Capítulo 3 - parte 1 (não revisado)

No espaçoporto da Cybercomp, duas esferas gigantescas, ocupavam boa parte da área disponível. Mais afastados, quatro cargueiros de grande porte também permaneciam pousados, mas pareciam anões ao lado das naves do imperador, apesar dos seus duzentos metros de diâmetro. A Jessy e a Dani estavam nos preparativos finais para partir em busca do planeta Centúria. Não muito longe delas, uma pequena multidão, a maior parte repórteres, observava.

Daniel aproximou-se de uma tribuna arranjada às pressas e falou para a multidão.

– Irmãos, nós vamos fazer uma viagem muito longa. Antes dos novos motores estelares, ela demoraria semanas a se concretizar. Agora, entretanto, levaremos menos de um dia, mesmo assim porque iremos devagar. O nosso objetivo é um planeta chamado de Centúria, onde vivem os maiores inimigos dos nossos inimigos. Vamos procurar aliados e voltaremos em breve e, se Deus quiser, com boas notícias. Paz para todos vocês e o Império do Sol.

Sem que o rapaz quisesse, todos os presentes colocaram-se de joelhos, em uma atitude de pura subserviência e reconhecimento de que estavam ali, sãos e livres, única e exclusivamente pelo homem que lhes dirigia a palavra, o seu novo Imperador. Após uma curta vênia para os presentes, Daniel retirou-se do púlpito e foi em direção à família.

O dia mal nascia e, mais próximo das naves, um grupo de pessoas despedia-se: as famílias do João, da noiva e, claro, do Daniel. Os pais da Daniela já estavam a bordo, visto que eles eram do corpo científico. Além deles, o primeiro-ministro estava lá. Após abraçar os pais, Daniel dirigiu-se a ele, falando solene.

– Traremos novos amigos, excelência, acredite em mim.

– Espero que esteja certo disso, Alteza.

– Já conversei com o meu pai a respeito. Ele instruí-lo-á.

– Como desejar, Alteza, faça boa viagem. Torço para que dê tudo certo.

Os últimos tripulantes entraram nas suas respectivas naves.

Enquanto os check lists eram feitos, Daniel usou o comunicador para se dirigir à tripulação de ambas as naves. O que ele dizia, era ouvido fora porque o sistema de comunicação ficaria aberto até ao mergulho.

– Atenção, tripulantes – disse Daniel. – Dirijo-me a vocês como Almirante da Frota do Império do Sol e não como imperador. Neste momento, estamos prestes a decolar para procurar o planeta Centúria e tentar arranjar aliados. Como já sabem, irão apenas duas naves: a Dani e a Jessy. Nós vamos na qualidade de representantes do Império do Sol, por isso espero que cada um de vocês dê o máximo de si. Pelos nossos cálculos, o sistema da Centúria fica na constelação de Leão, em um sol a cerca de seis mil e seiscentos anos-luz. Faremos este percurso relativamente devagar, cerca de ponto três parsecs por segundo porque vamos aproveitar para testar o piloto automático de mergulho inventado pelo coronel João. Esperamos chegar lá em aproximadamente seis horas. Outro motivo, é que os membros da tripulação que não estão envolvidos com a navegação e engenharia, deverão descansar para estarem prontos para qualquer eventualidade, em especial as equipes da artilharia. Capitão Zulu, nada de atitudes irrefletidas, a sua equipe só poderá atirar com a minha ordem ou do Coronel Nobuntu, como já foi informado. Quando chegar a hora, quero todos muito atentos. A raça que vamos contatar é muitíssimo antiga e tem, no mínimo, uma tecnologia similar à nossa. Além disso, é bem provável que sejam os pais da espécie Humana. As comunicações com o Império estarão abertas até que mergulhemos. Depois, manteremos silêncio de rádio apenas por precaução, pois não sabemos o que encontraremos. Desejo muito boa sorte a todos, obrigado. Coronel Nobuntu, decole. A Jessy seguirá com uma janela de trinta segundos.

Um forte zumbido percorreu a nave quando os reatores começam a desenvolver mais energia para os antígravos. Em pouco tempo ocorreu a compensação e voltou a reinar o silêncio. A gigantesca nave subiu muito devagar para não provocar um furacão. Aos dez mil metros, a Dani acelerou mais intensamente, apenas com os geradores antigravitacionais, até entrar no espaço, onde passou a voar com os jatopropulsores. Atrás dela a exatos trinta segundos de distância seguia a Jessy, já que ambas desenvolviam a mesma aceleração.

