Capítulo 4 - parte 1 (não revisado)
O Daniel sentia-se estranho e não compreendia o que acontecia. Parecia que estava dentro de uma piscina que não o deixava andar direito e ao mesmo tempo sentia o estomago embrulhado e o corpo tremendo. Procurou controlar-se, usando o seu treinamento shaolin, mas nem assim logrou melhorar e isso quase que o deixou em pânico. Agora ouvia alguns ruídos estranhos e sentia frio, mas, logo a seguir, perguntou-se como ele poderia sentir frio se era um portador de grau cem. Por outro lado, também não fazia sentido sentir o mal-estar tão violento como aquele e o seu raciocínio lógico sobrepôs-se, gritando-lhe que ele havia sido drogado e estava inconsciente. Após isso, deu-se conta de que uma pessoa desacordada ou sonhando, não sonha que estava dormindo e, de um só movimento, recuperou a consciência e ergueu o rosto, bastante tonto. Primeiro pensou que jamais se sentiu assim na vida e esperava não voltar a passar por isso. A seguir, os olhos doeram ao abri-los porque uma luz demasiado forte estava apontada para si. Tentou levantar a mão para cobrir o rosto, mas descobriu que fora amarrado e ainda não tinha condições de reagir. Acalmou-se e concluiu que, no momento, o melhor era esperar.
– Então já acordou, Alteza? – perguntou Ishian.
– Vocês drogaram-me? – questionou, irritado. – Acham que sairão incólumes depois que os meus homens descobrirem? Eles acabarão convosco.
– Os seus homens estão no calabouço, toda a sua miserável tripulação foi capturada. Agora diga-me: por que acordou tão cedo?
– Cedo? – quis saber Daniel, curioso. Naquele momento, o mais importante era ganhar tempo para se fortalecer e colher o máximo de informações possível.
– A droga era para manter todos vocês desacordados por dez horas, mas você nem ficou duas horas. Além de você, a sua esposa também já acordou, embora esteja passando muito mal.
– Se vocês tocarem em um fio de cabelo dela, eu destruo este mundo – bradou ele, furioso. – Não deixarei pedra sobre pedra. Apenas um mar de lava e nem pensem que será rápido e limpo como fiz com os lagartos.
– Fácil falar, Alteza – disse o ministro da guerra, rindo. – Resistimos aos tantorianos por dois mil anos. Sabemos nos cuidar.
O Daniel fez um esforço para abrir os olhos. Apesar da luz forte que o incomodava demais, ele adaptou-se em pouco tempo. Descobriu que estava em uma cadeira, nu e preso por braceletes de aço. Testou a resistência do material porque achava que seria fácil soltar-se, mas ainda estava fraco demais para qualquer ação mais intensa.
– Não adianta se esforçar – disse o presidente, rindo e abanando a cabeça. – Esses braceletes resistiriam a cem homens, quanto mais uma criança como você. Nem pelos tem, ainda!
– Por que faz isso? – perguntou Daniel, triste. – Viemos como amigos!
– Nós não temos amigos – exclamou Ishian. – A esta hora, vários cientistas estudam a sua nave. Em breve, será nossa.
O Daniel olhou em volta. Em uma mesa, não muito longe, viu as suas roupas, o computador da Jessy e o comunicador.
– O senhor tem ideia do que aquela nave é capaz de fazer, excelência? – perguntou, fazendo voz de despreocupado. Já ouviu falar em robôs?
– E daí, quem vai dar as ordens? – perguntou Ishian, – Você, pirralho?
– Computador – disse ele em português, erguendo a voz. – Ativar protocolo de segurança A 10, não retornar. Avisar a frota para aguardar perto daqui com um pequeno contingente.
– Fale o nosso idioma e não o seu. – Uma pancada forte acertou-o no rosto. – Nós não estamos brincando.
– Essa pancada não machuca nem a minha avó.
– O que estava falando?
– Dizia algo terrível sobre a sua mãe.
Furioso, o presidente desferiu nova pancada e Daniel apenas riu.
– Já lhe ocorreu que em breve uma frota virá aqui assim que a nave não transmitir os relatórios diários? – perguntou.
