Capítulo 4 - parte 2 (não revisado)
Na sala de reuniões, o casal concentrava-se ao extremo. Apesar de estar fresco, ambos suavam bastante sem conseguirem qualquer resultado.
– "Centurianos, parem de nos atacar. Viemos em paz e somos humanos. Se continuarem assim, vão-nos destruir. Antes disso acontecer, seremos obrigados a nos defender e vocês perderão a batalha. Nós não desejamos a violência."
– "Centurianos. Parem de nos atacar. Viemos em paz. Somos humanos."
– Não respondem, Dan. Será que só há robôs por lá?
– Há essa probabilidade, amor, mas eu não gostaria que isso fosse verdade.
– Faz como fizemos com a Srina: baixemos todas as barreiras.
– Campos de força a noventa, eles querem mesmo nos destruir. Não conseguimos mais escapar das naves deles porque estamos cercados. Não nos resta outra solução a não ser abrir fogo contra eles.
– "Centurianos. Parem de nos atacar. Viemos em paz. Somos humanos."
– Atenção artilharia – disse Nobuntu. – Quando os campos chegarem a noventa e oito destruam duas naves com os canhões de impulso. Eles não têm campos de supercarga para se protegerem deles.
– "Quem se aproxima da Centúria?" – Um pensamento entrou na mente deles, que notaram ser forte e coerente.
– "Espaçonave terráquea Dani, somos da Terra, um planeta humano a pouco mais de seis mil anos-luz daqui. Suspenda os ataques."
– "A Terra é demasiado primitiva para ter esse tipo de nave, muito menos telepatas tão fortes quanto vocês."
– "Eu mesmo desenhei a nave, olhe no meu espírito, mas cancele os ataques do contrário o comandante revidará em dez segundos para não sermos destruídos. Por favor, parem de atacar pois não queremos violência."
– "Vejo a verdade e que também vieram em paz. O ataque foi cancelado." – Informou o pensamento que receberam, junto com as instruções de aproximação. – "Vocês são persistentes. Nunca imaginei que pudessem nos descobrir. Sejam bem-vindos à Centúria."
– Noventa e sete por cento.
– Zulu está livre para disparar.
De repente, um silêncio enorme fez-se na ponte.
– Comandante, as espaçonaves retornam para a superfície e as plataformas afastam-se, voltando para as suas órbitas originais.
– Acabou. Suspender fogo. – O comandante respirou fundo, muito aliviado. – Devem ter conseguido contato. Mais um pouco e nós virávamos picadinho.
– Atenção, Coronel, fizemos contato. Cancele o ataque e rume para uma órbita de duzentos mil quilômetros. Doutor Chang, apresente-se com uma equipe de cinco cientistas, um de cada especialidade mais pertinente, ao hangar trinta e dois, na Dani P I. O senhor será o líder da equipe de especialistas.
– Entendido.
– Coronel, eu vou comandar a equipe de solo. Mantenha-se em órbita e tenham calma porque não creio que sejamos atacados outra vez. Usaremos equipamentos de comunicação permanente para que registrem tudo. Peça para a Jessy entrar em órbita convosco, pois este povo já foi informado sobre as duas naves. Diga-lhes que façam um curto mergulho.
Terminando as instruções, ele e a esposa seguiram para a naveta planetária, onde os cientistas já estavam acomodados, muito excitados com a grande descoberta. Daniel sentou-se nos comandos da pequena nave e saiu do hangar. Sentia-se muito feliz com o êxito alcançado e, pelos painéis que simulavam janelas, observava junto com a equipe, o planeta que crescia a olhos vistos. O que ocorria na pequena nave era visto na ponte da nave-mãe, que transmitia para todos os setores. Quase toda a tripulação parou de modo a acompanhar os eventos, exceto os elementos mais importantes. Cada um da equipe de terra tinha equipamento pessoal de comunicação que passava dados para a Dani e a Jessy. O planeta Centúria parecia um mundo deserto, sem cidades tal como o décimo planeta, o que confundiu os cientistas que especulavam se eles viviam no subsolo. A beleza daquele mundo selvagem era singular e contagiante, e a equipe observava florestas e pradarias enormes. Belos animais selvagens corriam sobre elas. A única coisa que diferenciava esse mundo da Terra, eram as espécies de animais que viam, muito diferentes da sede do Império do Sol.
– Este mundo parece tão vazio quanto o décimo, mas é ainda mais belo! – exclamou a Daniela.
– É verdade, amor, provavelmente eles são em pequeno número... minha nossa, que coisa mais linda!
O grupo olhou para afrente e avistou a cidade, deixando todos fascinados com a demonstração de tamanha beleza. Como Porto Alegre, aquela cidade era formada por parques gigantescos, mas, ao contrário da capital do Império, não tinha quase casas e sim prédios tão belos que os presentes até esqueciam de respirar. Eles pareciam ser feitos de cristal, com formatos redondos, hexagonais ou retangulares, na sua maioria assimétricos e às vezes fundindo-se entre si a meio caminho ou no topo. As cores que predominavam eram um azul pálido e um verde leve.
