Capítulo 2 - parte 1 (não revisado)

O imperador subiu para a cobertura, onde lhe trouxeram o planador. Novamente, perdeu uns minutos com a vista deslumbrante até que voltou à realidade, entrando no aparelho e dirigindo-se para a Cybercomp. No meio do caminho, foi chamado ao palácio de forma a resolver alguns problemas administrativos, perdendo toda a manhã.

Na sua nave capitânia, os preparativos iam em franco andamento. O Coronel Nobuntu gerenciava tudo com a maior atenção, sentado em frente ao computador do comandante, analisando todo o estoque de materiais que eram embarcados. No setor médico, a Daniela fazia o mesmo, assim como cada chefe de sessão. Ao meio-dia, a equipe fez uma pausa para almoçar. O Daniel materializou-se no Centro Médico e não encontrou a esposa.

"Dani, onde estás?" transmitiu mentalmente.

"Na cantina do deck da ponte, amor, estamos almoçando."

Oi disse ele surgindo lá e beijando a esposa. Fui chamado ao palácio para resolver assuntos internos. O que há de bom para o almoço?

Eu pedi strogonoff. Ela sorriu e fez uma cara de quem estava deliciada com o prato.

Daniel virou-se e cumprimentou os demais oficiais.

Desculpem-me a falta de educação, amigos. Fitou com orgulho a equipe que estava ali. O Coronel Nobuntu, comandante da nave; o capitão Zulu, chefe da artilharia; o doutor Aditya Kami, um indiano simpático e engenheiro chefe da Dani; além de mais alguns outros oficiais.

Majestade...

Almirante corrigiu Daniel, achando que era o menor dos males, já que não gostava dos dois títulos. Estamos na nave, preparando-nos para a maior aventura da humanidade em mais de quinhentos anos. Sentem-se e nada de ajoelhar na minha nave. Esses procedimentos idiotas podem morrer lá no palácio.

Desculpe, Almirante.

Daniel foi meio ríspido ao falar, mas ninguém o levou a mal porque já o conheciam muito bem.

Não se desculpem, meus irmãos. Vamos almoçar que estou com fome. Piscou o olho para a esposa, cujos olhos brilhavam intensamente. Ele sentia que ela lhe queria contar algo, mas aguardava a hora propícia para isso.

"Amor, há algo que me queres dizer?" perguntou, recebendo uma resposta enigmática.

"Em outra oportunidade, anjo."

"Ok" respondeu. Nobuntu observava o casal com discrição e notava fascinado a harmonia dos dois. O imperador parecia uma pessoa muito diferente de quando o conheceu. O que mais o impressionava, era que foi há tão pouco tempo, embora parecesse muito. Quando terminaram de almoçar, cada um seguiu o seu caminho.

O Daniel foi-se reunir com a tripulação da Jessy para debater sobre a viagem e a Daniela aproveitou para auxiliar o casal de irmãos ubruranos a se instalarem na nave, arrumando camarotes para cada um.

Céus, como é grande a nave do Daniel! disse a garota extraterrestre, que ainda não a havia visto por fora porque saíra de lá "carregada" pela Daniela. Os tantorianos não possuem naves tão grandes como esta.

Esta é a maior das nossas naves, Srina respondeu a Daniela. Apontou o dedo e disse. Vocês vieram naquela ali, a Jessy.

Os dois irmãos olharam para onde a moça apontou. A cerca de cem metros, uma esfera imponente estava pousada sobre as suas colunas telescópicas. Apesar de ser enorme, com os seus setecentos e setenta metros de diâmetro, parecia pequena ao lado da nave capitânia.

Não admira que os lagartos tenham perdido a batalha. Disse Davri, olhando para os monstros do espaço. Era uma frota enorme que eles enviaram. E vocês, quantas naves usaram contra eles.

Apenas cinquenta e duas. Estas aqui e mais cinquenta, irmãs da Jessy que é denominada de cruzador. A Dani, para onde estamos indo, é um couraçado de combate, mas foi projetada para pesquisa. Daniel odeia a violência. Entretanto, foi ele que desenhou estas naves e as suas armas porque sabia que era necessário proteger a raça humana.

Mas somente cinquenta e duas? perguntou o rapaz alienígena, muito espantado. Vocês poderiam ser esmagados pelo número.

Podíamos, mas era apenas o que nós dispúnhamos, Davri. Só que, dentro da Jessy, há doze naves auxiliares armadas, com cinquenta metros de diâmetro. A Dani, além de ter vinte naves auxiliares, também armadas, possui mais onze destroyers, naves de cem metros de diâmetro, com um poder de fogo assustador. Cada um deles é tão forte quanto a nave-mãe. Amanhã, pelo menos, sairemos em uma missão de paz, eu espero.

