Capítulo 3 - parte 8 (não revisado)
Daniel apareceu e ordenou:
– Vamos para a nave – disse lacônico, sem dar qualquer explicação.
Quando pousaram na Dani, o piloto, descansado, saiu para a sua missão enquanto o Daniel mandava os principais cientistas para a sala de reuniões. Mal sentou-se, recebeu um chamado da Jessy e respondeu dali mesmo.
– Coronel João, nós estamos em reunião oficial, o que tem a dizer? – perguntou-lhe dando a entender que seria tudo gravado nos registros de bordo. João que já ia falar de modo informal como era do seu feitio, mudou de atitude. Acionou os gravadores de registro da Jessy e continuou:
– Almirante, conseguimos ler os registros visuais de apenas dois chips de uma das naves. Os demais estão danificados, pois só armazenam dados por cerca de cinquenta anos. Após isso, deterioram-se. Dos discos rígidos dos computadores, ainda não retiramos nada, embora esse processo leve algumas horas. Eu e os meus cientistas trabalharemos neles sem parar, até obtermos resultados.
– Passe os dados atuais, por favor, Coronel.
– Com prazer. – O computador do Daniel começou a receber um vídeo. Ele colocou-o na tela principal, para onde todos se viraram. A imagem estava dividida em dois. À esquerda, passava-se o que acontecia na nave tantoriana. À direita, o espaço filmado por ela.
– "Desta vez, nós vamos vencer a barreira dos centurianos." – Disse o comandante, um ser que parecia um crocodilo sem cauda, ereto e com cara de sapo. – "Temos a nave mais moderna da frota, furaremos o bloqueio desses humanos nojentos e vamos mostrar-lhes o seu devido lugar, ou seja, escravos do império tantoriano. Deve haver riquezas fantásticas aqui."
O lado direito da tela, mostrava a nave frenando em direção ao mundo desértico onde a sua imagem crescia a olhos vistos. Os presentes notaram a inquietação da tripulação porque apenas o capitão sentia-se seguro da empreitada que pretendia fazer.
– "Distância?"
– "Três milhões de quilômetros, Comandante."
– "Reduzir a velocidade para cinco quilômetros por segundo. Precisamos de estar em condições de manobrar rapidamente."
– "Sim, senhor."
O barulho dos retrofoguetes entrou com intensidade aguda, enquanto a tripulação era atirada para a frente, sendo salva de ser projetada para fora das poltronas pelos cintos de segurança.
Os espectadores viram que os tripulantes estavam cada vez mais nervosos. Para eles, a Centúria era um tabu poderoso, que os assombrava e assustava até à medula óssea.
– "Distância?" – perguntou o comandante, após um longo tempo de espera. Os subordinados não responderam. O Daniel e os principais oficiais entendiam o idioma deles e ouviam com atenção.
– "Eu pedi a distância" – berrou ele, furioso. – "E espero receber as respostas no mesmo ato."
– "Um milhão de quilômetros..."
De súbito, viram na tela da direita um raio muito intenso, tão forte que ofuscava os sensores. Na tela da esquerda, a nave sacudia como um cavalo xucro, quase arrancando alguns alienígenas das cadeiras mesmo com os cintos.
– "Fomos atingidos, há um incêndio enorme no convés quatro. Estão todos mortos" – gritou o imediato, todo roxo, sinal de pavor.
Antes que acontecesse alguma coisa, o raio do lado direito apagou-se para, num décimo de segundo depois, surgir outro. Os lagartos começaram a chiar desesperados. Mais dez impactos atingiram a nave e a descompressão explosiva pegou os tantorianos de surpresa, matando-os quase todos. O décimo segundo raio silenciou as telas, pois a nave ficou sem energia.
– Foi só isto que apuramos, Almirante. Não foi possível ver a nave atacante porque os instrumentos de localização dos lagartos são podres de vagabundos. Entretanto, sabemos que foram atingidos a uma distância de um milhão de quilômetros da superfície. Isso traz as seguintes conclusões: primeiro, os raios térmicos dos donos do sistema são tão poderosos quanto os nossos; segundo, eles têm apenas dois terços do alcance dos raios da Dani e Jessy, no máximo; terceiro, o poder de fogo deles é cinco vezes menor que o nosso, mas, de qualquer forma, muito perigoso.
