Capítulo 3 - parte 5 (não revisado)
– Esta cidade parece um jardim gigantesco – disse ela, maravilhada. – Jamais vi uma cidade tão bela, Daniela.
– Porto Alegre é conhecida em todo o Império como a Cidade Jardim. Quem começou esse tipo de construção foi o meu bisavô, há mais de setecentos anos. Ali à frente é o templo Shaolin, o nosso destino.
– O que é um templo Shaolin?
– O um local onde vivem monges budistas. O budismo é uma filosofia de vida, muitas vezes considerada uma religião. Entre outras coisas, os budistas acreditam que a vida é, acima de tudo, sagrada e também que nós nascemos e morremos sucessivas vezes até evoluirmos e passarmos para uma próxima fase.
– Mas no meu mundo qualquer criança sabe disso! – afirmou espantada. – Aqui não é assim?
– Isso é bom, garota. Aqui ainda há muita gente que acredita em outras coisas. O importante é respeitar as crenças uns dos outros.
O planador desceu em frente ao templo. O prédio, construído ao estilo chinês medieval, tinha uma estátua de Buda sobre o pórtico. Um monge abriu a pesada porta de madeira maciça, com mais de três metros de altura e de largura. Sorriu para Daniel, fazendo uma profunda reverência.
Falando uma língua desconhecida da Srina, que observava tudo muito curiosa, Daniel conversava com o homem que se vestia com uma roupa bastante estranha. Parecia uma túnica amarela com um pano laranja em volta, bem simples.
A moça viu muita paz de espírito nos olhos do monge, que sorriu para ambas e, com um sinal, mandou todos entrarem. O templo era gigantesco, com diversos pátios e construções, ornamentadas por pequenos e bem cuidados jardins. O monge pediu para as duas moças esperarem em um deles, enquanto afastou-se com Daniel. Ao longe, elas observavam dois jovens praticando artes marciais.
– Que lindo! – afirmou Srina, sempre sedenta de novidades, jamais se cansando de as apreciar. – Nem parece uma luta, o que é?
– Chama-se Kung-fu e é mortal. Pouco mais de duzentos monges destes, com o Daniel os avôs e o primo, eliminaram noventa mil soldados tantorianos.
– Ele também luta isso?
– Sim, e eu também, mas o Dan é o mais poderoso lutador do Império – sfirmou Daniela, cheia de orgulho.
– Mas se eles presam a vida acima de tudo, como podem lutar algo mortal?
– Há milhares de anos, estes monges eram perseguidos por exércitos sanguinários e precisaram de aprender a se defender. Não te esqueças que a tua própria vida também é sagrada. Podendo, eles jamais matam e praticam o Kung-fu como um esporte e, também, para terem disciplina.
Pouco depois, o imperador chegou acompanhado de um homem bem velho que a moça julgou, com razão, ser o líder dos monges. Ambos falavam forma amigável naquela língua diferente, caminhando devagar e com altivez. Quando o monge aproximou-se das moças, curvou-se para elas, sorrindo. Novamente Srina viu que uma grande paz emanava daquele ser. Além da paz, notou uma força interior muito intensa.
– Venham, quero mostrar-vos algo – disse Daniel. – Um segredo da minha família.
O velho monge sorriu de novo e seguiu à frente. Foram por uma passagem estreita, atrás do jardim e cercada de arbustos floridos, até que chegaram a uma porta que, uma vez aberta, revelou um lance de escadas para o subsolo por onde eles continuaram o seu caminho, seguindo por um corredor bem iluminado e muito limpo. O monge fez sinal para outra porta, mas não os acompanhou. Entraram numa sala quadrada e grande, de cerca de dez metros de lado. No chão havia futons. Daniel tirou os sapatos e as moças imitaram-no, para só depois entrarem na estranha sala. Olhando para a esquerda, viram o que o jovem lhes queria mostrar: na parede, cercados de uma pequena estante em meia lua, baixa e repleta de incensos e velas, viram dois esquifes de vidro. Um estava vazio exceto por uma fotografia de uma mulher de grande beleza. No outro, aparecia o corpo de um homem sentado em posição de lótus. O rosto, sereno, tinha os olhos fechados, como se estivesse em profundo estado de meditação. Parecia que acabara de se sentar naquele lugar, mas já ali estava há cerca de cento e cinquenta anos. O trio aproximou-se dele e observou-o.