– Como são belos – disse Daniela, exprimindo o pensamento geral. – De que material serão feitos? Alguns deles têm uma altura respeitável...
Nesse momento, a naveta deixou de obedecer aos comandos do Daniel.
– "Estamos guiando vocês" – disse a mesma voz suave na mente deles – "não se assustem. Usamos raios antigravitacionais dirigidos para vos trazer ao ponto de encontro."
Daniel desligou os controles e a pequena nave de transporte desceu como uma pena no meio de uma praça enorme. À frente dela havia diversos prédios, mas um edifício belíssimo, verde-claro e opaco, chamava a atenção geral. Era formado por torres de várias alturas, unidas entre si em um grande semicírculo com um pórtico imponente. Daniel imaginou logo que se tratava da sede de governo, qualquer que fosse. Contudo, o que os visitantes da Terra mais estranhavam, é que não encontravam ninguém nas ruas.
A cidade parecia deserta, abandonada, como as de 72 Leo VIII, embora estivesse em perfeitas condições de conservação. O almirante ordenou o desembarque, abrindo a escotilha e descendo à frente do grupo. Respirou fundo o ar limpo e puro com um teor de oxigênio quase idêntico ao da Terra, embora ligeiramente superior. Olhou em volta a apreciou a cidade, tão bela e tão vazia.
– "Onde estarão todos, amor?" – perguntou Daniela, pegando a mão do marido. – "Este mundo até parece tão abandonado quanto o oitavo!"
– "É, minha princesa, mas nós fizemos contato com uma pessoa..."
A primeira manifestação de vida que apareceu para a equipe, tirando os pássaros exóticos que voavam a esmo, não era humana, embora na aparência o fosse. Da porta do edifício, supostamente a sede governamental, surgiram dois robôs similares aos que o almirante vira dentro da fortaleza medieval e caminharam em direção a eles. Daniel notou que não possuíam armas, embora um robô possa contê-las embutidas no corpo.
A equipe virou-se para as máquinas, quase idênticas às que eram feitas no Império. Com um gesto, os homens mecânicos pediram para que a equipe os seguisse. Eles viraram-se em direção ao prédio e começaram a andar sem verificar se eram seguidos, contudo o grupo queria respostas e elas estavam naquela direção. No prédio, notaram que o saguão era vazio, não possuindo nada de aparente. No fundo, apareceram poços de elevadores antigravitacionais, para onde foram conduzidos pelos homens mecânicos. As paredes do prédio eram translúcidas, embora apenas no sentido de dentro para fora. Daniel presumiu que a opacidade do material poderia ser controlada. Subiram até ao último nível e foram conduzidos por um corredor espaçoso. Os robôs param de frente para uma porta e fizeram sinal ao grupo para entrar.
Daniel entrou primeiro, seguido pela esposa. Deparam-se com uma sala semicircular de cerca de dez metros de diâmetro. Os móveis, muito aconchegantes, eram quase que idênticos ao que se encontraria em uma confortável residência da Terra. De pé, no centro da sala, uma mulher de cabelos castanhos e muito bonita aguardava-os. Ela tinha o rosto suave, olhos azuis e cerca de um metro e oitenta. Usava um vestido de um material semelhante à seda, um tanto quanto folgado e semitransparente, que não escondia quase nada do corpo escultural. Fascinado e incapaz de se conter, o almirante observava a linda mulher, até que recebeu um discreto beliscão da esposa. Divertido com a reação dela, mandou uma risada mental.
– Bem-vindos à Centúria. – Ela falava um português impecável e Daniel concluiu que aprendera o idioma do mesmo jeito que ele era capaz de fazer, chegando à conclusão de que estava na frente de uma portadora de alto grau. Curiosa, a centuriana olhou para o Daniel e continuou. – Sou Edna e o senhor deve ser sua Alteza Imperial. Estou muito impressionada com vocês. O vosso planeta era um dos poucos formado pelas quatro raças distintas, mas só vejo duas presentes. Gostaria de saber como descobriram a Centúria e o que sabem dela.
Após ouvi-la chamá-lo pelo título, Daniel não teve a menor dúvida que ela obtivera mais informações do que o simples conhecimento da língua, durante a comunicação inicial quando derrubou as barreiras e pediu que visse as suas boas intenções.
– Olá, Edna. – Daniel tomou a frente. – Na verdade, o nosso mundo tem cinco raças distintas: os vermelhos quase não existem mais porque acabaram se misturando a outras raças; os aborígenes preferem uma vida mais isolada e vivem no seu continente. Respeitamos o desejo deles; os negros são tão numerosos quanto nós. O comandante da nossa nave é dessa raça, assim como o artilheiro chefe. Quanto a este mundo, foi uma série de circunstâncias que nos trouxeram aqui.