Na Terra, os repórteres começam a dispersar. De mãos dadas, os pais do Daniel olhavam para cima, mesmo depois da nave ter partido e desaparecido da vista. Os seus pensamentos seguiam junto com a nave, desejosos de estarem lá, de acompanharem o filho.

– Que ser espetacular nós fizemos, Daniel! – disse a mãe, orgulhosa. – E agora é o Imperador e estou certa de que ele vai atingir o seu objetivo. Até hoje, ainda não falhou, nem mesmo com o terrível revés a que foi submetido.

– É verdade, Alexa. Ele salvou a humanidade e deu-lhe um rumo ainda antes de ser coroado. É o maior homem da história da Terra e só tem dezesseis anos.

– Tu contaste-lhe, amor?

– Não. Caramba, pensei que lhe tinhas contado. Bem que estranhei ele não ter comentado nada.

– Bem, ele vai ficar encantado quando retornar e descobrir que, em breve, terá uma irmãzinha.

– Vai ficar mas é alucinado porque ama demais as crianças. Se bem que agora só tem olhos para a Daniela. Que bom que se encontraram, pois não sei quanto tempo mais ele ia aguentar do jeito que estava.

– Gosto dela; é especial. Por dentro tem uma força de vida e de alegria que contagia.

– Eu também. Sabes, adorava a Jéssica, mas ela é mais o feitio dele, sem falar que os dons similares fazem com que ambos tenham uma grande afinidade. Vamos caminhando?

– Claro, mas de esteira rolante que estamos longe demais.

De mãos dadas, o orgulhoso casal de pais voltou para os respectivos trabalhos, muito feliz e satisfeito. Na esteira rolante, continuaram conversando:

– Daniel, será que a nossa menina terá os mesmos dons dele?

– Saberemos em breve. Que nome queres escolher para ela?

– Que tal Jéssica?

– Gostei. – Ele sorriu. – Bem, agora que estou no posto de Imperador Interino, espero que nada aconteça. Sei administrar uma empresa gigantesca, mas nada sei de governar um império.

– Ora, Daniel – a esposa riu. – És o presidente do maior poder econômico da humanidade e não deve ser muito diferente. De qualquer forma, sempre te podes aconselhar com o teu pai, que já tem séculos de experiência no governo de um planeta, sem falar no primeiro-ministro.

– Notaste que ele era um opositor ferrenho do Daniel e praticamente mudou da noite para o dia?

– Sim. Mas ainda há dois governadores opostos. Eles, entretanto, respeitam-no. Acho que o Dan não terá problemas com o congresso.

– Concordo, Alexa. – Na sala circular, cada um precisou de pegar um corredor diferente. Beijou a esposa que ia para o hospital de pesquisas. – Até mais.

– Até, amor. – O marido subiu na esteira rolante e foi para a administração. Apesar da aparência otimista, sentia-se muito preocupado, mas não deixava transparecer de modo a que a esposa não ficasse aflita. Pensava em que perigos o seu filho teria de enfrentar antes de encontrar os centurianos. Embora não soubesse, a esposa pensava do mesmo jeito e, mal Daniel pai virou as costas, o seu semblante deixou de ser alegre para mostrar profunda inquietude.

― ☼ ―

– Coronel Nobuntu, acelerar até ponto nove cinco c e vá para a órbita de Plutão. Deixemos o automático fazer a manobra de mergulho. Passe as instruções à Jessy.

– Sim, Majestade... perdão, Almirante – disse o homem, passando a instruir a Jessy. Após uns segundos, virou-se para o Daniel. – Almirante, o coronel quer saber o motivo de esperarmos até à órbita de Plutão.

– Porque o piloto automático nunca foi testado e, caso falhe, não haverá grandes coisas à frente para colidirmos.

Nobuntu explicou, escutou e depois riu.

– O que ele disse, Coronel?

– Disse: "vai funcionar, do contrário como a minha cadeira."

– Espero que ele não tenha indigestão, caso falhe.

