Capítulo 6 - parte 2 (não revisado)

Daniel foi saindo e lembrou-se das tantorianas aprisionadas que ainda não viu. Saiu no andar seguinte e foi para um depósito onde elas estavam sob guarda relaxada.

Quando entrou, encontrou-as muito quietas, encolhidas e assustadas. Aproximou-se delas e deu um pequeno sorriso. A seguir, disse:

– Olá. Eu sou Daniel, o Imperador do Sol e líder do meu povo. Quero que saibam que nada de mal vai acontecer para vocês. Vamos levá-las para a Terra e lá encontrarão outras tantorianas que vão ajudar vocês.

Notou logo que elas se acalmaram um pouco e foi contando tudo sobre os planos para o povo delas. Quando saiu, despediu-se, deixando-as muito mais tranquilas.

Parou do outro lado da porta e chamou a esposa.

– "Dani, os humanos que salvamos em Ubrur? Como eles estão?"

– "Foram tratados por outros médicos e não por mim. Deixa ver os registros no computador..." – respondeu. – "Aqui está. Tiverem alta do hospital anteontem e levaram-nos para o convés cento o noventa, setor F. É um pequeno auditório porque acharam melhor deixá-los juntos."

– "Obrigado. Estou perto e vou vê-los. Ainda tenho meia hora antes da reunião."

Andou apenas cinco minutos e encontrou o auditório, que tinha um guarda a cuidar da entrada. Abriu a porta e entrou, notando que eles estavam divididos em quatro grupos. Um quinto era formado por um único individuo.

– Você é leônida – disse o Daniel, na língua do cativo. – Não é?

– E se eu fosse? – perguntou o homem, agressivo e sem se dar conta que respondeu em leônida.

– Calma, meu caro. Vocês não são prisioneiros aqui. Só não tivemos tempo de conversar ainda por causa da guerra contra os lagartos. Venha. A frota do seu povo está lá fora.

Alegre o homem levantou-se logo e seguiu o anfitrião. O Daniel olhou para cada um dos quatro grupos de notou logo que eram de quatro mundos distintos. Aproximou-se do primeiro grupo e entrou nas mentes deles. Eram seres assustados, pacatos, mas bem mais primitivos. Teriam uma sociedade equivalente ao século XVIII. Absorveu a língua deles e falou-lhes nesse idioma:

– Amigos. Os tantorianos foram destruídos. Vocês deixaram de ser escravos e, depois, vamos levar-vos para o vosso mundo. Por hora, vocês vão para o meu mundo, mas serão muito bem tratados. Vão como amigos e não como escravos. Lá, uma equipe de libertação levará vocês para o vosso planeta. Eu vou mandar o oficial da segurança colocar vocês em alojamentos mais adequados, mas evitem sair deste deck para não se perderem.

Eles agradeceram e ficaram com outra cara. O Daniel repetiu a dose com cada um deles. Descobriu que dos quatro grupos, dois estavam no equivalente ao século XXI, um no XVIII e um no XX. Quando se retirou junto com o leônida, ele deixou uma turma bem aliviada. Na porta, falou com o guarda e deu as suas instruções.

– O que disse para ele? – perguntou o leônida, desconfiado.

– Mandei arranjar acomodações melhores para eles. O senhor não vai necessitar, a menos que não deseje se juntar ao seu povo.

– É claro que desejo encontrar o meu povo. Isso é o que mais desejo há muitos anos – afirmou o leônida. – Afinal, quem é o senhor?

– Eu sou Daniel, almirante supremo da frota solariana. Você foi resgatado em Ubrur e está no couraçado Dani, no sistema de Tantor. Enquanto vinhamos para cá, encontramos uma frota do seu povo que também se dirigia para aqui. Como tínhamos o mesmo objetivo, reunimos forças contra os lagartos.

– Morte aos desgraçados – falou o outro, automaticamente.

– Para quê tanta raiva?

– Nós estamos em guerra há dois mil anos, Almirante. Tínhamos quatro belos mundos. Três estão destruídos, Milhões de seres humanos foram mortos por esses monstros só pelo prazer de os massacrar. Isto é suficiente?

