Capítulo 6 - parte 1 (não revisado)
– Bem, meus amigos – disse Daniel na sala de reuniões, junto com os dois governadores. – Ubrur voltou a ser um mundo livre após tantos milênios de tirania. Em breve, vocês terão a vossa vida e desenvolvimento retomado, ainda mais que iremos auxiliar com a nossa tecnologia.
– Não temos palavras para agradecer, Majestade.
– Nós gostamos de ajudar os nossos irmãos de espécie, meus amigos, não precisam de agradecer. Eu agora vou levá-los ao setor científico da nave onde vos colocarei em uma máquina que ensinará a nossa língua, porque isso facilitará a comunicação já que são poucos os que sabem o idioma ubrurano, importam-se de me acompanhar.
– Iremos com prazer, Alteza – disseram, levantando-se.
Enquanto, Daniel colocava os governadores nas MICs, para que aprendessem o português, ele aproveitou para fazer uma rápida ronda na nave. Recebeu o levantamento dos prisioneiros e ficou muito satisfeito porque conseguiram aprisionar cerca de dois mil, entre machos e fêmeas, embora a maioria fosse de fêmeas. Elas, que estavam separadas dos soldados, receberam uma visita sua que as tranquilizou e explicou o que lhes ia acontecer.
Os governadores saíram das MICs e foi a vez da Daniela pôr a médica chefe e outro médico nessas máquinas maravilhosas, mas com o objetivo de ensinar português e familiarizá-los com a medicina terrestre e equipamentos de diagnóstico.
Mais uma vez na sala de reuniões, Daniel conversava com os dois governadores, explicando-lhes tudo o que podiam esperar se fizessem parte do Império, especialmente quanto aos benefícios, reforçando o convite.
– Senhores, eu vou deixar ambos sozinhos para debaterem o meu convite à vontade, de modo a não vos influenciar – disse com um sorriso, saindo logo a seguir da sala. Vinte minutos depois, eles chamaram-no:
– Majestade, nós conversamos bastante e concluímos que o adequado seria um plebiscito com a população – disse o governador Finch – mas isso seria o processo demorado. Assim, pensamos em uma solução intermediária, já que nos interessa a sua oferta.
– Nós vamos aceitar integrar ao Império do Sol em caráter temporário – continuou Jacb –, e em um ano faremos um plebiscito mundial para a decisão final. Assim, não estaremos agindo contra as nossas leis.
– Senhores, isso alegra muito o meu coração porque eu adorei o vosso mundo e o vosso povo – disse Daniel. – Tenho a certeza de que seremos grandes amigos para todo o sempre e que o seu plebiscito será a favor da união. Contudo, vocês podem ter um governador para cada continente, mas no congresso só pode haver um governador planetário, representante de cada mundo da união. Então, vou nomear o senhor, Jacb, como o primeiro governador planetário de Ubrur já que foi o nosso primeiro contacto. Segundo a lei, a cada cinco anos, deve haver eleições para os governadores, mas acredito que após o plebiscito devam fazer eleições para o governador planetário que não precisa obrigatoriamente de ser um dos governadores continentais.
– Nós fazemos o mesmo aqui, mas é a cada quatro anos. Isso seria necessário mudar?
– Claro que não. Há mundos do império que os elegem a cada quatro, seis ou até mesmo dez anos. Como eu vos expliquei, o planeta Ubrur é autárquico e manterá a sua própria legislação, embora não possa contrariar a lei maior do império, a Carta Magna.
– Sim, já tinha nos explicado, Majestade.
– Ótimo. Em breve vai chegar uma nave com os cinquenta governadores, o primeiro-ministro e o vice-imperador. Vamos decidir o futuro de Tantor e, como o mais novo membro do império o senhor deverá participar dela, ajudando na votação das futuras decisões. Por isso, coloquei vocês na Máquina de Indução de Conhecimento, sem falar que vocês e o povo de Ubrur verão como nós governamos. Como se trata de um evento atípico, os dois participarão do congresso, mas apenas um terá direito de voto. Isso será muito bom para compreenderem como as coisas são e verem que não são uma colônia e sim uma união.
– Essa máquina é simplesmente fascin... – o governador Jacb olhava para a porta de queixo caído. A filha acabara de entrar de mãos dadas com um homem... preto... completamente preto!
– Pai, este é o Zulu, nós estamos nos vendo.
