Capítulo 2 - parte 2 (não revisado)
A Dani emergiu e o piloto disse:
– Coronel Nobuntu, estamos a dez segundos-luz da frota. Iniciando frenagem.
– Por todos os deuses estelares – disse Nobuntu. – O céu em volta do sexto planeta parece um enxame de cilindros! Distância do inimigo?
– Cinco minutos-luz, senhor – respondeu a oficial de rastreamento. – Vão levar algum tempo a nos descobrirem.
– Senhor – disse Zulu da sala de artilharia. – Há duzentas e cinquenta naves dos verdes no flanco direito a cem mil quilômetros e mudaram o rumo na nossa direção. Deviam estar retornando para o sistema.
– Enviaram um rádio para a frota deles, senhor – informou um dos operadores de comunicações.
Nobuntu olhou para Daniel que apenas sorriu e disse:
– Mantenha o rumo e ignore-os, coronel. Está na hora deles descobrirem que um couraçado solariano precisa muito mais do que isso para ser destruído. Zulu, permaneça passivo até segunda ordem ou o senhor notar que há perigo para a nave.
Cada nave cilíndrica disparou dez misseis sobre a Dani que continuou a sua trajetória, diminuindo a velocidade com quase toda a potência dos jatopropulsores. Nesse momento, os leônidas chegaram do seu hipersalto para se depararem com os novos aliados recebendo o impacto de mil ogivas atômicas. Horrorizados, assistiram o inferno atômico que se formou e, quando o brilho acabou, encontraram o gigante incólume, já em velocidade um tanto baixa. O almirante suspirou aliviado e olhou aquela nave enorme com ainda mais respeito. A esfera parou repentinamente e as naves atacantes não tiverem tempo de desviar, colidindo com o campo de força. Mais uma vez ocorreu um pequeno inferno quando os cilindros roxos explodiram e foram catapultados para o hiperespaço. Quando todo acabou, restava apenas a nave parada.
O leônida ia dar uma ordem para contatar os novos amigos quando uma segunda nave gigantesca surgiu do nada ao seu lado, Como se isso fosse um aviso, quinhentas outras unidades apareceram e ele viu-se de frente a uma frota que, embora muito menor que a sua, era infinitamente mais poderosa, como ele acabou de descobrir.
Logo a seguir, um oficial chamou-os. Após um sorriso gentil, ele disse, em tantoriano:
– Salve, leônida. Coloquem a sua frota no flanco esquerdo ao lado da nave capitânia. O nosso almirante gostaria de convidar o seu almirante para vir à nave para uma reunião e para discutirmos os detalhes para o ataque aos tantorianos.
– Obrigado pelo convite, solariano – respondeu o almirante, satisfeito por poder conhecer aquele monstro por dentro. – Irei para a nave auxiliar. Onde devo atracar?
– Assim que o senhor sair, Almirante, verá um hangar aberto e iluminado, aguardando o seu pouso e outros comandantes também. Informarei o nosso almirante que o senhor está a caminho. Paz.
Terminando isso, ele desligou e o almirante levantou-se. Preocupado, o comandante disse:
– Senhor, não acha arriscado ir para a nave dos estranhos? Sugiro que leve uma escolta.
– Claro que não. Eles poderiam interpretar mal uma escolta e sinceramente, comandante, que mal iriam desejar se são muito mais poderosos do que nós? Se nos quisessem mal, teríamos deixado de existir quando os atacamos. Não, eu estou certo de que serão grandes amigos nossos, no futuro.
Finalizando, saiu para a nave auxiliar, que era um pequeno cilindro de dez metros por dois de diâmetro. Esperou que o vácuo se formasse e, quando a comporta esterna se abriu, ele acelerou a nave. Estava apenas a mil metros do couraçado e, mal avançou uns cem metros, deparou-se com o hangar dos visitantes na nave dos novos aliados. Ele estava muito bem iluminado e era enorme, talvez uma centena de metros, mas o que o espantou mais foi o fato de haver seres humanos dentro dele enquanto a comporta estava aberta. Na sua frente, uma nave pequena entrou e o almirante notou um brilho fugaz quando ela atravessou a entrada, concluindo que havia um campo de força que impedia a descompressão explosiva. Poucos minutos depois, pousou em um dos cantos, sinalizado por um técnico. Algumas outras naves também vinham entrando e o movimento era grande. No seu canto, dois homens aguardavam por ele. O almirante notou que não portavam armas e optou por deixar a sua na nave de forma a não ser mal interpretado. Assim que saiu, os homens sorriram para ele e um deles falou, sempre no idioma dos lagartos:
– Seja bem-vindo ao couraçado solariano Dani, Almirante. Sou o tenente Mattew e estou aqui para o acompanhar à ponte de comando. O meu colega pergunta se a sua nave precisa de algum cuidado especial. Infelizmente nem todos sabem a língua dos demônios verdes.
