Capítulo 4 - parte 1 (não revisado)
– Comandante Anjuska, não há nada nos planetas exceto pelo sexto. Neste, o computador conta mais de quatrocentos mil hiperecos de cilindros em órbita.
– Devem estar com quase todo o efetivo aqui – disse a vegana, pensativa. – Mas acredito que deva haver mais naves por aí.
– Comandante, detectamos um abalo estrutural relativamente grande a dois dias luz.
– Já identificaram?
– Estamos fazendo isso, Coronel... – respondeu o tripulante do rastreamento. – São cinquenta mil naves tantorianas.
– Senhora, quatro naves afastam-se do sistema.
– Cruzador Paris, responda. – ordenou a coronel, usando a superonda que os lagartos desconheciam.
– Aqui cruzador Paris. – A imagem do Pedro Costa apareceu nas telas. – Costa falando, Coronel.
– Interceptar as quatro naves que pretendem sair do sistema, destruir, camuflar e retornar.
– Confirmado, coronel, considere feito. – Costa virou-se para o lado, ainda antes de desligar. – Piloto, ouviu a ordem da chefe. Acelere a nave que vamos tirar o apetite dessa gente.
Anjuska ficou alguns segundos observando o comandante da Paris, um jovem simpático e determinado.
― ☼ ―
O comandante alienígena divertia-se com a ingenuidade dos humanos, que achavam que os ia libertar depois de entrarem. Virou-se para o ordenança e disse:
– Mande chamar dois soldados para aprisionar o Almirante humano.
– Sim, senhor – o auxiliar de cara de sapo deu uma risada para o superior. – São mesmo burros, esses humanos. Custa-me a crer que tenham criado essas naves tão grandes e poderosas.
– É verdade. Embora sejam um pouco menores no diâmetro, têm um volume muito maior. Em breve poremos as mãos em uma delas e iremos para Tantor. Aposto que seremos recebidos pelo imperador em pessoa. – O comandante fechou os olhos e já se imaginava no palanque imperial, sendo condecorado.
Voltando à realidade, continuou pensando. Sabia que precisava dos humanos para aprender a controlar aquele artefacto fabuloso, mas assim que tiverem aprendido tudo, seriam aprisionados e colocados a trabalhar em alguma fazenda, ou mortos...
― ☼ ―
O planador alçou voo, saindo do hangar para a claridade do dia. Daniel observava a cidade abaixo e apreciava a sua beleza singela.
– Vocês possuem cidades belas, governador, tudo muito limpo e ordenado, com belos parques e praças. Parabéns, porque aqui, sinto-me em casa.
– Obrigado, Majestade, é pena que os invasores não tenham esse senso de estética.
– Se tivessem essa capacidade, talvez fossem tão diferentes que não seriam inimigos. É realmente uma pena, mas espero mudar isso em pouco tempo.
– Como deseja fazer isso, Alteza?
– O meu sogro é um grande cientista e estuda o genoma dos tantorianos. Ele identificou um gene responsável pela agressividade e planeja criar uma mutação para o neutralizar. Assim, espero salvar esta raça.
– Como salvar?
– Se eles não se renderem, farei uma incursão e destruirei o planeta Tantor inteiro, infelizmente, porque são demasiado perigosos e não há como tratar a espécie inteira como um todo. Os prisioneiros que fizemos, assim como os futuros prisioneiros, serão tratados e colocados em um novo mundo. As fêmeas deles são dóceis, muito mais inteligentes e totalmente despidas de preconceitos. Só por isso, já vale a pena o esforço de tentar salvar esta raça e eu vou me esforçar para termos êxito.
– É muito nobre da sua parte. Mude para aquela direção – disse, apontando o rumo – o quartel fica a mais uns dois quilômetros, aproximadamente.
Poucos minutos depois, o planador pousou em frente ao quartel, onde avistaram um dos soldados inimigos no portão, montando guarda.
– Vamos, governador – afirmou Daniel. – Agora a festa vai começar. O senhor precisa de saber algumas coisas. Para começar, eu sou um telepata e posso transmitir o meu pensamento para outras pessoas, mas não se preocupe que não fico lendo a sua mente. Quando eu lhe enviar alguma ordem, execute-a sem medo porque desejo provocar aquele diabo até deixá-lo bem confuso. Os tantorianos perdem o controle facilmente quando provocados por humanos e chega a ser pueril. Depois, o campo de força que possui pode proteger o senhor de qualquer arma desses infelizes. Então, se atirarem no senhor, não se assuste e faça cara de deboche para os confundir ainda mais.
