o rosto crispado para se aguentar. Desesperado, ele ajoelhou-se à frente dela.
– Não sabemos o que houve, filho – disse o pai. – Ela não devia estar assim, não com o grau dela; isto é improvável. Não tenho instrumentos aqui para ajudá-la e vejo que há algo muito errado com a nossa filhinha.
– Mãe, pai, não há nada errado com ela. – Em mandarim, falando muito baixo, ele disse algo para os sogros. – Afastem-se e deitem-na no chão. Eu vou tentar transferir a minha própria energia para ela.
Com uma mão sobre a testa dela e outra sobre o ventre, ele concentrou-se. Mesmo os que estavam habituados aos dons daquele casal ficavam impressionados sempre que os viam usá-los e ali não foi exceção.
À medida que o tempo passava, apenas segundos para uns e séculos para outros, ela foi parando de tremer e o rosto relaxou, parando de suar frio. As convulsões acalmam-se, primeiro devagar mas, depois, de forma muito veloz e, com um suspiro profundo, a médica caiu no sono reparador. O Daniel manteve o tratamento por cerca de dois minutos até ter a certeza de que ela estava bem. A seguir, tremendo muito de fraqueza e exaustão, disse:
– Agora ela está fora de perigo.
Terminou essas palavras e caiu como uma pedra, perdendo a consciência. Assustado, Nobuntu ajudou a erguer o seu superior e verificou se não se feriu ao cair. Aliviado, deitou-o no canto, junto à parede e aguardou.
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