Capítulo 4 - parte 2 (não revisado)

A alguns milhares de anos-luz dali, dez espaçonaves preparavam-se para pousar no seu mundo pátrio. Eram cilindros roxos de oitenta metros de comprimento, exceto duas que tinham sessenta. Notava-se que estavam bastante avariadas e com o voo muito instável. A descida era feita com os jatos, que rateavam demais e tornavam o pouso muito difícil. A cem metros de altura, os foguetes de uma delas pararam de funcionar e a nave despencou, rebentando-se no solo com uma explosão que matou toda a tripulação. Após minutos de muita tensão, as demais naves pousaram, embora algumas delas jamais voltassem a subir devido à violência com que bateram no solo.

Os tantorianos sobreviventes aguardaram o chão esfriar, até que um grupo de veículos similares aos ônibus antigos da terra, porém automatizados, apareceu para os pegar. Eles embarcaram e foram levados para o quartel geral.

Em frente ao almirante, os nove comandantes sobreviventes, fizeram o seu relato, mas o primeiro a falar foi o almirante:

– Peço sinceramente que não me digam que só vocês retornaram vivos – comentou ele, bem roxo.

– Não tivemos a menor chance, Almirante – afirmou um deles, confirmando o temor do superior e apresentando um chip com o vídeo da batalha. O almirante tratou logo de o pôr na memória em uma tela de LCD para olhar a filmagem feita pela nave durante o combate e ele fazia o relato. – No início só havia uma das grandes naves com as doze naves auxiliares e nós já festejávamos a vitória. Mas, sem que possamos saber como, ficamos cercados por cinquenta e uma dessas gigantescas naves. De cada uma delas, saíram mais doze das pequenas. Não tivemos a menor chance, especialmente depois que apareceu uma outra, maior ainda que as cinquenta. Calculei o tamanho dela em uns mil e trezentos metros ou mais. Também surgiram mais onze outras naves com o dobro do tamanho das naves menores, mas cujo poder destrutivo era maior que as naves grandes. Explodíamos aos milhares, sem a menor chance de defesa.

– Não pegaram nem uma delas? – perguntou o almirante, muito nervoso com as imagens do vídeo. – De quinhentas mil unidades só sobraram vocês?

– Exato, Almirante, para nossa infelicidade. Chegamos a danificar uma nave pequena, mas foram salvos por uma das grandes esferas, cujo comandante manobrava de um jeito que chegava a arrepiar. Está no filme. Entretanto, o comandante Corlac, da segunda expedição, tem mais informações.

– Fale, Corlac.

– Senhor, a segunda frota estava em pleno processo de frenagem, quando uma das naves menores deles surgiu no nosso caminho. Atacamos com dez mil naves e conseguimos danificá-la gravemente, mas nesse momento surgiu o monstro que o senhor já viu. Ele atacou junto com as onze naves que saíram de dentro e começaram a nos dizimar. Ao fim de uns dois ou três minutos, os humanos saíram rápido do local, como se tivessem desaparecido. Aí, aconteceu o inconcebível: a nave menor explodiu e engoliu nada menos do que cerca de sessenta mil das nossas naves. Não havia um pingo de radioatividade, logo os reatores deles não são atômicos, mas não fazemos a menor ideia de como são. Só posso afirmar que a energia destrutiva deles poderia acabar com um planeta, Almirante. Quando nos reagrupamos, a frota deles apareceu e destruiu-nos. Ouso mesmo dizer que não há defesa contra esses humanos. – Estendeu o chip da batalha. – Devem ser piores que os centurianos.

O almirante viu tudo, muito arrepiado e assustado. Não sabia mais o que fazer e sentia-se muito feliz de não ser o imperador.

– Muito bem – disse o almirante. – Vejo que se bateram bravamente e se esforçaram para nos trazer essa notícia. Falarei com o imperador. Pelo jeito, esses humanos são mesmo piores que os centurianos, muito piores. Vão descansar e cuidar dos vossos companheiros e das naves. Não sabemos qual será a decisão do imperador, mas aguardem de prontidão.

– Obrigado, Almirante – responderam os nove sobreviventes, que estavam muito cansados. Um deles continuou. – Tenho setenta feridos na nave.

