Capítulo 2 - parte 2 (não revisado)

– Sim, há um posto militar. Deve haver uns mil deles lá. No nosso continente, temos cerca de uma dúzia de cidades com quarteis dos opressores. No norte, deve haver outro tanto.

Daniel chamou pelo rádio, falando a sua língua. Em poucos segundos, dez Dragões Vermelhos desceram da nave e receberam as instruções necessárias.

– Pode indicar onde fica o posto? – Os meus homens vão pegá-los.

– Só dez, Daniel!? – perguntou Srina, espantada. – Não achas melhor mandar mais. Nem armas têm!

– Não precisam, querida.

– Falas o idioma deles, filha?

– O senhor falará em breve, Governador Jacb. Precisamos de discutir o futuro do vosso mundo. Serão muito bem-vindos ao Império, se desejarem, mas antes devemo-nos concentrar na vossa libertação.

O governador destacou uma pessoa para acompanhar os Dragões. Eles entregaram-lhe uma pequena mochila para pôr nas costas.

– Esse aparelho – explicou Daniel –, gera um campo de energia, que impede que as armas deles o atinjam. Aciona-se nesse pequeno botão. Assim, o senhor não corre perigo de ser ferido.

– Vocês têm armas fantásticas!

– Fomos obrigados a isso, meu nobre amigo – respondeu Daniel, sempre calmo. – Até há dois anos nem produzíamos mais armas e vivíamos em paz e muita harmonia. Quando um dos nossos mundos foi acatado, tivemos de o libertar.

– Pai, estivemos na Centúria – disse Srina, eufórica. – Ela existe, não é uma lenda. É de lá que se originou toda a espécie humana. Eles, nós e centenas de outros mundos.

– Governador Jacb: pela Srina, soubemos que vocês têm crianças que nascem e morrem antes de completarem um ano de vida. Conhecemos a origem do problema e trouxemos o medicamento e uma equipe de médicos e cientistas que os vai ajudar a tratar dessas crianças e ensinar como fabricar o soro de modo a acabar com o problema. – Nesse momento a Daniela desceu com o pai e alguns outros homens. Dois deles carregavam uma plataforma antigravitacional com uma caixa enorme. – Esta é a minha esposa, doutora Daniela Chang, e este é o pai dela, o doutor Nelson Chang, um cientista especializado em genética que ajudará com a cura. A minha esposa é a médica chefe da nave. Com ela, o seu povo estará em boas mãos, governador.

– Novamente, não sabemos como agradecer, pois esse problema é cada vez mais constante, Daniel. Eu mesmo tenho um filho à beira da morte e ninguém sabe o que fazer. Nós já até havíamos perdido a esperança. Está no hospital, junto com as demais crianças doentes, esperando o seu fim. – O jovem via o desespero nos olhos do dirigente.

– Não haverá mais fim, meu amigo. Garanto-vos a cura desse problema que é bastante fácil de resolver.

Um ninja apareceu à frente deles. Inclinou-se para Daniel e disse, falando em japonês:

– Almirante, ninguém se rendeu e lutaram até ao fim. Mesmo assim, conseguimos prender e neutralizar dez deles. Nas naves há um total de oitenta fêmeas neste momento sendo escoltadas para fora. Além disso, encontramos vinte humanos.

– Ponham-nas em uma sala da Dani A I. Não devem ser maltratadas porque elas são bem diferentes, mas mantenham um guarda cuidando da porta. Quanto aos machos, coloquem na prisão da nave e tragam os humanos libertos para aqui. – Pegando o comunicador disse. – Façam descer dois planadores.

– Governador Jacb, notamos que os vossos veículos são pequenos. Por isso, mandei vir dois planadores, mas vamos esperar os humanos que estavam na nave dos tantorianos.

– Não havia humanos do nosso planeta nas naves deles.

