Capítulo 7 - parte 1 (não revisado)
A mais de mil anos-luz dali, uma discussão acontecia a portas fechadas. Os leônidas estavam reunidos para decidirem o que fazer. Eram humanoides e, se fossem para a Terra, passariam facilmente por chineses. Eles tinham rostos duros e olhares determinados, típicos de um povo que está em guerra há mais tempo do que se lembra. As pessoas presentes nessa reunião eram muito mais do que simples homens, eram os líderes daquele mundo. O primeiro a falar foi o ministro da guerra e, quando abriu a boca, a sua voz era grave e baixa, em contraste com os olhos frios.
– Como está a frente de batalha?
Ele dirigira a pergunta diretamente para o homem à sua frente, que se levantou e andou um pouco pela sala. Era um homem duro, de olhar direto e sincero, que dava a ideia que poderia ver o teor da alma de cada um à sua frente. A sua força era o seu caráter muito firme e reto, capaz de fazer milhares dos seus homens seguirem-no cegamente onde quer que fosse. Ele parou de caminhar e olhou para os dois interlocutores nos olhos, afirmando sem rodeios.
– Os verdes estão bem desesperados – disse erguendo um pouco as duas mãos. – Não faço a menor ideia do que aconteceu com eles, mas retiraram o grosso da frota. A ideia que dá é que foram atacados por outro povo que deve ser bem mais poderoso do que nós. Agora só há três mil naves deles no sistema e conseguimos suportar facilmente o cerco. Felizmente, porque acho que não íamos durar muito com as novas naves deles, já que não conseguíamos terminar o nosso projeto.
– Sim, todo este tempo tentando aguentá-los e agora temos a resposta – afirmou o ministro da Guerra.
O terceiro participante era ninguém menos que o presidente. Tinha um ar frio e desagradável, mas era firme e decidido, sempre coerente com os seus pensamentos. Perguntou:
– Quantas das naves novas estão prontas, Almirante?
– Temos cinco mil unidades iguais à que encontramos à deriva. Foram duzentos anos de pesquisas, mas conseguimos. O problema maior era o reator porque, quando tentamos desmontá-lo, ele desfez-se. Mas conseguimos criar reatores potentes o suficiente, só que em vez de um, precisamos de pôr quinze na nave. E são muito maiores que aquele. Pena que não conseguimos desvendar o segredo do reator da nave. Que potência que devia ter!
– Elas poderão vencer os lagartos? – Voltou a perguntar.
– Facilmente, Excelência, os campos de força delas eram fracos, mas criamos uns melhores. Eu só estranhei esse povo não ter armas.
– Não importa – disse o soberano. – Quanto tempo para a frota entrar em ação?
– Dois dias, senhor.
– Vamos acabar com a frota daqui e depois vamos destruir Tantor – disse o ministro da guerra. – Têm a certeza que essas naves podem derrotá-los?
– Com toda a facilidade. Elas atingem a velocidade da luz em dez minutos. Os tantorianos levam dois dias para atingir metade dela. Com a capacidade de manobra delas, podemos destruir a frota deles sem dificuldade. A incursão a Tantor é que não sei. Eu não aconselho isso.
– Ótimo. Preparem tudo – ordenou o presidente. – Quero as naves lançadas em dois dias.
– Sim, Excelência, mas creio que precisemos de mais um dia. Dois não será suficiente para acionar essa frota toda de uma vez.
– Que seja, tem três dias – disse, dispensando-o com um gesto.
– Obrigado, Excelência. – O almirante saiu, deixando os dois a sós.
― ☼ ―
– Amor, não deves ficar assim. – Afirmou Daniela. – Não fomos nós que escolhemos esta guerra.
– Eu sei, minha linda, preciso de dormir.
A Daniela deitou-se ao seu lado e acalentou-o, até que ele adormeceu. Ela ficou acordada, pensando em tudo. Sabia e entendia o que ele sentia porque era muito duro decidir a sorte de todo um povo, ainda mais para uma pessoa como o seu Daniel.
De manhã, levantaram-se e o imperador parecia estar bem melhor, mas ela notou logo que ele não dormiu bem. Ele chamou a comandante Anjuska na super-onda.
– Bom dia, Coronel.
– Bom dia, Almirante – ela deu-lhe um grande sorriso. – O senhor parece preocupado.
– E estou, Coronel, como vai o cerco?
– Mantemos o cerco sem maiores dificuldades e eles nem sabem que estamos aqui, porque as naves estão invisíveis. Se algum tantoriano tenta sair, um dos barcos vai atrás e elimina-os.
– Muito bom, comandante. Em breve a Vega vai para aí e assumirá o comando até eu chegar. Enquanto isso, mantenha as coisas em ordem, que eu conto consigo. Bom trabalho, coronel Anjuska, muito obrigado pela sua atuação.
– Quem tem de agradecer sou eu, Almirante.