Após se retirarem, o almirante olhou os dois vídeos mais algumas vezes. Estava muito assustado e concluiu que se meteram com as pessoas erradas, mas agora era tarde para fugir.

Com a mão pegou um telefone, semelhante aos do século XX e ligou para o imperador.

― ☼ ―

No sábado, conforme combinado, Daniel e a esposa aguardaram a chegada dos amigos para o tradicional churrasco semanal. Uma surpresa que deixou várias pessoas do círculo mais íntimo de amigos de boca aberta, foi a Bia. Ela entrou, radiante, de mãos dadas com o irmão da Srina que, por sua vez, estava que era só olhos para ela. O primeiro a abrir um largo sorriso foi Daniel, que a abraçou muito feliz porque via o sentimento nascente nos olhos dela.

– Oi Bia, que bom que vieram. – Trocando de idioma, falou com o irmão da Srina. – Olá Davri, tudo bem? Como te sentes no nosso mundo?

– Oi – ele respondeu em português e Daniel logo deduziu que a garota o pôs em uma MIC. – O vosso mundo é belo e muito agradável. Jamais imaginei que um planeta com a vossa tecnologia fosse assim. Obrigado por nos salv...

Interrompeu-se no meio da frase quando viu a irmã no meio dos convivas. Aproximando-se dela para a abraçar, cheio de carinho e logo correspondido.

– Andaste desaparecida, mana – disse, no idioma ubrurano.

– Sim – comentou a irmã, muito alegre e satisfeita – estive com eles e aprendi muitas coisas...

Srina ficou muda de repente ao ver o Zulu entrando, um homem todo negro, tão escuro que parecia azul e bem mais alto que Daniel. Caminhou até ele e tocou-o, boquiaberta. Olhou para os dedos, esfregando um no outro e disse, espantada:

– Ele tem pele negra! Não é tinta! Nunca vi ninguém assim, e como é bonito!

O grande artilheiro abriu um sorriso franco. Ficou encantado com a garota por quem acabou de cair de amores.

– Obrigado. Mas, tchê, de onde és para nunca teres visto um homem negro?

– Zulu, a Srina é de um mundo chamado Ubrur. Foi salva pela Jessy, junto com o irmão Davri de uma nave tantoriana, lembras-te da nossa reunião? Srina, este é o capitão Zulu, artilheiro chefe da Dani, a nossa nave capitânia.

– Olá, Srina, que prazer em te conhecer – disse o gigante, pegando as mãos dela e sorrindo, mostrando os dentes muito alvos que contrastavam com a cor da pele. – Todas as mulheres do teu mundo são tão belas, como tu?

Ela sorriu sem jeito, ficando com o rosto rubro. O grande africano acertara em cheio no alvo, pois era mesmo um artilheiro nato.

– Vamos, gente – disse o Daniel. – Entrem logo. As bebidas estão na geladeira. Nada de abusar da cerveja e do vinho. Estamos em pré-alerta.

Daniel começou a assar as carnes enquanto todos se divertiam, felizes. Quem estava mais satisfeito era o anfitrião, sempre sorrindo porque quem estava ali não o chamava de outra coisa que não fosse Daniel. Eram todos amigos antigos e a maior parte sentia que ele queria distância do título.

Divertiram-se todos ao sabor de um belo churrasco, mas, no final do almoço, Daniel chamou a atenção dos amigos.

– Gente. Todos aqui servem na Dani ou na Jessy. Na segunda-feira, nós rumaremos para um mundo chamado Centúria. Lá, deveremos encontrar uma civilização tão avançada quando a nossa, senão muito mais. Esperamos fazer amizade com eles. Também há uma forte probabilidade de serem os pais da nossa civilização e de toda a raça humana na Galáxia. Assim, amanhã aproveitem o dia com as vossas famílias. Estão todos de folga porque poderemos ficar fora mais tempo que o previsto, mas não se esqueçam de que o que eu afirmei agora é informação classificada.

– Obrigado pela folga, Vossa Benevolente e Magnânima Majestade – disse João com uma vênia profunda, caindo na gargalhada logo em seguida ao ver a cara de espanto do primo, que não tinha entendido nada até ao momento.

Zangado, fez uma careta, mas o João jamais se intimidava.

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