Capítulo 3 - parte 7 (não revisado)

O décimo mundo era muito diferente do oitavo. Parecia um planeta primitivo, com densas florestas e oceanos enormes, muitíssimo belo. Daniel ia observando as imagens que as naves auxiliares transmitiam para as telas.

– Nossa, que belo planeta, porém desabitado. Não há o menor sinal de uma cidade. Este mundo deve ser avaliado como uma possível futura colônia, Comandante, registre no diário.

– Registrado, Almirante, concordo com o senhor.

As naves auxiliares levaram duas horas para fotografar tudo o que havia na superfície, passando os dados para o observatório. Mal terminaram, foram chamadas de volta e a Dani tornou a ficar só. O Daniel recomeçou a fazer conjecturas para si, um pouco desanimado, quando recebeu uma informação.

– Senhor, achamos mais uma daquelas pirâmides. E não muito longe, outro cemitério de tantorianos.

– Começo a ver uma luz – disse Daniel, sério. – Mas, por hora, deixemos assim.

– Mas onde estarão eles?

– Se estiverem, estão escondidos – explicou. – Nobuntu, vamos descer perto da pirâmide. Mande preparar a nave auxiliar.

Novamente, a pequena nave desceu perto do estranho objeto negro, incompatível com a superfície dos dois planetas visitados, na verdade, três. Daniel saiu, acompanhado de quatro companheiros, todos cientistas. Um deles tentou raspar um pouco de material da superfície da construção com algum sucesso e depositou as pequenas lascas em um tubo de ensaio, que lacrou e guardou no jaleco.

– Aqui também vejo radiações residuais – disse um deles com um sensor na mão. – Ficam naquela direção.

– Em outras palavras – comentou Daniel –, idêntico à do oitavo planeta. Além disso, a dez quilômetros dela também vemos um cemitério de naves.

– Exato, Majestade, mas não vejo relação entre as coisas.

– É, meu caro doutor, mas há uma relação enorme. Vocês verão em breve – respondeu-lhe. – Vamos para a A I que eu quero passear um pouco.

Quando estava dentro da sala de comando, Daniel disse para o piloto.

– Deixe-me pilotar a nave – pediu. – O senhor assume a navegação.

– Sim senhor – respondeu o piloto mudando para o banco da navegação que estava vazio por usarem a tripulação reduzida.

Sob os dedos hábeis do almirante, a pequena nave subiu devagar, de modo a não danificar nada, e voou para o cemitério de naves. Pairando a cinquenta metros dali, observou o local, até que tomou uma decisão. Antes que alguém pudesse entender, ele desapareceu de dentro da ponte, materializando-se em uma das naves tantorianas. Retirou o chip e voltou para a nave.

– O seu nome é Antunes, correto? – perguntou para o piloto.

– Exato, Almirante – respondeu, orgulhoso de que ele se lembrasse do seu nome. – Sou Antunes.

– Pois bem, Antunes, nós vamos dar um passeio pelos arredores e depois voltamos para a Dani. Mas o senhor terá uma missão diferente – entregou-lhe os dois chips. – Deverá levar isto para a Jessy e entregar nas mãos do Coronel João. Apenas ele, entendeu?

– Sim senhor, Almirante – disse o piloto, imaginando de onde raio ele arranjou coisas tão primitivas. Logo após, uma luz veio à tona. – "São da nava abatida" – pensou. – "Por isso ele desapareceu por dois minutos."

– Tenente esperto – disse o almirante, sorrindo. – Calma, meu amigo, não li os seus pensamentos, mas estava estampado no seu rosto. Bem, como não poderá mergulhar, vá dormir um pouco porque será um passeio longo. Por ora, eu comando a nave.

– Sim, senhor, obrigado.

O piloto retirou-se para a sua cabine e aproveitou para dormir algumas horas. Enquanto isso, Daniel e a equipe sobrevoavam o continente.

– "Foi por aqui que julguei ter visto algo nas telas" – pensou, enquanto pilotava. – "Devia ter esperado a interpretação do computador." – Uns poucos segundos depois, descobriu o que procurava. Na verdade, todos viram.

– Ali à frente, Almirante – disse um dos tripulantes. – Vejo construções.

Bem sei, procurava por isso. Vi uma imagem fugaz que me parecia uma construção quando as naves auxiliares...

– Almirante – disse Nobuntu. – O computador encontrou nas imagens filmadas vestígios de construções aparentando estar em ruínas. Deseja as coordenadas?

– Obrigado, Coronel, mas já estamos pousando nelas. Mande verificar se há mais construções, obrigado.

A esfera desceu a cinquenta metros do local. Da ponte, que também se encontrava a cinquenta metros, mas de altura, os presentes apreciavam uma vista linda. A construção parecia uma fortaleza medieval, situada em cima de uma pequena escarpa de vinte metros de altura à entrada de uma linda baía onde as ondas calmas do mar banhavam a base do penhasco. À primeira vista, tratava-se de um forte primitivo. Mas onde estaria o povo que construiu isso, provavelmente no equivalente ao século XVI? E fortalezas foram feitas para proteger algo. Onde estava aquilo que ela deveria proteger.

