Capítulo 7 - parte 1 (não revisado)
– Comandante Nobuntu – continuou o Daniel, distribuindo as suas instruções. – Coronel, o senhor seleciona a escala das cinquenta naves e elas devem começar imediatamente o seu patrulhamento.
– Certo, Alteza – respondeu Nobuntu, usando o título principal porque estavam em reunião formal com alguns governadores planetários presentes.
– Comandante João – disse, virando-se para o primo. – Os tantorianos aprisionados deverão ser levados até à Mirtid, claro que após serem devidamente neutralizados. Transfere-os e aos humanos salvos para a Jessy. Ficarás lá de prontidão para quando eu chegar.
– Ok, Dan – respondeu bem descontraído porque estava-se pouco ralando para protocolo, ainda mais que o próprio imperador fazia o mesmo quando lhe dava nas ventas.
Por último, Daniel olhou para o avô e sorriu de mansinho. Ele sentia-se orgulhoso daquele homem que foi o elo mais importante para terem conseguido uma vitória tão fácil.
– Governador Daniel – disse para o avô. – Peço-lhe que escolte o Governador Jcob e seus conselheiros para a Terra e mande o palácio preparar a instalação dele. Peço também, se não for abuso da minha parte, que solicite aos governadores para aguardarem a minha volta. Como foi combinado, na promessa que fiz para o falecido imperador Saturnino, a guerra está no fim e agora quero devolver o trono.
– Alteza... – começou ele a dizer, mas foi interrompido pelo neto.
– Isso ainda vai ser em alguns dias porque, por hora, vou a Leonid conhecer melhor aquele pessoal. Afinal eles são os seres humanos mais avançados depois de nós e uma aliança entre os dois povos seria benéfica. Talvez entrem para o IS, mas, mesmo que não entrem, seria muita infantilidade achar que apenas os tantorianos são uma fonte de perigo nesta Galáxia enorme.
– Sim, Majestade, acredito que tenha razão – respondeu o avô com um suspiro. Ele notou que o neto o interrompeu de propósito porque sabia que o avô ia dizer e não desejava discutir aquilo com ele, pelo menos publicamente.
– Alguém tem perguntas? – perguntou Daniel, que não deixou passar o suspiro desapercebido. Por causa disso fez um olhar de advertência para o avô que correspondeu com um aceno quase imperceptível. O seu devaneio foi interrompido pela pergunta de um comandante:
– Quanto tempo a patrulha vai ser necessária, senhor?
– O tempo que for preciso – respondeu o Daniel com um suspiro. – Infelizmente não há como adivinhar quantas naves tantorianas há soltas por aí, no espaço. Mas, com o tempo, reduziremos o patrulhamento a menos aparelhos. Podem pousar em algum planeta, desde que tenham gente nos sensores. Mais perguntas?
Ninguém perguntou mais.
– Então, meus senhores e senhoras, a reunião está encerrada. As equipes podem retornar para a Terra assim que o coronel Nobuntu escolher as naves de patrulha e liberar as demais. Estão dispensados.
Os comandantes foram saindo aos poucos, mas Anjuska, Pedro Costa e o governador Daniel ficaram para trás. Ela foi a primeira a falar.
– Senhor, gostaria de conhecer esse tantoriano para ter uma ideia da coisa antes de começar a missão – pediu ela, olhando derretida para o seu superior. – Isso seria ótimo para eu ter uma perspectiva correta do que me espera.
– Excelente ideia, coronel – disse o Daniel, dando um sorriso gentil para a moça. – Eu vou para a enfermaria ver a minha esposa e os aposentos dele são perto, então acompanhe-me. O senhor deseja algo, major Costa?
– Casualmente ia fazer o mesmo pedido que a minha nobre colega, Almirante – respondeu com um sorriso.
– Isso é ótimo – disse o Daniel. – É sinal que desenvolveram pensamentos similares sem combinarem. Estou certo de que escolhi uma excelente equipe. Vocês vão-me acompanhar.
– Filho – começou a dizer o avô. – Eu...
– O que o senhor deseja discutir, vô, é bem diferente, então que tal me encontrar mais tarde no meu camarote. Não desejo ver esse tipo de conversa assistido por terceiros. É um assunto muito pessoal para mim.
– Combinado, Dan – disse o governador. – Estarei lá às vinte horas padrão.
– Perfeito, então – disse o Daniel. – Aguardo lá. Vou ver o almirante Ifung e a Dani.
– Certo, e eu vou aproveitar e levar o governador Jcob e a sua comitiva para a Vega.
Daniel seguiu acompanhado do par e foi despreocupado pelos diversos corredores e elevadores antigravitacionais. Anjuska que só esteve na nave capitânia na Centúria para a primeira reunião nunca tinha visto como era o clima no couraçado.
