Capítulo 2 - parte 1 (não revisado)
No planeta Ubrur o povo via uma esfera enorme flutuando majestosa e silenciosa em flagrante contraste com as naves tantorianas. Muitos perguntaram-se quem seriam os visitantes que vieram do espaço exterior.
Horrorizados, viram dois mísseis ganhando altura e atingindo a nave em cheio. Quando explodiram, todos cobriram os olhos por alguns segundos. Ao voltarem a olhar, descobriram que a esfera ainda permanecia no mesmo lugar, mas parada. À sua volta, os dois cogumelos atômicos iam-se dispersando.
Ficaram imaginando quem seriam aqueles seres tão poderosos que podiam sobreviver às terríveis armas dos seus odiados invasores, armas que eles sabiam que envenenavam a atmosfera do seu belo mundo, tão amado pelos nativos. O que eles mais temiam era que ambos os alienígenas entrassem em guerra e destruíssem Ubrur, que não tinha a menor condição de se defender.
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– Comandante Anjuska – disse o imediato. – Estamos nos limites do sistema tantoriano.
– Emergir e paralisar a frota. Ativar todos os rastreadores, mapear o sistema, identificar as posições inimigas e relatar. – A coronel era meticulosa na sua tarefa, como sempre fora.
– As ordens já foram transmitidas, Coronel.
– A frota vai-se dividir e cercar o sistema. Quando todas as informações estiverem na nossa posse, começaremos a apertar o cerco. Usem todas as naves auxiliares para o mapeamento da região.
Enquanto aguardava, observava a estrela à sua frente. Era um gigante vermelho que possuía uma grande quantidade de satélites, aproximadamente vinte e quatro planetas. As naves estavam a uma hora-luz da órbita do último, aguardando.
– Algum rastreamento energético?
– Os hiper-radares acusam movimento no espaço em volta do sexto planeta, em oposição a nós. Deste lado do sol não há nada, mas a distância é grande para detetar formas de energia de baixa potência, Coronel.
– Quero que algumas naves auxiliares, invisíveis, se aproximem dos mundos deste lado do sol e vasculhem os planetas. Isto assume prioridade.
– Sim, senhora.
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– Estão-nos atacando com mísseis nucleares, Almirante.
– As armas deles não têm potência suficiente – afirmou Daniel para tranquilizar os passageiros. – Só a partir de uns noventa ou mais mísseis é que podem tornar-se perigosos.
A Dani A I recebeu o violento impacto dos dois mísseis de um megaton cada. Com o brilho intenso das explosões, as telas escureceram um pouco.
– Atenção, erguer o campo de supercarga e fazer a nave circular em volta da explosão para lançar a poeira radioativa no hiperespaço. Façam rápido porque os campos também drenam a atmosfera. Artilheiro, identificou o atacante?
– Duas naves inimigas em terra, senhor – respondeu o especialista. – Há um espaçoporto razoável ali. A Dani cabe nele com muita folga. Talvez até dois couraçados.
– Eles pousam com uma frota para colher alimento duas vezes por ano – explicou Srina. – Forçam-nos a produzi-lo e levam-no. Às vezes pegam escravos para mandar para outros mundos, como aconteceu comigo e o meu irmão. Mantém sempre algumas naves a nos guardar e, nas principais cidades, um posto em terra.
– Oficial de armas, danifique as naves, mas não as destrua. Pode haver humanos dentro.
– Sim, Almirante.
Dois raios de cinquenta centímetros de diâmetro atingiram os barcos inimigos onde ficavam os geradores de energia, inutilizando-os.
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O povo da cidade olhou abismado a nave começar a fazer movimentos circulares, até se dar conta que toda a fumaça e resíduos da explosão desapareciam no nada ao tocar num anteparo energético que tinha um leve brilho transparente. No meio disso, dois feixes de energia saíram da nave esférica, tão intensos que os ofuscaram, atingindo os invasores em cheio. Tudo o que ouviram foi um crepitar da atmosfera, proveniente a ionização dos seus gases. Aliviados, constataram que os estrangeiros não usariam armas nucleares e, ainda por cima, limparam a sua atmosfera. Muitos correram para o espaçoporto, alguns nos seus veículos e outros a pé e pararam perto do campo de pouso com medo de se aproximarem. Uma nuvem de fumaça mostrava que as naves do odiado inimigo foram bastante danificadas. Por toda a parte começaram os sorrisos de felicidade ao verem o revés dos lagartos. A pequena esfera aproximou-se e observam que ela desceu no outro extremo do campo de pouso, em silêncio completo. Habituados com os barulhentos jatos dos opressores, cheios de uma fumaça preta e muito malcheirosa, estranharam muito. Alguns dos que observam eram cientistas e concluíram corretamente que esse povo de outro mundo dominava a gravidade.
