Capítulo 6 - parte 3 (não revisado)
Um murmúrio correu por todos os presentes, inclusive entre os governadores de Ubrur, que chegaram a levantar-se, com o rosto incrédulo.
– Vejo que não é só na Terra que a lenda da Lemúria existe, Governador Jacb.
– De fato não, Alteza – disse o parlamentar. – Temos uma lenda de uma lua que explodiu, cujo nome era Lemúria.
– Na Terra, era um continente que afundou no Índico – disse o imperador. – Bem, continuando a história, a Lemúria era um mundo superdesenvolvido. Como todos nós, eles tinham evoluído a um ponto onde não havia mais conflitos nem armas. Exploraram milhares de mundos e criaram um império gigantesco, rico, próspero e pacífico. Certa vez, encontraram um mundo de seres diferentes e acolheram-nos como amigos. Eles tinham origem reptiliana, exatamente como os tantorianos, e chamavam-se ibrrs. Foram recebidos de braços abertos, porém não participavam do Império Lemuriano. Os lemurianos, inocentemente, ensinaram a própria tecnologia a esses seres. Os ibrrs, apesar de serem muito inteligentes, não eram capazes de criar. Porém, eram capazes de aprender e imitar. Assim, passaram a construir espaçonaves com a tecnologia lemuriana. Estas naves tinham forma de disco com cerca de cem metros de diâmetro por trinta de altura. Apesar da mesma tecnologia, as naves lemurianas, tinham forma de pirâmide. Na Centúria há registros audiovisuais e os meus cientistas procuram por eles.
– Logo depois – continuou, – uma nova raça apareceu, os axturrs. Eram humanoides, embora geneticamente incompatíveis conosco. Também eram tecnologicamente inferiores aos nossos ancestrais. Possuíam armas, mas não hostilizaram os lemurianos. Criaram tratados de amizade e comércio. Tudo correu bem por algum tempo. Infelizmente, o que os axturrs desejavam era a riqueza e a tecnologia da Lemúria. Há aproximadamente quatrocentos mil anos, os axturrs fizeram uma aliança secreta com os ibrrs e atacaram à traição os mundos dos lemurianos. Eles, que não tinham armas de qualquer tipo, foram caindo um por um sob o jugo do inimigo. Como o império continha mais de dez mil mundos, o conflito demorou bastante tempo, dando aos lemurianos o prazo necessário para criarem algumas armas e oferecer combate aos invasores. Infelizmente, não eram suficientes contra o número superior do inimigo. Então, um grupo grande de cientistas escondeu-se em um planeta desconhecido, onde construíram uma espaçonave gigantesca, com cinquenta quilômetros de aresta e, como todas as naves da Lemúria, o formato de uma pirâmide. Secretamente, contrabandearam para essa nave cerca de dois milhões de seres humanos e muita matéria prima. Preferencialmente, escolheram cientistas, técnicos e afins. Além disso, levaram muitos milhões de seres humanos em suspensão criogênica de vida. Quando a nave estava prestes a partir, o segredo foi descoberto e uma frota de ibrrs apareceu no planeta, atacando-os. Entretanto, eles já estavam prontos e simplesmente apressaram a decolagem, fugindo da galáxia de origem. Atrás deles, a frota inimiga perseguia-os implacavelmente pelo hiperespaço. Chamaram a nave de Centur, sem destino na língua deles. Por quase dois séculos atravessaram o vazio entre Andrômeda e a Via-Láctea, sempre fugindo, muitas vezes escapando por um triz. Mas, nesse período, não ficaram parados. Aprimoraram as suas armas e criaram novos tipos de campos de força, mais potentes e robustos. Chegaram à nossa Galáxia, com muito poucos recursos, mas já em condições de enfrentar a frota invasora. Como primeira prioridade, procuraram um planeta que fosse adequado à nova vida, pois já se haviam livrado dos ibrrs, que lhes perderam a pista décadas antes. Após muito procurarem, acharam um planeta adequado e chamaram-no de Centúria. Era o oitavo mundo, aquele que nós visitamos primeiro, hoje transformado num deserto. Outrora, o planeta era belo e verdejante, perfeito para a colonização. A nave gigantesca foi desmantelada para dar as matérias-primas necessárias à criação da nova civilização, uma vez que tudo o que era necessário para recomeçarem, estava lá. Fábricas foram construídas e a primeira providência foi criar um sistema de defesa planetária, muito semelhante ao que eu inventei há pouco tempo. Por mil anos a nova civilização floresceu, mas um belo dia os alarmes das plataformas espaciais entraram em ação. Os ibrrs haviam descoberto os seus inimigos fidagais e atacaram. As plataformas infligiram danos severos aos lagartos e as espaçonaves centurianas dispararam para o espaço, eliminando facilmente a frota atacante. Deixaram apenas uma nave avariada. Obtiveram dos prisioneiros as coordenadas do planeta inimigo, que os lagartos chamaram de Tantor e ficava a cerca de mil anos-luz dali. A frota centuriana foi à sua caça. Ao chegarem ao planeta, destruíram todas as naves e fábricas. Deixaram a civilização entregue à mercê da natureza, embora não tenham eliminado a espécie, coisa que abominavam.