– Estou deveras impressionada com o vosso mundo – repetiu, apontando as poltronas para que se sentassem. Quando estavam acomodados, a moça, também sentou-se de modo a ficar de frente para todos e continuou. – Vocês foram uma das colônias mais ecléticas porque foram colonizados pelas quatro raças, mas tiveram uma grande catástrofe e isso fez com que se tornassem a que teve mais problemas. A quinta raça de que fala é provavelmente uma mutação que aconteceu. Entretanto, de acordo com a última observação feita, o vosso planeta estava na eminência de um conflito nuclear. Como sobreviveram à hecatombe?
– Não aconteceu nenhum conflito. As nações acabaram por se entender e o nosso povo começou a mudar. À medida que evoluíamos, abandonamos todas as armas e acabamos criando um belo e pacífico império estelar de cinquenta mundos, onde vivemos muito felizes, embora nem sempre tudo seja um mar de rosas. Isto aconteceu em cerca de setecentos anos.
– Impressionante – disse a centuriana, olhando para eles. – Jamais um povo humano evoluiu tão rápido, alcançando as estrelas com tanta facilidade, nem mesmo nós. Vocês tiveram ajuda de outros povos que vos tenham visitado?
– Não, Edna, desconhecíamos outros povos até há muito pouco tempo.
– Bem, mas agora vejo que possuem armas e, também, pelo que observei algumas até muito mais potentes do que as nossas.
– Fomos obrigados a isso, Edna. Um dos nossos planetas, o mais afastado do Sol, foi invadido e uma nave cargueira atacada de forma traiçoeira. Felizmente, conseguiu escapar, trazendo a informação para o Império. Desta maneira descobrimos os tantorianos e tornou-se um dos motivos de termos descoberto vocês e também de termos vindo aqui à procura de ajuda e aliados. Veja na minha mente, que a vou desbloquear porque é muito mais simples.
Liberou a mente e a moça centuriana entrou no seu espírito. Ela ficou fascinada com o cérebro do imperador porque nunca viu algum tão eficiente e com tanto conhecimento. Por intermédio dele, que a orientava nas lembranças, aprendeu muito rápido toda a história da Terra e da formação do Império até ao presente momento. Quando se retirou, olhou para o grupo, sorrindo muito.
– Então o vosso mundo evoluiu em poucos séculos o que nós levamos milhares de anos a fazer! Estou mesmo impressionada e feliz que tenham vindo. Vamos conversar mais, já que vocês são a primeira raça colonizada a chegar aqui e temos muito a aprender de ambas as partes.
– Edna, esta é a minha esposa, doutora Daniela Chang, a nossa médica chefe, o doutor Chang, médico e geneticista, Bia, a nossa exo-bióloga, doutor Hans, astrônomo e a doutora Russel, física chefe – apresentou o grupo, enquanto um robô trazia bebidas, um suco de frutas de sabor delicado e indescritível. – Que bebida maravilhosa! Bem, Edna, uma coisa que tanto eu quanto os meus cientistas gostaríamos de saber, é qual a real relação da Centúria com a espécie humana porque as nossas pesquisas levaram-nos a acreditar que vocês são os pais da humanidade.
– É verdade, sim. A Centúria é a ancestral de centenas de mundos espalhados por quatro galáxias e sabemos a história de quase todos esses planetas porque o nosso arquivo central é muito completo e perfeito – disse ela, sorrindo. – Mas eu também gostaria muito de saber como nos descobriram, já que o vosso povo havia perdido a sua identidade há milhares de anos.
– Simples – disse Daniel, encolhendo os ombros. – Quando entrei em combate com os tantorianos, pensaram que eu fosse centuriano. Depois, resgatamos dois prisioneiros ubruranos e descobrimos que eles era geneticamente idênticos a nós. Isso só poderia ser real se fôssemos da mesma espécie e, depois, descobri que eles possuem uma lenda sobre a Centúria. Daí, tudo resultou em um cálculo lógico de que vocês seriam, muito provavelmente, os pais da nossa espécie. Depois, pegamos os dados dos computadores das naves tantorianas apreendidas e viemos para o vosso sistema solar. Não se pode dizer que tenha sido uma tarefa simples, pois o campo energético que esconde o vosso mundo pegou-nos de jeito. Parabéns pela camuflagem perfeita. Os meus principais cientistas já tinham entregue os pontos.
– Incrível – disse ela, sorrindo com admiração. – Acho que vocês gostariam de saber um pouco sobre o vosso passado mais remoto.
Edna começou a relatar e não havia um ser humano que não estivesse grudado nos alto-falantes para ouvir a conversa.
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