Quando ela desligou, Daniel pensou na garota. Ela era realmente de uma grande eficiência e ele pensava em promovê-la novamente para breve. Parou de refletir e chamou o avô, pedindo-lhe que fosse para o cerco assumir o comando da frota e dando-lhe as instruções necessárias. Das dez naves que trouxeram os governadores, apenas duas voltam para a Terra para os levar.
Daniel mandou mais duas ficarem para proteger o planeta. Uma pousada e outra em órbita, alternando-se a cada dez dias. As demais seguiram com a Vega. O governador Jcob foi convidado a acompanhar o confronto final na Dani.
– Almirante, solicito uma audiência particular. – Daniel olhou para o lado e deparou-se com a Bia em posição de sentido. Apesar de toda a sua preocupação, ele sorriu-lhe e levantou-se:
– Vem para o meu camarote, querida. Essa pose não combina contigo. – Na cabine do almirante, a sós com ela, olhou para a moça e perguntou-lhe. – O que te aflige, Bia?
– Dan, eu peço para ficar aqui.
– Isso tem a ver com o Davri?
– Sim – ela disse com toda a sinceridade. – Mas este povo precisa mais de mim do que vocês. Além do mais, estou muito apaixonada por ele desde o primeiro dia que o vi. Lembras-te que eu te disse que ainda não tinha encontrado o amor verdadeiro? Pois é, agora eu conheço isso e é uma das coias mais maravilhosas que me aconteceu, Daniel.
– E sei, minha linda, descobri isso com a Jéssica e, depois que ela se foi, tive a sorte de encontrar esse amor de novo, mas tu já notaste que os hábitos deles são um pouco diferentes dos nossos, não é?
– Sim, já. E acredito que seria capaz de viver de acordo com eles. Por ele eu seria, mas o Davri é um dos tipos que acredita em um homem para uma mulher. Além do mais, Dan, eu estou grávida dele. Foi um descuido, eu sei. Faz poucas semanas porque só descobri pelo mal-estar que senti ontem.
– Pela fisiologia deles, só são férteis após os vinte, mas são portadores baixos. Deves alertar o resto da população para a nova geração. Se bem que a esta hora a Srina deve estar no mesmo caminho. Só espero não ter sido eu?
– Tu!?
– Olha, isto é muito pessoal. – Contou-lhe o que aconteceu.
– É verdade, é muito pessoal, mas como confias em mim, sabes que jamais será conhecido. Posso ficar?
– Eu seria um cara muito cruel e um péssimo imperador se não deixasse uma das minhas amigas mais queridas fazer o que o coração dela manda, Bia. Eu tenho um carinho demasiado especial por ti e sei que tu sabes disso. Ficamos juntos por um tempo curto, mas muito bom. Vai e sê feliz, meu anjo.
Ela abraçou-o e deu-lhe um pequeno beijo nos lábios.
– Obrigada, Dan.
– Bia, quando tudo acabar, venho buscar vocês para irmos a Andrômeda, se quiserem.
– Claro que eu quero, Dan. Fiquei muito agoniada quando te fizeram imperador. Sei perfeitamente o quanto isso pesou para ti. Mas, agora vejo que estás demasiado preocupado, ouso dizer agoniado.
– Bia, eu vou mandar matar um mundo – disse, voltando a ficar aflito. – Como te sentirias no meu lugar.
– Muito mal, Dan, mas faria isso pelo bem da humanidade.
– Eu sei, meu anjo. – Ele deu um profundo suspiro. – E vou fazer isso, mas não é justificativa suficiente perante a minha consciência.
– Bem vejo e conheço-te muito bem. Mas agora, vou indo. Boa sorte, Dan, e não ter martirizes demais. – Mais uma vez ela deu-lhe um pequeno beijo, suave. – Eu jamais me esquecerei de ti. Paz.
Com estas palavras ela saíu, sorrindo.
– "Adeus minha querida. Eu também jamais me esquecerei de ti." – Ela ouviu a mensagem transmitida apenas para a sua mente e voltou-se para ele piscando o olho.
Por mais um dia e meio, Daniel e a equipe deram o suporte necessário para o povo de Ubrur. Vários planadores foram cedidos, retirados de cada nave e distribuídos pelos dois continentes com alguns pilotos destacados para os pilotar e ensinar o povo a usá-los.
O hospital do continente sul foi aparelhado com os equipamentos mais modernos que a Terra desenvolvera e os pacientes de todo o planeta que fossem graves, eram levados para lá, ajudados pela equipe que ficou.
A crise que estava prestes a se formar foi contida antes de se tornar perigosa demais. Um sistema de comunicações em super-onda foi instalado no antigo quartel dos tantorianos que se tornou uma base das tropas do IS, do qual agora aquele mundo fazia parte. Quando a Dani preparou-se para ir a Tantor, Daniel estava tranquilo que aquele planeta tão belo e agradável permaneceria plenamente seguro.
― ☼ ―
A nave ergueu voo devagar enquanto Chien batia à porta da cabine do Imperador.
