Capítulo 3 - parte 1 (não revisado)
Dez homens vestindo calças pretas e quimonos brancos, caminhavam acompanhados de um outro que envergava uma simples e confortável túnica. Este último, um nativo do planeta Ubrur, guiava os Grandes Dragões Vermelhos em direção ao quartel dos tantorianos.
Apesar de usar a estranha mochila dos humanos de outro mundo, sentia-se muito amedrontado em pensar que aqueles homens iam enfrentar um contingente cem vezes maior, pois cinco mil anos de opressão haviam minado a autoconfiança daquele povo, deixando-o muito submisso, na sua maioria absoluta. Caminhavam tranquilamente pelas ruas, e ele observava os soldados conversando no seu idioma nativo, muito curioso para saber o que eles diziam. Notava que os estranhos observavam atentamente o local eventualmente apontando algum pássaro ou as árvores em volta dos canteiros ordenados da rua. Quando se aproximaram, fez um sinal para eles, apontando a rua transversal.
– É nesta rua que os demônios verdes ficam – afirmou no seu idioma, sabendo que eles não entenderiam mas interpretariam corretamente o gesto. Os chineses seguiram pela via, sempre calmos, como se estivessem indo para o cinema. Eles, ao contrário do ubrurano que os acompanhava, tinham uma altivez natural e uma confiança muito grande nos seus dons de guerreiros. Apesar do calor do verão, estava relativamente fresco porque todas as ruas eram muito arborizadas, projetando uma sombra agradável que, com a fraca brisa que soprava, refrescava-os.
Após alguns minutos, chegaram ao quarteirão seguinte que era um tanto quanto grande, com uns cem metros de lado, muros altos e cheios de guaritas. Para espanto dos guerreiros, aquela rua não possuía árvores. O ubrurano apontou o prédio e eles deram-se conta de que chegaram ao objetivo.
Quando viraram a esquina, depararam-se com a entrada fechada por uma cancela e quatro lagartos de guarda. O líder Vermelho apontou para o nativo e sinalizou que ficasse mais para trás. Displicente, aproximou-se dos soldados.
– O que deseja, escravo?
– Escravo é o cacete, sua lagartixa fedorenta. Eu desejo acabar com a sua raça e é o que farei se não se render e ficar bem quietinho – respondeu o Vermelho na língua dos tantorianos.
O ubrurano amaldiçoou-se por não ter tentado falar com eles nessa língua, mas não imaginava que a soubessem, só que ficou muito assustado com a ofensa proferida, já que sabia que os lagartos iam pegá-lo e surrá-lo até à morte. Apesar do medo extremo que sentia, a curiosidade nata do seu povo e a excitação da batalha iminente mantiveram-no parado, olhando.
Observava o soldado ficar bem roxo e estender os braços com um chiado. Furioso, o verde avançou sobre o chinês, mas não teve tempo suficiente para poder fazer algo porque o homem da Terra desferiu uma pancada tão rápida e potente que o matou na hora, projetando o batráquio a mais de dois metros de distância. Antes mesmo que terminasse o golpe, o segundo soldado já recebia a sua dose. O chinês ergueu um dos pés atingindo-o no focinho e quebrando-lhe a coluna. Com uma cambalhota, ele acabou estirado no chão, morto. Logo em seguida o terceiro e quarto foram eliminados com tanta facilidade quanto os dois primeiros. De queixo caído, o ubrurano calculava que aquele ser nem demorou dez segundos a acabar com os guardas do portão e sozinho!
Os dez homens começaram a entrar despreocupados, após rebentarem a cancela com um pontapé que provocou um estrondo tão alto que era certo que foi ouvido em todo o quartel.
Curioso, o nativo seguiu atrás, mantendo-se na retaguarda e um pouco afastado. Em menos de um minuto, estavam todos cercados por uma horda furiosa, composta por nada menos do que algumas centenas de inimigos.
― ☼ ―
– Coronel, as naves auxiliares voltaram. Nenhum dos planetas deste lado do sol possui qualquer instalação ou sinal de vida. E nenhum deles é capaz de suportar vida humana.
– Ótimo. Camuflar as naves e mergulhar para o outro lado do sol. Vamos proceder a um cerco progressivo. Enquanto isso todas as naves auxiliares devem continuar o seu trabalho de coleta de dados nos planetas do outro lado. À medida que forem sendo dados como vazios, apertamos o cerco até cem milhões de quilômetros. Depois, deixá-los-emos descobrir quem está no seu quintal.
