Capítulo 1 - parte 2 (não revisado)

O jovem imperador pousou no terraço do prédio da assembleia, no centro antigo e milenar da capital do Império, a Cidade Jardim. Como da primeira vez que lá esteve, perdeu bem cinco minutos apreciando a paisagem lindíssima, que era a visão da cidade antiga, mantida tal como foi há oitocentos anos. No final, o majestoso Guaíba com as suas inúmeras ilhas tornava a vista extasiante. Estava tão desligado que não ouviu uma pessoa aproximar-se.

É lindo não é, Majestade? perguntou o governador de Terra-Nova, a colônia mais antiga do império. Daniel virou-se para o lado, bastante espantado por não o sentir, e encarou o interlocutor.

O senhor impressiona-me, excelência. Conseguiu aproximar-se de mim sem que eu ouvisse! exclamou em cantonês, uma vez que o homem era originário da China. Tem ideia do feito que é surpreender um Grande Dragão?

Na minha juventude, Alteza disse o homem, sorrindo muito e fazendo uma mesura. Fui um Vermelho. Agora estou velho demais, mas ainda sei algumas coisas. É como andar de bicicleta. Afinal já se vão quase trezentos anos.

Sinto que o senhor não é portador, excelência – disse o jovem, impressionado. – Como pode ter tanta idade?

Todos em Terra-Nova vivem muito mais, Alteza, e era por isso que a equipe do doutor Chang estava lá: para pesquisar o motivo e trazer uma sobrevida para os não portadores.

É verdade, já me tinham dito, mas eu estive tão ocupado de deixei a informação de lado – comentou, pensativo. – Essa pesquisa deverá ser retomada tãologo a guerra termine. Óbvio que eu já terei entregue o meu posto, mas orientarei o meu sucessor nesse sentido.

Não abdique tão rápido, Alteza. As mudanças que trouxe para o Império são vitais para todos nós.

Eu não nasci para isto, Governador, não aprecio o meu cargo.

A única coisa boa que aquele imbecil do Saturnino fez, foi torná-lo imperador, Majestade. O povo ama-o muito. Pense bem nisso, pois poderá haver uma revolta se abandonar o trono.

Pensarei, excelência disse com um suspiro. Deu mais uma vista de olhos para a paisagem e continuou. Vamos descer, já está na hora.

Lado a lado, Daniel e o homem que ele salvou da morte durante a invasão alienígena desceram pelo elevador. De fato, os demais já o aguardam, debatendo entre si o que o imperador desejaria com uma sessão extraordinária em pleno domingo. As poucas pessoas ali dentro que sabiam, nada disseram para não influenciarem ninguém. Mal ele entrou, o silêncio tornou-se total. Aquele grupo de homens olhou para Daniel com respeito e admiração. O que viam, era um jovem alto de corpo atlético, cabelos e olhos castanhos, sorriso franco e um rosto que podia exprimir várias coisas, desde uma bondade extrema até uma fria e férrea determinação. Aparentava vinte anos, embora tivesse pouco mais de dezesseis e era considerado o homem mais inteligente e perigoso do Império. A tia-avó Carolina, governadora de Mitris, olhava para o neto com um misto de amor e alegria.

"Pelos céus" – pensou, orgulhosa. "É a cara do meu pai, e como é belo este meu neto."

Com a aproximação do Daniel, todos levantaram-se e fizeram uma mesura para o governante que a retribuiu com um sorriso franco e acalentador. Não se sentou na sua mesa e sim dirigiu-se direto para a tribuna. Quando os governadores sentaram, começou a falar.

Irmãos principiou, muito sério. Eu não sou muito bom com preâmbulos, então não vou perder tempo fazendo discursos de abertura intermináveis que vos fariam ficar bem chateados comigo por vos tirar dos vossos mundos em um calmo e tranquilo domingo.

Alguns dos presentes deram uma pequena risada, exceto o avô de mesmo nome, que deu uma gargalhada homérica.

Governador Daniel disse o neto. Quando bebê, o senhor deve ter engulido um amplificador de som com, pelo menos, dez mil Watts, santo Deus!

Isso fez com que todos se descontraíssem numa grande risada, exceto o avô que largou outra das suas famosas e terríveis gargalhadas.

Dever ser mesmo isso, Majestade respondeu, ainda rindo bastante –, mas esse sou eu e nada vai mudar.

Não mude, meu avô, o senhor é especial por isso. O seu olhar exprimia alegria, mas, depois, continuou mais sério, olhando para todas as pessoas da sala. Bem, a nossa reunião é secreta e não está passando na univisão, embora seja gravada para os arquivos e, no futuro, exposta ao público se for conveniente. Eu chamei-vos aqui porque tomei uma decisão importante que pode interferir em todo o Império e quero que saibam que estou agindo após uma profunda reflexão. Sei que, na situação atual, tenho poderes absolutos e posso ordenar qualquer coisa, mas este não é o meu feitio de governar. Então fez uma pequena pausa –, venho ao congresso expôr a minha decisão e os meus argumentos. Qualquer sugestão ou critica, mesmo negativa, será muito bem recebida e faço questão que não se acanhem em expressá-la.

