Capítulo 7 - parte 2 (não revisado)
Daniel estava no hospital, pensativo, e afastou-se um pouco para beber água no bebedouro próximo ao hospital. Havia vários espalhados pelos corredores da nave, colocados em pequenos nichos.
Mal terminou, o relógio comunicador emitiu um bipe curto e uma voz sem imagem disse.
– Ponte chamando Almirante.
– Daniel – respondeu, lacônico.
– Almirante, os leônidas estão pra lá de nervosos. Querem saber porque as navetas dos comandantes já saíram há algum tempo e o almirante deles, não deu sinal de vida. Eu tentei explicar que ele sofreu um infarto, mas eles não aceitaram e ficaram bem exaltados. Exigem vê-lo imediatamente. São danados de desconfiados.
– Passe para cá a ligação.
Projetada no ar em cima do relógio uma tela plana de trinta centímetros surgiu com a imagem do comandante. Ela não era tridimensional porque a câmera de origem não tinha esses recursos avançados. Daniel notou logo uma cara muito desconfiada e achou engraçado a semelhança entre o comandante da nave e o filho do almirante.
– Leônida – começou por dizer. – Aqui é o Almirante Daniel da frota solariana. O Almirante Ifung sofreu um infarto, mas já está fora de perigo. Não se preocupe. Em pouco tempo ele estará de volta.
– Eu já falei com seu oficial, Almirante e não aceito essa desculpa. É melhor que seja mais convincente porque, se em cinco minutos não me mostrar o nosso Almirante, atacarei a sua nave com toda a nossa frota.
– Não seja ridículo, homem – disse Daniel, sorrindo. – Cansou de viver, meu amigo? Como se chama?
– Sou o comandante Ifung e reitero que não estou...
– Agora entendo – disse Daniel, sorrindo de novo. – Comandante, o seu pai e o seu irmão estarão em breve aí...
– O meu irmão está morto, então ao menos respeite os que já se foram.
– Escute, comandante – disse Daniel entrando no hospital enquanto falava. – O senhor está enganado mais uma vez. O seu irmão sobreviveu ao ataque mas ficou cativo dos lagartos e foi liberto por nós. Está, neste momento, com o seu pai. Ele está se recuperando da cirurgia. Espere que já estou perto deles e poderá ver por si próprio.
O jovem almirante aproximou-se dos visitantes e estendeu o braço para o comandante.
– Fale com o seu irmão que ele está bastante nervoso por causa do almirante.
Na tela a imagem do comandante tremeu e arregalou os olhos.
– Irmão! Estás realmente vivo? – exclamou. – Centúria é Grande. Nem sei quantos anos se passaram!
– Alguns, mano, mas estou vivo e ao lado do pai. Ele realmente teve o ataque e está melhor agora. Foi preciso fazer uma cirurgia no coração, mas, com a tecnologia deles, foi uma simplicidade impressionante. A doutora libera-o em cinco minutos e podemos pegar o trasporte para aí.
– Aguardo vocês. Almirante Daniel?
– Sim, Comandante – disse o jovem, voltando a aparecer no campo de visão.
– Peço formalmente desculpas por ter duvidado de vocês.
– Deixa para lá, meu amigo – respondeu com um gesto de ombros. – Se fosse o meu pai não sei como reagiria. O importante é que todos estão bem.
― ☼ ―
Eram oito horas da noite tempo padrão e Daniel aguardava o avô na sua cabine, sozinho porque a esposa ainda estava no hospital, fazendo inventário das coisas para reposição, quando voltassem à Terra, em função de terem deixado muitos equipamentos e medicamentos em Ubrur.
O governador foi pontual e, tão logo se anunciou, oneto mandou entrar. Ele não se levantou da poltrona onde estava relaxado, tomando um chá. O seu camarote era mais espaçoso e tinha uma pequena sala de visitas, apesar de os demais também terem uma área social e outra íntima. Daniel apontou a mesinha onde estava o chá e o avô serviu-se, sentando em seguida. Deu um gole e olhou para o neto, pensativo.
– Sabe que não vai adiantar me convencer do contrário, não sabe, vô? – perguntou quando viu que ele não tomaria a iniciativa.
– Posso saber o porquê disso?
– Eu não desejo governar, o senhor sabe muito bem – disse, um pouco irritado. – O que quero é viajar pelo espaço e explorar o universo, vô, e não apodrecer no trono. Aquele lugar é bom para o senhor, mas não para mim.
– O meu lugar é em Vega, meu querido – disse o avô. – Essa foi a minha escolha...
– Nesse caso – interrompeu o neto –, deixe-me fazer a minha escolha, em vez de me demover.
– As coisas não são tão simples como pensas, Dan – disse ele suspirando. – O império precisa de ti por algum tempo, pelo menos. Olha o que estava prestes a acontecer. O povo ama-te incondicionalmente e a humanidade precisa de voltar para os trilhos. Tenho a certeza de que serão apenas alguns anos...
Daniel ficou calado e, mesmo quando o avô parou de falar nada disse. Apenas continuou a bebericar o seu chá. O governador já se sentia desconfortável com aquele silêncio e acabou se lembrando da sua infância, quando o mestre Lee ficava bem daquele jeito quando ele e os irmãos aprontavam alguma maluquice, coisa bem comum. Ele ficava lá, calado, tomando o seu chá e olhando para os garotos que se sentiam desnudados com o seu olhar repreendedor, como se ele fosse capaz de lhes ler o mais íntimo dos pensamentos. Mesmo sem desejar, acabou sorrindo.