Isso rendeu uma gargalhada na sala de comando, não só naquela, mas em muitos lugares que acompanhavam tudo pela univisão. Um estalo nos alto falantes principais trouxe a voz do João.

– Ei maninho, ouvi isso. Acredita em mim; vai funcionar.

– Ok, espero que vá. Espero e acredito, mas não custa ser cauteloso, irmão. Capitão Zulu, mande os seus homens descansarem. Quem não conseguir dormir, peça para equipe da doutora Chang uma pilula ou uma marretada na cabeça, conforme preferirem. Deixem só um oficial de plantão.

– Certo, Almirante – respondeu Zulu, rindo – ficarei de vigília, já que dormi muito bem ontem e posso ficar os próximos quinze dias acordado.

– Ok. As equipes dos destroyers também devem descansar as próximas horas. Quando entrarmos no sistema centuriano, quero todas as naves de prontidão total e a artilharia com a guarnição completa. Coronel João, dê a mesma ordem para os seus artilheiros e tripulantes das naves auxiliares.

– Claro, Almirante – respondeu João, que sabia muito bem quando devia comportar-se. – Já foi providenciado.

– Obrigado.

Daniel saiu da ponte e passeou pela nave, tratando todos com cortesia. Sem se dar conta, estava na ala médica onde aproveitou e entrou para dar um beijo na esposa. Ela, com os olhos muito brilhantes, atirou-se ao seu pescoço beijando-o na orelha e falando algo bem baixinho. Ele abraçou-a com ternura. Ficaram juntos por um tempo, com as testas encostadas uma na outra, falando em silêncio coisas que apenas ambos podiam ouvir até que um tripulante apareceu e pediu um comprimido para dormir.

– "Depois falamos, amor" – disse ela. Com um pequeno beijo, afastou-se para atender o desejo do tripulante.

O almirante seguiu na sua ronda, sempre tranquilo e sorridente. Na divisão científica, que ficava perto da médica, avistou a Bia que também tinha a felicidade estampada no rosto. A garota de apenas vinte anos era muito bela, com olhos azuis, brilhantes, e cabelos dourados. Tinha um metro e setenta, um corpo muito bem-feito e um sorriso de anjo. Ele via a paixão intensa que tomou conta do seu coração, tornando-a ainda mais bonita. Não admirava que o Davri estivesse tão apaixonado por ela. Felizmente, apesar de serem de planetas diferentes, eram geneticamente compatíveis. Após estes pensamentos discretos, dirigiu-se a ela.

– Então, Bia – principiou. – Parece que te encontraste. Onde andam o Davri e a Srina?

– Estão com o doutor Chang. Ele deseja fazer mais uns exames em relação ao gene. Estranha muito a repentina capacidade telepática da Srina.

– Ah, isso. – Ele riu. – Ela já era latente. Durante o período que em esteve comigo e a Dani, interceptava as nossas conversas, entendendo-as como murmúrios. Nós ajudamo-la a ativar esse setor ocioso do seu cérebro. Então, estás a gostar de servir na nave capitânia?

– Mas claro. Sempre desejei conhecer o espaço, da mesma forma que tu.

– Bem, estás a conhecê-lo e, se tivermos sorte, conhecerás muito mais. Estamos a procurar uma raça que deve ser a percursora de todas as raças humanas da Galáxia. Já pensaste nisso?

– É impressionante, Dan – respondeu a moça, falando sem usar o posto hierárquico dele já que estavam conversando informalmente. – Eu nunca imaginei que pudéssemos ser originários de outro mundo, muito menos que ele tenha colonizado a Galáxia.

– Pois é, felizmente para ti, isso é a hipótese mais plausível, não é? – disse, sorrindo. – Do contrário, terias problemas por causa do Davri.

Ela ficou um pouco rubra, mas continuava sorridente.

– Tens razão, Dan. Ele é maravilhoso, a melhor coisa que me aconteceu. Era bom conosco, mas ele é especial.

– Eu sei disso, Bia, vejo nos teus olhos. Bem, querida, até mais. – Piscou-lhe o olho e seguiu para o laboratório do doutor Chang, que era relativamente perto dali. Enquanto caminhava, concluía que muitas coisas mudariam no Império. A descoberta de novos mundos humanos traria um intercâmbio entre eles. Invariavelmente, muitas uniões aconteceriam, tal como o caso Bia/Davri e Srina/Zulu. Na sua opinião, isso só poderia ser vantajoso para ambos os povos porque produziria a renovação do sangue. Inconsciente, pensava na esposa e na notícia que ela lhe deu. Quando se deu conta, estava no laboratório do doutor Chang, de frente para a moça alienígena que sorria para ele.

