Capítulo 3 - parte 4 (não revisado)
– Eu vou fazer uma promessa: não desejo vingança e não tratarei mal ou expulsarei ninguém. Sei muito bem quem estava lá e, se não me mentirem, nada acontecerá.
Um por um, os guardas que estavam no local do crime surgiram à frente do imperador, cabisbaixos e bastante envergonhados.
– Desculpe-nos, Alteza. Seguíamos ordens que foram muito mal-interpretadas. Sei que foi um ato imperdoável, mas nunca tivemos intenção de matar a sua esposa. Na verdade, não desejávamos matar ninguém.
– Sabem o porquê disso?
– Não, Alteza, infelizmente não. Apenas sabemos que trouxemos dor e sofrimento, coisa que nos entristece muito até hoje.
– Sabem o que é um Grande Dragão?
Ninguém respondeu, até que um agente avançou dois metros e, com o joelho esquerdo no chão, disse:
– São os maiores mestres de artes marciais do Império. O meu irmão tentou entrar no templo Shaolin, mas foi recusado.
– Quem é o seu irmão e por que foi recusado?
Após um silêncio constrangedor, ele disse, com os olhos úmidos e bastante aflito:
– Foi recusado porque consideraram-no instável. O meu irmão foi o homem que matou a sua mulher. Eu peço perdão por ele, Alteza. Não aguentou o que fez e matou-se logo em seguida. A nossa família vive com essa vergonha até hoje, senhor, perdoe-nos. – O guarda tremia um pouco, cabisbaixo.
– Calma, meu irmão. – Daniel levantou-se e, gentil, ergueu o homem. – Nem você nem a sua família são os culpados e eu já perdoei o seu irmão. Não preciso de perdoar a sua família, porque vocês são inocentes.
– Obrigado, Alteza. – O homem acalmou-se. – Desculpe o meu comportamento, mas é um fardo muito pesado para se carregar por tanto tempo.
– Esqueça, homem. – Ele voltou a sentar-se no trono. – A minha pergunta tinha outra intenção. Mais alguém sabe o que é, ou tentou ser um Dragão?
Ninguém se manifestou.
– Bem, para começar eu sou um Grande Dragão Branco. Não sou imortal, mas posso derrotar, sem armas, um exército dez vezes maior que vocês, senão muito mais. O que quero dizer é que não há necessidade de se preocuparem tanto comigo. Eu não desejo mais cenas iguais ao que aconteceu ontem, muito menos o que ocorreu há cerca de dois anos.
– Sim, Vossa Alteza – gritaram todos, em conjunto.
– A partir de amanhã, vocês irão para o templo Shaolin aprender como se deve agir. É uma pena que o General Lee esteja treinando as tropas, mas também há outros grandes mestres. Não se esqueçam de que a vida é a coisa mais sagrada que existe. Enquanto estiverem em treinamento, os meus Dragões vão assumir a guarda do palácio. Combinado?
– Sim senhor – foi o brado dos cento e noventa homens em uma só voz. – Obrigado, Alteza.
– Agora vão preparar-se e amanhã, às oito horas, apresentem-se à frente do templo. Instruí-los-ei a vos coordenarem.
Todos os homens retiraram-se da sala, menos o irmão do que matou Jéssica.
– Algum problema, meu irmão?
– Não, Alteza, apenas me pergunto se Vossa Majestade está de fato protegido.
Na enorme sala havia ao longo das paredes armaduras medievais de enfeite. Daniel solicitou que ele colocasse uma a vinte metros de distância. O agente carregou a armadura com alguma dificuldade porque eram réplicas autênticas e pesavam bastante. Quando estava posicionada, o imperador ordenou:
– Afaste-se.
O homem retirou-se e Daniel deu uma demonstração do poder dos Brancos. Com um movimento brusco dos braços, projetou a força interior com cerca de metade da sua energia. O efeito foi fulminante e assustador porque a armadura foi arremessada para o fundo da sala com um estrondo, ficando destruída, transformada em uma mera película de metal como se um rolo compressor tivesse passado por cima.
– Meu Deus, Majestade! – disse o palaciano de olhos esbugalhados. – Como fez isso?