– Mas é a tua cara, amor, só que mais velho – constatou a esposa, assombrada.
– Esse, sou eu da minha vida anterior, ou seja, o meu bisavô. Quando todos os amigos dele morreram, ele e a minha bisavó Jéssica ficaram muito sós. Alguns séculos depois, decidiram que era chegada a hora de partir. Sentaram-se para meditar e partiram. O corpo nunca se decompôs.
– Incrível – disse a Daniela – mas e a Jéssica, onde está o corpo dela?
Daniel contou sobre o que aconteceu com a ex-mulher e como esta se transformou em luz, junto com o corpo do esquife, ao morrer no palácio do imperador. Saíram da câmara secreta, apenas conhecida pela família Moreira e os Shaolins, que sempre lá iam rezar para o homem que tanto veneravam, o ser que não só criou aquele templo, como era o pai do Império do Sol.
– Mestre – disse Daniel, na hora de se despedir. – Conforme combinado, os meus guardas estarão aqui ao amanhecer. Obrigado por me ajudar.
– O prazer é nosso, Majestade.
– A paz esteja convosco, irmãos – disse Daniel, inclinando-se numa mesura.
– Paz – respondeu o monge, retribuindo a mesura.
Após saírem do templo, entraram no planador e foram para a academia militar. Quando Daniel pousou, disse:
– Já volto, vou trocar de roupa – desapareceu no ar, retornando alguns minutos depois vestido com o quimono dos Dragões Brancos. Srina impressionou-se com a beleza e a imponência do novo amigo.
Os três saíram do planador e caminharam por algum tempo. Ao virarem uma esquina, deram de cara com um pátio onde Lee ensinava uma turma de cerca de cem cadetes. Quando o grupo viu o seu líder, ajoelhou-se e gritou, em uníssono:
– Salve, Vossa Alteza, Imperador do Sol.
Lee virou-se e inclinou-se para Daniel, começando a se ajoelhar, mas o soberano impediu o seu querido professor de fazer aquilo.
– Mestre, o senhor é e sempre será um segundo pai para mim. Eu proíbo que faça isso porque sou eu que tenho que me ajoelhar perante o senhor. – Ajoelhou-se para o seu mestre. – Obrigado porme ter ajudado a ser o que sou.
Com os olhos úmidos, o homem considerado o mais durão do Império, levantou e abraçou o seu pupilo.
– Obrigado, pequeno Dragão – disfarçando a emoção, ergueu a voz e afirmou. – Estes infelizes são a escória dos lutadores de Kung-fu. Por mais que eu tente, não se concentram.
– Foi por isso que pediu a minha presença, mestre?
– Sim, filho, uma demonstraçãozinha talvez os anime, ou então vão cair no primeiro combate.
– Soldados – disse Daniel em alto e bom som. – O general Lee acha que vocês estão molengas e tal coisa não pode acontecer no batalhão dos marines. Por isso, vou fazer uma aposta com vocês. Quantos de vós, vermes miseráveis, acham que me podem derrubar? – O tom de voz dele mostrava que não falava sério ao chamá-los de vermes e eles levaram na esportiva.
– Que é isso, Majestade, seríamos presos – disse um deles, dando uma risada. – Além do mais, cem contra um seria uma chacina.
– É mesmo? Uma chacina? – Daniel deu uma sonora gargalhada. – Bem se vê que nã assistiram o festival e vocês podem ter a certeza que nem dão pra saída com a minha mulher, quanto mais comigo. Garanto que não serão presos. Eu dou um milhão de Solares para quem me derrubar, que tal?
Foi a palavra mágica; todos atacam o imperador, mas descobriram que a tarefa era dificílima, senão impossível. Em vez do imperador ser derrubado, o grupo inteiro acabou no chão, atordoado, embora ninguém ficasse machucado.
– Caramba – disse a Srina. – Ele é bom demais!
– Isso não é nada – disse a Daniela. – Até eu faria aquilo.
– Sério!?
– Sim. Mas se ele e o general fizerem uma demonstração, verás algo muito belo.
