Capítulo 1 - parte 2 (não revisado)
– Temos contato com a Dani, senhor. Eles estão vivos, mas não respondem, apenas o super-transponder acusa que estão operacionais e sem danos.
– Apoiar o ataques aos alienígenas – ordenou João, com um suspiro de alívio. – Acabemos logo com isto.
A dois dias-luz de Terra-Nova tudo voltou ao normal após algumas horas, mas a frota inimiga de apoio estava bastante desfalcada.
Os nativos da estrela Canopus, só descobririam quando tudo acabasse, porque a luz pode ser muito lenta conforme a situação. A grande nave apareceu no ponto de origem, assim como os onze demônios da destruição que ela costumava carregar. Todos emergiram ao mesmo tempo, lado a lado, aguardando instruções do Almirante.
– Coronel, ordene que os destroyers comecem a atacar. A Dani fica aqui, por enquanto – disse Daniel, ainda com o ferido no colo, falando da ala médica.
Ao ver a nave gigantesca parada no espaço a alguns milhões de quilômetros do planeta, a frota inimiga vacilou e isso custou-lhes mais algumas centenas de naves, mas a entrada dos pequenos monstros de cem metros de diâmetro, provocava perdas irreparáveis ao inimigo que, surpreendentemente, insistia na batalha já perdida. No seu fanatismo fundamentalista, nenhum deles ousava fugir.
Na ala médica, a equipe da Daniela estava muito ocupada. Os quatorze sobreviventes estavam queimados ou intoxicados, dois em estado gravíssimo.
Daniela corria de um para outro, usando um pouco do seu dom para aliviar os problemas e facilitar o trabalho dos medicamentos que ela ou algum médico mandava injetar.
Daniel pousou o seu último resgate em uma maca. Quando viu o rosto da vítima, já deformado pelas múltiplas queimaduras, ficou lívido, estarrecido, e largou uma exclamação quase um berro.
– Oh meu Deus! – usando as suas forças como aprendeu com a esposa, tentou salvar o homem. Ele parou de sentir dores, mas estava além de qualquer ajuda possível. Daniel insistia desesperado, já se sentindo bastante fraco e cansado, inclusive um pouco tonto, até que uma mão firme retirou-o do moribundo. A esposa, ao ouvir a exclamação do marido foi de encontro a ele, vendo o que fazia.
– Não adianta, meu amor. Se acabares com toda a tua energia aqui, não poderás defender o Império, pois vais perder a consciência por algumas horas. Nada mais pode ser feito por ele. Infelizmente, eu conheço o limite deste poder, que tenho desde a mais tenra infância.
Desesperado, o almirante disse:
– Mas é o...
– Eu sei, meu anjo, mas ele é tão humano quanto qualquer um de nós. – Confortou-o a moça.
– Daniel – a voz do Saturnino era muito fraca. – Ouve o que a tua esposa diz. Eu estou morrendo, mas o que tu fizeste acabou com a minha dor. Já não sinto o corpo e é uma questão de minutos até partir.
– Alteza, não pense assim, vamos tentar salvá-lo.
– Não, meu rapaz, não te preocupes. Para mim, a morte é bem-vinda. A única família que eu tinha na vida era a Helena. Agora que ela se foi, estou muito só. Acho que fiquei chateado quando ela passou a dedicar toda a atenção a ti, desculpa-me. Ia fazer dela a minha sucessora e me retirar para um lugar isolado. Na minha mente, eu fui egoísta e só te via como uma ameaça à segurança Imperial. Só fui compreender o quão importante eras quando ela morreu. Poderíamos ter sido muito amigos porque tínhamos os mesmos interesses, só que eu fui cego e obtuso. Apenas Helena é que foi capaz de ver isso. Por causa dos meus erros ela foi morta e eu provoquei muito sofrimento para ti. Mereço o que estou passando agora.
– Não diga isso, Majestade, ninguém merece sofrer. Digo isso de experiência própria.
– Filho, eu fiz mais uma coisa que, quando contei para o teu pai, ele disse que te ia provocar sofrimento outra vez, mas agora vejo que é necessário, pelo bem da Humanidade, pelo bem da União. Quando tudo terminar, poderás tomar outro rumo, mas, a parir de agora, tu és o Imperador do Império do Sol. Eu deixei em testamento e, agora, afirmo-o vivo e lúcido, para todos os presentes...
– Ma... ma... mas eu nem quero pensar nisso! – disse o Almirante, aflito. – Majestade, já lhe disse uma vez e repito-o agora: eu não desejo o poder. Até ser almirante já me incomoda!
– Tarde demais, filho, quando assumiste a tarefa de proteger a humanidade, assumiste o cargo de um Imperador. Só pode haver um e agora és tu. Há muito que já o eras, porque tudo o que fiz nestes dois anos saiu das tuas sugestões e decisões, Daniel. Em tempo de guerra eu tenho poder absoluto e proclamo-te agora Imperador do Sol. Faz isso pela Humanidade, pelo Império, promete-me.