– Entende agora por que não preciso de proteção? Deixemos isto assim, ok?
– Obrigado, Majestade, por me mostrar.
– Só peço que mantenha segredo, meu amigo. – Daniel sabia muito bem em quem confiar. – Aguardem o chamado para ir ao templo.
O guarda saiu muito impressionado.
– "Este é o Imperador de que precisamos" – pensou, sem saber que era monitorado pelo Daniel.
O novo imperador saiu da sala do trono e procurou a sala íntima. No caminho, encontrou o conselheiro.
– Alteza, bom dia.
– Olá, ainda bem que apareceu – disse o rapaz, bem-disposto, sorrindo para o homem. – Quero que me acompanhe a uma reunião particular com o primeiro-ministro e a minha família, mas não sei onde fica a tal da sala íntima que me ele sugeriu. Acho que não seria má ideia arrumar um mapa deste palácio para que eu possa me achar.
– Não é neste andar, venha. Vou solicitar que providenciem um guia de salas para vossa Majestade.
– Agradeço muito.
Os dois subiram ao penúltimo andar e caminharam por vários corredores até que chegarem a um aposento bastante agradável, com uma bela lareira e bastante espaço. Havia várias poltronas, onde vinte pessoas poder-se-iam reunir e, ainda assim, não pareceria uma sala cheia. Entretanto, estavam apenas sete delas, os pais do Daniel, a avó, os avôs e o primeiro-ministro. Em ambiente particular, ele abraçou e beijou os parentes, antes de iniciar. O conselheiro já ia saindo quando o Daniel chamou-o:
– Por favor, Getúlio, fique. Afinal, o senhor é o conselheiro imperial – disse Daniel. – Sente-se ali.
– Obrigado, Alteza, mas o protocolo determina que eu fique de pé...
– Que se dane esse maldito protocolo. Já estou farto dele até à medula óssea – explodiu o rapaz, furioso. – Isto é uma reunião particular e informal. Desculpe mãe, desculpe vó, não tive intenção de ser grosseiro. É que é muita frescura. Agora, sente-se ali e fique bem-comportado. Lembre-se sempre de que eu não sou o Saturnino nem jamais o serei.
Sem jeito e assustado, o homem sentou-se. O avô Daniel deu uma das suas gargalhadas e recebeu logo um cutucão da irmã.
– Alteza, poderíamos começar por saber o motivo de ter solicitado a reunião? – perguntou o primeiro-ministro, iniciando a palestra. – Eu estou muito curioso.
– Porque tenho sérias dúvidas sobre a ação correta a ser tomada. Aliás, mais precisamente sobre a sequência das ações.
– Em que sentido, meu neto? – perguntou a avó Carolina.
– Nós somos pequenos e lutamos contra o tempo. Temos pouco mais de cinco mil naves de combate e não possuímos o suficiente de gente treinada para as usar. Se não fosse isso, o meu antecessor ainda estaria vivo. Por outro lado, somos muito mais fortes, tecnologicamente falando. Afinal, a nossa frota de cinquenta e duas naves venceu sem perdas quinhentas mil unidades inimigas. Mas a verdade é que não sabemos o que eles podem nos reservar de surpresas. Aliados, por exemplo. Sabemos que a frota inimiga tem cerca de um milhão de unidades, ou seja, estão reduzidos à metade. Mas nós também não enfrentamos as quinhentas mil unidades inimigas de uma vez só. Enfrentamos trezentas mil. O segundo grupo, de duzentos mil aparelhos, que culminou na morte do imperador Saturnino, foi desfalcado em um terço por conta da explosão dos reatores da nave auxiliar, ou seja, talvez pudéssemos enfrentar as quinhentas mil unidades restantes, mas nunca saberemos se é de fato verdadeiro. Além disso, manda o bom senso não tentar fazer algo assim sob pena de sermos esmagados. Com as oitocentas naves que patrulham o Império, seria muito fácil varrê-los do mapa, mas arriscamos a segurança dos nossos planetas, sem falar que não sabemos que tipo de aliados têm, o que pode se tornar uma surpresa muito desagradável... para nós é claro.