― ☼ ―
Daniel pegou a mão da Srina e do irmão, transportando-os para dentro da nave auxiliar. Deu e as instruções necessárias ao piloto e saltou de volta. O comandante da nave solicitou um exército de cinquenta marines e a pequena esfera alçou voo para o hemisfério norte. Muitas pessoas ainda olhavam da borda do campo, quando uma sombra enorme tomou conta da cidade, praticamente transformando o dia ensolarado em uma penumbra de anoitecer. Todos os que podiam, correram a ver o que acontecia, pois julgaram que se tratava de um eclipse. Ao verem a nave de mil e trezentos metros de diâmetro descer sobre a cidade, assustaram-se bastante e só não houve pânico total porque foram avisados.
– Almirante, a nave pousou.
– Mande todas as navetas da Dani para o hospital da cidade. Basta usar o localizador. Estou nele.
– Sim senhor. – Foi a resposta lacônica do Nobuntu.
A mais de seiscentos metros de altura, comportas enormes começaram a se abrir, para deixar sair as trinta navetas planetárias, que se dirigiram sem demora ao local indicado.
– Vamos – disse Daniel para todos. – Peguem os bebês e vão para a rua. Várias pequenas naves vão descer em breve. Vamos para o centro médico do couraçado. Se tiverem algum doente grave, tragam-no.
– De fato, há vários casos graves. Ultimamente, temos tido muitos problemas e ainda não conhecemos a doença. – Disse a médica do hospital. – Vocês chegaram em boa hora, porque a morte deles é certa a menos que descubram o que têm.
– Dani, meu amor, acompanha a doutora e vê o que é. Eu coordeno os bebês. Se for necessário reanimo-os ou te chamo para ajudares.
Cada enfermeira pegou em uma criança, que desconectou dos equipamentos médico-hospitalares e correu para a rua. Por falta de espaço, apenas uma naveta descia de cada vez. Acomodavam os pequenos com as enfermeiras ou os pais que apareceram nesse meio tempo. Quando lotava, a naveta subia e com um silvo dos jatos de ar comprimido, acelerava para a nave-mãe, dando espaço para a próxima pousar. No céu, em cima do hospital, havia um verdadeiro comboio de planadores de quinze metros de comprimento aguardando. Jamais aquele mundo vira tantos objetos voadores reunidos, especialmente tão silenciosos.
O governador, ao descer com o filho nos braços, olhou para o horizonte impressionadíssimo.
– Pela Centúria! Quando você disse que a outra era uma nave auxiliar, eu achei um pouco de exagero, mas vejo que estava redondamente enganado. – Olhou para o lado e viu duas mulheres aproximando-se, uma delas muito parecida com Srina. Elas apressaram o passo até ao marido que, ao vê-las, apresentou-as ao Daniel, enquanto estendia o filho a uma delas, que o pegou com as mãos trêmulas e os olhos cheios de lágrimas. – Majestade, estas são as minhas esposas, Srina e Grisa.
Grisa, cheia de emoção, agarrava muito firme o bebê ao colo, apertando-o e beijando-o sem parar. Virou-se para Daniel:
– Obrigada, não há nada que lhe pague isto – falou, ainda com lágrimas nos olhos. – O senhor salvou o nosso filho.
– Não precisa de agradecer, senhora Grisa, é um prazer ajudar o vosso povo. – A Srina mãe também abraçava a criança e Daniel, ao observá-la, acrescentou. – Você parece muito com a sua filha, dona Srina.
– Minha filha? Ela está aqui? Oh, pela Centúria!
– Nós resgatamos a Srina e Davri de uma nave tantoriana. Por isso soubemos sobre vocês. Eles estão no continente norte, ajudando os meus homens a libertar o povo de lá.
– "Dan, salta até mim. Rápido."
– A minha esposa chama-me e deve ser muito urgente. Governador, quando puder, vá até à nave. Um dos meus homens levá-lo-á a mim, pois preciso de lhe mostrar algo e obter algumas informações para o resgate final. – Mal disse isso, desapareceu no ar.
– Como ele faz isso? – perguntaram as duas ao mesmo tempo.
– Não sei, meus amores, mas eles são maravilhosos. Vão para casa que eu vou ajudar com a libertação e os doentes. – Beijou ambas as esposas e começou a caminhar em direção ao espaçoporto, já que não era longe.
Por conta do elevado senso cívico daquele povo, jamais lhe ocorreu querer ocupar um lugar no planador, lugar esse muito mais útil para um dos enfermos.
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