Impressionado com a cor do rapaz, tocou-o, para depois esfregar os dedos um no outro e olhar. Por acaso ainda não havia visto nenhum negro, ao contrário do amigo do continente norte.
– Não é tinta! Que fascinante, um homem de pele negra! Muito prazer, Zulu.
– O prazer é meu, senhor. – Ele sorriu, mostrando os dentes muito brancos. – Preciso de retornar ao meu posto, pois estou de plantão. Mais uma vez, muito prazer.
Zulu retirou-se com uma curta vênia e um médico apareceu na sala.
– Alteza, a doutora Chang solicitou uma reunião com os governadores de Ubrur. Também pede a sua presença e diz que é muito urgente e importante para Ubrur.
– Obrigado – sorrindo, continuou mais para si do que para os novos amigos. – Por mais que eu insista, estes cientistas e médicos não conseguem chamar-me de almirante. Mesmo se eu pedir uma dúzia de vezes; dois minutos depois já terão esquecido e voltam a chamar pelo meu título maior.
– Bem, o mais importante é o título e imperador.
– Eu sei. Sou o Imperador e a doutora Chang a Imperatriz, minha esposa. Mas, aqui, sou apenas o Almirante e ela a doutora Chang. Quando a guerra acabar, eu pretendo entregar o trono. Não nasci para isso.
– Não é o que parece, senhor – disse o governador Jacb. – Vejo no senhor um líder nato e noto muito bem que todos o amam.
Entraram na sala da Daniela, que estava com a médica chefe do hospital.
– Sentem-se, excelências, imagino que saibam o que é um gene, já que Srina sabe, então vou explicar de forma resumida o que há com os bebês. O que eles têm, não é uma doença, como já foi dito antes, mas quero dar-lhes os detalhes.
Por cerca de meia hora ela expôs tudo sobre os mutantes, esclarecendo-os até aos mínimos detalhes.
– Quer dizer que o meu filho terá uma inteligência muito maior, viverá mais e poderá desenvolver alguns dons, tais como os que vocês possuem?
– Exato, senhor. Fisicamente será muito mais forte e também será imune às doenças, bem como deverá desenvolver a telepatia. A Srina é grau dezenove e, apesar de ser baixo, é telepata. Claro que teve uma ajuda nossa, mas já possuía o dom de forma latente. Além disso, como já mencionei, a ativação do gene vai de quinze a vinte. Agora, quero que saibam que vocês têm um problema sério no vosso mundo. Muitíssimo sério e que poderá levar ao fim da vossa civilização.
– Explique, por favor – pediram ambos os governadores ao mesmo tempo, nervosos.
– Vocês têm casamentos consanguíneos?
– Quando as nossas crianças se tornam sexualmente ativas, lá pelos quatorze anos, são estimuladas a explorar isso. Muitas vezes acontece de um casal de irmãos fazer sexo. No nosso mundo há dez vezes mais mulheres que homens. Então é normal encontrar casais de crianças com duas ou mais moças e um rapaz. Muitas vezes irmãos ou primos. As moças precisam de aprender rápido, para enfrentarem a competição da vida. Na escola, as crianças aprendem sobre sexualidade desde o dez anos, mas não há reprodução porque a capacidade de procriar, para nós, só ocorre a partir dos vinte anos, e todos sabemos dos perigos de irmãos terem filhos. Por quê?
– Vejamos – disse a Daniela séria. – A população do vosso mundo é reduzida e vocês formam grupos, em vez de simples casais. Invariavelmente acabam por ter filhos com parentes. Não seria um problema grave pois, em geral, são parentes afastados. Só que isso perdura há muitas gerações. Vocês precisam urgentemente de sangue novo.
– Sangue novo?
– Desculpem, é um termo da Terra. – Daniela sorriu. – Quer dizer trazer imigrantes ou emigrar. Misturar-se com outros povos de modo a reduzir as uniões entre parentes, mesmo que afastados. Se continuarem como estão, serão extintos em menos de dez gerações. Aquela doença, a leucemia, é uma consequência direta disso e há o risco de aparecerem hemofílicos. Um exame de DNA mostrou que todos eles são parentes afastados. Quando a coisa se agravar, começarão a nascer crianças malformadas e até fetos mortos e com acefalia. Notei que o mesmo ocorre no norte. Podemos criar uma campanha para trazer homens de fora para o vosso mundo, mas isso depende da vossa autorização.