– Obrigado, Tenente – espondeu o estrangeiro. – Diga ao seu companheiro que não há necessidade de cuidados com a nave, desde que a gravidade seja mantida.
– Então não se preocupe – disse o oficial, fazendo um gesto para a saída do hangar. – Vamos?
Fascinado, o almirante leônida seguiu o solariano por corredores, esteiras rolantes e elevadores antigravitacionais até chegar ao topo da nave. A sala de comando era muito grande, circular, e devia ter uns vinte homens nela. Mesmo assim, parecia vazia.
― ☼ ―
Nesse momento, ele viu-se de frente para um homem muito alto e jovem que o olhou de forma prescrutadora. Impávido, mas curioso, ele devolveu o olhar sem saber que o jovem lhe lia a mente. Segundos depois, o anfitrião relaxou e falou, para grande espanto do almirante, em um leônida perfeito.
– Seja bem-vindo à Dani, Almirante – disse o Daniel com um sorriso franco. – Infelizmente, vocês apareceram numa hora muito tensa. Eu sou o Almirante Daniel, do Império do Sol.
– Como o senhor sabe o nosso idioma? – perguntou o homem, perplexo. – Sou Ifung, almirante supremo de Leonid.
– Olhei no seu espírito, Ifung. Sou capaz de aprender qualquer idioma no mesmo instante. Diga-me amigo, vocês já tiveram contato com a nossa civilização?
– Nunca tivemos contato com humanos como vocês.
– É engraçado, porque os modelos de espaçonaves que vocês usam, são idênticos aos que fabricávamos até há pouco mais de duzentos anos. Depois, adotamos o padrão esférico por parecer melhor.
– Bem, de fato nós encontramos uma espaçonave avariada e muito velha. Não sabíamos de quem era, mas estudámo-la e construímos estas aqui no mesmo molde. As duas únicas diferenças são que estas têm armas e também não conseguimos reproduzir o reator nuclear dela. Esta é a primeira frota e, com ela, destruímos o cerco que os tantorianos faziam a Leonid. Agora estamos aqui para os destruir até ao último elemento.
– Eu, pessoalmente, não creio que as vossas naves possam enfrentar a frota dos tantorianos. São meio milhão de naves. Mas venha, sentemo-nos na sala de reuniões.
Nesse momento a Daniela entrou e o homem olhou para ela, abobado.
– Uma leônida! – disse, pasmo –, e a mais bela que jamais vi. É por isso que sabem a nossa língua não é?
– Engano seu, Ifung – disse Daniel, sorrindo. – Esta é a Daniela Chang, minha esposa. Somos do mesmo mundo, a Terra.
– Mas como explica a semelhança física conosco e tantas diferenças consigo!?
– Já ouviu falar na Centúria?
– Qualquer criança conhece a lenda, dos Deuses Lemurianos que, na carruagem Centur, vieram para o continente Centúria, expulsos pelos seu inimigos.
– Bem, meu amigo, basicamente a história é essa mesmo. Eles apenas não eram Deuses e sim seres humanos, que fugiram da galáxia de origem e vieram para esta, formando um lar em um planeta que chamaram de centúria. Eram formados por quatro raças distintas. Séculos depois, durante uma grande expansão, eles colonizaram vários mundos. O seu é um deles. No meu mundo, as quatro raças estão presentes. Olhe o comandante. Ele é negro.
– Isso é mesmo fascinante, almirante. Quer dizer que somos todos aparentados?
– Exatamente, Almirante.
– Bem, qual é a sua sugestão?
– Nós vamos começar o cerco em meia hora e darei um ultimato. Se eles não se renderem e aceitarem os meus termos, destruiremos o planeta inteiro. Para chegar até lá, primeiro destruiremos a frota deles. Sugiro que vocês permaneçam na retaguarda e atuem como garantia de que ninguém escapará deste sistema. Se alguma nave furar o cerco vocês pegam-nos.
– Jamais se renderão, almirante.
– Eu sei, mas a minha consciência me obriga a isso.
– Muito bem. Devido à superioridade numérica e inferioridade das nossas armas, agiremos conforme o senhor deseja. Ficaremos na retaguarda e atacaremos os que fugirem. Quando isto acabar, gostaria de vos convidar a conhecer o nosso mundo.
– Será um prazer. – Daniel olhou o relógio e viu que já era hora de atuar. – Bem, já estamos próximos o bastante deles. Vou lançar o ultimato. Depois, poderemos continuar a conversar.