– Obrigado, Coronel, mais alguma informação?
– Sim, essa nave tem, no máximo, dez anos de vida. Calculei por amostras que mandei tirar do reator deles porque o carbono quatorze não tinha condições de avaliar idades tão jovens. Enquanto vocês estavam se divertindo no décimo planeta, mandei uma nave fazer uma retirada de material dos reatores. Fomos deixados em paz.
– Obrigado outra vez, Coronel. Uma nave auxiliar está a caminho com mais um par desses chips, retirados de outro cemitério no 72 Léo X. Deve chegar em umas três horas. Priorize a análise.
– Confirmado, Almirante.
Daniel desligou a comunicação e sorriu para os cientistas mais o comandante, que estavam sentados, aguardando. Com os olhos sonhadores e o rosto juvenil, perguntou-lhes à queima-roupa.
– Então, meus irmãos, qual é a vossa opinião?
O físico chefe levantou-se e falou com a sua voz grave.
– Alteza, retiramos amostras da superfície da pirâmide e submetemos a testes rápidos. Embora pareca ser pedra, trata-se de um metal desconhecido para nós. Além disso, tem uma dureza impressionante e uma idade de cerca de trezentos anos. Por outro lado, o "castelo" que encontramos no décimo planeta, tem uma idade de cerca de dois mil e seiscentos anos. O material é exatamente o mesmo, um tipo de metal desconhecido que parece pedra.
– Obrigado, doutor. O que vocês concluem?
– Estamos perdidos, Majestade...
– Por que motivo pensa assim?
– Eu acho que os donos do sistema emigraram ou não existem mais. Tudo o que ficou, são robôs que seguem uma programação muito antiga.
– E nesse caso, onde estão os vestígios dessa civilização?
– No oitavo planeta.
– Errado – disse Daniel, com um leve tom de censura. – Os senhores nem parecem fazer parte da nossa elite científica. O que encontramos no oitavo planeta tem quatrocentos mil anos, mas uma das naves tantorianas abatidas, apenas dez. E tem dez anos de existência. Não sabemos quanto tempo ela operou até vir para cá, mas, na pior das hipóteses, apenas uma década. No décimo mundo, encontramos uma fortaleza disfarçada de um castelo medieval que tem apenas dois mil e seiscentos anos.
– Mas então – disse o cientista, abatido. – Onde estão esses seres tão míticos e desconhecidos?
– Acho que se escondem neste sistema solar. Eu nunca disse que seria fácil. Tudo o que temos, são dados escassos, mas a fortaleza que eu visitei é, sem sombra de dúvidas, uma coisa que está cem por cento operacional. Outra coisa, os robôs que controlam aquilo tudo deixaram-nos em paz e isso é sinal que não somos atacados, ao contrário dos lagartos.
– O que pretende fazer agora, Majestade?
– Nós...
– Almirante – interrompeu a navegação e rastreamento. – Detetamos uma frota de naves a duas horas-luz daqui.
– Informar dados mais precisos.
– Aguarde, Almirante... aqui vai: vinte cilindros com oitenta metros de comprimento e cerca de vinte de diâmetro. Velocidade de ponto dois c...
– Tantorianos!
– Isso mesmo, Almirante, aguardo instruções.
– Senhor – disse Nobuntu. – Basta aguardarmos e ver o que vai acontecer.
– Sim, mas pode ser que nos ataquem em seguida ao sentirem-se descobertos – conjecturou Daniel. – Por outro lado, podemos demonstrar que também somos inimigos dos verdes. Farei exatamente isso. Enviem a Dani D I e afugentem-nos ou destruam-nos.
– Do hangar, uma esfera de cem metros saiu apressada. Ela ligou os campos de força, acelerou de forma absurda e desapareceu do alcance visual em dois segundos.
― ☼ ―
A duas horas-luz dali, a frota dos batráquios avançava, sempre reduzindo a velocidade. O comandante observava o sistema e concluiu que tudo o que se falava sobre a Centúria não passava de lendas, já que, até ao momento, nada fora encontrado.
– Rumar para o décimo planeta, onde está o maior grau de probabilidade de vida.
– Comandante – objetou o navegador. – O maior grau de probabilidade é o oitavo mundo...