Ela notou que, onde quer que Daniel passasse, era reverenciado com sorrisos no rosto e nunca com submissão. Ele era amado pelos seus subordinados e via com toda a clareza que qualquer deles, incluindo ela no topo da lista, dariam a vida de bom grado por aquele homem. Ao que parecia, Anjuska viu que o rosto do colega estava compenetrado, olhando as mesmas coisas, e supôs que devia estar a pensar algo parecido. Os devaneios de ambos foram interrompidos quando ele parou na frente de uma cabine e, antes de se anunciar disse:
– O nome dele é Olac. Tratem-no bem e com respeito que terão dele qualquer coisa que desejarem. Ele é carente de amizade verdadeira, então esse é o segredo para conquistar a sua confiança.
– Sim, senhor – disse Anjuska, admirada. – Lembrarei disso.
– E lembrem-se que vocês são representantes do Império do Sol, então comportem-se como tal, a nação mais poderosa deste setor da Galáxia, mesmo que não sejamos.
Daniel fez um aceno e anunciou-se à porta. Enquanto falava, Pedro murmurou no ouvido dela:
– Ele é um psicólogo nato!
Ela concordou com um gesto e a porta abriu-se nesse momento. Entraram e viram logo um tantoriano sentado em uma poltrona.
– Não se levante que o senhor ainda está fraco, Olac – disse Daniel com um sorriso. – Estes são a coronel Anjuska e o major Costa que vão liderar a libertação dos mundos escravizados. Eles pediram para conhecer o senhor e, caso não esteja muito cansado, gostaria que conversasse um pouco com eles e respondesse algumas perguntas para que o conheçam melhor.
– Será um prazer – respondeu o verde, sorrindo. – Depois de tantos anos parado, terei muito gosto em ajudar e trabalhar no que mais gosto.
– Então estão entregues – disse Daniel. – Amanhã o senhor deverá ser transferido para a Moskow e ficará no comando da Caronel.
– Moskow? – perguntou ele, voltando a sorrir. – Ouvi alguns comentários que a Moskow era pilotada por uma mulher que não sabe o que são limites.
– Não é verdade, Olac – disse Anjuska, rindo. – Eu apenas conheço bem esses limites.
– Perfeito – disse Daniel. – Fiquem à vontade que eu vou ver a minha esposa.
O Daniel saiu, seguido pelo olhar dos três foi para o hospital, entrando no gabinete da mulher.
― ☼ ―
– Oi, amor – ela beijou-o, alegre. – Ele deve acordar a qualquer momento.
O leônida ficou de boca aberta olhando para ambos, sem entende nada, e isso chamou a atenção do casal.
– Que foi? – perguntou a moça. – Algum problema com o senhor? Sente-se mal?
– Não disse que era casada com o imperador? – perguntou ele, ainda sem compreender o óbvio.
– E sou.
– E as mulheres casadas do seu povo, podem fazer isso?
– Beijar os seus maridos? – perguntou ela, também sem compreender. – Claro!
– Mas a senhora acabou de beijar o Almirante e não o imperador, doutora – disse ele. – Sinceramente, não estou entendendo nada.
Daniel não se aguentou e deu uma grande risada, enquanto a mulher sorria, divertia. Finalmente ele entendeu e perguntou:
– Quer dizer que o almirante é o imperador?
– Sou – disse o Daniel, muito divertido. – Mas, na nave e em operações, chamam-me de almirante.
– Almirante, o meu nome é Inchin – disse ele, fazendo uma profunda vênia. – Obrigado por tudo.
– Engraçado, mas a língua de vocês é parecida com hakka, um idioma da Terra, de um dos povos da mesma raça da minha esposa e sua.
– Por serem duas raças diferentes, vocês podem ter filhos?
– Sim, eles pegam traços de ambos – respondeu a Daniela, já que se tratava de uma pergunta da sua alçada. – Geralmente têm os olhos ao mesmo estilo dos nossos, mas com traços mais suavizados. Afinal somos todos da mesma espécie. Vamos lá para a sala da enfermaria ver o seu pai. O senhor vai aguardar fora do campo de visão dele até que eu o autorize para não receber todas as emoções de uma só vez. Lembre-se que ele sentiu a comoção muito forte que provocou o ataque quando o viu.
– Sim, doutora – respondeu Inchin.
Os trés desceram e entraram no hospital, na ala de repouso e pós-operatório.