– São muito mais fortes que esses demônios verdes – disse um deles.
– Será que é a hora da profecia?
– Seria bom demais – disse outro. – Só espero, pela Centúria, que não seja outra invasão. O nosso povo já sofre há tempo demais.
– Se fossem simples invasores, não se teriam preocupado em impedir a expansão da nuvem radioativa. – Argumentou um dos cientistas que observava tudo com muita atenção. – Eu acho, governador, que finalmente seremos ajudados.
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– Pousar a uns mil metros de distância desses demônios. Atenção, marines, preparar para desembarcar. Tomem as naves de assalto. Quem se render será preso. Do contrário... – custava ao Daniel ordenar a morte, mas sabia que era necessário. – Vocês sabem, mas não façam mal às fêmeas em hipótese alguma e aprisionem o máximo possível de machos. Cuidado que pode haver seres humanos em cativeiro. Por isso, cuidem para que não sejam feridos.
Todos entenderam a ordem de matar, mesmo que reticente, pois eram budistas, da mesma forma que Daniel.
Quando a nave pousou, veio uma horda de lagartos, descendo das pequenas naves cilíndricas. Daniel contou mais de mil e muitos já estavam a meio caminho. Irritadíssimo, soltou uma sonora praga em mandarim e disse:
– Atenção, marines, apressem-se que os vou retardar.
O almirante transportou-se para o meio do caminho, observando aquele grupo de seres tão desajeitados a correr e sentiu uma vontade enorme de rir. Gritando no idioma tantoriano, deu-lhes um ultimato, porque esperava ganhar tempo para os seus marines descerem. Notou, pelo canto do olho, humanos que o observavam, humanos que não nasceram no Império do Sol, mas que eram exatamente iguais. Irmãos de raça, porém, de outro mundo.
– Tantorianos, ordeno-vos que parem imediatamente ou serão destruídos. Se vocês se renderem, pouparemos as vossas vidas, do contrário, jamais sairão vivos deste mundo.
Eles param, sim, mas para rirem da cara dele. Ergueram as armas e atiraram no Daniel. As balas bateram às centenas no campo de força e nada aconteceu. Após descarregarem toda a munição que possuíam, usaram os lasers, igualmente sem sucesso. Recolocaram as armas no coldre e correram sobre Daniel em um ataque de fanáticos enlouquecidos, tentando destruí-lo. O almirante terráqueo desligou o campo de força e usou a força interior com uma certa potência. Quase metade deles voou para todos os lados, a maioria morta. Nisso, sentiu que havia ninjas atrás de si. Imediatamente voltou para a ponte.
Infelizmente para os tantorianos, ninguém se rendeu.
– Piloto. Aproxime a nave daquelas pessoas.
– Senhor – informou o oficial de armas. – Há quatro planadores vindo do segundo quadrante. Se atirarmos, caem sobre a população. Se lançarem mísseis, teremos uma catástrofe total nesta cidade.
– Erguer campos de força e aguardar que se aproximem. Use os raios desintegradores e mire nos mísseis.
Mal terminou de falar, dois mísseis saíram das máquinas inimigas em direção à nave do império. Os planadores aceleraram e subiram para fugirem à explosão.
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O povo da Srina era espiritualmente saudável e curioso. Viram que os visitantes eram humanos e que matavam os opressores com muita facilidade. O que mais os impressionou foi o homem que surgiu do nada e eliminou uma grande quantidade deles de uma forma que era incompreensível para aquele povo. Outra coisa que os atraia e fascinava era o silêncio da nave esférica.
Para seu horror, duas pequenas naves voadoras dos verdes atacaram com dois mísseis, ao mesmo tempo em que dois raios de um tom azul pálido e intenso saíram da nave. Eles atingiram um dos mísseis, contudo errando o segundo que se aproximava com uma velocidade vertiginosa. O povo entrou em pânico e começou a correr, exceto os mais esclarecidos que sabiam não adiantar nada fugir do holocausto que se ia formar, uma vez que toda a cidade seria destruída. De forma misteriosa, o míssil parou no ar como se uma gigantesca mão invisível o segurasse e um novo raio fez com que desaparecesse no nada. Aliviados, os nativos aplaudiram muito.
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– Atinja dos planadores e destrua-os – ordenou o almirante, que usara os seus dons telecinéticos para paralisar a ogiva, facilitando a tarefa para o artilheiro.