O silêncio era total e Daniel via que tinha toda a atenção dos membros do governo do Império sobre ele.

Para começar, todos sabemos que a ameaça dos tantorianos não acabou, mas teremos um bom tempo antes que eles tomem outras decisões. Também sabemos que a nossa frota pode rechaçar facilmente este inimigo. Precisou de parar por causa dos aplausos. Entretanto, amigos, não sabemos que tipo de surpresas ele reserva. Podem, por exemplo, ter aliados de outras espécies desconhecidas para nós, é claro. Seria uma irresponsabilidade da minha parte ficar aqui esperando uma nova invasão e outra maior ainda atacá-los sem conhecermos os recursos de que dispõem. Sabemos apenas que a frota remanescente que ficou no mundo deles é incapaz de nos derrotar, composta de pouco mais quinhentas mil naves. Mas, basta um pequeno erro, um deslise, para que caiam em cima de nós e sejamos transformados em escravos, mesmo com todo o nosso poderio. Assim, manifestei o desejo de procurar aliados. Por causa dos comentários na univisão, todos vocês já devem ter ouvido falar nos centurianos, um povo humanoide com uma tecnologia igual ou superior à nossa, talvez bem superior, de cujos tantorianos morrem de medo. A minha intenção inicial era procurá-los e contatá-los porque sabemos a estrela onde vivem, mas os meus conselheiros recomendaram-me que agisse com o máximo de cautela. Acontece que surgiu um fator novo, que me ajudou a tomar a minha decisão: resgatamos, na última batalha, um casal de seres humanoides que estavam aprisionados em uma das naves abatidas. Após refletir, Daniel chegou à conclusão que não valia a pena esconder a origem da Terra e decidiu contar toda a verdade. Ele ouviu vários murmúrios na sala e aguardou o silêncio, esperando que os presentes silenciassem. Ao verem que ele parou de falar, calaram-se.

O mais impressionante continuou ele –, é que, após exames detalhados que fizemos nesse casal, descobrimos que esses seres são completa e totalmente idênticos a nós até ao último cromossoma. Qualquer um de nós poderia ter um filho com um deles, que seria um ser humano normal.

Mais murmúrios.

Majestade interrompeu o governador de Sírius, que se levantou da sua mesa, inclinando-se em respeito e dirigindo-se ao seu imperador. Isso é matematicamente impossível.

Exatamente, excelência. Para isso ser real, teríamos de ter uma raiz comum. E a resposta, novamente, só pode estar na Centúria.

Mas como? questionou outro governador.

Para começar, os centurianos são humanos, tanto que um desses lagartos me confundiu com um, nas ações em Terra-Nova. Os ubruranos têm uma lenda incrível. Ela reza que os centurianos eram os deuses que vieram na carruagem centur...

Bem, muitas lendas têm fundamento interrompeu o governador que falou anteriormente, contra todo o protocolo embora Daniel não se importasse –, mas daí a se concluir que nós também descendemos deles, isso para mim, é um absurdo, já que não temos qualquer lenda a respeito, exceto pela Atlântida e a Lemúria, esta última praticamente desconhecida.

O senhor não deixa de ter toda a razão, Excelência, mas a probabilidade dos ubruranos serem descendentes deles tem um alto grau. Se além disso levarmos em consideração a nossa combinação genética idêntica, as probabilidades reforçam-se mais ainda. Finalmente, eles têm navegação espacial há milênios. Sabe-se lá quantos mundos colonizaram.

As informações que vieram das ações em Terra-Nova, Majestade afirmou o governador daquele mundo –, dizem que este povo é muito retraído e não sai do seu mundo.

É verdade, mas essas informações vieram dos tantorianos e não são cem por cento confiáveis. Entretanto, após milhares de anos, eles podem ter renunciado à exploração da Galáxia.

Majestade o primeiro-ministro levantou-se. Por que não nos diz as suas decisões, já que temos todas as informações necessárias, embora algumas sejam apenas especulações com alto grau de probabilidade.

Daniel olhou para o homem que já foi o seu maior opositor e pensou nas palavras um tanto ambíguas que acabou de ouvir. Com um sorriso, continuou:

O senhor tem razão, Excelência fez uma pequena pausa e olhou para o grupo. Irmãos, eu decidi que, já que os tantorianos demorarão mais de um ou dois meses a tomar qualquer atitude, vou procurar os centurianos e contatá-los, tentando uma aliança militar com esse povo.

Vários murmúrios foram ouvidos e Daniel aguardou por silêncio. Novamente, quando viram que ele parou de falar, calaram-se. Ninguém notava o poder de persuasão que aquele jovem tinha, exceto pelo avô, impressionado com esse dom natural.

Amanhã continuou após o silêncio formar-se –, a minha nave capitânia, a Dani, e a Jessy sairão do espaçoporto da Cybercomp com destino ao mundo que fica a seis mil seiscentos e cinquenta e sete anos-luz da Terra, o mundo dos centurianos. Vamos tentar contatar esse povo, obter informações e ajuda contra o inimigo comum.