– Prometo, Alteza – disse Daniel, suspirando –, mas só enquanto a guerra durar.
– Obrigado, filho. – Ele olhou em volta. Aumentou a voz o mais que pôde e disse. – Todos vocês são agora testemunhas que eu proclamei, ainda vivo e lúcido, o Almirante Daniel como o novo Imperador Daniel Moreira, Imperador do Sol, entenderam?
– Sim, Majestade – responderam alguns médicos.
– Agora posso ir em paz porque sei que o Império não cairá e será mais forte e sólido. Daniel, pega o anel com o selo imperial que está no meu dedo e põe-no. Agora, ele pertence-te de direito. Daniela... – A voz dele era fraca demais e a sua vida estava por um fio.
– Sim, Alteza?
– Espero que dê ao seu marido a felicidade que eu lhe tirei sem querer. Perdoem-me novamen...
Saturnino não completou a frase, morrendo com um suspiro, em paz consigo mesmo. Sem que ninguém se desse conta, o sistema de comunicação da nave estava ligado, inclusive na super-onda. Por conta disso, todos os planetas do império acompanhavam o desenrolar da batalha e ouviram a proclamação. Por todo o lado naqueles cinquenta planetas uma onda enorme de aplausos, gritos, assobios e fogos de artifício mostrou como a população aprovou o novo imperador, que poderia ter sido eleito por aclamação, se fosse um cardeal candidato a papa.
A Daniela, com cuidado, tirou o anel do cadáver e pôs no dedo do marido.
Com a morte do Imperador, todos os presentes na ala médica, ajoelharam-se para o Daniel, como mandava o protocolo.
– Mas parem com isso, pelo amor de Deus, tratem desses pacientes que não é hora de se ajoelharem para mim. Que diabo, cada segundo perdido é uma vida que se pode escoar. Levantem-se, isto é uma nave de combate e não o Palácio Imperial. Não se atrevam a ficar de joelhos para mim, que droga.
– Sim, Alteza – disse um dos médicos, mas, no fundo, sorria feliz.
Praguejando muito, coisa raríssima no Daniel, ele saltou para a ponte. Afinal, todos ali já sabiam do seu dom. Ninguém na ponte ajoelhou-se porque, além de ouvirem o que se passou no hospital da nave, concordaram com ele. Estavam, porém, muito felizes porque todos amavam o jeito do seu líder.
– Coronel – disse Daniel, irritado.
– Sim, Almir... Alteza.
– Almirante está melhor, Coronel, já que, neste momento, estamos em uma batalha, infelizmente.
– Sim, Almirante.
– Ataque as forças inimigas, sem contemplação. Destrua tudo o que estiver pela frente. Depois ordene à frota que intercepte o que sobrou das duzentas mil unidades e destruam-nas também. Eles mataram o Imperador Saturnino e devem sofrer a retaliação. Após, rume para a Terra na velocidade máxima dentro dos limites da manobridade, mas a frota ficará por aqui de prontidão. Vamos atacar Tantor quando isto acabar. Se alguma nave inimiga tentar fugir, deixem-na ir. Antes de partir para a Terra, aguardem a minha confirmação que posso ter novas instruções. – Daniel sentou-se na poltrona do Almirante e cobriu o rosto com as mãos, pensativo e exausto, mal se aguentando em pé.
– Entendido, Almirante, ordens transmitidas para a frota. Tripulação, preparar para o combate. – respondeu o Coronel, preocupado com o estado do seu superior. – Agora épra valer, homens, vamos a isso.
No centro da nave, um rugido nunca antes ouvido fez-se sentir quando todos os reatores despertaram para a potência máxima ao mesmo tempo. Em poucos segundos a vibração desapareceu e a nave capitânia disparou em direção à linha de combate. Para horror dos tantorianos, uma coisa gigantesca atravessou as suas fileiras, abrindo um buraco no meio do coração da frota. Esse buraco era um cilindro de mil e quinhentos metros de diâmetro, que era o tamanho do campo de supercarga. Era como se um rolo compressor tivesse passado por cima de um monte de pequenas latas, transformando-as em folhas de papel. A diferença, no caso, era que as ditas folhas de papel deixavam de existir no nosso continuum.
Por isso, todas as naves da frota invasora que estavam no caminho, explodiram com violência e foram atiradas para o hiperespaço. Os campos de força nem chegaram a ser solicitados acima de cinco por cento. Refeitos da surpresa, os corajosos lagartos começaram a atirar com tudo o que tinham, mas era preciso muito mais de dez mil tiros para afetar os campos daquela nave.
– Capitão Zulu – disse o pai para o filho. – Fogo à vontade. Faça sair as naves auxiliares.
– Sim, Coronel.