– Coronel Nobuntou, execute a transmissão forçada e passe para a sala de conferências, por favor. Lembre-se de ligar os registros/
– Pode falar, senhor.
Usando o tantoriano, ele começou a falar e, dentro daquele sistema, foi ouvido por todos porque a transmissão interferia em todas as frequências e formas de onda. Bastava haver um aparelho ligado. – Atenção, Tantor. Quem vos fala é o Imperador do Sol, Daniel Moreira I. Em vista dos ataques que vocês vêm infligindo à espécie humana em toda a Galáxia e pelo direito que me foi outorgado pelo povo solariano, eu deito-vos este ultimato. Se não se renderem incondicionalmente, eu com a primeira e segunda frotas do Império do Sol, destruirei o planeta Tantor e toda a vida nele. Vocês têm exatamente o tempo de uma rotação do vosso mundo para responder e não há chance de negociação porque assim foi decidido pelo Povo. O prazo começa agora.
– O senhor é o Imperador? – perguntou Ifung, arregalando os olhos.
– Por enquanto – respondeu Daniel. – Apenas até esta guerra estúpida acabar.
– Mas parece muito novo!
– E sou muito novo – respondeu, resignado. – É um cargo que não me agrada, mas o bem do nosso povo está em primeiro lugar.
– Almirante, o coronel João e o governador Daniel solicitam uma audiência. Eles já estão na nave.
– Mande-os vir aqui. – Daniel aproximou-se da máquina de bebidas no canto da sala e pegou dois cafés, entregando um para o visitante. – Fique conosco mais um pouco, Ifung.
– Com prazer – disse, experimentando o café. – Pela centúria, que bebida maravilhosa!
Com a chegada dos dois comandantes na sala de reuniões, Daniel mandou o computador isolar o recinto. Após as apresentações, o jovem disse:
– Falemos em tantoriano. Assim todos se entenderão.
– Daniel – disse o João, muito sério. – Nem mesmo toda a frota IS reunida tem poder de fogo para destruir um mundo. Como pretendes fazer isso?
– Pergunto o mesmo, meu querido – disse o avô.
– Bem – disse o imperador, abanado a cabeça com um ar de reprimenda. – Para começar, vocês deviam confiar mais na potência dos nossos armamentos, embora seja uma tarefa difícil de levar a cabo. A Dani e a Vega, contudo, têm o poder de fogo suficiente para fazer isso com uma certa facilidade, mas é um processo muito desgastante.
– Então como diabos pretendes fazer, ou é um blefe? – perguntou o primo.
– Com os lagartos não dá para blefar – respondeu ele, fazendo uma careta. – Será que vocês não conseguem imaginar uma coisa tão simples que levaria aquele mundo à aniquilação total?
O avô sacudiu a cabeça, desorientado e fez uma careta de contrariedade, enquanto o primo, mais afoito, disse:
– Caramba, tchê. Não me considero burro mas nem chego perto de ti, então desembucha logo que até já estou nervoso.
– João, João. – Daniel sorriu, condescendente. – Explica para mim quanta antimatéria tem um tanque de nave auxiliar.
– Dez toneladas, por q... – A risada do avô foi de tal forma forte que o leônida, bastante assustado, deu um salto da poltrona.
– Desculpe, amigo, mas só o meu neto para ter uma ideia dessas.
– Seu neto? Mas o senhor mal tem uns trinta anos!
– Eu? – disse, dando uma nova risada. – Eu tenho mais de setecentos, meu amigo.
O alienígena engoliu em seco.
– Mas o que é essa antimatéria? – perguntou ele.
– É uma matéria cujos átomos têm cargas invertidas – explicou o governador de Vega. – Quando a antimatéria e a matéria entram em contato, anulam-se. Nesse processo, a matéria é transformada em energia e luz. O rendimento é cem por cento. Um tanque de antimatéria tem uma capacidade explosiva de cerca de duzentos gigatons. Com a quantidade de antimatéria que temos aqui, podemos destruir o sistema solar. Os nossos reatores usam isso para fazer trabalhar as naves.
O silêncio que se seguiu foi completo, até mesmo constrangedor.
– Isso vai destruir a crosta planetária – disse o João, ao fim de alguns segundos.
– Exato – respondeu o Daniel, triste. – Em poucas horas aquele mundo voltará ao estado primitivo dos tempos da sua formação. Continentes afundarão e vulcões assustadores surgirão. Nem mesmo uma barata seria capaz de sobreviver a esse holocausto, infelizmente. Bem, queriam saber mais alguma coisa?
