Capítulo 4 - parte 1 (não revisado)

Daniel não saía da sala de comando enquanto esperava pelas naves auxiliares, mantendo a Dani em prontidão de combate, de modo a poder socorrer qualquer dos companheiros. Apesar da preocupação, nada aconteceu e, ao fim de cinco dias, todas as naves retornam. Às vezes, a esposa, que não tinha muito o que fazer, ficava com ele na ponte, fazendo companhia ao marido que adorava a sua presença. A leitura dos chips que ele enviou para a Jessy não trouxe nada de novo, tratando-se apenas de uma repetição do que já viram na primeira leva. Outra coisa que não lhes rendeu qualquer informação foi a análise dos discos rígidos dos computadores dos lagartos.

– Almirante, todas as naves auxiliares retornaram para os hangares. Os comandantes transmitem, neste momento, os dados obtidos para os computadores centrais.

– Obrigado, Coronel – aciona o intercomunicador. – Atenção ao departamento científico. Desejo que os dados apurados sejam analisados o mais rápido possível, senão acabamos por criar raízes aqui.

Ele sabia que era um pouco exigente com os seus homens, mas tratava-se de uma necessidade e ninguém o levava a mal. Ao fim de vinte e quatro horas, vieram os primeiros resultados. Na sala de reuniões, os cientistas debatiam as análises com o Daniel.

– Majestade, todos os planetas foram mapeados. Sem qualquer exceção, cada um deles tem uma pirâmide. Não foram encontradas fortalezas bem como os rastreadores não localizaram construções subterrâneas, pelo menos até duzentos metros sob a superfície.

– Ou seja, estamos na mesma – disse outro físico. – Não há vestígios desta civilização que me parece ter desaparecido há muito tempo.

– Qual a vossa sugestão, meus senhores? – perguntou o almirante.

– Voltar, Alteza – respondeu um dos físicos. – O sistema foi minuciosamente vasculhado e não encontramos nada que valha a pena. Na minha opinião, perdemos tempo aqui e há o risco de os tantorianos retornarem.

– Não considero a exploração de um sistema solar desconhecido uma perda de tempo, meus caros, mesmo que não atinjamos o nosso objetivo. Basta ver, por exemplo, que o décimo planeta pode vir a ser uma bela e próspera colônia. Além disso, ainda não vimos o nono planeta. Ele é repleto e luas e uma delas tem o tamanho da Terra, com atmosfera e tudo. Vocês pretendem fazer o que eles desejam, que é desistir e ir embora com o rabo entre as pernas.

– E o que Vossa Majestade acha que vamos encontrar em um gigante de metano?

– Nada – disse ele, misterioso e com um sorriso profundo no rosto. A Daniela, que já o conhecia muito bem, sabia que o marido guardava algo para si e que ainda não divulgara. – Ou muita coisa. Tudo vai depender da sorte, mas eu não costumo jogar com ela. Vocês já deveriam ter pensado em alternativas, senhores. De qualquer forma, ainda temos muito tempo.

– Como achar melhor, senhor.

– Observatório – disse Daniel. – Informar dados completos do nono planeta.

– Já estão nos sistemas, Almirante – disse um dos astrônomos que ligou a tela grande, na parede. – É um mundo enorme, três vezes maior que Júpiter e com atmosfera de metano.

– Vejam bem, senhores, já prestaram atenção nos dados da densidade do planeta? E a gravidade? – perguntou Daniel olhando a tela, sem acreditar no que via. Os seus olhos começaram a brilhar.

– Caramba – disse um dos físicos. – Para um planeta desse tamanho isso não pode estar certo. Ele tem uma densidade semelhante à Terra. A aceleração gravitacional é de nove ponto oito metros por segundo ao quadrado, quase idêntica à nossa. Se o planeta fosse assim, não poderia ter esse tamanho. Até Júpiter, que é bem menor que Leo IX, tem uma gravidade muito maior, mesmo levando em conta a sua baixa densidade. Ele não poderia sustentar essas luas a essa distância!

– Acho que alguém cometeu um erro ao levantar os dados desse mundo! – afirmou outro cientista. – Seria melhor fazer uma análise espectroscópica.

