Capítulo 2 - parte 2 (não revisado)
O sargento Karnaught estava sentado na borda da escotilha que permanecia aberta. Tranquilo, balançava as pernas ao ar e assobiava uma canção quando ouviu um rugido de motor. Espiou o monitor e viu que era a viatura oficial, calculando que o almirante voltara mais cedo. Ainda olhava quando viu um homem correr na sua direção e berrar, ao mesmo tempo que um carro todo vermelho com luzes na frente a piscar parou derrapando, seguido de mais quatro onde desceram vários homens armados.
Karnaught levantou-se e destravou a arma térmica, pulando para o chão. Quando viu os homens apontando armas para o motorista do almirante, ativou o campo de força e ergueu o irradiador. A seguir, disse para cima:
– Computador, solicitar a presença urgente da doutora Chang na escotilha, é uma emergência.
O sargento não agira de forma irrefletida. Além de a criança parecer bem doente, aquele foi o homem que levou o imperador e ela era a única que sabia o idioma nativo, fora o almirante.
Aproximou-se mais do homem e puxou-o para trás de si, mantendo a arma firme e sempre apontada para os policiais. O homem não parava de falar e parecia desesperado, mas o militar ouviu alto e claro a palavra Chang, concluindo assim que agiu de forma adequada. Fez um sinal para os policiais e ordenou, imperativo.
– Parem imediatamente.
Eles não entendem a palavra, mas o tom e o gesto eram inconfundíveis. Ficaram em um impasse, apontando a arma para o solariano em vez do motorista.
– Atirem em mim, seus vermes, que vos mando para o outro mundo mais rápido do que pensam.
– O que está havendo aqui? - A voz da Daniela era inconfundível até porque ela era alvo da fantasia de quase todos na frota. – O que significa isso, baixe imediatamente essa arma, sargento.
– Esses sujeitos querem atirar neste homem, Alteza – explicou o soldado. – O bebê está nitidamente doente e eu ouvi ele falar no seu nome.
– Baixem as armas. – Ela virou-se para os agentes. – Vocês tiveram dois mil anos de guerras e agora querem se matar uns aos outros? Sejam sensatos.
– Ele levou a criança do hospital, sem autorização – arrematou um dos policiais.
– Esta criança é o meu filho e está morrendo – argumentou o motorista, aflito. – O imperador disse para eu levar o bebê para uma doutora Chang, Alteza. Ele disse que meu filho seria curado.
Ela aproximou-se da criança. Não demonstrava medo dos agentes e eles ficaram sem saber como agir. Daniela observou a criança por alguns segundos.
– Venha, rápido – pediu ela. Antes de retornar, disse para os agentes. – A criança vai morrer se não a tratarmos. Estes dois vão para cima comigo. Voltem, ele é apenas um pai desesperado e nós podemos curar a criança.
Sem saber o porquê, os agentes obedeceram-na. Afinal, seria insensato iniciar uma guerra interestelar com um povo supostamente muito mais poderoso que eles só por causa de um bebê que, ao que tudo indicava, pertencia de fato àquele homem. Voltaram para os carros e foram-se embora.
– Venha, segure o seu filho e dê um pequeno impulso para cima, como se fosse saltar bem devagar.
O homem obedeceu e descobriu que flutuava devagar até entrar na nave. Ele seguiu a Daniela, por algumas esteiras rolantes e entraram em um elevador antigravitacional. Depois de subirem oitocentos metros, ela pegou outro corredor e mais um elevador. Chegando ao hospital da nave. Daniela esticou os braços.
– Dê-me o bebê.
O pai obedeceu e a médica depositou a criança em uma cama. Às pressas, retirou sangue para o analisador e ativou o scanner automático. Antes mesmo de o computador dar o diagnóstico, a imperatriz disse:
– Começou aqui, também.
– O que começou?
– O seu filho tem uma mutação – explicou ela. – Ele será superior a tudo o que vocês imaginam, terá a inteligência de um grande gênio e viverá mais. Também nunca mais ficará doente. Mas, na primeira geração, eles morrem. Há mais crianças assim no hospital?
– Sim, três – respondeu, incrédulo.
– Primeiro, nós vamos tratar do seu filho. Daqui a cinco minutos estará berrando como um touro enfurecido e querendo alimento. – Ela injetou o soro. Ergueu a voz e disse. – Doutor Chang: ao hospital, urgente.