– Farei isso, Majestade, mas confesso que estou morrendo de medo.
– Não se preocupe que eu jamais exporia o senhor a algum perigo, Não é da minha natureza.
Ambos atravessaram a rua e pararam em frente ao guarda tantoriano que cuidava da cancela.
– O que deseja, escravo? – esbaforiu ele. – Onde arranjou esse aparelho?
– O senhor é muito impertinente, tantoriano. Não sou escravo algum e sim o Almirante Daniel, do Império do Sol. O seu comandante aguarda por nós.
– Olhe como fala comigo, humano, ou não falará nunca mais, porque mato-o aqui e agora. Quem é esse outro escravo?
– Já lhe disse uma vez que não somos escravos e estamos aqui para falar com o seu comandante. Se me matar, sofrerá a ira dele.
Sem pensar, o tantoriano desferiu uma patada bastante forte no rosto do Daniel, pancada esta que seria o suficiente para matar um humano normal. Ele, entretanto, nem se mexeu. Boquiaberto, o governador olhou para Daniel, não acreditando que ainda estivesse vivo.
– Se o senhor não me anunciar logo, terá sérios problemas, soldado.
Impressionado com o que viu, o guarda usou um telefone primitivo para chamar o interior do quartel. Recebeu a confirmação de que os dois eram aguardados e mandou-os entrar e aguardar após a porta que um colega os escoltaria. Abriu a porta e mandou-os passar. Daniel olhou pela porta para o pátio e viu que estava vazio. Virando-se para o invasor, disse com o ar mais debochado e displicente que conseguiu fazer:
– Sabe, seu soldadinho inútil? – provocou ele. – O senhor bate como uma jovem tantoriana. Não tem força para pegar nem uma velhinha. Eu devia mostrar-lhe como se bate de verdade, então talvez você entendesse o que é o Império do Sol, só que o senhor não sobreviveria para saber as consequências.
Furioso, o soldado descontrolou-se e, chiando, agarrou Daniel com um dos braços, impedindo-o de continuar. Ele voltou a olhar pela porta e viu que ninguém ainda chegou para os pegar. Rápido, sem que um olhar treinado o pudesse acompanhar, pegou na mão do guarda com tanta força que ele foi incapaz de resistir, torcendo-a até ouvir os ossos quebrarem. Após, desferiu uma pancada de tal forma violenta no rosto dele, que o verde voou quatro metros para cair morto do meio da rua.
– Eu avisei, seu imbecil.
Estupefacto o governador olhava para a cena.
– Caramba, Magestade...
– Vamos, rápido. Temos de entrar e fechar a porta – disse Daniel, empurrando o nativo que ainda tentava digerir o que acabou de ver; algo inconcebível para um ubrurano. – Eles só devem descobrir o cadáver quando estivermos dentro com o comandante das lagartixas.
O almirante fechou a porta e ambos aguardavam.
– Majesta...
– Amigo, nem uma palavra a respeito, ok?
Calados, ambos observavam o pátio, que era enorme, com cerca de vinte planadores pousados em um dos lados. Ao fim de um minuto ou pouco mais, um verde aproximou-se deles.
– Sigam-me – afirmou, lacônico.
Os dois caminharam atrás do "homem" e aproveitaram para prestar atenção em tudo. Daniel já analisou e localizou vários pontos estratégicos no caso de ter de combater, mas o governador apenas olhava com curiosidade porque nenhum ser humano jamais entrou ali e voltou a sair vivo. Ao notar o olhar do almirante, o lagarto disse:
– Aproveite, humano, pois jamais sairá vivo daqui.
– Matei milhares dos vossos quando invadiram um dos nossos mundos, então, não me faça rir.
– Não me faça rir você, escravo.
– Chame-me novamente de escravo e mato-o na primeira oportunidade.
Como previra Daniel, ele reagiu tal como um pré-adolescente.
– E como pretende fazer isso? – quis saber o batráquio rindo da sua cara. – Entre nesta porta que outro soldado o levará ao comandante, escravo.
