Capítulo 1 - parte 1 (não revisado)
No sol da Centúria, um sistema que ficava a pouco mais de seis mil e seiscentos anos-luz da Terra, um grupo de naves do Império do Sol orbitava o nono planeta. Era uma frota que aquele mundo ainda não havia visto antes, composta por mais de quinhentas esferas gigantescas, duas delas com mil e trezentos metros de diâmetro e as demais com setecentos e setenta que representavam um poderio assustador. A frota aguardava a decisão do seu líder, permanecendo parada em órbita.
Na Dani, a nave capitânia do Império do Sol, um dos auditórios estava repleto de pessoas ouvindo o palestrante, ninguém menos que o Imperador do Sol e Almirante Supremo das Forças Espaciais Solares. As ordens já haviam sido dadas e a reunião estava praticamente finalizada.
– Recapitulando – dizia ele, muito sério e apontando para um grupo de comandantes de cruzador. – Vocês dez vão a todos os planetas do império e trazem para Ubrur os governadores e na Terra, além do governador planetário, o primeiro-ministro e o vice-imperador. A senhora, comandante Anjuska, chefiará o cerco às lagartixas e não se esqueça das minhas ordens. Vocês farão um cerco ao planeta Tantor e não atacarão até nós chegarmos. Apenas defendam-se e impeçam esses demônios de saírem do seu sistema. O ataque será desfechado quando a decisão estiver tomada e nós tivermos chegado ao vosso encontro. E nós, a Vega, a Dani e a Jessy vamos a Ubrur para a operação de libertação daquele povo de uma vez por todas.
– Sim, Almirante.
– Senhores, estão dispensados e boa sorte a todos – disse, dando a reunião por encerrada.
Os comandantes das diversas naves levantaram-se, fizeram uma mesura e saíram para o hangar dos visitantes onde pegaram as suas navetas de forma a retornarem aos seus comandos. Com isso, houve um pequeno congestionamento de naves auxiliares porque as quinhentas não cabiam todas lá dentro e a maioria delas ficava orbitando a nave gigante até que o piloto era chamado pelo respectivo comandante.
Anjuska, uma linda Vegana de origem russa que foi designada pelo Daniel para comandar o cerco esperou que todos saíssem e aproximou-se do chefe, com o rosto que era só sorrisos.
– Almirante, quero agradecer-lhe a oportunidade e a confiança depositada – disse Anjuska. – Prometo que não decepcionarei o senhor.
– Não me agradeça, minha querida – respondeu o imperador com um sorriso bondoso no rosto. – A senhora fez por merecer. Eu é que devo agradecer por ter colaboradores tão bons. Agora vá e boa sorte.
A mulher saiu, felicíssima. Ela adorava o seu Almirante e Imperador, o homem que salvou o Império da escravidão por um povo não humano. Ele tinha um carisma muito grande, fazendo com que a moça se sentisse importante e era aí que repousava o seu verdadeiro poder porque nunca precisava de impôr a sua vontade.
Com esse tipo de atitude, conseguia a lealdade irrestrita de qualquer um dos subordinados, obtendo resultados nunca antes vistos no passado. Pelo canto do olho, a moça observava Daniel pegar na mão da esposa e caminhar ao seu lado, sempre sorrindo para a mulher, apaixonado e atencioso.
– "Por que será que os melhores nunca estão disponíveis. Bem que eu adoraria arrumar um marido assim" – pensava a mulher, ainda bastante jovem. – "Belo, forte, simpático, amoroso e dedicado. A imperatriz tem muita sorte mesmo." – A coronel Anjuska deu um suspiro profundo, apressou o passo e saiu para a sua nave, concentrando-se na missão.
– "Mais uma, Dan?" – questionou a esposa, rindo.
– "Mais uma o quê, meu anjo?" – perguntou Daniel, distraído.
– "Para certas coisas, tu és bem ceguinho, mesmo." – Ela deu outra risada, muito divertida com a cara do marido, que nada entendia. – "Mais uma apaixonada, Dan. Continuando assim, terás todas as mulheres do Império aos teus pés em poucos meses."
– "Mas que tolice, amor!"
– "Pode até ser tolice, mas essa aí tá caidinha por ti. Continuando assim, vou ter que me precaver. Terei de mandar que me livrem delas." – Depois disso, teve que rir outra vez da cara desorientada do Daniel.
– "Mas que barbaridade, Dani. Ainda bem que ninguém consegue interceptar os nossos pensamentos ou pensariam que és uma assassina potencial!"
Os dois não aguentaram e começaram a rir bastante.