– "Olá Srina."

– "Oi Dan. Fazendo a ronda? Oh, parabéns. Tarde demais, não adianta esconder. Foste tu que me ensinaste."

– "Ok..."

– "Eu guardo segredo. Não te preocupes." – Ela mandou-lhe um beijo e ele sorriu.

– Olá, pai – disse para o doutor Chang. – Como vão as pesquisas?

– Muito bem, filho. Estou cada vez mais fascinado com estes seres. A Srina contou-me a história de Ubrur. Meu Deus, do que nós escapamos! Graças a si, Daniel.

– Eu mandei-a contá-la para o senhor. Pai, eu gostaria que, quando as coisas retornarem ao normal, o senhor voltasse a concentrar as suas atenções para a pesquisa original.

– Irei com prazer, mas temo que nunca consigamos resolver esse problema, não sem encontrar outro planeta que nos permita cruzar as amostras obtidas em Terra-Nova. Esse planeta deveria ter condições similares, é claro.

– Entendo o seu dilema, mas esse mundo, se existir, ainda não pertence ao Império já que Terra-Nova é o único planeta em que os sapiens vivem mais de trezentos anos...

– Atenção, tripulação – disse a voz do coronel. – Mergulhamos em sessenta segundos. Como vamos testar o novo piloto automático, peço que fiquem atentos neste período.

– Bem, vou para a ponte que desejo acompanhar o processo. Até mais.

– Adeus, Daniel. – Ele desapareceu da sala como se tivesse ficado invisível e reapareceu na ponte.

– Almirante – disse Nobuntu. – O piloto automático já entrou em ação e assumiu a direção da nave. A navegação passou as coordenadas para o sistema de pilotagem e a nave já está mudando a trajetória para o novo rumo. Em quarenta segundos, iniciará o mergulho.

– Ótimo – disse Daniel, sentando-se na poltrona do Almirante, muito satisfeito. – Suspender as comunicações de super-onda. Pré-alarme na ponte.

Uma pequena sirene de alarme tocou na ponte e a iluminação reduziu-se, ficando um tom avermelhado que permitia uma visibilidade maior do espaço. As janelas de um vidro muito especial passaram a ser cobertas por placas de uma liga de titânio considerada indestrutível por meios normais. Ao mesmo tempo, um grupo gigantesco de telas holográficas faziam a vez das janelas, proporcionando uma visão perfeita em um raio de trezentos e sessenta graus.

– Atenção – disse a voz do computador. – Liberar a trava de ergulho. Mergulho em dez segundos, nove, oito...

Enquanto a máquina fazia a contagem regressiva, todos na sala de comando prestavam o máximo de atenção. Quando faltavam quatro segundos, o comandante Nobuntu liberou a trava do motor de estelar.

Nada de errado aconteceu e a nave iniciou o seu mergulho. Apenas uma leve vibração, logo eliminada pela compensação, foi o que indicou a entrada no espaço intermediário. A enorme tela virtual a toda a volta da sala de comando escureceu, ficando em um tom leitoso e quase todas as estrelas desaparecem. No centro da, ainda muito pequena, havia uma estrela azulada, mais precisamente 72 Leo, que ficava na constelação de Leão. Com uma tremenda velocidade, embora a Dani pudesse atingir muito mais, a nave percorria, a cada hora, mil anos-luz. As comunicações em super-onda já estavam cortadas, mas, nas telas do rastreador, viam a Jessy acompanhando-os.

– Velocidade ponto um parsec em ascensão – disse o piloto automático. – Tempo estimado para a estabilização em trinta segundos.

– Tudo perfeito – disse Nobuntu. – Suspender pré-alarme mas manter as comportas fechadas.

― ☼ ―

Parsec é a distância astronômica que corresponde a um ano-luz. Ponto três (0,3) parsecs por segundo significa que percorrerão cerca de um ano-luz a cada 3.33 segundos, o que fará o percurso deles ser de aproximadamente 6 horas.

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