Ao ver a porta aberta sem ninguém à vista, Daniel não perdoou e deu uma marretada infernal na cabeça do tantoriano, que, com a língua de fora e os olhos erguidos para um lado, começou a cair lentamente no chão, morto com a violência da pancada.
– Eu disse para não nos chamar de escravos!
– Isso pode trazer-nos dificuldades futuras – afirmou o governador com um certo olhar reprovador enquanto ambos entravam e fechavam a porta.
– Foi premeditado e conto com isso, excelência. – respondeu, lacônico. – Tal situação deixá-los-á bem desorientados porque eles não concebem a ideia de um humano ser superior a eles em força.
– Nem mesmo eu concebo, Majestade – disse o governador, olhando para ele com admiração.
Mais uma vez apareceu um soldado para os levar ao seu comandante. Estavam dentro de um edifício de quatro andares e com quase duzentos metros de lado. O verde caminhava à frente, em direção a umas escadas largas que subiam em arco. Após chegarem ao último andar, foram conduzidos por um corredor largo, caminhando por cerca de trinta metros. O local parecia demais com um prédio humano, se não fosse a presença constante dos tantorianos. O guia parou em frente a uma porta grande e bateu. Quando foi autorizado a entrar, abriu-a e mandou os dois homens entrarem para logo em seguida sair, fechando a porta. A sala era grande e tinha dois guardas junto à entrada, que a bloquearam imediatamente. Sem preocupações, Daniel aproximou-se da mesa e sentou-se em uma das poltronas à frente, sem ser convidado.
– Então o senhor é o comandante Gaxt? – disse. A seguir pediu ao governador. – "Sente-se ao meu lado e pareça arrogante mas nada diga."
O governador Finch obedeceu e o tantoriano ficou contrariado, mas aguardou calmo porque desejava se apoderar da nave.
– Sim, presumo que seja o almirante humano – respondeu. Geralmente, humanos não sentam à nossa frente, mas vou fazer uma exceção, almirante humano. O que desejam aqui?
– Simples, que desativem as bombas atômicas e se retirem deste mundo.
– Julga que me pode forçar a isso, Almirante.
– Facilmente, mas, nesse caso, serei obrigado a vos matar.
O comandante deu uma risada, que se parecia demais com as humanas, embora a sua bocarra de sapo se abrisse muito e, por incrível que parecesse, tornava-os mais agradáveis à visão.
– Um humano estúpido jamais poderá nos matar. De que planeta vocês são?
– Eu sou da Terra, o planeta administrador do Império do Sol, comandante, e garanto-lhe que poderei matar sozinho e facilmente todo o seu batalhão, sem armas.
– Onde fica esse mundo – perguntou o alienígena – ignorando a ameaça.
– Fica a quase sete mil anos-luz daqui. O seu povo já tentou invadir-nos uma vez, comandante e perdeu a batalha. Para o seu bem, repito que capitule. – "Governador, diga-lhe que é mais apropriado seguir o meu conselho."
– Sabe, comandante, não seria má ideia obedecer a sua Majestade.
– Majestade?
– Eu sou o Imperador do Sol, comandante.
– Bem, Imperador, agora não passa de um prisioneiro e, pelo jeito, um bem valioso. Duvido muito que o seu povo nos ataque, estando o senhor em nosso poder. Além...
Um soldado entrou às pressas e falou algo nos ouvidos do comandante, que se virou para o par de humanos:
– O guarda da entrada e o que vos conduziu até ao prédio estão mortos – afirmou, irritado. – Quem fez isso?
– Quem o senhor acha que foi? – Daniel deu uma risada bem debochada. – Não foi o senhor que disse que nós não estamos capacitados a matar os seus elementos?
– Responda, almirante humano.
– Se deseja saber quem foi, tudo bem, fui eu – respondeu o imperador, fazendo cara de tédio. – Eles eram impertinentes e chamaram-me de escravo, logo a mim, o líder de cinquenta e um mundos.
O comandante, tranquilo como se fosse uma conversa entre amigos, pegou na pistola e começou a falar, muito zangado:
– O senhor é um prisioneiro muito valioso, humano, mas esse outro é descartável.
Com toda a frieza, disparou sobre o governador que se assustou com o estrondo provocado pela arma. Ao ver que nada lhe aconteceu, cruzou os braços e sorriu, gozador.
– Como fez isso? – perguntou o verde, incrédulo.