– Bem, Dani, eles agora são parte integrante do Império porque aceitaram unir-se a nós. – Daniel olhou sério para ambos os governadores. – Mas mesmo assim, a decisão é vossa.
– Pessoalmente acho excelente trazer gente de fora, especialmente homens.
– Combinado, vamos criar uma campanha de emigração. Talvez algumas mulheres também desejem ir para outros planetas. Como membro do Império, o vosso povo pode deslocar-se livremente para qualquer mundo.
– Almirante – chamou o comandante. – Dez mil naves aproximam-se do planeta. Já deviam estar por aqui quando chegamos, já que levam de dois a quatro dias para parar e não detectamos nenhum abalo.
– Devem ser naves de colheita para pegarem os nossos alimentos. Eles vêm por esta época do ano. Pousam no espaçoporto em grupos e levam tudo o que podem.
– Más notícias, vão ficar sem papinha. Venham, vamos à ponte ver isso. – Daniel pegou na mão dos governadores e saltou. Atrás, veio a Daniela com a médica. Os ubruranos olharam impressionados para o maquinário simples da sala gigantesca.
– Coronel, alerta amarelo. Lance os destroyers, mande a Vega fazer o mesmo. Deixem-nos divertirem-se um pouco. – As enormes janelas fecharam-se e surgiram telas que mostravam o exterior com tanta perfeição que parecia que estavam no ar, maravilhando os governadores que viram onze naves de cem metros subirem devagar. Quando chegaram ao nível da ponte aceleraram com tamanha violência que desaparecem no céu.
– Só onze aparelhos contra dez mil? – questionou um deles.
– Um apenas seria mais do que o suficiente, mas achamos melhor mandar todos para terminar isso rápido. São vinte e dois, onze desta nave e o resto da Vega, a nave-irmã que está em órbita. Eles podem destruir trinta e duas naves a cada tiro. Além disso, há um cruzador em órbita com doze naves auxiliares. Se for necessário, o resto da frota dará apoio.
– Olhem – disse Jacb, apontando. – Outro homem de pele negra!
– Coronel Nobuntu, conheça o governador-geral de Ubrur. Jacb, que será o novo representante no congresso e o governador Finch de Opta, o continente norte, que o senhor já conhece.
– É um prazer, sejam bem-vindos ao Império.
– O Coronel Nobuntu comanda esta nave. Ele é pai do Zulu, cujo verdadeiro nome também é Nobuntu.
– Há muitos homens com a cor da sua pele?
– Claro, milhões de homens e mulheres.
– Acho que vocês iam fazer muito sucesso com as mulheres do nosso mundo.
– É, pelo jeito parece, pois o meu filho já faz sucesso com uma delas. – Nobuntu deu uma risada.
– O governador é o pai da Srina e do Davri.
– Não pense que eu quis ser grosseiro com o que disse, Excelência.
– Ora, não há necessidade disso. Pelo jeito, nós encaramos o sexo com muito mais naturalidade do que vocês. Por falar nisso, não tenho visto o meu filho.
– Deve estar com a Bia na divisão científica. Ela é bióloga e trabalha com o pai da doutora Chang.
– Senhor, a Dani A II acabou de chegar com os suprimentos médicos – afirmou o operador de comunicações. – Está na estratosfera, iniciando a descida.
Aliviada, Daniela concentrou-se e desapareceu da sala de comando, voltando após alguns segundos com uma caixa nas mãos.
– Venha doutora. Tenho o soro antileucêmico aqui. – Ela saltou para a UTI, levando a ubrurana junto. – Preciso de levar o soro para a cidade do continente norte. Vou pedir ao Daniel que mande um planador com um médico.
– Quanto tempo leva a cura? – perguntou a médica.
– Cerca de dois dias.
– Que rápido! – disse, impressionada. – Quem me dera que aqui fosse assim tão simples.
– Doutora, a senhora tem os principais conhecimentos da nossa ciência médica implantados na sua memória. Basta pensar que no que precisa e a informação virá à tona. Aquela nave que está a pousar agora vem carregada até ao limite da sua capacidade com equipamentos médico-hospitalares e medicamentos. Experimente pensar no termo linfoma e obterá todas as informações sobre essa doença e outras aparentadas, inclusive o que é necessário para o tratamento eficaz.
– É verdade, pela Centúria – disse a médica. – Nós não temos como agradecer.
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Máquina de Indução do Conhecimento
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