– Concordo, filho – afirmou o pai. – Qualquer ato irrefletido pode trazer consequências funestas. Basta ver o exemplo do pateta do Saturnino.
– Bem, exatamente por isso cheguei à conclusão que precisamos de aliados e amigos. Assim, pensei em contatar os tais centurianos. Sabemos qual o sistema solar deles e que são humanos ou ao menos humanoides, bem como são inimigos mortais dos lagartos e, como diz o ditado, seu inimigo é meu amigo. Acredito que poderíamos obter algum auxílio da parte deles. Assim, quando vos chamei, queria opiniões sobre o que fazer primeiro. Atacar Tantor e eliminar o mal pela raiz ou procurar os centurianos e tentar um acordo com eles, até mesmo uma aliança.
– O maior problema que isso traz é que ninguém nos garante que eles sejam amigáveis, Alteza – afirmou o conselheiro, um tanto quanto compenetrado. – E aí, teríamos um novo inimigo, poderosíssimo. Obviamente as nossas naves não seriam capazes de enfrentar uma frota maior que a nossa se as tecnologias fossem equivalentes. Pelo que soubemos, eles praticam a navegação espacial há milênios.
– Concordo – disse Daniel. – Também pensei nisso, só que apareceu um terceiro fator.
– Terceiro? – perguntou a avó. – As coisas estão cada vez mais lindas, não é?
– Sim, muito mais do que imaginam. – "Dani, venham." – Os pais e avós notaram que ele acabou de se comunicar com a esposa que, nesse momento, apareceu no meio da sala carregando consigo uma linda moça, muito loira, além de ter dado um tremendo susto no conselheiro.
– Cavalheiros, esta é a Srina. Ela é de Ubrur, um planeta a cerca de seis mil anos-luz daqui. São humanos, tão humanos quanto nós, altamente inteligentes e simpáticos. Nós os tiramos de uma nave tantoriana onde estavam aprisionados ela e o irmão. Srina, minha querida, conta-lhes a história do teu mundo.
A moça voltou a relatar a história de Ubrur, deixando alguns dos presentes aterrados.
– Caramba – disse um dos avôs. – Olhem só do que nós escapamos!
– Escaparam? – perguntou a moça que tinha uma curiosidade nata. – Como escaparam?
– Srina, até há dois anos, não tínhamos sequer uma nave de combate. Não fabricávamos armas há cerca de seiscentos anos. A nossa história é muito parecida com a vossa, quase idêntica. Quando as nossas nações se uniram e a paz passou a existir, desistimos das armas e passamos a nos concentrar na melhoria dos nossos mundos.
– Querido – perguntou o avô Daniel, curioso – quão humanos eles são em relação a nós?
– Cem, por cento iguais. Dá pra dizer que ela nasceu na Terra e pode reproduzir-se com qualquer cidadão...
– Sabem o que isso significa? – perguntou o pai, cada vez mais impressionado.
– Sim, que temos uma raiz comum. É matematicamente impossível um desenvolvimento paralelo tão perfeito. A raça humana não é originária da Terra, nem de Ubrur – disse Daniel muito sério. Fez-se um silêncio pesado. – Agora, há outro fator em jogo: eles estão a mutar. Ela já tem o gene a dezenove. Disse-me que várias crianças nascem e não passam do primeiro ano sem que saibam o que fazer. Eu não posso deixar um planeta padecer de um problema cuja cura conheço.
– Vocês vão nos ajudar? – perguntou a moça, afoita. Olhou para o avô do Daniel, que julgara ser o imperador. – Daniel disse que iam. O senhor é o imperador? Parece tão jovem!
– Jovem? – Daniel avô caiu na gargalhada. – Minha querida, nós os quatro, temos mais de setecentos anos. Somos avós dele.
– Mas quem é o imperador, afinal? – Ela virou-se para o conselheiro, que fez um sinal negativo, apontando para Daniel. – És tu Daniel!? – Perguntou cada vez mais espantada.