– Pelo menos isso diminui um pouco do peso que carrego nas costas.

– Peso?

– Olhe. – Ele mostrou uma tela por onde passavam. Mesmo naquela distância, podiam ver o mundo agonizante, cuja crosta planetária se rompeu com a violência da arma utilizada. Nuvens de cinzas cobriam a atmosfera, fechando-a lentamente, tornando-a irrespirável por muitos séculos. Continentes afundavam e outros nasciam. A vida estava extinta. – Aquilo era Tantor. Não há mais vida lá. A guerra acabou, mas o preço foi muito alto.

– Alto? – perguntou o leônida, que não entendia onde o Daniel queria chegar. – Quantos perdemos?

– De acordo com os relatórios, nenhuma nave teve baixas. Nem na nossa nem na vossa frota.

– Então é motivo para comemorar.

– Nós não gostamos de matar, amigo, mesmo nestes casos. Você fala que eles mataram milhões do seu povo, mas eu ordenei a morte de bilhões em menos de um dia e isso é uma coisa que me faz mal, mesmo sabendo que era necessário. Afinal como se chama?

– Sou Ifung – respondeu. – Era oficial comandante de uma nave que foi abatida. Sou o único sobrevivente.

– Esse é o seu nome pessoal ou de família, Comandante?

– De família, Almirante. Somente os amigos mais íntimos usam os seus nomes pessoais.

– Entendo – disse Daniel, pensativo. – Venha. Vamos ao auditório que um representante do seu povo vai chegar para a reunião. Levou-o para uma sala que dava para os bastidores do auditório e pediu que um auxiliar levasse o comandante e lhe arrumasse roupas decentes porque as dele estavam em mau estado.

– Almirante, os comandantes já estão reunidos e aguardam por si.

– Quando ele estiver pronto levem-no a mim. Não esperem a reunião acabar.

– Sim senhor.

― ☼ ―

Daniel abriu a porta e entrou no palco, dirigindo-se para o patíbulo. Assim que foi visto, os presentes levantaram-se e deram uma grande salva de palmas. Ele aguardou um pouco até que se acalmassem, quando começou a falar:

– Meus companheiros de luta. A primeira mas mais importante fase da guerra contra os tantorianos acabou. Infelizmente, e como previsto, eles não se renderam e não houve alternativa a não ser o extermínio, mas ainda há muitas naves errantes com centenas de lagartos à solta.

Daniel fez uma pausa e repetiu em leônida para que Ifung o pudesse acompanhar. Após, continuou a dizer:

– A guerra está praticamente terminada a agora começarão a segunda e terceira fases ao mesmo tempo. Há outros planetas tantorianos, mas a indústria deles, era neste aqui. Esses mundos têm apenas um posto avançado e uma ou duas naves. Noventa por cento da população é humana porque são mundos humanos, escravizados para prover o que eles precisavam.

Após repetir para Ifung, continuou:

– A frota vai-se dividir. Aqui, no sistema Tantor, ficarão cinquenta cruzadores de patrulha. Deverão patrulhar o espaço por um mês. Ao fim desse tempo, serão rendidos por outro grupo. Qualquer nave tantoriana que aparecer deverá ser sumariamente destruída. De preferência prendam com vida os lagartos que estiverem nela. Terão marines para apoiar.

Assim que terminou da repetir em leônida, ele sentiu um movimento pelo canto do olho e virou-se, deparando-se com o ordenança acompanhado do comandante Ifung devidamente trajado.

Daniel continuou:

– Almirante Ifung, há uma pessoa aqui que resgatamos de uma nave tantoriana, em Ubrur. – Fez um sinal para o comandante salvo apresentar-se. – Acredito que o senhor o conheça.

Ao ver o filho que supunha morto, o almirante Ifung sentiu um nó na garganta. Primeiro ele pensou que os olhos o enganavam. Levanta-se com uma certa dificuldade e começou a tremer sentindo uma comoção muito forte.

– Meu... meu... – ele começou a se inclinar para a frente com a mão no peito e o imperador solariano deu-se tonta no mesmo ato.