― ☼ ―
As naves começaram a se dispersar para cumprir as suas tarefas. As dez que iam para a Terra e demais planetas do Império de forma a buscarem os governadores, usaram velocidades mais elevadas, fazendo o percurso em poucas horas. Já as naves que seguiam para Tantor não tinham pressa alguma porque sabiam que o Almirante ia demorar vários dias até à ofensiva final. As três últimas naves, as mais potentes do império, ainda permaneceram em órbita por algum tempo, fazendo os preparativos para a incursão no mundo alvo. A nave auxiliar Dani A I foi carregada com um estoque enorme de soro, composto por centenas de milhares de doses enquanto a doutora Chang e a sua equipe prepararam o pequeno, mas muito bem aparelhado hospital da nave para qualquer eventualidade. Enquanto isso, a equipe de artilharia inspecionou os armamentos do arsenal de forma meticulosa.
Mais tarde, Srina aproximou-se do casal, muito feliz por ter tido a sorte e oportunidade de voltar para a sua pátria.
– Então vamos mesmo para o meu mundo, Daniel?
– Vamos sim, Srina. Eu prometi-te que vos ajudaria, não é? Em breve, Ubrur estará livre dos lagartos e eu vou convidar o teu mundo a se juntar ao Império.
Num impulso ela abraçou o amigo, muito alegre, rindo à toa e dizendo:
– Obrigada, Dan. Sabes, eu cheguei a pensar que jamais voltaria a ver o meu mundo outra vez, mas graças a vocês, não só estou retornando, como ainda vou ver a libertação. Finalmente a profecia concretiza-se. Engraçado, mas nunca acreditei nela e, de alguma forma, faço parte disso.
– Não precisas de nos agradecer, Srina – disse a Daniela, com um sorriso. – Jamais deixaríamos de ajudar. Eu queria muito era saber como surgiu essa profecia.
– Ninguém sabe, Dani, e isso é o mais curioso de tudo.
Os alto-falantes da nave interromperam a palestra, informando à tripulação:
– Aqui fala o comandante Nobuntu, tripulação a seus postos. A partida está estimada em trinta minutos. Destino: Ubrur, a setecentos e vinte anos-luz daqui.
– Bem – disse a ubrurana, despedindo-se. – Eu vou encontrar o meu Zulu que ele está de folga.
– Até mais, Srina – despediu-se o casal.
Daniel e a esposa caminhavam pelo convés recreativo em direção ao centro médico, onde ela ficaria. Enquanto andavam, conversavam animados, embora não se ouvisse um pio. O primeiro a comentar algo foi o Daniel:
– "É, princesinha, pelo jeito esse casal de irmãos alienígenas encontrou o seu caminho. Quem diria!"
– "Espero que dê certo, Dan, mas as diferenças de mentalidade entre os dois povos poderão ocasionar conflitos e isso me deixa preocupada."
– "Não me parece, amor. O povo da Srina é muito evoluído e desprovido de preconceitos, da mesma forma que nós. Aparentemente, até mais do que nós."
– "Sim, Daniel, mas têm hábitos bem diferentes!"
– "Nisso tens razão. Quanto ao Zulu, não creio que haja problemas. Por ser zulu, ele pode ter mais de uma esposa, mas confesso que não imagino a Bia dividindo o namorado."
– "Bem, vejamos no que vai dar." – Daniela despediu-se na porta do hospital, desta vez falando em vez de pensar. – É aqui que eu fico.
Após um beijo rápido, Daniel continuou caminhando com toda a calma os aproximados oitocentos e cinquenta metros que faltavam para a ponte.
Ao término do prazo, as naves aceleraram e rumaram para o mundo escravizado usando um voo mergulho de quinze minutos. Davri e Srina estavam na sala de comando a convite do Daniel e sentiam-se muito impressionados pela visão do que tinham.
Emergiram a dez minutos-luz do terceiro planeta e Daniel ativou o alerta azul, que exigia que os setores de combate estivessem guarnecidos para uma possível eventualidade. Ubrur era um sol amarelo classe G, semelhante ao da Terra. Daniel olhou para as janelas, apreciando o espetáculo que se oferecia: o planeta principal, ainda uma pequena foice iluminada pelo esplendor da sua estrela. Os seus devaneios foram interrompidos quando o comandante avisou:
– Almirante, há naves no espaço. Ao que tudo indica, devem ser tantorianas.
– Aproximem-se com um pequeno mergulho. Alerta amarelo.
– Piloto, mergulho até trinta segundos-luz da frota inimiga. Pré-alarme na nave.
Ao contrário do azul, o alerta amarelo informava que os combatentes deveriam preparar-se para um confronto possível e sem aviso prévio. As enormes janelas fecharam-se sem demora, tornando a nave inexpugnável, enquanto gigantescas telas holográficas as substituíam, mantendo a imagem do espaço exterior tao visível e perfeita quanto era antes. Dois segundos depois de mergulhar, a nave emergiu perto da órbita e foi imediatamente atacada por uma frota de cinquenta naves cilíndricas.
