Capítulo 2 - parte 1 (não revisado)

Dois dias depois da partida da Vega, a Dani entrou nos preparativos de decolagem. Os últimos a entrarem a bordo foram o almirante e o governador Jcob, ovacionados por uma grande multidão reunida na beira do espaçoporto que apareceu para se despedir dos salvadores.

Quando chegaram à sala de comando, Nobuntu falou para toda a nave, usando o comunicador interno:

– Atenção, tripulação. Decolagem em cinco minutos com destino a Tantor. Ao contrário da frota imperial, não iremos invisíveis porque seremos nós a dar o ultimato. Então. a nave entra em pré-alarme amarelo assim que alcançarmos o espaço e em vermelho na orla do sistema tantoriano. Comandantes das naves auxiliares e destroyers devem guarnecer as suas unidades e ficarão prontos para tudo. Iniciar checklist.

Por toda a nave, tripulantes correram ordenadamente para os seus postos, enquanto os diversos setores davam os seus oks.

Daniel aproveitou e convidou o governador a sentar-se ao seu lado para se habituar com aquilo, enquanto assumia a poltrona do almirante.

Impressionado, Jacb, notava como aquele monstro parecia ser bem simples de controlar. A sala era bastante espaçosa e as mesas de controle de cada setor, em meia lua, ficavam bem esparsas. Os controles de gestão da nave eram quase todos virtuais e ele deu-se conta da superioridade tecnológica daquele povo em relação aos invasores. Os tripulantes estavam sentados em poltronas baixas e que deslizavam um metro para trás, correndo sobre trilhos. Elas permitiam muita mobilidade e segurança para o tripulante. O comandante sentava-se em uma poltrona mais alta, ao lado do almirante e, na hora marcada, Nobuntu disse:

– Piloto, antigravidade a um quinto de g negativo. Vamos com muita calma que tem bastante gente lá em baixo.

– Confirmado, comandante, um quinto.

Uma sirene deu um pequeno apito, avisando a decolagem iminente, mas aquele povo não se abalou nem recuou. Lá de fora, alegravam-se com a nítida superioridade dos novos amigos, e agora irmãos, quando a nave gigantesca começou a subir devagar e em um silêncio macabro, sem sujar a atmosfera do seu precioso mundo como o inimigo fazia. Quando ela já estava a uma altura considerável a ponto de parecer uma bola de futebol, o piloto entregou muito mais potência aos campos de gravidade, fazendo com que ela acelerasse com tanta violência que desapareceu num pequeno ponto em menos de um segundo.

― ☼ ―

– Mil g, piloto – disse Nobuntu. – Navegação, preparar coordenadas do sistema tantoriano. Artilharia, quero guarnição completa.

– Espaço, comandante – disse o piloto. – Acionando jatopropulsores.

– Acelerar à velocidade da luz.

– C em seis segundos, marque, cinco, quatro, três, dois, um... estamos a c. Tempo para início do mergulho: sessenta segundos. Contagem ininterrupta em t menos dez.

Pela primeira vez o governador planetário de Ubrur sentiu um pequeno ruido e uma vibração, que desapareceu após quinze segundos. Curioso, perguntou para o Daniel:

– O máximo que a sua nave faz de barulho é apenas isto, majestade?

– Temos ótimos absorsores de vibração e acústicos, Excelência. A vibração que o senhor sentiu ocorre nos reatores de antimatéria quando são repentinamente solicitados. Assim que surge a compensação, ele desaparece.

– Estou impressionado, Majestade.

– São bons barcos...

– Atenção, mergulho em dez segundos... nove... oito...

Quando a contagem estava em cinco, o comandante liberou a trava do motor de mergulho. No zero, tudo o que aconteceu foi uma mudança nas telas, que ficaram cinza exceto uma estrela no meio delas, que era azul.

– Tempo de chegada? – perguntou Nobuntu.

– O senhor ordenou dois por cento, comandante. Chegaremos em trinta minutos.

Nobuntu virou o rosto para Daniel e sorriu, um tanto gozador.

– Almirante, o senhor está com pressa ou mantemos o ritmo?

– Assim está bom. Não vale a pena correr muito para seiscentos anos-luz.