― ☼ ―
O almirante acordou sem transição e sentia-se bem. Lembrou-se de pensar ter visto o filho falecido e de ser tomado por uma dor infernal no peito. Não foi nem uma nem duas vezes que viu uma pessoa sofrer um ataque do coração e estava familiarizado com isso, mas nunca imaginou que pudesse acontecer com ele. Sabia, também, que esses ataques eram fatais na grande maioria dos casos ou então a pessoa acabava quase inválida e isso contrastava com a grande sensação de relaxamento e bem-estar que sentia.
Olhou para o lado e viu que estava deitado em uma sala cheia de equipamentos e camas, mas não havia nada conectado a si.
– "Estou em um hospital superavançado" – pensou. – "E estou vivo."
– Bem-vindo de volta, Almirante. – Ele ouviu a voz da Daniela e virou-se para a frente. – O senhor teve um infarto e tanto. Felizmente conseguimos socorrê-lo a tempo.
– Majestade! – disse ele, sorrindo. – Salvou-me a vida!
– Sente-se melhor, Almirante? – perguntou o Daniel, entrando no seu campo de visão.
– Sim, Alteza – respondeu Ifung com um suspiro – Eu imaginei que via o meu falecido filho e, daí, senti a dor. Nunca imaginei que fosse ter um ataque do coração e menos ainda que começasse a ver miragens. Meu filho mais velho morreu lutando contra os tantorianos, nos confins do nosso sistema. O senhor não imagina a dor que é perder um filho, Majestade.
– Almirante – disse a Daniela com todo o cuidado. – O senhor passou por isso devido a uma emoção fortíssima e preciso de saber se está se sentindo bem. Os monitores indicam que está tudo bem, mas eles não são capazes de verem o emocional. O que o senhor faria se o seu filho não estivesse morto e sim aqui nesta nave?
– Esse seria o maior dos presentes que os deuses da Centúria me dariam, Majestade – respondeu o alienígena. – Mas eu vi a nave dele ser abatida e destruída. Seria impossível que estivesse vivo. Tudo bem, Alteza, eu já voltei ao normal e sinto-me bem.
– Almirante – afirmou o Daniel, aproximando-se e pondo a mão no seu ombro. – O seu filho não está falecido. Ele sobreviveu, foi aprisionado e nós o libertamos quando atacamos os lagartos em um planeta chamado Ubrur. Resgatamos o seu filho e mais dezenove seres humanos, mas ele era o único leônida.
– Isso é mesmo verdade, Alteza? – perguntou o Almirante com a voz tremendo de emoção. – Onde ele está? Eu preciso de o ver...
Daniela notou a sua ansiedade e o monitor emitiu um pequeno bipe. Ela aplicou-lhe um calmante leve e esperou quinze segundos para fazer efeito. Olhou para o marido em sinal afirmativo e, em seguida, fez um pequeno movimento de olhos e inclinou a cabeça fazendo sinal para o comandante aproximar-se.
– Estou aqui, pai – disse o náufrago, também ansioso. Ambos abraçam-se emocionados.
– Obrigado, Majestade – disse ele, ainda emocionado. – Pensei que ele estava morto e, para o nosso povo, os laços familiares são muito importantes e estreitos. Acredito que deve ter sido esse o principal motivo de ter infartado.
– Na verdade, Almirante, o senhor tinha o problema de formação no coração que nós identificamos logo de cara. – explicou a Daniela. – É certo que a emoção deflagrou o problema, mas não foi o principal motivo. Como o seu filho autorizou, nós operámo-lo.
– Operaram o meu coração? – perguntou espantado. – Mas quanto tempo já se passou?
– Quarenta minutos, talvez um pouco mais, Almirante. Não se esqueça que a nossa ciência é muito mais avançada. – Daniel sorriu.
– Esse saber poderia ser útil em Leonid.
– Compartilhamos a nossa ciência com os nossos amigos de bom grado – disse Daniel, muito sério. – Apenas a tecnologia militar é que é exclusividade do império.
– Obrigado. Posso me mexer? – perguntou, preocupado, apalpando o peito. – Devo estar com um rasgão enorme no tórax, mas não sinto nada. Antes pelo contrário, sinto-me muito bem, até melhor que antes.
– O senhor tinha uma obstrução em uma válvula do coração que o forçava a trabalhar mais rápido. Agora ele está sem esforço algum. Poderia sair daqui e correr sem parar por uma hora que não lhe aconteceria nada, Almirante. A ferida da cirurgia tem apenas cinquenta miliyuks. Com um simples ponto ela foi fechada e já aplicamos o cicatrizante. Em uma hora, nem se notará a marca do corte.
– Majestades, obrigado por tudo – disse Ifung. – O meu primeiro nome é Cheng. Sou-lhes devedor de duas vidas e espero um dia poder retribuir isso.
– Nada nos deve, Almirante – disse a Daniela sorrindo. – Nós estamos muito felizes em ajudar e mais ainda em fazer novos amigos.
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