Nesse momento, Daniel descobriu como divergiam as opiniões dos respectivos governadores. A maior parte deles começou a falar ao mesmo tempo.

Senhores disse, tentando chamar a atenção deles, que nem o ouviam. Irritado, usou o seu dom com potência mediana.

"Senhores, estamos no congresso, façam o favor de se controlarem. Usem o equipamento fila para pedir a palavra."

A ordem mental foi tão potente que alguns emudeceram no ato, com pequenas dores de cabeça. Os mais resistentes também pararam, olhando para o superior cujo poder mental era tão intenso que conseguia transmitir mesmo a cérebros bloqueados ou não portadores. Reagindo, calaram-se e calcaram os botões. O governador de Terra-Nova foi o primeiro. Levantou-se e falou para o microfone robotizado que o acompanhava.

Alteza, a sua ação envolve riscos enormes. O senhor pretende visitar um sistema solar de um povo altamente desenvolvido e com um poder bélico tão grande que as lagartixas morrem de medo deles... apenas com duas naves!

Sim, uma frota completa poderia dar sinal de um ato hostil e não desejo que pensem mal de nós.

Majestade continuou o homem –, imploro que mande outro comando. No momento, o senhor é insubstituível.

Não, não sou. Todo o conhecimento que possuo já foi transferido para os computadores centrais da Cybercomp. As minhas invenções já são de conhecimento do Império e qualquer cientista pode dar continuidade ao meu trabalho. Além disso, promulguei uma lei em que todos os conhecimentos bélicos e dos novos motores estelares, ficam restritos ao Império, sob o controle da Terra.

Majestade, mande outra pessoa pediu o segundo governador da lista de debates. Concordo com o meu colega de Terra-Nova: o senhor é o nosso pivô.

Eu não posso fazer isso, meu irmão. Não vou arriscar a vida de alguém pelas minhas decisões. Tenho uma forte crença de que estou certo, mas tomei algumas decisões no sentido de algo dar errado. Como sabem, o meu pai vai ficar no cargo de imperador interino e já tem as instruções de como agir. Vocês deverão esperar até um mês. Se eu não tiver dado sinal de vida nesse meio tempo, a frota deverá atacar e destruir Tantor. Por mais que me doa, essa decisão é a única forma de nos protegermos. Além disso, o meu pai tem documentos lacrados em que eu informo o meu sucessor. Esses documentos só poderão ser abertos na frente de todos os governadores e não se esqueçam de que estou indicando um sucessor em tempo de guerra, ou seja, ele deverá assumir logo o cargo de imperador até que o conflito termine, onde só então poderão confirmá-lo ou não. Entretanto, garanto a todos vocês que teremos sucesso na missão.

Em que ponto se baseia isso, Alteza? perguntou o avô muito sério, sinal de preocupação extrema.

No meu instinto, Governador, e ele jamais errou. Basta dizer que previ esta invasão com bastante antecedência. Se não fosse a resistência do imperador Saturnino, não teríamos os problemas por que passamos atualmente.

Tem razão, Majestade retrucou o governador de Terra-Nova. – Mas nem por isso me deixa tranquilo.

Excelência, a Dani, não é uma espaçonave comum. Tem um poder de fogo superior a toda a nossa frota reunida. Não ajo irrefletidamente e ponderei muito, mas já tomei a minha decisão. Conforme o artigo segundo da Carta Magna. Se algo acontecer comigo, já têm as ordens específicas e espero que, para o bem do Império do Sol, sigam-nas.

Mas, Majestade, por que não mandar outra equipe?

Porque eu tenho recursos para me comunicar com outros seres que, além de mim, só a minha mulher tem. Posso, por exemplo, aprender qualquer idioma na mesma hora, entrando na mente de outro ser. Desta maneira, podem ver que eu sou a melhor chance de termos sucesso. Bem, meus senhores, podemos encerrar a nossa reunião; garanto-vos o sucesso, mas estejam preparados para qualquer eventualidade.

Com estas palavras o imperador deu por encerrada a reunião. Enquanto todos se levantavam ele chamou o governador de Terra-Nova para falar a sós.

Excelência, tem uns minutos? pediu o rapaz. Diz respeito ao seu mundo.

É impressionante a semelhança de Vossa Majestade com o seu bisavô, mas ainda me preocupo muito.

Não se preocupe, Excelência. Pelo jeito o senhor conheceu o meu bisavô.

Conheci-o muito bem, Alteza e garanto-lhe a veracidade do que disse.

E se lhe dissesse que sou a reencarnação dele?

Não me espantaria nada, ainda mais porque me lembro claramente do rosto da sua bisavó e não me admiraria nem um pouco se a sua primeira mulher não foi a Jéssica.

É verdade, Excelência Daniel deu um sorriso para o homem. Mas chamei-o aqui, porque, como lhe disse há algum tempo, tenho uma ideia para aumentar a renda do seu mundo, uma coisa que me espanta muito que não tenham tido a ideia de fazer.

Sou todo ouvidos, Alteza.

Pois bem, o que tenciono é o seguinte...

Os olhos do governador arregalaram-se e começaram a brilhar, porque a ideia do Daniel era maravilhosa.

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