– O senhor acha que essa distância toda em apenas meia hora é pouco, Majestade? – perguntou Jacb, rindo. – Acho que estamos correndo e muito.

– O Universo é muito grande, Governador Jcob – disse Daniel, também rindo. – Seiscentos anos-luz é aqui ao lado.

– Quanto tempo os lagartos levariam para fazer o mesmo trajeto?

– Cinco ou seis dias, talvez – respondeu o Daniel. – usamos tecnologias muito diferentes. Eles levam dois dias para chegar à metade da velocidade da luz e não passam disso, além de levarem outro tanto para parar. E as hipervelocidades que eles usam já são obsoletas para nós.

A viagem seguiu tranquila, apesar do Daniel responder muitas perguntas para satisfazer a curiosidade nata do ubrurano.

– Estamos a dez horas-luz do planeta, senhor – disse o navegador.

– Emergir e manter c – disse Nobuntu.

– Emersão – respondeu o piloto. – Estamos no espaço, senhor. Ponto nove, nove, nove, nove, nove de c.

– Almirante, uma frota de naves está em rumo convergente a uns nove bilhões de metros. Não parece ser de Tantor porque são discos. Talvez uns cinco mil aparelhos e, como também estão à velocidade da luz, teremos uma colisão em trinta segundos.

– Nobuntu, mande um destroyer lá para investigar. Manter o rumo.

– Certo, almirante – respondeu o gigante de ébano. – Comandante para capitão Shapirov. Saia e investigue a frota desconhecida. Evite hostilidades.

– "Confirmado, comandante" – disse a voz no alto-falante.

― ☼ ―

O comandante leônida sentia-se muito satisfeito e eufórico. Eles sempre fizeram naves muito boas, mesmo antes da guerra, especialmente antes da guerra, mas aquele disco que ele tinha a felicidade de comandar extrapolava tudo o que já vira antes. A sua nave era um superlativo da perfeição. Bastava ter visto o resultado da refrega contra os tantorianos na orla do seu sistema, já que os lagartos não tiveram qualquer chance graças à agilidade e aos campos de compensação de pressão da nave disco. O resultado foi a total destruição do inimigo fidagal sem nem mesmo levarem um tiro de raspão, mas ele agora sabia que a quantidade da tantorianos a se enfrentar seria enorme, muitíssimo maior que a frota que enfrentaram antes.

Agora, voando pela primeira vez à velocidade da luz porque antes o máximo que alcançavam era setenta e cinco por cento, sem falar que levavam quase um dia para realizarem essa façanha, aproximavam-se a sistema inimigo, preparando-se para a batalha que aconteceria em dez horas.

– Queria ter conhecido os criadores daquele aparelho que nós encontramos – disse o Almirante, expressando os mesmos pensamentos. – Pelo estado, já devia ser muito velho. O que este povo teria hoje, depois de alguns séculos. Chega a ser difícil de imaginar?

– É verdade, Almirante – disse o comandante. – Só não entendo como eles podiam andar desarmados e despreocupados pelo espaço afora...

– Comandante – disse o oficial de rastreamento, virando o rosto para ele e arregalando os olhos. – Os sensores indicam uma nave ao nosso lado a uns dez bilhões e meio de yuks! Ela surgiu do nada e segue nesta direção!

– Não houve abalo do espaço-tempo?! – exclamou o Almirante mais do que perguntou. – Mas como?

– Não sei, senhor...

– Tem visual dela? – perguntou o comandante, interrompendo o oficial. – Como ela é? É tantoriana?

– Não é, senhor – respondeu. Reticente. – É esférica, mas... é um monstro, senhor. A assinatura energética dela sozinha supera toda a nossa frota junta muitas vezes. Não tenho ideia de quem seja, mas se forem aliados dos tantorianos, estamos acabados!

– Eles vêm para o nosso lado?

– Não. Vão em direção a Tantor, mas o rumo é convergente. Senhor, uma pequena nave desloca-se em direção a nós. Também tem uma assinatura energética muito grande. O diâmetro dela é cerca de cento e vinte yuks.

– Quando essa nave estiver ao alcance das nossas armas, ataquem-na – ordenou o almirante. – Erguer campos de força.