– Levem os humanos para a nave. Vê-los-ei depois – disse Daniel para o ninja. – Eles não são deste mundo. Acomodem-nos em uma cabine e deixem um guarda por perto, mas não os maltratem. Deem-lhes algum alimento decente, porque devem estar em mau estado.

– Sim, Almirante. – O ninja fez uma reverência e saiu, enquanto acrescentava. – Estão em péssimo estado, senhor. Mais da metade nem mesmo consegue andar.

– Nesse caso, levem-nos para a enfermaria que um dos médicos ficará com eles. – Daniel pediu para a esposa escalar um dos colegas para ajudar e ele retirou-se de volta para a nave.

– Estamos prontos, governador.

– Daniel – afirmou ele, enquanto a equipe aguardava os planadores chegarem. – Notei que a sua esposa, o pai dela, os homens que saíram há pouco e esses de preto são diferentes. Por acaso pertencem a outro mundo?

– Não. Somos todos da Terra, o nosso planeta central. Temos quatro raças distintas.

– Interessante. – Os planadores pousaram e Daniel convidou o governador, que não se separava dos filhos, a entrar.

– Indique-nos o hospital, governador.

Quando estavam acomodados, os aparelhos subiram silenciosamente. No espaço, devido aos ataques, Daniel não teve oportunidade de ver a cidade mais com mais detalhes, mas agora apreciava a beleza e a simplicidade dela. Ruas limpas e muito arborizadas, diversos parques e jardins, o povo deslocando-se de forma ordenada em veículos elétricos ou a pé. Os prédios, que não passavam de quatro andares, eram feitos com tijolos e caiados de branco. Via-se postes de luz elétrica, mas os dutos eram todos subterrâneos para não poluir a beleza do lugar.

– A vossa cidade é muito bela e harmoniosa, governador, vocês devem ter um grande orgulho dela.

– Temos muita preocupação com a natureza, Daniel. – O governador inchou de orgulho. – Por isso, renunciamos a muitas coisas da tecnologia. Não usamos energia atômica, que abandonamos há dez mil anos. Vocês devem enfrentar sérios problemas de poluição no vosso mundo, eu suponho.

– Na verdade não, governador. Os nossos reatores atômicos são limpos. Nas naves, usamos antimatéria que não emite radiação. Também temos muita preocupação com a natureza. O mosso mundo é muito belo e a sua atmosfera muito pura. Como aqui, possuímos grandes parques. Pergunte para a sua filha, pois ela esteve na Terra e passeou conosco muitas vezes.

– Pai, a capital deles é a segunda cidade mais bela que eu jamais vi. Somente Centúria é mais bonita e, mesmo assim, com ressalvas, pois a centúria é formada exclusivamente por prédios, enquanto na Terra, predominam as casas, em teremos grandes, como se cada uma estivesse dentro de um pequeno parque.

– Gostaria de a conhecer.

– Irá conhecê-la, sim, governador. Ainda mais se vocês quiserem fazer parte do Império do Sol porque teremos a maior satisfação em acolher os nossos irmãos de raça.

– Quer dizer que nos liberta dos tantorianos para nos anexar ao seu Império? – perguntou ele, preocupado. – Apenas trocaremos de captores?

– De jeito nenhum, governador Jacb, eu jamais seria capaz de fazer uma coisa dessas, especialmente com humanos. Note que eu enfatizei o "se quiserem". No nosso Império, meu amigo, cada planeta é autárquico com o seu próprio governo local e leis locais que, no entanto, não devem ir contra a lei suprema, que rege todo o Império. Além disso, só entra para o nosso seio quem o desejar porque não somos conquistadores sanguinários. Cada governador de cada planeta dirige o Império em conjunto com o primeiro-ministro e o Imperador. Em tempos de paz, o líder é o primeiro-ministro, embora dependa da votação da maioria. Os governadores votam as leis e apresentam os problemas dos seus povos porque o Império governa unido, como um todo. O imperador tem apenas a função de equilibrar, mediar, mas não manda no sentido real da palavra a não ser para vetar algo que ele ache prejudicial ao seu povo. Mas, em tempos de guerra como agora, ele recebe poderes absolutos porque, nesses períodos, não há tempo a perder com discussões e votações. Nunca antes houve uma guerra no Império. Esta é a primeira. Para o senhor ter uma ideia, o imperador é escolhido por votação e indicação e, se o povo estiver descontente, pode solicitar que ele abdique, embora tenha o direito de reinar enquanto viver.