– O Império do Sol fabrica excelentes campos de força, não concorda, comandante?
– Agarrem-nos – disse para os guardas, que se aproximaram. Antes que pudessem fazer qualquer coisa, Daniel virou-se muito rápido e desferiu um pontapé lateral no focinho de um dos soldados, matando-o na mesma hora. O segundo, ele pegou pelo uniforme e atirou-o para cima. Ele bateu no teto com um barulho assustador de ossos quebrados, caindo no chão, também morto e acompanhado de pedaços do reboco. O comandante olhou para aquilo sem acreditar no que via e, meio roxo, pegou da arma e apontou para o almirante.
– Como vê, Comandante – afirmou Daniel, cruzando os braços, provocador. – Creio que é difícil me prender, realmente muito difícil. Julga que pode me matar com essa pistolinha ridícula? Não chega o que viu acontecer com o campo de força do governador?
– Esta é a arma mais moderna de Tantor, humano, e um campo de força pode ser sobrecarregado!
O comandante começou a atirar continuamente. Apesar de saber que nada lhe poderia acontecer, o barulho dos disparos assustava o governador. O ubrurano voltou a cruzar os braços e a sorrir debochado, sem demonstrar o medo que sentia.
– Viu, comandante? – disse Daniel, sorrindo. – Nós somos poderosos demais para o senhor. Agora chega.
Daniel concentrou-se e a arma voou da mão do lagarto, pairando no ar e virando-se para o apavorado comandante. Usando o seu dom telepato-hipnótico, ordenou-lhe:
– Quero saber como desativar as bombas atômicas, imediatamente.
Sem poder resistir, o comandante disse:
– Na minha gaveta há um controle que ativa ou desarma todas as bombas.
– Abra-a e ponha esse aparelho em cima da mesa.
Obedecendo, Daniel viu uma caixa com quinze centímetros de lado, cheia de mostradores e controles.
– Desative-as imediatamente, todas as bombas. – Mais uma vez ele obedeceu. Ao terminar, Daniel fez a arma voar para as suas mãos e, usando pura força bruta, rebentou com ela que se tornou um pedaço de aço retorcido. Após, aproximou-se da mesa e pegou na caixa. Com o seu fluxo telecinético destruiu todo o circuito interno, entregando-a de novo para o comandante.
– Guarde como está e esqueça tudo o que aconteceu desde que matei os guardas até agora.
O comandante obedeceu e voltou ao normal. Espantado, exclamou, ao ver a arma destruída:
– O que aconteceu com a minha arma? Quem fez isto?
– Eu, comandante – disse Daniel e o comandante apertou um botão. – Então, vai desistir de nos matar?
Vinte guardas entraram e cercam os dois, que não ofereceram resistência por determinação do Daniel.
– Chega de besteira – disse ele –, agora o senhor vai entregar-me a sua nave.
– Talvez entregue, só para vos ver caindo. Vai ser divertido observar como vocês seriam se rebentando no chão. O problema, é que a quantidade de antimatéria que ela carrega é suficiente para destruir este mundo. Então, acho melhor nem tentarem usá-la.
– A senhor vai nos ensinar, ou detono todas as bombas atômicas.
– Está bem, comandante, o senhor venceu.
– Quantas pessoas são necessárias para a controlar?
– Se forem humanos e inteligentes como a minha tripulação, umas seis pessoas, embora ela possa ser conduzida por apenas um.
– Afirma que apenas um homem pode controlar aquele monstro?
– Que monstro, a nave auxiliar?
– Nave auxiliar?
– Exatamente, uma simples nave auxiliar.
– Qual a velocidade que ela atinge?
– Chega à velocidade da luz antes que conte até dez. Com ela, o senhor alcança o seu mundo em poucos minutos.
– Ótimo, humano, o senhor vai levar-nos até ela e ensinar-nos a comandá-la.
– O senhor parece ter pressa em morrer, comandante. Essa nave não conseguirá passar da órbita de Ubrur, mas, se insiste tanto, eu mostro-lhe.
– Agarrem-nos e levem-nos para os planadores.
Após, o tantoriano continuou:
– Vai mostrar por bem ou por mal – levantou-se e pegou o detonador. – Isso eu garanto, humano. Com esta caixa posso detonar todas as bombas atômicas do planeta.
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