– Mas ela foi feita – disse um dos físicos, apontando o canto esquerdo da tela. – Eu vejo que o resultado desta análise combina mais com um mundo de oxigênio do que metano. Só pode ter havido uma troca acidental dos resultados.

– Dificilmente, meus senhores. Afinal, basta olhar para o planeta para se ver direitinho que é um gigante. Nós estamos atrás de um povo escondido que ainda por cima é muitíssimo desenvolvido, ou seja, pode despender recursos fenomenais. Basta dizer que até agora foram muito bem-sucedidos, tanto que vocês já estavam prontos e desistir. Coronel, rumar para o nono planeta, mais precisamente a Centúria. Entrar em órbita e aguardar.

Um novo mergulho e a nave emergiu a trinta milhões de quilômetros. A velocidade ia sendo reduzida à medida que se aproximavam de uma órbita estreita.

– Distância? – pediu Nobuntu.

– Dois milhões de quilômetros, velocidade duzentos quilômetros por segundo... senhor, olhe o planeta – disse o piloto, olhando as telas de queixo caído. Sem transição alguma, algo de muito estranho ocorreu. Boquiabertos, os tripulantes olhavam a mudança da aparência do planeta, que se tornou muito parecido com o décimo mundo. Apesar da distância enorme, constataram que tinha as mesmas dimensões da Terra e assemelha-se demais a ela. Observavam um lindo mundo, cheio de oceanos, com quatro continentes e duas calotas polares.

― ☼ ―

O Centro de Controle Mestre assustou-se ao descobrir que os estranhos estavam à sua porta. Chamou o controlador de armas e deu as suas ordens:

– Controlador, os estranhos descobriram o nosso mundo. Preparar para uma ofensiva que deverá ser fulminante. As naves e armas deles são bem superiores às nossas e só escaparemos com um ataque maciço.

– Comandante, estamos proibidos de atacar humanos a menos que tenhamos de nos defender. Até ao momento, eles mantiveram-se pacíficos.

– Se fossem pacíficos, não usariam armas tão potentes – disse a primeira máquina, usando a sua lógica simples – sem falar que destruíram várias naves dos Ibrrs.

– Comandante, o nosso povo tem armas igualmente terríveis e também é pacífico. Além disso, nós também atacaríamos os Ibrrs. Recomendo calma, moderação e cautela.

– Está bem, controlador, mas mantenha tudo de prontidão rigorosa.

– Comandante, disse uma outra máquina. Eles estão falando no rádio...

― ☼ ―

– Fantástico – afirmou Daniel, sorrindo e olhando para todos os cientistas. – Um campo energético de camuflagem, que ideia genial. Alguma dúvida ainda, cavalheiros? Muito bem, todos aos seus postos. Comecem a analisar tudo e procurem a evidência de uma civilização, afinal o campo energético é, de certeza, uma boa prova de que os encontramos. Nobuntu, alarme vermelho, colocar a nave em uma órbita de um segundo-luz.

– Comandante. Detetamos vários objetos metálicos em órbita, talvez satélites – disse o observatório. – São um grande cinturão em volta do planeta todo a, aproximadamente, cem mil quilômetros depois da órbita da sua lua. Entretanto, eles têm fontes de energia poderosas. Aconselho alguma cautela, pois podem ser naves ou fortalezas e teremos de passar por elas.

– Nesse caso, reduzir a velocidade e manter os campos de força bem ativos. Artilharia, prestar atenção mas não atacar em hipótese alguma, mesmo que sejamos atacados. – Orientou o almirante.

– Caramba, são canhões de grosso calibre! – disse o comandante, espantado. – Plataformas com canhões! E estão aumentando a potência dos reatores.

– Parar a nave – ordenou Daniel. – "Incrível. Exatamente como eu inventei!" – Quantas plataformas temos pela frente?

– Na nossa proximidade, dez. Moveram-se até aqui. E pela potência dos reatores, devem ser perigosos, mas não tomaram nenhuma atitude hostil.

– Comunicações abram um canal em todas as frequências de áudio e vídeo. Eu mesmo falarei. – Nesse momento, a Daniela entrou na ponte e colocou-se ao lado dele.