– Tranquilos, voltaram para a Centúria. Por quase cem mil anos, os centurianos tiveram paz e deram curso ao seu programa de colonização. Então, um desastre natural que foi a destruição da sua lua por um asteroide gigante, tornou o oitavo planeta inabitável ao desestabilizar o clima da Centúria. Tiveram tempo de agir com cautela e transferiram tudo para o nono planeta, o que foi a salvação deles. Todas as instalações foram mudadas para lá. Mal estavam instalados, uma frota gigantesca apareceu e preparou-se para atacar o oitavo mundo. O fato deles terem ido invadir o oitavo planeta, deu o tempo necessário para reforçar as defesas planetárias. Novamente a frota atacante foi destruída. A Centúria levantou-se e voltou para Tantor. Desta vez, destruíram toda a civilização tantoriana. Não deixaram uma única cidade de pé. Muitos inimigos morreram, mas eles estavam fartos. Dentro do possível, pouparam vidas e não tocaram nos campos. Ao voltarem, um cientista teve a ideia de criar um campo de força que dava a ideia de que a Centúria era um gigante gasoso do tipo Júpiter e, finalmente, houve a longa paz. Recomeçaram os planos de expansão. Muitos imigraram, especialmente os não portadores. A Terra, Ubrur e muitos outros mundos são descendentes dos centurianos cujo novo programa de colonização deixava as novas colônias por si para que crescessem e criassem a própria identidade. Durante cerca de quatrocentos mil anos, nenhuma colônia conseguiu retornar porque nós fomos os primeiros. Sem que eles soubessem como, há cerca de quarenta mil anos os tantorianos reapareceram. Desta vez com uma tecnologia muito inferior, não sendo ameaça, mas, mesmo assim, destroem qualquer tantoriano que apareça.
– O que os centurianos não sabiam é o fato de uma das raças humanas ter atingido a navegação estelar e descoberto Tantor. Essa civilização escravizou-os. Eles, pacientemente, foram absorvendo o conhecimento e eliminaram os invasores. Sabemos, também, que eles estão em guerra com outra raça humana que deve ter o mesmo nível tecnológico. Esses lagartos, escravizaram dezenas de planetas humanos. Se por ventura eles tiverem acesso à nossa tecnologia, corremos um perigo muito sério, eu até diria gravíssimo, irmãos, pois eles são incomparavelmente mais numerosos que nós. Por este motivo, convoquei o congresso todo para decidirmos em conjunto o que fazer. A sugestão da centuriana é a extinção da vida no planeta. A lógica me diz que eles têm razão, mas a minha humanidade recusa-se a usar tamanha violência. Nós temos a tecnologia necessária, mas a mim repugna-me demais a ideia. Passo a palavra a quem desejar se manifestar. Depois, solicito uma votação para a nossa próxima ação, que será a neutralização deles ou a eliminação sumária do planeta inteiro. Infelizmente, não temos uma terceira alternativa.
O governador de Terra-Nova levantou-se e dirigiu-se para a tribuna.
– Senhores, Terra-Nova foi invadida e atacada por esses seres sem escrúpulos. Muitos dos nossos patrícios foram mortos de forma cruel e desumana. Eles não se renderam nem quando estavam perdendo. Não consigo imaginar uma forma deste povo coexistir pacificamente com o Império.
O governador Finch pediu a palavra.
– Excelências, Ubrur tem vivido sob o jugo cruel destes monstros por cinco longos milênios. Milhões dos nossos foram massacrados e os invasores jamais demonstraram qualquer forma de compreensão ou tolerância. Também não vejo possibilidade de haver paz.