– Realmente as vossas leis são muito boas, visando o interesse da humanidade, mas o que o seu imperador faz agora? Quais as decisões dele? Que futuro nos aguarda?

– Pai – disse Srina, rindo. – Ele é o imperador. E é uma pessoa maravilhosa!

– O senhor? Mas é tão jovem!

– Governador Jacb. Sou realmente jovem, mas não meça a minha capacidade pela idade. Para responder às suas perguntas, digo o seguinte: a nossa intenção é unificar toda a raça humana. Somos todos filhos da Centúria. Libertaremos todos os mundos oprimidos e não pediremos nada em troca. Quem quiser unir-se ao Império, deverá criar um governo único no seu planeta. Na verdade, pode ter vários governantes, mas um acima de todos, que será o governador planetário e assumirá uma cadeira do congresso, na Terra. Pagarão impostos, como qualquer um, mas não é nada demais. Haverá comércio, poderão viver em qualquer mundo que escolherem, são livres para ir e vir para qualquer um dos cinquenta mundos atuais. Terão um posto militar a proteger o planeta e as suas próprias naves mercantes. O nosso império não tem mais pobreza nem doenças. Nós somos prósperos e muito felizes. Vocês aprenderão toda uma tecnologia que é limpa e benéfica, fazendo com que o vosso mundo se torne ainda mais belo do que já é sem precisarem de renunciar ao conforto da alta tecnologia. Como o senhor deve ter notado, a nossa nave não usou foguetes, que causariam poluição na atmosfera e sim, geradores antigravitacionais e jatos de ar comprimido.

– Mas o que daremos em troca?

– Comerciamos entre nós, meu amigo. Não há um povo que não tenha algo para negociar. Vejo que vocês são grandes produtores de alimentos e isso é bom. Compramos alimentos, por exemplo. Arte, música, cultura, saber. Tudo isso é apreciado no Império; vocês têm excesso de mulheres e nós temos mundos que precisam de mulheres, por exemplo. Poderão emigrar para eles e outros poderão vir para cá. Não temos mais intolerância nem discriminação de espécie alguma. O nosso povo vive uma era dourada jamais vista anteriormente, embora tenha sofrido alguns problemas, justamente por ter-se acomodado. Mas, agora, retornamos a ser o que eramos há séculos: um império unido e muito consolidado. Jamais qualquer dos nossos mundos desejou separar-se, para o senhor ter uma ideia.

– O vosso império deve ser maravilhoso.

– E é, governador, realmente maravilhoso.

– E se não quisermos pertencer ao império?

– Nesse caso, depois que todos os tantorianos forem eliminados, iremos embora. Deixaremos um comunicador de super-onda para nos contatarem e podemos fazer comércio, mas estão por vossa conta.

– Estaríamos desprotegidos!

– Não. Jamais deixaremos irmãos desprotegidos, mas teriam de nos chamar, pois em respeito ao vosso território, não teremos uma base no vosso sistema solar. Entretanto, estaremos sempre prontos a ajudar e apoiar. Isso é uma promessa solene que eu faço a vocês na qualidade de Imperador do Sol, meu amigo. E olhe que, apesar de jovem, nunca faltei com a minha palavra.

– Obrigado por ser tão sincero, Alteza. Ali, à esquerda, fica o hospital geral. Podem pousar no pátio.