– Canal aberto, senhor. Pode falar que está em todas as frequências, inclusive em super-onda com baixa potência.

– Obrigado. Atenção, centurianos, esta é a espaçonave terráquea Dani, do Império do Sol. Quem vos fala é o Almirante Daniel – disse o rapaz, falando português. – Viemos em paz. Respondam, por favor.

Aguardaram um pouco, mas o silêncio era completo. Daniel, tentou em várias línguas, todas as que conhecia, inclusive a da Srina, mas não conseguiu qualquer tipo de resposta. Ninguém sequer falava do outro lado, nem som, nem imagem. Ele pensava se poderia ignorar essas pequenas fortalezas, já que, até ao momento não foram atacados, mas concluiu que era um risco grande demais.

Por último, decidiu falar em tantoriano. Mal começou as primeiras palavras, descobriu o grande fiasco porque o inferno ficou à solta em volta deles. Quase uma centena de raios térmicos de dois metros de diâmetro atingiu o campo de força da nave. Alarmes começaram a tocar e a nave vibrava perante o ataque mais violento a que foi submetida.

– Campos de força a noventa e cinco por cento. Colapso em trinta segundos.

– Ativar o campo de supercarga – disse o Daniel. – Preparar para recuar ao meu sinal.

Com a entrada do melhor campo de proteção da nave, as coisas aquietam-se sem demora e a nave parou de vibrar.

– Senhor, da superfície, decolaram cinquenta espaçonaves. – A tela iluminou-se e mostrou as naves subindo com uma velocidade tremenda. Quando ficaram visíveis, todos assustaram-se, menos o Daniel, que esperava aquilo mesmo.

– Mas são as pirâmides! – exclamou Nobuntu.

– Eu já imaginava... – Antes que alguém pudesse dizer algo a respeito, novos ataques, muito mais maciços, atingiram a Dani, porque novas plataformas apareceram e abriram fogo, junto com as dez naves.

– Campo de supercarga em quarenta por cento, Comandante.

– Atenção, decolaram mais trinta naves.

– Coronel, vou tentar contato telepático. Evite o conflito, mas a decisão é sua. Se necessário, defenda-se com um mínimo de destruição. Dani, ajudas-me? Juntos, temos mais alcance.

– Certo, Almirante – disse Nobuntu. – Não se preocupe, saberemos nos defender. Artilharia, prontidão rigorosa.

– Todas as plataformas e naves nas miras, senhor – respondeu Zulu. – Basta ordenar, senhor.

O casal pulou para a sala de reuniões e sentou-se. Nesse momento, a fúria dos titãs, atingiu a nave.

– Campo de supercarga a noventa e oito.

– Recuar um milhão de quilômetros.

– Campo de supercarga a trinta. As naves seguem-nos e têm acelerações fabulosas – afirmou o piloto. – Apesar de inferiores, não escaparemos tão facilmente deles, senhor.

– Senhor – disse o navegador. – Estamos cercados. Trezentas unidades aproximaram-se por trás e pelos flancos.

― ☼ ―

O computador central dialogava com outro. Ambos discutiam a contradição das observações recebidas.

– Se eles são humanos, por que motivo falam no idioma dos inimigos?

– Talvez sejam servos deles.

– Não me parece. A tecnologia deles é muito superior e constatamos um combate entre ambos.

– Antes de falar esse idioma, eles falaram vários outros. Acho que devemos chamar a Senhora.

– Concordo. Um robô já está a caminho.

– Vai suspender os ataques?

– Não. São as nossas ordens primárias. Não posso me afastar delas, embora haja uma séria contradição nisto tudo. Eles não atiram, mas sabemos que poderiam revidar e provocariam pesados danos à nossa frota. Custa-me a crer que tenham uma capacidade defensiva capaz de aguentar tudo o que mandamos. Isso seria suficiente para evaporar em segundos mil frotas dos Ibrrs!

Sem o dom do pensamento criativo, as duas máquinas incríveis eram incapazes de chegarem à conclusão mais simples de todas.

– Mandem mais cem naves ao seu encalço. – Ordenou o mestre.

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