Enquanto caminhavam por baixo da nave e conversavam, a jovem imperatriz dava-lhes todas as explicações. Quando chegaram à grande escotilha inferior, que estava aberta para receber o material da nave, um oficial barrou-os.

Majestade. Perdoe-me, mas há perigo no momento. Usem a comporta lateral. Vossa Alteza não a viu porque está do outro lado. Estamos embarcando alimentos e algumas coisas são muito pesadas. Mesmo com a gravidade artificial, massa continua sendo massa.

Obrigada respondeu com um sorriso para o homem, que foi tão gentil. Venham, vamos entrar pela escotilha lateral.

Quando se aproximam dela, os irmãos viram o brilho quase imperceptível que parecia correr da escotilha para o chão e que tinha uma largura de três metros.

O que é isso que brilha de forma quase invisível?

É uma esteira antigravitacional. Venham, Basta pôr o pé sobre ela e dar um pequeno impulso – respondeu a Daniela, fazendo isso. O casal observou a moça deslizando no ar, subindo em um ângulo de uns quarenta graus. Davri já descera pelo poço inferior e conhecia, mas Srina ficou abismada.

Parece mágica!

Caramba, irmã, não desceste assim quando saíste da nave?

Não, a Daniela levou-me consigo, usando aquele dom especial. A garota subiu na esteira e deu um pequeno impulso, subindo deliciada. É bem divertido.

É, mas tenham cuidado para não saírem da ação do campo, senão podem cair e se ferir lá em baixo.

Dentro da nave, a Daniela levou-os para o deck do hospital. Naquele andar, além do centro médico, ficavam alguns dos laboratórios de pesquisa da área biotécnica. Nelas, o doutor Chang apareceu monitorando as remessas de material.

Oi, pai disse a doutora, beijando-o.

Olá, filha, Davri, Srina. O que fazem por aqui?

Vou arranjar camarotes para os dois.

Onde pretendes alojá-los?

Na área dos cientistas, já que, de momento, pertencem à tua divisão.

Ótimo. Srina, mais tarde, gostaria de fazer uns exames, ainda hoje, não se importa, filha?

Claro que não me importo, senhor.

Obrigado. Daniela, a requisição dos exames foi enviada para o centro médico. Podes mandar fazê-los?

Farei eu mesma, pai afirmou a jovem médica. Mas antes vou tratar dos alojamentos deles.

Esta fez uma leve mesura para o pai e saiu com os dois ubruranos.

Vamos mesmo para a Centúria, Daniela? perguntou Srina.

Sim. Depois, provavelmente Tantor e, finalmente, Ubrur para libertar o teu mundo.

Nem posso acreditar que vamos ficar livres dos tantorianos depois de tantos milênios. O nosso povo será eternamente agradecido.

Nos gostamos de ajudar, especialmente seres humanos como nós respondeu a Daniela, enquanto caminhavam pelo corredor dos alojamentos. Ao virarem por uma esquina, viram a Bia a cerca de vinte metros de distância. Ela, ao ver o jovem ubrurano, ficou de olhos brilhantes. A bela moça abriu um sorriso enorme e apressou o passo, atirando-se ao pescoço do rapaz e enchendo-o de beijos. Depois, constrangida, ajoelhou-se para a sua imperatriz.

Desculpe-me, Alteza, boa tarde.

Bia, levanta-te. Não precisas de me pedir desculpa. Afinal as amigas do meu marido são minhas amigas também. Podes me chamar de Daniela fora do serviço e doutora Chang em serviço. O título de Imperatriz fica apenas para casos oficiais, ok?

Claro, Daniela a garota abriu um sorriso franco e abraçou a doutora. Obrigada.

Bia, podes arrumar dois camarotes para o Davri e Srina. Assim eu mato dois coelhos com uma cajadada só, porque preciso de fazer uma série de exames muito minuciosos na Srina a pedido do meu pai.

Claro que faço isso. Deixo o número da Srina depois que registrá-lo no computador.

Obrigada, Bia. Até mais. Viu o casal apaixonado afastar-se de mãos dadas e chamou a amiga. "Vem, Srina, vamos fazer os exames que vão demorar."

"Daniela, a Bia estava um pouco sem jeito quando falaste do Daniel referenciando a amizade dele."

"Foram amantes por algum tempo. Eu achava que ela era apaixonada por ele, mas depois de ver como ela olha para o teu irmão acho que estava errada."

"Bem" disse Srina –, "não vejo motivo para alguém se importunar com isso."

"Nem eu Srina, mas ela deve ter pensado que eu tinha ciúmes ou algo do gênero."

"Que tolice!"

As duas riram e entraram no centro médico onde Daniela mandou a Srina despir-se e deitar-se na cama do scanner. Consultou a requisição do pai e começou os exames.

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