– Sim, Almirante, eles agora estão fora dos limites da cidade e a uma altura considerável – respondeu o subordinado. – Assim, acho que é melhor usar raios térmicos para provocar um efeito moral.
– Excelente – concordou o almirante. – Faça isso.
Mais uma vez dois feixes intensos de luz vermelho-alaranjada saíram da nave, provocando o seu crepitar característico. Os raios percorreram a sua rota e encontraram o objetivo em milésimos de segundo, acertando em cheio os dois planadores que explodiram com violência. Todos na cidade e na nave observaram a chuva de fogo e dos destroços caindo a cerca de dez quilômetros dali, como uma estrela cadente que acabara de se fragmentar.
– Piloto, pouse onde mandei, por favor. – Virou-se para o oficial de artilharia e disse. – Obrigado, Fernando, foi um excelente trabalho. Se houverem outros planadores, vão pensar duas vezes antes de agir, mas fique sempre de olho aberto.
– Sim, Almirante – respondeu o jovem, alegre. – Pode ficar descansado que ficarei alerta.
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O povo viu a gigantesca esfera erguer-se no ar mais uma vez, leve como uma pluma. Mantendo uma altitude de apenas trinta metros, ela emitiu com um silvo agudo e começou a deslocar-se devagar na direção deles.
– "Eles usam jatos de ar comprimido para se deslocarem na atmosfera dos mundos" – pensou um dos observadores que era cientista. – "Não poluem o nosso ar como os demônios verdes!"
Calado, continuava parado observando. Quando estava a apenas vinte metros deles, um novo chiado, desta vez de frente para eles que viram a turbina de ar comprimido parar a nave. Devagar, ela desceu até tocar o solo.
A população olhava aquilo com um misto de curiosidade e admiração, até mesmo um certo receio, mas nenhum deles ousou fugir porque sentiam que pior não poderia ficar. Esses, pelo menos, eram humanos, sem falar no poder terrível que possuíam, tal e qual dizia a famosa profecia. Ao longe, observavam os duzentos homens de preto atacando e eliminando sem dificuldades o que sobrou das tropas dos lagartos. Depois, eles entraram nos dois cilindros para provavelmente neutralizar o resto dos invasores.
Da grande espaçonave esférica, uma comporta lateral abriu-se perto do fundo e as atenções do povo voltaram-se mais uma vez para os visitantes.
O governador do continente aproximou-se da nave, acompanhado de uma pequena comitiva. Espantado, viu o mesmo homem que matara os tantorianos sem lhes tocar, deslisar pelo ar na sua direção, bem devagar. Notou que era ainda muito jovem, mas o rosto mostrava serenidade, bondade e sabedoria. Ao tocar o solo, aproximou-se do homem, estendendo ambas as mãos à moda do cumprimento ubrurano. O visitante ergueu a mão para eles e começou a falar alto e no seu idioma:
– Ubruanos, soubemos que vocês têm alguns problemas com os tantorianos – disse Daniel, sorrindo. – Então, nós viemos aqui para ajudá-los.
Uma ovação estrondosa fez-se ouvir e todos queriam tocar no Daniel, que não os levava a mal. Fez um novo gesto, pedindo silêncio.
– Eu sou Daniel Moreira – continuou ele –, e nós viemos do Império do Sol. Gostaria de falar com um representante do governo.
– Sou Jacb, governador de Mixt, o continente sul de Ubrur e saúdo Daniel Moreira do Império do Sol em nome de todo o povo de Ubrur – disse ele, fazendo o cumprimento formal do seu mundo. – Que o seu povo tenha muita paz e alegria, Daniel do Sol.
– Obrigado, governador Jacb. Que o seu povo seja eternamente feliz é o desejo do Império.
Da nave esférica gigantesca, o povo olhava mais gente descendo. Quando o governador viu um casal sair, correu até ele e, emocionado, abraçou Srina e Davri, cheio de lágrimas nos olhos.
– Meus filhos – disse ele, apertando-os muito. – Julguei que nunca mais os veria.
– Nós também, pai – disse a moça, agarrada ao pai. – Mas eles libertaram-nos e destruíram a frota dos tantorianos.
– Não tenho palavras para lhe agradecer, Daniel do Sol. Para mim, trazer os meus filhos de volta sãos e salvos foi um presente que jamais saberei como retribuir. As mães deles vão ficar muito felizes.
– Foi um prazer ajudar, governador. Quando soubemos que havia mundos humanos oprimidos, viemos em busca deles para os auxiliar. Neste momento uma frota de guerra, está a caminho de Tantor porque pretendemos eliminar o mal pela raiz. Há tantorianos na cidade?
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