– Sim, Srina, não te preocupes que libertaremos o teu povo, mas agora há outros problemas em vista – virou-se para a família e continuou. – Como podem ver, surgiu um terceiro fator preponderante. O que mais me perturba é o fato de serem geneticamente idênticos a nós. Eu não tenho coragem de os abandonar.
– Nem eu – disseram todos os parentes dele em uníssono.
Daniel virou-se para o primeiro-ministro.
– Excelência. Qual é a sua opinião?
– Acho que devemos atacar Tantor com todas as naves que temos. Eles não sabem as coordenadas de nenhum outro planeta do Império e quanto mais rápidos formos, mais seguros estaremos. Com a frota completa, podemos impôr uma derrota fulminante a esses sujeitos. Depois, poderemos dar atenção ao povo dela.
– Talvez seja mais prudente procurar aliados entre os centurianos – disse a mãe do Daniel. – Afinal, são inimigos dos tantorianos.
– Centurianos? – interrompeu a moça, surpresa. – Mas isso é apenas uma lenda!
– Lenda? – perguntou Daniel, bastante espantado.
– Sim, há milhares de anos o meu povo acreditava que Centúria era a casa dos Deuses e que Centur era o barco que os levou ao seu mundo. Apenas uma lenda boba, contada pelos antigos religiosos.
– Está decidido – disse Daniel, compenetrado. – São coincidências demais para não ser verdade.
– Centúria? – perguntou o avô, sorrindo.
– Com certeza. Como disse, há coincidências demais. Mas não vou arriscar tudo. Iremos apenas nós e a Jessy e mesmo esta ficará à distância, observando. Temos cerca de dois a três meses antes que os verdes possam pensar em voltar. Então, se em trinta dias eu não retornar ou me comunicar, vocês mandam a frota destruir Tantor. Mandei o João a Vega XII mudar os canhões da nave para o novo modelo. Quando retornar, nós partimos. Pai, é possível arranjar um estoque de medicamentos para os portadores de primeira geração? Talvez o doutor Chang consiga ensiná-los a sintetizar o soro. Conforme a situação, vamos direto para Ubrur.
– Alteza – disse o conselheiro –, não seria o caso de levar uma pequena frota? Temo pela Vossa vida. Lembre-se do Saturnino.
– Não, nós vamos em paz e uma frota pode ser muito mal interpretada. Depois, nós precisamos das naves dentro do império, sem falar que a Dani não é algo que possa ser considerado desprotegido. Não se esqueçam de que dentro dela há uma pequena e temível frota. Muito bem, eu vou ao templo Shaolin e depois para a academia militar. Prometi ajudar o mestre Lee com os novos marines. Agradeço a todos pela reunião. Assim que os planos estiverem definidos, irei ao congresso explicar a situação. Excelência, providencie para que daqui a duas semanas o parlamento possa unir-se em sessão extraordinária e peço que não deixe vazar nada por enquanto.
– Claro, Majestade, farei isso.
– Muito obrigado. Senhores, falaremos mais oportunamente.
Quando todos saíram, os três permaneceram na sala por alguns segundos.
– Vamos almoçar primeiro – decidiu Daniel. – Depois faremos o resto.
– "O que faço com ela?" – perguntou Daniela. – "Devolvo para a nave?"
– "Não, deixa-a conosco. Ela é curiosa e agora que sentiu o prazer de conhecer um mundo novo, seria como roubar o doce de uma criança. Além do mais é agradável."
– "Olha..."
– "Ora, tu começaste. Eu jamais imaginaria tal coisa, que susto dos diabos!"
– Vocês estão conversando não é? Eu escuto murmúrios.
– Tu deves ser uma telepata muito fraca. Acho que posso te ensinar algo. Deixemos para mais tarde.
– "A mim, parece que tu queres é repetir a dose." – Daniela riu, maliciosa.
– "Não me provoques que a ideia foi tua. Mas estava bom e acho que todos gostamos. Se concordasses, repetia com prazer."
– Queres saltar ou vamos de planador?
– Vamos de planador. Assim, a Srina tem oportunidade de ver mais coisas.
No planador, a moça extraterrestre não se cansava de apreciar a beleza daquela cidade, lotada de parques naturais.
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