Mal as navetas tocaram o solo do hospital, todos desceram e o Daniel observou o prédio, que era muito parecido com os hospitais do século XX, um edifício muito grande porque ocupava um quarteirão inteiro, com quatro andares. As paredes eram todas forradas de um tipo de azulejo branco, liso, e o cheiro de desinfetantes, especialmente éter, era pungente. Sem perda de tempo, a equipe médica e os dois auxiliares descarregaram o material e empurram a plataforma antigravitacional para dentro do edifício. A maior parte das pessoas que trabalhavam ali eram mulheres que, quando viram um grupo de pessoas estranhamente vestidas entrarem no hospital acompanhados de uma mesa de material desconhecido, sem pernas e que, aparentemente, flutuava no ar, ficaram muito espantadas.

Praticamente pararam os seus afazeres para observarem os estranhos. À frente destes, vinha o governador e uma mulher como nunca viram. Ela era muito bonita, mais do que qualquer outra que já tenham visto, mas tinha os olhos diferentes. Com ela, vinha um rapaz também de grande beleza, vestido com roupas que elas jamais conheceram, um traje de calças pretas e casaco vermelho intenso, onde havia, no peito, o desenho de um animal branco que lhes parecia assustador. A única conclusão que tiraram era que eles não pertenciam àquele mundo. No hospital estavam tão atarefados que não haviam visto a chegada dos estranhos. A médica chefe que estava naquele momento no saguão olhando o grupo, dirigiu-se a eles com o olhar muito sério.

– Vocês não podem entrar aqui, isto é um hospi...

– Doutora – interrompeu o governador, muito sério. – Estes são representantes do Império do Sol e têm a cura para a doença dos bebês. São médicos e estamos livres dos lagartos.

– Pela Centúria, rápido, por aqui. Temos um à beira da morte neste momento. – A médica nem ouviu a segunda parte do diálogo, querendo salvar a criança.

Quase correndo pelos longos corredores, chegaram a um lugar que lembrava uma UTI infantil onde havia no mínimo duas dúzias de crianças. Eles tinham alguma tecnologia, mas os equipamentos médico-hospitalares eram muito básicos. Os bebês estevam em pequenos berços acoplados a monitores cardíacos. Em volta de uma das crianças, três médicas lutavam para ressuscitar o bebê, que acabara de ter uma parada cardíaca, usando para isso um desfibrilador e massagem no coração.

Desesperada, Daniela correu para a criança e empurrou as médicas para que saiam do caminho. Devido à urgência, ela não dosou a força e as pobres médicas caíram no chão, mas sem se feriram. Gentil, Daniel ajudou-as a levantarem-se.

– Afastem-se – disse ela. Colocou a mão no peito do menino e concentrou-se um pouco. Quase que no mesmo ato o sensor cardíaco voltou a apitar cadenciadamente porque o coraçãozinho dele recomeçara a bater. As pessoas daquele mundo não entenderam o que se passava, mas aplaudiram-na. – Rápido, pai, temos uns poucos minutos antes de uma nova parada cardiorrespiratória.

O doutor Chang abriu a caixa enorme que estava na plataforma antigravitacional.

Dela, retirou alguns equipamentos médicos e um scanner portátil que entregou para a filha. Enquanto Daniela passava o aparelho na criança, o pai tirou uma gota de sangue para fazer uma rápida análise dele. O analisador sanguíneo trabalhou por dois segundos e emitiu um bipe. O médico disse para a filha.

– É o gene, anjo, grau sessenta.

– Eu sei, pai. Vejo o coração duplo no monitor. Por favor, aplica o soro que ele não vai suportar muito tempo porque o que fiz foi só paliativo, senão ficaria esgotada e inútil.

A equipe do hospital ouvia o diálogo em uma língua diferente, desconhecida, pois em Ubrur só existia um idioma. Enquanto ouviam, observavam o homem tirar de uma geladeira portátil uma ampola que apresentava, na ponta, uma agulha minúscula. O doutor Chang encostou no braço da criança e o conteúdo pressurizado penetrou no organismo do bebê com um chiado quase inaudível.


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