O avô deu nova risada e sacudiu a cabeça, enquanto o almirante levantava-se, decidido a retornar para a sua nave. Despediram-se e o João acompanhou-o porque ia retornar para a Jessy.
O governador esperou que os outros tivessem saído e levantou-se para pegar um chá na máquina. O seu sorriso brincalhão e o jeito descontraído tinham desaparecido por completo e ele até parecia outro homem. Sentou-se de volta na mesa de reuniões e olhou para o neto direto nos seus olhos. Daniel agora não disfarçava mais o seu sofrimento e via-se no olhar.
– Como eu imaginava, filho, tu estás pior do que nunca.
– O que esperava, vô? – perguntou, encolhendo os ombros e apoiando os cotovelos na mesa enquanto passava as mãos no rosto, cobrindo-o por alguns segundos. – Eu vou destruir toda a vida de um mundo inteiro em menos de um dia. Vou ordenar a morte de bilhões de seres vivos e não tenho a menor ideia de como conciliar isso com a minha consciência.
– Eu sei, Dan – disse o avô. – E por isso estou aqui. A única coisa que posso dizer é que a escolha não foi nossa e tu sabes perfeitamente disso.
– Isso não altera o fato de que vou matar muitos seres vivos, provavelmente vários deles inocentes, como as fêmeas, por exemplo.
– Não temos escolha, Dan...
– Isso já é uma escolha, vô, uma bem ruim e que terei de carregar nos ombros para o resto da vida.
– Então, filho, qual a alternativa?
Daniel ficou calado por alguns segundos. Olhou a xícara de café pela metade e pegou nela, dando um gole. Com uma careta enorme porque ele ficara frio, suspirou e disse:
– Esse é o problema. A alternativa pode ser o nosso fim.
– Então, não deves esquentar a moleira com isso.
– Mas não consigo, vô, não consigo.
O governador levantou-se e deu a vota à mesa, parando ao lado do neto. Colocou a mão no seu ombro e olhou direto nos seus olhos.
– A nossa espécie evoluiu muito nestes oitocentos anos desde a tua outra vida, meu pai, e não acredito que haja um único solariano neste Universo que deseje ou se alegre com o que está prestes a acontecer aqui, mas isso é necessário para o bem do todo. Estamos a salvar o nosso império e a mais de uma centena de mundos cativos desses assassinos.
– É, eu sei de tudo isso.
– Queres que eu dê a ordem, Daniel? – perguntou finalmente o avô.
– Eu não seria digno do meu nome se tivesse que pedir a outra pessoa para enfrentar os meus próprios problemas, vô – disse o jovem, encarando o avô. – Não passaria de um covarde. Agradeço a sua preocupação, mas isso é uma tarefa da minha alçada, infelizmente. Eu sofro com isso, mas farei o que foi decidido.
– E se eles se renderem? – perguntou o avô, pensativo. – Ofereceste-lhes essa alternativa.
– Sei que fiz isso, mas também sei que não se renderão – disse o neto, sacudindo a cabeça. – O fundamentalismo deles chega a ser doentio. Afinal, o senhor viu que eles lutaram até à morte do último, lá em Terra-Nova.
– Sem, estou certo de que tens toda a razão. Mas academicamente falando, o que farias?
– Primeiro faria com que se afastassem dos centros industriais e reduziria a pó toda a tecnologia deles – disse o jovem. – Depois construiria um sistema robotizado de vigilância com ordens para aniquilação caso voltassem a se levantar.
– A verdade, Daniel – disse o avô, muito sério –, é que os estarias condenando a uma morte muito pior do que a destruição deles agora.
– O senhor acha? – perguntou ele, muito espantado. – Por que motivo diz isso?
– Já observaste o mundo deles?
– Não, mas sei alguma coisa pelo que a Mirtid me disse.
– Dan, eles não tem mais verde em lugar algum. O mundo é todo ele uma cidade ciclópica – explicou o avô. – Eles dependem de outros mundos para terem alimento.
– Nesse caso, dividi-los-ia em dois ou três planetas e eles que reaprendessem a capinar ou que morram de fome, mas, pelo menos, nesse caso morreriam por mérito próprio.
– Vão morrer por mérito próprio de qualquer das formas – disse o avô. – Sabes perfeitamente disso.
– Sei sim, vô – afirmou, soltando um suspiro profundo. Resignado, levantou-se. – Vou tentar comer algo e descansar um pouco.
– Certo, Dan. Qualquer coisa, estarei na Vega.
O almirante acompanhou o avô até ao centro da nave e despediram-se na frente do hangar. Após, Daniel continuou mais um pouco e entrou no setor médico, encontrando a esposa no seu gabinete.
― ☼ ―
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