A batalha no espaço era mesmo assustadora... para os lagartos. Parecia de fato um filme de terror de quinta categoria. Com a saída das vinte naves auxiliares, a Dani começou a atirar. Dezenas de tantorianos explodiam ao mesmo tempo. Quarenta mil bombas atômicas inimigas bateram nos campos de força da nave e um sol pareceu formar-se, ocultando o gigante do espaço por alguns segundos. Ao ver aquilo, João engoliu em seco, preocupado com o primo, mas gritou de entusiasmo, junto com muitos outros, tanto da sua tripulação quanto de outras e da população do império, quando viu a super-nave sair daquele inferno nuclear e ainda atacando sem parar.
– Campos de força a quarenta por cento – informam ao comandante.
Uma pequena nave auxiliar foi cercada por vinte mil naves tantorianas ao ter o azar de emergir no meio dessa formação compacta. Ela recebeu logo algumas cargas monstruosas de lasers, seguidos por milhares de bombas atômicas. Os campos de força começam a ruir e a nave sofreu avarias na região equatorial, ficando incapacitada de manobrar. Quando o campo de supercarga ruiu deixando apenas o campo de força comum, incapaz de aguentar aquele estrago todo, eles sabiam que a próxima salva seria a última. Apesar disso, tentavam pedir socorro quando um cruzador surgiu do nada tão perto que quase fez os seus campos de supercarga destruírem a nave auxiliar.
– Não se mexam, que já os vamos salvar – disse uma mulher muito bela que apareceu nas telas deles. – Precisamos de os neutralizar primeiro para podermos desmoronar os nossos campos de força e recolhê-los.
– Obrigado, comandante...
– Anjuska, da nave Moskow. Não saiam daí. – A russa mandou disparar sobre o inimigo e chamou as suas naves auxiliares para a apoiarem no salvamento. – Moskows, preciso de apoio imediato. Artilharia, atacar com irradiadores os mais próximos e o flanco com canhões de impulso.
Doze esferas, as naves auxiliares da bela russa, surgiram ao seu lado e cercaram a nave avariada. O cruzador avançou sobre o inimigo manobrando de tal forma que espantou Nobuntu, que observava tudo.
– Céus, que piloto fantástico. – Ergueu a voz e ordenou. – Dani D I, II e III, deem suporte à Moskow. Atenção, Moskow, quem é o maluco que faz essas manobras tão perigosas, olhem que o vosso neutralizador inercial vai chiar.
– Há muito que está chiando, Coronel. – Na tela apareceu o rosto muito belo da moça. Sorrindo, disse, debochada. – O piloto maravilhoso da Moskow, no momento, sou eu mesma. Infelizmente é necessário fazer isso para salvar a nave auxiliar.
– Parabéns, Major, são poucos os que sabem fazer isso.
– Ora, Coronel, por acaso acha que desconheço a sua fama na África III? – Ela deu uma risada e fez a nave dar uma guinada, disparando novamente os alarmes. – Sem falar nas peripécias do Almirante. Eu vi o vídeo do primeiro combate, senhor, e juro que jamais tentaria pousar do jeito que o Almirante fez.
Nobuntu sorriu para a moça, que avistou os três destroyers designados a apoiá-la.
– Senhores, ataquem o inimigo que vou recolher a nave avariada. Atenção, Moskows, façam um cerco para nos proteger. Nave avariada, pode manobrar?
– Não, Major, estamos à deriva. Aqui fala o tenente Garcia da London A IV. Estamos com muitos danos nos propulsores.
– Desliguem os campos de força. Vamos recolhê-los a bordo com raios gravitacionais.
O cruzador emparelhou com a nave danificada e parou a menos de trinta metros dela já com a eclusa do hangar aberta. Um raio puxou a nave para dentro e a Major voltou a erguer os campos de força no exato momento em que dez ogivas nucleares conseguiram furar o cerco de proteção, embora tarde demais. O cruzador não perdeu tempo e acelerou alucinado para a frente de batalha.
O tenente Garcia, comandante da London A IV, apareceu na ponte.
– Obrigado por nos ajudar, Major – disse, batendo continência para a superiora. – Já tínhamos até encomendado a alma ao criador.
– Sente-se, Tenente – Anjuska respondeu com um sorriso, estendendo o braço para uma poltrona livre, mas sem tirar os olhos das telas. – Neste momento não posso dar muita atenção ao senhor. Com uma guinada que fez os alarmes de super-solicitação chiarem outra vez, a comandante desviou-se do inimigo, procurando uma brecha para atacar.
O comandante resgatado, ao ver as manobras tresloucadas da mulher, pensava se realmente foi salvo ou se simplesmente adiou a hora da sua morte. Impressionado, esqueceu-se disso e passou a apreciar a perfeição das manobras da bela loira.
– Nossa senhora, isso é que é pilotar – murmurou Nobuntu para si mesmo. – Simplesmente espetacular.
Daniel levantou o rosto e observou por alguns segundos. Depois, baixou-o novamente, muito deprimido.
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