― ☼ ―

– Caramba – disse o capitão Sergey Shapirov –, aquilo ali até lembra um museu móvel. Essas naves aí parecem cópias das que usávamos há mais de quatrocentos anos.

– Estão atirando – respondeu o artilheiro chefe. – Ativei todos os campos, por via das dúvidas.

Quinhentas ogivas bateram nos campos de supercarga, criando um fogo de artifício impressionante, mas inútil. Um das naves abriu fogo com lasers bem mais potentes que os tantorianos, mas ainda assim, ineficazes.

– Dê-lhes um aviso gentil, André – pediu o capitão. – Mas nada de danificar essas naves, apenas um bom susto, ok?

– Ok, capitão.

― ☼ ―

– As nossas bombas mais fortes não fazem efeito – disse o Almirante, preocupado. – Disparem os lasers.

– Há alterações energéticas na nave, senhor, mas não me parece que tenham sido atingidos. Oh... pela centúria...

Para horror dos seres da frota desconhecida, a pequena nave deu um disparo. O raio tinha cinco metros de diâmetro e foi direcionado para passar de raspão na nave capitânia. O campo energético do disco desmoronou no mesmo ato e, apesar de não ter tocado o casco, os alarmes de superaquecimento entram em ação.

– Cessem imediatamente os ataques – ordenou o Almirante, muito pálido. – Isto foi apenas um aviso. Tentem contato de rádio antes que sejamos destruídos sem chace de defesa.

A comunicação veio bem rápido. Na tela eles viram um ser humanoide, mas de cabelos dourados e olhos diferentes. Ele falava uma série de palavras incompreensíveis que ninguém entendeu. Uma coisa que o almirante notou foi que ele sorria, logo não tinha intenções hostis. Nesse momento ele compreendeu o que o homem falava porque ele passou a falar tantoriano.

– Vocês entendem o idioma dos verdes? – perguntou o estranho de cabelos dourados. – Quem são vocês?

– Sim, entendemos. Nós somos de Leonid, e vocês?

– Somos solarianos – respondeu o russo. – Vocês são aliados dos tantorianos?

– Eles não têm aliados – disse o almirante com rancor. – Apenas inimigos.

– Ainda bem, eu detestaria lutar contra seres humanos.

– Então estão indo atacá-los?

– Eles atacaram e invadiram um mundo pacífico do nosso império. Se não se renderem, destruiremos Tantor.

– Ajudaremos vocês.

– Tenham cuidado. Há meio milhão de naves deles, lá. O Imperador em pessoa vai dar o ultimado.

– Obrigado pelo aviso, solariano. O nosso destino era esse mesmo, atacar e destruir as naves deles. Estamos em guerra há mais de dois mil anos. Finalmente, ela vai acabar.

– Acho melhor vocês juntarem-se a nós. Mesmo com essas vossas armas, serão incapazes de vencer a frota inimiga sozinhos.

– Iremos com prazer, solariano.

― ☼ ―

Na Dani, os preparativos para o confronto estavam em pleno andamento. Os sensores da nave mostraram que, fora a frota desconhecida, não havia uma única nave naquela região. Daniel também sabia que não foram localizados pelo inimigo porque as ondas de radar levariam dez horas para chegar a eles e outro tanto para retornar, uma vez que não havia repetidores nos mundos externos e eles não dominavam nem a comunicação nem o rastreamento ultra-luz. Fez um contato rápido com a Moskow e a Vega, voltando a observar os estranhos. Todos viram o ataque ao destroyer a a resposta delicada que ele deu, mas ninguém se preocupou porque confiavam na competência do capitão. Após poucos minutos, como esperado, veio um chamado em superonda.

– Almirante, são humanos e até parecem chineses. Conseguimos comunicação com eles em tantoriano – explicou Shapirov que, como todos os oficiais, tinha aprendido o idioma. – Vieram para tentar destruir os lagartos e sugeri que se juntassem a nós. Eles aceitaram e querem lutar ao nosso lado.

– Passem-lhes as coordenadas do ponto de encontro que nós vamos mergulhar. Assim que der, sigam-nos mas lembrem-se de avisá-los que há quinhentos cruzadores camuflados lá ou vocês ainda dão um ataque cardíaco nessa pobre gente.

– Sim senhor – respondeu o russo, rindo.

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