Capítulo 3 - parte 2 (não revisado)
Na Jessy, João estava muito satisfeito porque o piloto automático, invenção sua, provava a sua utilidade. Da mesma forma que na Dani, o piloto da nave mantinha toda a atenção no rumo, auxiliado pela navegadora. Ambos chegaram a notar a correção de rota de zero virgula zero zero oito radianos no eixo phi.
– Funciona maravilhosamente bem. – Disse com um sorriso de orelha a orelha.
– Com certeza, Coronel. Acabamos de sofrer uma correção no rumo e já verifiquei no computador os dados de navegação. Estão corretos até à vigésima quinta casa decimal. Acima disso, não vale a pena apurar.
– E a velocidade?
– Perfeita, chegaremos lá em pouco mais de seis horas. São exatos mil anos-luz por hora. A Dani acompanha-nos a dois quilômetros de distância a mantém o mesmo rumo e velocidade.
– Isso é tudo de bom, tchê.
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O piloto automático funcionou com perfeição e as naves singraram o espaço a uma velocidade alucinante, mas muito lenta se comparado com o que elas podiam voar de fato. As horas passaram e o destino ficava cada vez mais próximo. Ao fim de seis horas e meia, as duas esferas emergiram a uma hora luz do sistema.
Tratava-se um sol amarelo da classe G, como o da Terra, embora fosse um pouco maior. Logo após a emersão, Daniel chamou o primo.
– Maravilha de piloto, irmãozinho. Parabéns.
– Obrigado. Como viste, não precisei de comer a minha cadeira, mas em breve tenho de comer algo. Estou com fome e não saio daqui desde o início da viagem. A nossa equipe já está mapeando o sol.
– Ótimo, fazemos o mesmo aqui. Ponham todo o efetivo da artilharia em prontidão rigorosa.
– Já estamos em pré-alarme desde que emergimos.
– Perfeito. Coronel, a Jessy deve camuflar-se e aguardar em uma órbita próxima ao sol. Não deve, em hipótese alguma, nos seguir a não ser que chamemos. Mantenham a atenção porque estamos muito próximos do reino dos lagartos, que está a menos de mil anos-luz daqui. Apesar desses monstros terem um pavor mortal deste sistema estelar, não é má ideia ficar de olhos abertos, já que volta e meia estes fazem uma incursão. Enquanto isso, a astronomia deverá terminar de mapear o sistema. Verifiquem e deem ênfase por planetas na faixa de vida. Localizem mundos que sejam semelhantes à Terra. Por enquanto é só.
– Confirmado, Almirante. – João desligou a comunicação e a sua nave fez uma curva elegante em direção ao centro sistema.
– Nobuntu, as ordens dadas para a Jessy também valem para nós. Mande subir acima da elíptica que facilita o mapeamento.
– Ordens executadas, Almirante.
A nave atravessou o sistema, bem maior que o nosso, percorrendo-o à velocidade da luz.
Vinte minutos depois, um painel enorme mostrava um desenho completo do sistema. Cada planeta foi denominado 72 Leo mais o algarismo romano que o enumerava a contar do sol para fora. A voz automática do computador informou:
– "Sistema solar composto de vinte e nove satélites. Os planetas na faixa de vida são o oitavo, nono e décimo. O oitavo e o décimo são semelhantes à Terra e têm uma atmosfera respirável. O nono é um gigante de metano."
– Vamos começar pelo interno. Coronel, rume para o 72 Leo VIII.
– Confirmado, senhor. – A nave mudou de rumo e virou-se para o centro do sistema, em direção ao planeta desejado. – Atenção tripulação. Alerta amarelo para todos.
As sirenes de alarme tocaram por dez segundos e, por toda a esfera, gente corria pelos corredores e esteiras rolantes, saltando para os elevadores antigravitacionais e dirigindo-se aos seus postos. As tripulações das naves auxiliares apressaram-se em direção às suas unidades, ligando os reatores em ponto morto. Os oficiais de artilharia, descansados, foram correndo para trás dos computadores de mira. Os potentes anteparos energéticos foram ligados sem demora, protegendo a espaçonave de qualquer ataque que viesse a receber. A Dani, naquele momento, era inexpugnável contra qualquer inimigo conhecido da Terra. A questão ali era que aqueles seres eram totais desconhecidos, mas Daniel acreditava de coração que não seriam hostilizados.