– Sabemos que o seu mundo está a mais de seis mil anos luz. Não há como se comunicarem.
– Engano seu. Nós temos capacidade de comunicação acima da velocidade da luz, a nossa nave é inteligente e a frota leva apenas alguns minutos para chegar aqui. Então, tenha muito cuidado.
– Que instrumento é este? – perguntou mostrando um pequeno paralelipípedo de dez centímetros de altura.
– Um computador.
– Deste tamanho?
– Sim, desse tamanho – disse encolhendo os ombros. – E velhinho e podia ter arrumado um menor, mas tem valor sentimental. Eu uso como diário e faço os meus projetos.
– Como se liga?
– Descubra o senhor, se pensa que é tão inteligente.
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Em uma casa desconhecida, um grupo de pessoas encontrava-se com bastante frequência, mas eram reuniões ilegais e, se fossem apanhados, a pena seria a morte. Eles, contudo, não se preocupavam muito com isso, desde que atingissem os seus objetivos, que pareciam estar cada vez mais próximos.
No porão, em uma sala grande e hermética, dez pessoas estavam sentadas em círculo, debatendo entre si.
– O almirante Ifung, a esposa e o comandante Ifung foram aprisionados. Os guardas esqueceram-se do outro Ifung, resgatado pelos solarianos – disse Liuan olhando os companheiros. – Ele não estava em casa, no momento das prisões.
– Ele era da resistência, não era? – perguntou um dos presentes.
– Ele é da resistência. Estava me visitando porque somos grandes amigos. Venha, Ifung – disse Liuan, elevando a voz. Uma porta abriu-se e o comandante entrou. – Aqui está o comandante Ifung, retornado dos mortos. O presidente disse que os solarianos são traidores e que planejavam nos subjugar. Disse que o almirante Ifung era cúmplice deles.
– Não seria possível? – perguntou um dos dissidentes.
– Senhores – diz o jovem Ifung –, atesto que essa informação não é verídica. Foram os solarianos que destruíram Tantor e não nós. Eu fui resgatado de uma nave dos inimigos. Eles trataram-me bem. Quando descobriram quem eu era, levaram-me para o meu pai. Ele ao me ver, teve um ataque cardíaco por causa da emoção. Eles salvaram-no sem pedir nada em troca. Aqui, ele teria morrido.
– Podiam estar com medo de nós.
– Medo? – Ifung abanou a cabeça. – Não me façam rir. Uma única nave deles poderia destruir o nosso mundo e havia centenas delas em Tantor. Eles vieram como amigos e foram enganados.
– Nós nos reunimos há dez anos para tentar lutar contra o regime do governo. Enquanto a guerra durava, tínhamos de ficar quietos, mas o almirante Ifung e os solarianos acabaram com a guerra e agora o presidente não tem mais esse apoio – exclamou Liuan, exaltado. – Foi por isso que inventaram que o Almirante era traidor. Ele precisa de algo que o ajude a se perpetuar no poder. Chega de opressão; o nosso mundo está morrendo, os recursos naturais estão cada vez mais escassos e a doença da poluição é uma farsa. A imperatriz solariana em pessoa salvou o meu filho da morte, além de mais três bebês. Acha que, se eles fossem traidores estariam preocupados em nos ajudar? Precisamos de salvar os solarianos e o almirante; ele deve ser o nosso presidente.
– Amigos. A frota é fiel ao almirante – disse o comandante Ifung. – Não vão engolir essa história. Vou atrás deles e recrutá-los para a nossa causa.
– Mas os exércitos de terra são muito mais numerosos – replicou um dos presentes.
– São, mas nem chegam aos pés dos nossos marinheiros. Cada um deles enfrenta dez soldados. Fomos treinados para lutar contra tantorianos.
– Eu vou mobilizar o povo – disse outro. – Usarei a rádio pirata.
– Amigos, o imperador solariano deu-me um pequeno comunicador. – Ele mostrou-o. – Vamos aguardar um chamado.
– Isso parece um simples relógio.
– Mas não é, eu garanto. Vão para as vossas missões que fico aqui, aguardando. Este será o ponto de encontro.
– Ok, Liuan.
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