O primeiro-ministro levantou-se.
– Amigos, eu não participei ativamente da libertação de Terra-Nova nem tive contato com esses alienígenas. Entretanto, sua Alteza conseguiu aprisionar e neutralizar alguns deles, tornando-os pacíficos. Não seria possível fazer isso a nível planetário? – A mãe do Daniel levantou-se. – Doutora Alexandra Moreira, embora não seja do governo, é esposa do vice-imperador. Por favor dê a sua opinião porque eu não gostaria de votar pela destruição de uma forma de vida, mesmo que tão diferente da nossa.
– Ninguém aqui deseja, excelência, basta ver o ar de preocupação do meu filho. Infelizmente, sua Majestade usou uma droga descoberta por cientistas da Cybercomp há cerca de setecentos anos que permite dar ordens pós-hipnóticas permanentes. Entretanto, apenas um telepata pode fazer isso, ou seja, é impraticável. A próxima geração voltaria a fazer tudo novamente. Sinto muito, mas esse não é o caminho.
Daniela levantou-se e a sogra saiu da tribuna. Ela sorriu para todos.
– Eu e o meu pai temos estudado o genoma deste povo e descobrimos um gene ligado à agressividade. Poderemos salvar a espécie, tratando os prisioneiros e dando-lhes um novo planeta. Entretanto, não há como fazer isso em um mundo de cinquenta bilhões de seres, não antes de alguns séculos. Desta forma, afirmo que, quanto a Tantor, nada pode ser feito.
O governador de Terra-Nova levantou-se de novo.
– Então Vossa Majestade afirma que a senhora e o seu pai estão em condições de salvar a espécie, mesmo que o planeta deles seja destruído.
– Exatamente, excelência, e o meu marido há muito que decidiu dar uma chance à espécie, mas apenas aos prisioneiros.
– Nesse caso – afirmou o governador do sistema de Canopus, levantando-se. – Tendo em vista as circunstâncias atuais, o povo de Terra-Nova vota pela destruição do sistema Tantor. A própria história que vossa Alteza contou, reforça as minhas palavras e o risco de sermos destruídos é demasiado alto para ser ignorado.
– Excelências e Majestades – disse o avô Daniel, ao subir na tribuna – só não tivemos o mesmo fim dos ubruranos, devido à fenomenal previsão do meu pai e do meu neto, sua Alteza o Imperador Daniel. Enquanto o meu pai construiu uma fábrica secreta de armas para emergências como esta, o nosso Imperador desenhou e projetou dois modelos de naves espaciais que não há igual no Império ou talvez na Galáxia. Sei como vossa Alteza sente-se porque sinto o mesmo. Nós os Moreiras temos uma total aversão à violência, mas estamos falando da sobrevivência da espécie humana. Infelizmente, o povo de Vega vota a favor da incursão contra Tantor e a eliminação sumária da espécie naquele mundo.
Jacb voltou a pedir a palavra.
– Nós ubruranos consideramos a vida sagrada, mas, neste caso, Ubrur vota pela destruição. Entretanto, mesmo se o planeta central cair, ainda haverá muitos tantorianos espalhados pelo espaço. Será necessário patrulhar por muito tempo, assim como procurar nos outros mundos subjugados...
Um por um, os governadores votaram. Depois foi a vez do vice-imperador e do primeiro-ministro. A votação foi unânime.
– Irmãos. – Daniel subiu na tribuna. – Eu imaginava que pensassem assim. Como a imperatriz disse, há uma forma de salvar a espécie, mas não Tantor. – Ele deu mais detalhes sobre as fêmeas e os machos apaziguados, bem como a experiência do doutor Chang em criar um controle de natalidade eficaz que permitiria às fêmeas serem livres. – Assim, eu vou para Tantor com pesar, mas, mesmo com a votação unânime, a minha consciência me obriga a dar um ultimato que, se não for seguido, será a última ação daquele povo porque destruirei o planeta inteiro. Fá-lo-ei com repugnância, mas reconheço que o bem de todos, prevalece sobre a minha consciência.
Por toda a Galáxia, onde se ouvia a reunião, o povo aplaudiu e respeitou a opinião do seu imperador, que se curvava à maioria, mesmo tendo o poder de decidir sozinho.
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