– Majestade – disse um dos cientistas. – Já notou que o local não possui quaisquer janelas ou seteiras? Essa torre, que calculo em cerca de vinte metros de altura por uns três de diâmetro, sem uma única janela ou fresta e o topo é fechado...

– Tem razão, doutor – interrompeu o jovem, que já havia notado isso, mas não quis ferir o orgulho do homem. – Bem observado. Ponham mochilas energéticas e vamos ver o que há por lá. Tragam o vosso equipamento.

Sete pessoas desceram da nave. Usando as mochilas, foram voando até à fortaleza que era mesmo blindada, toda de pedra e sem uma única entrada.

– Que construção mais esdrúxula!

– É verdade. O que os sensores dizem?

– Vestígios de energia residual, atômica. Deve haver um reator nuclear por perto, funcionando!

― ☼ ―

O centro de controle começou a preocupar-se. Os estranhos estavam na fortaleza. Ele recebeu a ordem de não atacar a não ser que fosse atacado e tinha de obedecer essas ordens dadas por superiores hierárquicos, mas era uma máquina de pensamento autônomo e podia tirar as suas conclusões.

Começou logo a procurar entre milhões de hipóteses a melhor alternativa caso entrassem na fortaleza. Para não ferir a sua programação original, concluiu que a melhor alternativa era ficar passivo.

― ☼ ―

– Isto aqui não tem nada de medieval, senhores – afirmou o Almirante.

– Voemos até ao topo da torre – sugeriu um deles.

Daniel gostou da ideia e os sete subiram devagar, voando rente às paredes da torre.

– Tem de haver uma entrada, que diabo!

– É claro que há, amigos, mas é óbvio que está oculta. Esperem por mim, eu vou saltar para dentro da torre.

– Mas se Vossa Majestade materializar em matéria sólida?

– Não há perigo porque sou catapultado de volta. Apenas dói bastante, muito mesmo – disse, sorrindo e passando para a ação, ou seja, teleportou-se para o interior da torre, uns três metros para baixo. Como estava na beira, materializou-se em uma plataforma. Tranquilo, acendeu uma lanterna e olhou para a frente. Lívido de susto, apagou-a e saltou de volta.

– Saiam já daí – gritou para os cientistas. – Estamos em cima de um monstruoso irradiador térmico. Deve ter uns dois metros e meio.

– Como uma flecha, os cientistas saíram da torre, muito assustados.

– Tentem obter uma amostra da construção – pediu Daniel, muito sério. – Eu vou saltar para dentro da fortaleza e olhar o centro de controle.

Antes que os cientistas dissessem algo, o almirante desapareceu dali para se materializar no centro de um pavilhão enorme, que estava escuro como breu. Acendeu a lanterna e encontrou o que procurava. Os reatores eram muito grandes, bem maiores que os da Dani, se forem consideradas as proporções e finalidades. A diferença principal era que os da Terra eram de antimatéria, com um rendimento de quase cem por cento, ao contrário dos atômicos, cujo rendimento era de aproximadamente quarenta por cento. Estava tudo parado, mas a limpeza do lugar deixava Daniel com outros pensamentos. Impressionou-se demais com a semelhança e a disposição dos mecanismos. Mesmo sem saber o idioma dos seres que os construíram, acreditava que os poderia manipular sem qualquer dificuldade, embora não pretendesse mexer em nada. Tinha a nítida impressão de que aquilo podia despertar para a vida em segundos. Enquanto caminhava, encontrou um robô. Se os seres que construíram aquela máquina faziam como os terráqueos que as criaram, à sua imagem e semelhança, então eles eram, sem a menor dúvida, humanos. Dava para dizer que aquele robô fora feito na Terra, pois assemelhava-se a um ser humano.

A máquina permanecia inativa, mas o Daniel tinha a certeza de que não estava danificada. Na sua opinião, tratava-se de uma camuflagem. O seu cérebro pensou no mistério em velocidade alucinante.

– "Por que será que eles atacam os tantorianos com todas as forças que possuem e, no entanto, poupam-nos?" – A resposta só podia ser uma. Concentrou-se no topo do prédio e saltou.

― ☼ ―

Os cientistas, enquanto aguardavam Daniel, conversavam descontraídos.

– Este mundo está praticamente nos limites da área de vida de um sistema solar. É muito estranho a temperatura média ser de vinte e quatro graus, deveria ser mais frio, bem mais.

– A elíptica dele é muito leve e a declinação do eixo pequena. Este mundo deve ser um paraíso tropical, embora nos polos seja um terror.

– Mas como será o inverno aqui? – perguntou um dos técnicos, que nada entendia da área.

– Mais ou menos como Porto Alegre, embora sem o calor tão forte do verão.

– Então, é mesmo um mundo excelente para se colonizar.

– Concordo...

― ☼ ―

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