– Então, se não podem derrubar um homem sozinho, como esperam enfrentar um exército de tantorianos? – Ele olhou para os cadetes, desta vez muito sério. – Eu detestaria que os meus homens morressem em ação, senhores, mas é isso que vai acontecer se não se prepararem com esmero.
– Alteza – pediu um dos alunos. – Poderia fazer uma demonstração com o General Lee?
– Farei, mas vocês têm que se concentrar mais, do contrário, os lagartos acabam convosco.
– Por favor, Alteza, mostre.
– Aqui, não me chamem Alteza. Podem-me chamar de Almirante ou, simplesmente, Daniel. Mestre, nivelarei a um Dourado.
Perante o silêncio de todos os alunos, que estavam em grande expectativa, Lee tirou o casaco do quimono, seguido do Daniel. Posicionaram-se a dez metros de distância um do outro e o imperador começou a retesar a musculatura. As duas garotas ficaram sem fôlego, embora a Daniela já houvesse visto isso várias vezes. Contudo, era simplesmente uma visão que elas nunca esqueciam.
– Ai, caramba! – exclamou Srina, abanando-se. – Isso é que é um corpo deslumbrante.
Daniela riu.
– Ele é lindo demais, Srina, e eu o amo tanto!
A ubrurana ficou calada e observava o combate que estava para iniciar. Quando o general atacou Daniel, ele reagiu com muita velocidade, defendendo-se dos golpes e contra atacando, também tendo o seu ataque bloqueado pelo mestre. Eles eram demasiado velozes para olhos não treinados e a luta tinha de uma beleza impressionante onde mãos e pés moviam-se numa sequência fenomenal para encontrarem o bloqueio dos seus golpes nos membros do adversário que revidavam com potentes contragolpes, por sua vez absorvidos e criando um ciclo vicioso. Havia momentos em que parecia que eles estavam no meio de um balé mortal, desafiando a lei da gravidade, quando giravam os copos inclinados para trás e erguiam os pés a uma altura suficiente para arrancar o rosto do adversário, apenas não o encontrando mais no lugar onde deveria estar. Certa hora, o mestre Lee desferiu uma sequência violenta de golpes e Daniel parou de se defender. Uma chuva de socos acertou-o, mas ele nem sentia a pancadaria que recebia, mortal para qualquer um dos que assistiam. Lee recuou e ambos pararam de frente um para o outro. Cumprimentaram-se e viraram-se para os alunos. Aplausos e berros surgiam do nada.
– Irmãos, ninguém fica assim da noite para o dia, mas é preciso começar. Vocês têm o maior mestre da Galáxia, então aproveitem. Eu aprendi tudo o que sei com ele. Agora, cabe a vocês absorver esse conhecimento porque o professor... esse já está à vossa frente.
– Sim, Almirante – gritaram em uníssono.
– Então comecem novamente e concentrem-se. Não se esqueçam de que somos seres humanos, a raça mais determinada do Universo e jamais tirem isso da cabeça. Do contrário, o nosso Império desmoronará. Eu dependo de vocês, a Humanidade depende de vocês. Mestre Lee, é com o senhor agora.
Lee reiniciou a sua aula. Colocando o quimono, Daniel seguiu de encontro às garotas, sorrindo.
– Eu adoro treinar. Mas gostaria de encontrar um adversário à minha altura. Perde um pouco da graça quando somos invencíveis.
– Mas ele bateu em ti, Daniel – disse Srina, espantada –, e muito, eu vi!
– Se eu usasse toda a minha força, Srina, ele morreria em menos de dez segundos. A única pessoa que consegue aguentar um golpe meu com toda a energia é a Dani. E, mesmo ela, não aguenta a minha força física.
– Não entendi!
– Nós, os Dragões Brancos, temos duas formas de lutar. A que tu viste agora é puramente física. Eu seria capaz de erguer no ar quarenta homens iguais àqueles ali. Cerca de três mil quilos, na verdade, algo mais que isso. Mas também temos uma força interior, que se projeta para fora. Com ela, eu mataria no mesmo ato umas duas mil pessoas.
– Que poder assustador!
– É, Srina, mas matar é ruim, porque a vida é sagrada. Isso é o que mais me incomoda com os tantorianos. Apesar de não serem humanos, são seres vivos. É uma pena que não temos alternativa. Vamos para o planador, quero te apresentar uma pessoa muito legal.
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