– Alerta vermelho. Atacar e destruir – disse o Daniel. – Preparar a Dani A I para descer no planeta. Mandar duzentos marines para dentro. De preferência Dragões e Ninjas com mochila energética. Não quero mortos na nossa equipe de assalto.
– Sim, Almirante.
Os campos de força absorveram as ogivas inimigas sem dificuldade, enquanto os temíveis raios térmicos de cinco metros de diâmetro emitidos pela Dani volatizaram uma nave inimiga atrás da outra. Antes que pudessem fazer alguma coisa, os cinquenta cilindros deixaram de existir, enquanto Daniel continuou dando as suas ordens, sem prestar atenção ao que se passava no espaço.
– Daniela. – Ela apareceu ao seu lado e ele olhou para a esposa, ainda muito sério. – Prepara a tua equipe de desembarque e manda-os para a A I.
– Sim, Almirante. – Ela sorriu e voltou a desaparecer no ar, como se jamais tivesse estado ali.
– Doutor Chang – usou comunicador para o chamar. – Por favor, prepare a sua equipe de cientistas para acompanhar a equipe médica em quinze minutos. Srina e Davri, vocês vêm conosco.
O almirante levantou-se, virando-se para Nobuntu e continuando a falar:
– Coronel, o comando da frota é seu. Faça todas as naves auxiliares saírem e mande cercar o planeta. Os destroyers permanecerão quietos para serem usados como reforço. Mantenha uma órbita firme e proteja o mundo. Se necessário, faça sair os destroyers dos dois couraçados, mas apenas em último caso.
– Sim, almirante. Fique sossegado – respondeu Nobuntu, sempre seguro de si. – Boa sorte, senhor.
Daniel e os ubruranos foram os últimos a chegarem ao hangar da Dani A I. Daquele ângulo onde estavam, a nave auxiliar parecia um gigante, um verdadeiro gigante com os seus respeitáveis cinquenta metros de diâmetro. Nela, cabia toda a equipe de desembarque com folga. Enquanto os marines sentavam-se nas poltronas de uma sala de passageiros, Daniel aguardava na sala de comando os preparativos de decolagem e a liberação da ponte.
Srina sentia-se muito feliz de voltar ao seu mundo, porque julgava que nunca mais o veria até ser resgatada pelo João. Por outro lado, pensava no seu namorado, por quem estava muito apaixonada, e não sabia se teria de fazer algum tipo de escolha, o que a deixava preocupada e confusa. Cada setor foi dando o seu ok, informando que estavam todos prontos. Os últimos a confirmarem a prontidão, foram as equipes do doutor Chang e da Daniela, porque tinham de averiguar uma enorme quantidade de material médico.
Quando a Dani A I saiu do hangar, eles voltam a sentir-se pequenos ao verem a enormidade da nave-mãe ao lado.
Com os campos energéticos ativos, ela orbitava o planeta por dois ciclos, reduzindo a altura aos poucos ao mesmo tempo que o computador mapeava toda a superfície. Era um mundo bonito com apenas dois continentes muito grandes e oceanos gigantescos. Havia, também, duas calotas polares. Os continentes eram exuberantes, mesclando enormes florestas e pradarias com gigantescas fazendas de alimentos. Da altura em que estavam, já se conseguia ver alguns detalhes, como animais de tração semelhantes a bois que ajudavam a preparar o solo para o cultivo. Não se via muitas cidades grandes, embora houvesse inúmeros vilarejos muito bem organizados, com ruas largas e limpas, ladeadas de árvores exuberantes e por onde pequenos veículos, aparentemente elétricos, deslocavam-se com calma. Daniel viu com muita curiosidade aquela mistura de séculos XIX e XXI. Após algum tempo, Srina apontou para o continente sul.
– Ali é o meu continente, o Sul. A capital é onde vivo.
– O teu mundo é muito belo, Srina. Vocês devem ter muito orgulho dele.
– É belo sim, Daniel, e ficará muito mais quando os lagartos forem expulsos. O nosso povo ama demais Ubrur. Por isso, foi que abandonamos a tecnologia que o poluía, como já te disse antes.
Continuando a observar tudo, Daniel sentia que o planeta se parecia muito com Terra-Nova. Uma pequena cidade surgiu ao longe e a amiga apontou-a.
– Ali, Daniel.
– Piloto, desça naquela cidade.
A nave desceu para uma altitude de dois mil metros, movendo-se de um tanto quanto devagar para não gerar muito deslocamento de ar.
– Ao norte há um espaçoporto – acrescentou a moça, apontando o local. – É melhor pousar lá porque é bem grande. Só que provavelmente terá pousada por lá uma ou duas naves dos malditos demônios verdes. Eu confesso que tenho muito medo que eles nos ataquem.
– Isso não me preocupa, Srina. Não te assustes desnecessariamente porque com uma nave igual a esta eu enfrentei cinco mil naves tantorianas e ainda estou aqui, bem vivo e desperto. – Acalmou-a, sorrindo.
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