– Posso saber o motivo desse sorriso saudoso, vô?
– Quando eu era criança e o mestre Lee nos apanhava no flagra, ele ficava bem asism, tomando chá e olhando para nós...
Daniel não resistiu e deu uma grande risada.
– É verdade – disse, distraído –, ele fazia o mesmo comigo em Hong Kong, mas eu nunca lhe dei muitos motivos para me recriminar, ao contrário de vocês.
– Acontece que agora não fiz nenhuma peraltice e sei muito bem o que estou dizendo, Dan.
– O senhor pode até estar certo do que diz, vô, mas o combinado foi isso: eu ficaria apenas até ao fim da guerra.
Daniel terminou o chá e levantou-se, aproximando-se da janela, que nada mais era do que um monitor muito bem camuflado que emitia imagens do que fosse desejado. Era tão perfeito que até cheiros podia sintetizar.
– Computador, mudar paisagem da minha janela para a minha casa na Terra, obrigado. – A imagem mudou logo e ele passou a ver o jardim da sua casa ao lado da piscina. Uma brisa suava vinha de lá e trazia o cheiro das flores próximas mesclado com o cheiro das águas que corriam serenas em direção à Lagoa do Patos cem metros para baixo.
Daniel virou-se para o avô e disse:
– Eu não desejo aquilo, vô, mas tudo bem, prometo que vou pensar no assunto.
O governador sorriu, alegre, e disse enquanto se levantava e colocava a xícara vazia na mesa.
– Acho que isso já pode ser um bom começo, Dan – aproximou-se do neto e abraçou-o. – Bem, eu vou para a minha nave. Qualquer coisa, manda chamar.
– Tchau, vô.
― ☼ ―
Por toda a nave os preparativos para a partida do sistema Tantor eram iminentes. Após uma intensa troca de pessoas entre naves, especialmente na Vega, Jessy, Moskow e Dani onde prisioneiros náufragos e especialistas iam para os seus devidos lugares de modo a seguirem os seus afazeres, permaneciam ali paradas apenas as cinquenta naves que ficariam de vigília e a nave capitânia, agora vazia da sua carga de prisioneiros. Daniel tinha mudado de ideia e mandou instalar os humanos resgatados na nave da Anjuska, mas, fora isso, o resto manteve-se inalterado.
A duas horas-luz dali, uma frota de cinco mil naves em forma de disco acelerava, preparando-se para efetuar o primeiro salto no hiperespaço em direção ao sistema Leonid.
Na pequena sala de reuniões da ponte de comando, Daniel, Zulu e Nobuntu tomavam café.
– Zulu, deixa os teus homens mais tempo de folga. Faz turnos mais longos e reduz a equipe de plantão porque tiveram um tempo bem difícil e merecem uma boa folga. Já que estamos entre amigos e acredito que estaremos também em Leonid, basta apenas um contingente básico nas guarnições da nave.
– Sim senhor, Almirante – disse o gigante de ébano, maior ainda que o pai que já era enorme. – Eles merecem mesmo um descanso.
– Quando seguiremos para Leonid, Almirante? – perguntou Nobuntu.
– Em doze horas, Coronel – respondeu Daniel. – Eles vão demorar um pouco a chegar lá e combinamos que iam anunciar a nossa chegada para não gerarmos pânico. Afinal, somos um pouco avantajados e eles muito desconfiados por causa da longa guerra.
– É verdade – disseram os dois, rindo.
– Tá tudo bem contigo, Zulu? – perguntou Daniel. – Estou te achando um pouco estranho.
– Acho, Almirante – disse Nobuntu, debochado –, que o meu filho está com um pouco de saudades de uma certa Ubrurana.
– À, entendo – disse Daniel, rindo. – Bem, isso se resolverá em poucos dias, já que ela foi para a Terra com o pai e a nossa estadia em Leonid não deverá passar de dois ou três dias.
– A gente se acostuma, Almirante – respondeu ele, rindo. – Engraçado, já tive tantas garotas de todos os tipos; mas, mal pus os olhos nessa alienígena... fui apanhado.
– Que bom que é recíproco, Zulu – disse Daniel. – Eu sei bem como é. Não sou mais capaz de ficar longe da minha Dani. Bem, voltando a falar do que nos importa mais, nós vamos encontrar um povo que esteve em guerra com os lagartos por dois longos milênios e são naturalmente desconfiados de tudo, especialmente de estrangeiros. Eu não diria que são xenófobos, mas seria bom orientares os homens, especialmente os guerreiros, a não reagirem caso recebam alguma provocação ou atitude arrogante.
– Tem razão, senhor – respondeu o chefe da artilharia. – Falarei cm eles.
– Por via das dúvidas, também falarei com todos pelo intercomunicador, senhor – disse o comandante. – Ficaram tantorianos a bordo?
– Não. Mandei todos para a Jessy, Nobuntu – respondeu Daniel. – Achei que seria mais seguro e prudente.
O imperador levantou-se e continuou:
– Bem, vou comer alguma coisa e tentar dormir um pouco. Infelizmente, cada vez que vou dormir tenho pesadelos com a ordem que dei para destruir o planeta. Até breve.
– Até breve, senhor – disseram os dois oficiais, levantando-se.
Quando o Daniel saiu, Zulu disse:
– Ainda bem que temos este homem no comando, pai. Se o Saturnino estivesse vivo, acho que estaríamos perdidos.
– Tu achas? – Nobuntu deu uma gargalhada. – Eu tenho a certeza.
― ☼ ―
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top