– Daniela, para o auditório urgente – gritou para o comunicador enquanto corria a socorrer o almirante. – Ataque cardíaco em andamento.

Ela teleportou-se no mesmo ato para o palco e correu atrás do marido que já deitava o alienígena no chão e preparava-se para fazer massagem cardíaca. Assim que a doutora chegou ao seu lado, ele afastou-se e deixou-a trabalhar.

– Ainda não atingiu a parada – disse ela enquanto injetava um estabilizante às pressas. – Foi mesmo na hora certa. Vou transmitir um pouco de energia.

– Voltou a bater regularmente – comentou o Daniel, que tomava o pulso do almirante, ao lado do filho desesperado.

– Meu pai... – disse ele, aflito, agachando-se junto ao casal.

– A doutora disse que ele vai ficar bom – afirmou Daniel, tranquilizando o comandante.

Dois enfermeiros entraram correndo com uma maca antigravitacional e colocaram o paciente nela.

– Vá com eles – disse o Daniel para o comandante –, fique com o seu pai. Quando a reunião acabar, encontro vocês lá.

Assim que saíram, ele retornou para a tribuna e continuou.

– Ele vai ficar bom – disse para a plateia. – Bem, como eu ia dizendo, cinquenta unidades ficarão aqui e o resto vai para a Terra. Coronel Anjuska.

– Sim, Almirante – disse a intrépida combatente –, pois não?

– A senhora vai liderar uma equipe para libertação dos mundos escravizados. Terá à sua disposição duzentos cruzadores porque, a cada mundo liberto, um cruzador ficará de patrulhamento para destruir eventuais naves errantes que apareçam. Receberá uma equipe de orientadores cívicos e psicólogos para a ajudar a lidar com os humanos de cada mundo, especialmente nas negociações com eles. Os povos mais primitivos, especialmente, deverão ser ajudados com muito cuidado porque não os podemos lançar diretamente no nosso mundo moderno. A senhora vai contar com uma grande ajuda que é um cientista tantoriano que salvei recentemente. Ele conhece muito bem os humanos escravizados e é muito diferente dos tantorianos aprisionados. Estou certo que será um excelente conselheiro e fala mais de sessenta idiomas humanos.

– Sim, Almirante – disse a moça. – Pode deixar que terei prazer em trabalhar com ele, se é do jeito que fala.

– Major Costa, o senhor será o segundo em comando e o apoio da coronel, compreendido.

– Sim, Almirante – disse o jovem, levantando-se e fazendo uma mesura. – Estou certo de que seremos uma excelente equipe.

– Esta guerra terminou, senhores, mas temos de ser muito precavidos porque ainda há inúmeras naves espalhadas pela Galáxia.

― ☼ ―

Andando por corredores incontáveis em esteiras rolantes e elevadores antigravitacionais, o comandante leônida, que não vira a nave de fora, pois estava em um quarto fechado quando foram levados para dentro da Dani, começou a achar a nave muito maior do que supunha.

– Qual o tamanho desta nave? – perguntou em tantoriano.

A Daniela olhou para ele e entrou na sua mente. Absorveu os conhecimentos necessários do idioma e retirou-se, para não invadir a privacidade dele.

– Mil quatrocentos e quarenta e quatro yuks – respondeu, na língua dele. – Pode falar o seu idioma.

– Como fez isso? – voltou a perguntar. Olhou a doutora, impressionado e abismado com a sua beleza, pensando. – "Céus, que esposa não daria esta mulher!"

– Obtive as informações da sua mente e converti para as suas medidas.

– Esta nave é tão grande assim? – perguntou ele, que não se deu conta da profundidade do que a médica fizera.

– É sim – respondeu. – Vocês estavam muito doentes quando vieram para cá. É a maior classe de naves do Império.

– Só têm ela?

– Não. Temos duas aqui e mais dez em um planeta do nosso Império.

– E que tamanho têm as outras?

– Cerca de oitocentos e sessenta yuks e são todas esféricas.

Chegaram ao hospital e o estrangeiro foi colocado em um scanner para um diagnóstico mais profundo. A Daniela descobriu logo um problema de má formação que, aliado à emoção forte, fez com que tivesse o ataque.