Mal o pai entrou, o bebê acordou e começou a chorar. Sem palavras o pai apertou a criança no peito, com os olhos cheios de lágrimas tal era o seu alívio.
– Pai, há mais três casos do gene e precisamos de os acudir imediatamente. – Virou-se para o motorista e continuou na língua nativa. – O senhor nos leva às outras crianças?
– Claro que levo – disse, rindo. – Devo a vida do meu bebê para vocês. Basta pedirem o que quiserem, que eu farei.
– Não nos deve nada, nós gostamos de ajudar. – Ela pegou soro suficiente para mais de uma centena de crianças e um analisador portátil. – Vamos, antes que uma delas morra.
O motorista passou a criança para a Daniela, que a pegou, carinhosa. Observou o semblante do pequenino, ainda tão puro. Ele chupava o dedinho e dormia. Sem pensar. ela sorriu para ele e beijou-o. Um dia, diriam que ele foi abençoado porque a imperatriz solariana o beijara na testa, bando-lhe a benção. Ele era grau noventa e um dia, no futuro, seria o líder daquele povo.
O motorista dirigia rápido e com firmeza, mas não mais como antes. Em quinze minutos estavam no hospital. Por incrível que parecesse, as instalações daquele centro médico eram muito inferiores às dos ubruranos, embora tivessem uma tecnologia bem superior.
Quando os médicos viram o homem voltar com o menino curado e um casal carregando equipamentos às pressas, concluíram que agiram errado e a cura vinha para as crianças.
– Onde estão os outros bebês? – questionou Daniela. – Rápido que podemos salvá-los.
– Ali – disse um médico, apontando. – Venha conosco.
No segundo andar abriu a porta da UTI infantil.
– Vejam – disse ela para os médicos. – Vou deixar este aparelho com vocês, então aprendam a usá-lo. Basta tirar uma gota do sangue da criança e colocar no sensor. Apertem o botão verde e aguardem aparecerem as informações na tela. A última linha é o que interessa, no momento. Se estiver em amarelo ou vermelho e a criança estiver doente, apliquem este medicamento. Aqui há pouco mais de cem ampolas. Cada uma é uma dose completa. Até lá, vamos ensinar vocês a fazer o remédio.
Os médicos ouviam atentamente, impressionados com o aparelho. Viram logo a linha vermelha. Ela tirou a tampa de uma ampola e apareceu uma agulha minúscula. Pressionou contra o braço do bebê. Um silvo fraco faz-se ouvir e o remédio foi injetado.
– Agora vocês – ordenou a doutora. – Cada um trata de uma criança.
– O que são as outras informações que a máquina dá? - perguntou o médico enquanto punha o sangue no sensor.
– É um hemograma completo e análise do genoma. Infelizmente, vocês não sabem a nossa língua. Esse analisador ajuda a diagnosticar muitas coisas. – A última linha apareceu em amarelo e o médico injetou o medicamento. Nesse momento a outra criança despertou.
– Já está curado?
– Sim, vocês devem guardar o soro em lugar refrigerado. Agora o senhor, doutor. É simples, faça-o.
O médico obedeceu e a última criança foi tratada sem dificuldades. Assim que terminaram, Daniela disse:
– Guardem o aparelho. Mais tarde, forneceremos outros equipamentos para vocês. Temos uma máquina capaz de ensinar a nossa medicina e o nosso idioma em pouco mais de um dia. Tenham paciência, mas não deixem essas crianças morrerem porque elas são o futuro do vosso mundo. Terão dons muito especiais e jamais voltarão a ficar doentes.
– O que é isso, doutora?
A Daniela explicou os detalhes do gene.
– A vossa civilização dará um grande salto, quando estas crianças atingirem a idade adulta daqui a treze anos – finalizou. Olhando em volta. – Aconteceu o mesmo com o meu povo.
– Obrigado, doutora. Aguardamos o vosso retorno.
O motorista havia telefonado para a esposa que veio correndo para ver o filho. Agarrada ao bebê e aliviada, ela chorava muito. Até há pouco tempo, o filho era dado como perdido. Ao ver a Daniela, emocionada, abraçou-a com força.
– Obrigada, Alteza – disse.
– Cuide muito bem dele – afirmou, retribuindo o abraço. – Será muito especial. Nunca mais ficará doente e fará coisas que nenhum outro homem neste mundo poderá fazer.
Despediram-se e o motorista levou-os para a nave.
– Obrigada por vir, pai – disse ela. – Eles não confiam muito nas mulheres. Achei a sua presença importante.
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