Quem não era necessário saiu do caminho e assistia o que podia nas telas que mostravam o espaço. Tudo isto ocorreu muito rápido e com disciplina exemplar, mostrando o perfeito treinamento que receberam por parte do almirante e do comandante.
– Chegaremos ao número oito em cinco minutos, Almirante.
Nas telas, uma esfera brilhante ia crescendo devagar. Quando estavam a apenas dez segundos-luz, Nobuntu ordenou:
– Reduzir para ponto um c. Não queremos que pensem que nós vamos colidir com o planeta.
― ☼ ―
A pouco mais de três milhões de quilômetros da nave, mais precisamente na superfície daquele mundo, uma máquina que operava em baixa potência despertou para a ação, já que havia um intruso em aproximação, mas a uma velocidade assustadora. Se continuasse assim, colidiria com o planeta em dez segundos. Pelos seus cálculos, essa nave já estava perdida porque não teria tempo para reduzir a ponto de evitar a desintegração na atmosfera. Logo depois constatou que a mesma teve a sua corrida desenfreada reduzida a dez por cento da luz, deixando-o surpreso dentro dos limites em que uma máquia poderia ficar surpreendida. Atento às ordens que tinha para se manter escondido, absteve-se de usar os rastreadores energéticos porque seria logo detectado. Entretanto, calculou as taxas de aceleração do objeto que se aproximava e tirou conclusões sobre a potência daqueles propulsores.
Com o telescópio, observava a nave e notou que era de dimensões colossais. Preparou-se para uma eventualidade, mas sentia pela programação recebida há alguns milhares de anos que não deveria atirar nos seres que se aproximavam. Com um dos rastreadores mais fracos, mediu a potência dos campos defensivos da nave e concluiu que não tinha a menor chance de atingir o gigante do espaço.
Isso deixou-o muito assustado, na medida em que um supercomputador se pode impressionar, pois jamais viu esse tipo de anteparo em todos os milhares de anos em que era o guardião do VIII. A nave entrou na atmosfera e um dos anteparos foi desligado, justamente o mais potente. O computador procurou uma análise probabilística para entender o motivo por que os estranhos agiam assim. Chegou a duas hipóteses: ou não desejam mostrar hostilidades ou o anteparo não podia ser erguido na atmosfera por algum motivo desconhecido. Mediu outra vez o campo energético menor e constatou que só com umas dez unidades poderia abalar a estrutura, mas não destruir. A nave era demasiado poderosa para ele.
Pensou em avisar os superiores, mas temia que o rádio fosse detectado. Assim, aguardou, já que os visitantes não eram os seus inimigos fidagais, embora concentrasse todos os sensores na observação dos estranhos.
― ☼ ―
A nave entrou em órbita do oitavo mundo.
– Parece um planeta deserto – disse a Daniela para um dos médicos. Não se vê nada a não ser areia. Que estranho em um mundo com oxigênio! Vejo na análise da atmosfera que é respirável, embora o ar seja demasiado seco!
– Parece mesmo, Alteza.
– Ora, deixe de tolices – ela riu para o colega. – Nesta nave, sou a tenente Chang ou doutora Chang, se preferir. Definitivamente, Alteza não combina comigo.
– Mas a senhora é a Imperatriz, esposa do Imperador. Não pode escapar disso, quer lhe agrade, quer não, a menos que se divorcie.
– Eu sou a Daniela Chang Moreira, esposa do Daniel Moreira bem antes dele ser o imperador. E divorciar-me é coisa que sequer passa pela minha cabeça. Nunca fui tão feliz em toda a minha vida. – Ela sorriu com doçura, o que fazia com que ficasse ainda mais bela. – E isto aqui é uma nave militar, então realmente acho que devemos deixar a realeza para o palácio.
– Claro, doutora Chang. – O médico trocou de assunto e perguntou para a sua chefe. – Como podemos ver a superfície do planeta?
– Aqui. – Daniela apertou um botão e a câmera setorial apontou para baixo.
– Minha nossa, doutora, olhe ali. É um espetáculo assustador de se ver!
― ☼ ―
– Caramba – disse Daniel, espantado. – Mas são centenas de naves tantorianas. Olhem as marcas dos tiros! Buracos de um metro de diâmetro. Que ricos canhões há nesta região.