– Olhe, o seu pai precisa de uma cirurgia no coração. Embora ele vá ficar bom com a medicação, quando voltar a ter uma emoção muito forte, terá outro ataque. Só se salvou hoje por causa da intervenção instantânea. Para operar, precisamos de autorização.

– Uma cirurgia no coração? – perguntou o comandante, enrugando a testa preocupado. – Isso não é perigoso?

– À, sim, há oitocentos anos era bastante perigoso. Agora é uma cirurgia de dez minutos e ele estará de pé em meia hora.

– Nesse caso, autorizo o tratamento – respondeu. – É a senhora que vai tratá-lo?

– Não, um cardiologista vai fazer. Podia ser eu, mas ele é um especialista nessa área e eu não sou.

– Em que se especializou?

– Genética e clínica geral – respondeu. – Venha, já acionei a equipe que vai tratar dele. Vamos aguardar no meu gabinete.

O gabinete da Daniela era uma sala grande com um janelão de vidro que dava diretamente para a sala circular dos leitos com uma vista privilegiada por ser de cima. Um grupo de enfermeiros pegou na maca e levou o almirante para uma das salas de cirurgia.

– Não será aqui?

– Não, será na sala de cirurgia seis. – A doutora clicou em um botão e a janela passou a exibir as imagens da sala de cirurgia. Não era grande, mas caberiam uns dez médicos, além do paciente e do maquinário.

Ifung viu que havia um homem controlando uma máquina. Dela, saíram braços que prenderam o braço do almirante e injetaram uma sonda muito fina na sua veia. Mais braços conectaram eletrodos de monitoração enquanto outro médico aproximava-se. Ele olhou para uma imagem holográfica do almirante leônida e começou a falar.

– O que ele está fazendo? – perguntou para a doutora.

– Pediu ao computador que apresentasse todas as imagens internas do corpo do almirante de forma a localizar o melhor ponto para a operação.

Assim que concluiu o ponto ideal, o médico aproximou-se com algo na mão que parecia uma seringa gigante. Olhou para o colega da máquina e fez uma pergunta, recebendo um gesto afirmativo em troca.

– Agora perguntou ao anestesista se o almirante já estava devidamente pronto para a intervenção – disse a Daniela, vendo a sua curiosidade. – A seguir o médico vai inserir a sonda por onde a cirurgia será feita.

Ifung viu um tubo muito fino ser inserido no tórax do pai e, logo a seguir, uma outra tela holográfica enorme apareceu na frente do médico. O comandante reconheceu logo que eram imagens internas do corpo do pai e o médico guiava-se por ali. Como a Daniela disse, em dez minutos a intervenção estava consumada e o pai dele operado e sem necessidade de uma internação mais grave.

– Está feito – disse a Daniela. – Agora ele vai dormir mais quarenta minutos.

– O vosso povo tem recursos incríveis – disse ele. – Obrigado por salvar o meu pai.

– Nós médicos, fazemos questão de salvar qualquer vida.

Sem resistir mais, ele disse-lhe:

– Você até parece leônida, mas nunca vi uma mulher tão bonita. Seria uma esposa sem par no meu mundo.

– Obrigada pelo elogio, mas eu já tenho marido e sou muito feliz.

– E ele deixa-a trabalhar!? – perguntou, espantado. – No meu mundo, as mulheres casadas não trabalham!

– Mas eu gosto de trabalhar – retrucou a médica. – No nosso mundo as mulheres têm exatamente os mesmos direitos, liberdades e deveres dos homens. Nem mesmo o imperador poderia me impedir de trabalhar e, já que o meu marido é o próprio imperador...

– É casada com o imperador? – perguntou, arregalando os olhos. – Desculpe ter sido tão impertinente.

– Tudo bem, esqueça. Vamos aguardar. Daqui a pouco o Daniel vem aqui. Vou pegar um café para a gente.

– O que é isso?

– Uma bebida maravilhosa – respondeu, dirigindo-se para a máquina de bebidas.

― ☼ ―


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