– Entre – disse Daniel. – A porta abriu-se sozinha, dando passagem ao Novo-Terráqueo.
– Majestades – disse ele, ajoelhando-se para o casal. – Bom dia. Mandaram-me chamar e aqui estou.
– Levante-se, mestre Chien, eu posso ser o imperador e a minha esposa a imperatriz, mas ainda somos as mesmas pessoas que o senhor conheceu em Terra-Nova e com as quais lutou para libertarmos aquele mundo. Sinceramente, eu não gosto muito que se ajoelhem para mim. – Daniel sorriu.
– Desculpe-me, Alteza.
– Não se desculpe. Por favor, sente-se. Deseja um chá?
– Adoraria, senhor. – Chien olhou para o rapaz que ele conheceu há tão pouco tempo, o homem que lutou ao seu lado para libertar o seu mundo arriscando a própria vida de forma tão altruísta. Mesmo tendo-se tornado o seu imperador, ele continuava exatamente a mesma pessoa, o que lhe agradava muito. Pegou na xícara que Daniel lhe ofereceu e fez uma vênia. – Obrigado, mestre Daniel.
– Assim está bem melhor, mestre Chien – disse Daniel sorrindo e retribuindo a vênia. – Muito melhor mesmo porque não me encaixo na posição que ocupo.
– Desculpe, mas discordo. O senhor pode até não gostar, mas é um grande imperador.
– Bem, mestre Chien, eu chamei o senhor porque, como bem sabe, tivemos uma conversa há algum tempo onde eu lhe disse que poderia ter uma bela aposentadoria.
– Sim, lembro-me bem disso, mestre.
– A guerra vai acabar em breve e, se Deus quiser, tudo voltará ao normal. Quando eu estive em Terra-Nova, amei demais aquele mundo tão belo, principalmente o continente norte. Eu acho que foi provavelmente por conta das lembranças da minha vida anterior, mas é um mundo demasiado belo para não se explorar por inteiro.
-A população é pequena e o continente sul é mais propício à lavora, mestre, por isso o norte é virgem e vazio.
– É verdade, mas o continente norte tem outra riqueza inexplorada e fenomenal, o turismo.
– Turismo? – perguntou Chien, que viu o sorriso da sua querida Daniela. – Que tipo de turismo algo selvagem daquele jeito pode ter?
– Sim, mestre, turismo. Eu estive em um vale de beleza indescritível, com várias cavernas semelhantes às que nós usamos para nos escondermos. Imagine, um desses belos vales com as cavernas transformadas em um hotel, onde a proposta será voltar a viver um período na natureza selvagem, com passeios ecológicos por trilhas e cursos de sobrevivência em um mundo virgem sem ter recursos da tecnologia. O contato puro com a natureza totalmente selvagem de um mundo inexplorado. – Os olhos do Chien arregalaram-se e brilharam muito ao ouvir a ideia do imperador porque ele sabia que era a pessoa mais indicada para isso. – O senhor pode ter a certeza de que haverá filas enormes de clientes de todos os mundos para viver uma semana dessa bela aventura, mestre. Sem falar que se pode fazer algum tipo de museu que mostre como nós vivíamos durante a luta. O que acha?
– Eu acho a ideia fenomenal, senhor, e sinto que sou a pessoa indicada para isso – respondeu ele. – Mas o custo para iniciar o projeto é alto.
– Meu amigo. O senhor foi o mentor e teve o cuidado de estar sempre perto da pessoa mais importante da minha vida. Só por isso já tenho uma grande dívida de gratidão para com o senhor. Eu possuo uma fortuna enorme e desejo dar-lhe todas as condições de iniciar esse negócio. Considere um presente de gratidão por uma vida, mestre, porque se o senhor não tivesse ensinado tudo para a minha Daniela, talvez ela não estivesse viva hoje. Não vou aceitar um não.
– Agradeço do fundo do coração, senhor, mas agora eu é que tenho uma dívida de gratidão.
– Nada me deve, meu amigo, estamos combinados?
– Sim, mestre Daniel, estamos combinados.
A voz do comandante no intercomunicador fez-se ouvir após um ligeiro apito de aviso:
– "Atenção a todos, mergulho em trinta segundos, destino Tantor. Chegaremos em meia hora."
– Bem, mestre – disse Daniel, levantando-se. – O dever chama. Quando voltarmos para a Terra, acertaremos os detalhes.
Daniel inclinou-se e saiu da cabine, seguido pelo olhar de admiração do caçador.
– Gostou, mestre? – perguntou Daniela.
– Quem não gostaria, minha filha? – comentou ele, com os olhos brilhantes não pela ideia da fortuna, mas sim pela aventura incrível que seria aquela empreitada. – O seu marido é um homem ímpar!
– Eu sei, mestre, senão não estaria casada com ele – pousou a xícara vazia e levantou-se. – Vamos?
Ambos saíram da cabine, cada um para o seu destino.
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