– Depois veremos esse, que está do outro lado do sol. Agora...
– Comandante, uma nave esférica aproxima-se de nós com uma velocidade assustadora.
― ☼ ―
O centro de controle do décimo mundo não deixou de notar a saída de uma nave, que rumou em rota de interceptação do inimigo tão odiado.
Curioso, passou a observar o que ocorreria. Mantinha-se preparado para atacar os cilindros, assim como todas as outras bases do sistema solar. Só não tomaram uma atitude, porque não queriam se mostrar prematuramente para as esferas.
― ☼ ―
O destroyer aproximou-se à distância de tiro e parou. Com o rádio a uma potência muito reduzida, intimidou os invasores.
– Tantorianos. Aqui quem fala é uma nave o Império do Sol sob ordens de Sua Majestade Imperial Daniel I da dinastia Moreira. Vocês têm apenas um minuto para se retirarem. Após findo o prazo daremos um aviso com uma salva. Depois, destruiremos uma das vossas naves a cada trinta segundos.
― ☼ ―
– Comandante, a nave está sozinha e não são centurianos...
– Aguarde. Abra uma comunicação com eles.
O alienígena viu a imagem de um humano. Para ele, isso bastava.
– O que deseja?
– Saiam deste sistema imediatamente, restam quinze segundos.
– Somos vinte contra um.
– Eu avisei. – A primeira salva passou raspando o casco da nave capitania e todos os alarmes dispararam. – O próximo tiro será fatal para umas das vossas naves.
O comandante da Terra cortou o sinal e mandou a nave preparar o ataque.
Os vinte cilindros dispararam cada um deles quatro mísseis. O destroyer poderia desviar, mas decidiu demonstrar o seu poder defensivo. Quando as oitenta ogivas atingiram o campo de força, nada aconteceu.
– Artilharia, um tiro a cada trinta segundos – disse o comandante do destroyer. – Executar.
Um raio de cinco metros de diâmetro saiu da nave terrestre e atingiu um dos cilindros, que explodiu na hora. Como resposta, cada nave atacou com dez mísseis, obtendo o mesmo resultado nulo.
Novo raio e mais um cilindro deixou de existir.
― ☼ ―
O centro de controle observava tudo com um misto de medo e admiração. Notou que o poder de fogo daquela pequena esfera era, no mínimo, cinco vezes mais potente e tinha um alcance quase duas vezes maior. Estava preocupado porque aqueles seres eram infinitamente mais perigosos que os verdes. Computou as possibilidades de um ataque de surpresa e concluiu que eram nulas. Avaliando o comportamento das esferas, concluiu que o perigo não era eminente, já que só atacaram após uma salva de aviso e serem bombardeados.
Observou a décima segunda nave ser abatida e as demais fugindo. A nave humana não os perseguiu, mas ficou atenta para onde iam.
O Centro de Comando Principal também fazia as suas observações obtendo os mesmos resultados analíticos. Continuava passivo, à espera. Os seres humanoides, de forma indireta, fizeram-lhes o favor de impedir que estes se mostrassem antes da hora.
― ☼ ―
Após as observações, Daniel retomou as suas ordens.
– Comandante Nobuntu – disse para o comunicador. – Favor apresentar-se à sala de reuniões.
Ele entrou e Daniel principiou.
– Comandante. Este sistema tem vinte e nove planetas. O senhor mandará que os onze destroyers e onze naves auxiliares saiam dos hangares e façam um mapeamento completo de todo o sistema centuriano. Os destroyers serão a proteção das auxiliares, mais fracas. Comecem de fora para dentro. Os planetas Léo VIII, Léo IX, Léo X e Léo IV serão deixados de lado. Cada nave deverá mapear dois planetas de fora para dentro. Os mais internos serão deixados a cargo da Jessy. Devem procurar a existência de fortalezas e pirâmides ou de qualquer construção não natural. Usem rastreadores para analisar o subsolo, já que os planetas que vão ver não sustentam vida. Não se esqueçam de também vasculhar as luas correspondentes.
– Sim, almirante.
– Porque deixou o nono planeta de fora, Majestade?
– Esse gigante de metano está na possível área de vida. É grande como um raio e possui muitas luas. Vamos tratar dele com todas as naves auxiliares, quando retornarem.
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