– Isto é um cemitério, estas naves não caíram aí – afirmou o Coronel Nobuntu. – Vejam que não há sinais de quedas em lugar algum. Essas naves foram destruídas no espaço e levadas para ali por algo ou alguém.
– Concordo, tratem de manter bem ativos os campos de força; não custa ser cauteloso e mantenham a órbita.
– Só gostaria de saber – continuou o comandante. – Como é que um mundo que só tem areia possuiria as armas necessárias para apanhar esses lagartos...
– Almirante, aqui é o centro de observações. Descobrimos uma construção gigantesca a cem quilômetros daqui e ruínas de uma cidade enorme mais ao sul. Seguem as coordenadas.
– Coronel, rume para as ruínas, mas mantenha a altitude de segurança.
A Dani mudou de direção de forma bem sutil e desceu para cinquenta quilômetros de altura. Poucos segundos depois, todos viram a cidade. Quase que não havia um edifício inteiro em pé.
– Santo Deus! Que cidade gigantesca – disse Nobuntu –, deve ser maior que a antiga Cidade do México.
– Coronel, quero a Dani A I pronta para sair. Ponham um exército de cinquenta ninjas, com armas completas. Também desejo uma divisão científica completa, de todas as especialidades. Eu assumirei o comando do grupo de desembarque nesta terra. Astrofísica, façam um estudo detalhado do sol e tentem apurar se uma instabilidade ou erupção solar provocou a destruição da vida neste mundo.
– Sim, Majestade, iniciaremos os nossos estudos agora mesmo. Solicito a ajuda da astronomia.
– Astronomia, apoiem a astrofísica.
– Confirmado, Alteza. – Cada vez que o chamavam pelo título, ele fazia uma pequena careta que dava uma vontade danada de rir no comandante. Sem querer ele sorriu.
– Posso saber qual é a graça, Coronel?
– Desculpe, Almirante, mas se o senhor visse as suas caretas, até o senhor rir-se-ia de si próprio. – Daniel deu uma risada e Nobuntu continuou, mais sério. – A nave está pronta, senhor, e já estão todos a bordo.
– Obrigado. – Daniel saltou direto para a ponte da nave auxiliar de cinquenta metros de diâmetro.
– Almirante! – O piloto olhou assustado para ele. – É difícil acostumarmo-nos com esse seu dom.
– Decole, piloto, vamos descer nas ruínas. – Daniel sorriu, gentil, mas manteve o seu objetivo. – Mantenha os campos de força ativados, menos o de supercarga que mandaria o ar do planeta para o hiperespaço e drenaria energia dos reatores gratuitamente. Em caso de ataque, acione-os e suba na velocidade máxima, embora eu não acredite nisso. – Daniel olhou para a equipe científica, observando cada um deles com aprovação. – Que bom que vieste, Bia. Oi, pai, senhores. Sentem-se que vos desejo falar.
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Não muito longe dali, um computador de proporções colossais, o mesmo de antes, avaliava os visitantes. Continuava sentindo que não eram aqueles com que ele fora programado para destruir. Possuíam naves semelhantes na tecnologia às dos seus senhores, mas muito diferentes na forma. Novamente pensou em se comunicar com o sistema central, mas temia que as comunicações fossem interceptadas. Como não havia qualquer tipo de hostilidade, decidiu esperar mais até obter novas informações. Uma pequena nave saiu da esfera gigante. Ele mediu os campos de força e concluiu que ela não suportaria um impacto direto. Tranquilo, viu a nave descer para a cidade e um grupo de seres humanoides saírem de dentro. Concluiu, em definitivo, que não se devia atacar a não ser em casos de legítima defesa. A máquina titânica mandou suspender o ataque preventivo, mas mantinha-se alerta, observando os visitantes com muita atenção. Afinal, apesar de não serem o tipo de ser para a qual ela foi programada para atacar, estavam armados até aos dentes e podiam, eventualmente, ser perigosos.
Considerava cada vez com mais seriedade a comunicação com o sistema central, mas a sua lógica dizia-lhe que era uma ação arriscada e leviana de se tomar. Ordenou prontidão máxima e aguarda mais um pouco, porque também sabia que um ataque desse povo destruí-lo-ia com muita facilidade.
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