Capítulo 1 - parte 1 (não revisado)

A guerra eclodiu em Terra-Nova sem pegar o Império do Sol desprevenido. Cinquenta e um cruzadores, um couraçado, onze destroyers e seiscentas e trinta e duas naves auxiliares estão reunidas para enfrentar o poderio alienígena, composto por trezentas mil unidades de combate, naves cilíndricas de sessenta e oitenta metros de comprimento. O Império do Sol parou para acompanhar a guerra iminente, muito preocupado com o que futuro lhe aguardava e todos temiam pelos seus irmãos empenhados em defender a raça humana. Apesar da desproporção entre as duas frotas, o Almirante Supremo não estava preocupado porque a potência das armas da Terra era infinitamente superior, mas havia que ter muito cuidado com a superioridade numérica do inimigo que podia furar o bloqueio e atacar o planeta Terra-Nova. O Imperador Saturnino pensava no Almirante Daniel, que aguardava o ataque dos invasores em Terra-Nova. Ainda não concebia a ideia de que apenas cinquenta e três naves da Humanidade pudessem ser suficientes para repelir as trezentas mil unidades que apareceram ali. Além disso, estava bastante nervoso porque tinha duzentos cruzadores pesados sem elementos que os pudessem conduzir.

Desejava muito observar o que se passava e tomou uma decisão. Antes mesmo do conflito iniciar, pegou vinte cadetes que se estavam formando e mandou equipar uma nave de modo a poder acompanhar as coisas de perto. Por mais tentasse e implorasse, o conselheiro não o conseguiu demover da ação que pretendia iniciar.

Acompanhado pelos cadetes, entrou na nave espacial e subiu para o espaço, mergulhando em direção a Terra-Nova.

― ☼ ―

Na ponte de comando, Daniel gritava para que se apressassemporque a pequena nave auxiliar não parava de ser bombardeada e precisava de auxílio urgente.

– Eles vão ser destruídos!

A dois dias-luz dali e a apenas cinco milhões de quilômetros de Terra-Nova, as naves terrestres começaram a avançar contra os inimigos do Império, vomitando fogo e bombas atômicas. A frota inimiga não tinha capacidade de reagir tão rápido e, nave após nave, foram volatizadas em meio a descargas de fogo radioativo. Os cruzadores usavam os seus potentes campos de supercarga para atropelar naves invasoras que explodiam ao colidir com as gigantescas esferas, sendo logo arremessadas para o hiperespaço. No meio desta manobra, não deixavam de atirar com todas as baterias. Raios térmicos de cinquenta centímetros de diâmetro e cuja energia equivalia à de um pequeno sol rompiam as barreiras inimigas e explodiam-nos um após o outro, enquanto as naves auxiliares faziam um cerco para que os cilindros dos tantorianos não conseguissem alcançar o planeta alvo. Os canhões de impulso contrabandeavam bombas atômicas para as naves alienígenas da retaguarda, que rebentavam sem qualquer explicação. Simplesmente inchavam e explodiam sob um inferno de fogo nuclear, muitas vezes destruindo as companheiras ao lado. Era uma batalha macabra e assustadora, sem qualquer equilíbrio, apesar da superioridade numérica da outra parte. Quando os cruzadores estavam no meio da frota inimiga abalroando-os e o fogo concentrado dos tantorianos era demais, mergulhavam no espaço intermediário para surgirem a dois segundos-luz de distância, dando a volta e reiniciando o ataque. A humanidade não tinha a menor contemplação com o inimigo tão cruel. Ele foi avisado mais de uma vez para se afastar dos mundos do Império.

Os tantorianos, ao verem a superioridade das forças inimigas, procuraram espalhar as naves, dificultando a ação de defesa, mas sem a inibir por inteiro.

A Jessy, a primeira nave de combate da Terra, ficava na órbita do planeta, aguardando porque o João estava muito preocupado com o que ouviu do primo. Com as comunicações abertas, eles acompanham tudo o que se passava na nave capitânia.

– "Mais duzentas mil unidades surgiram a dois dias-luz e há apenas uma nave para as deter!" – pensou, assustado. Ele planejava ir atrás do primo, mas queria ver se a frota dava conta do seu trabalho de defesa. Pensou de quem seria a nave auxiliar que fez tamanha bobagem e tinha a certeza que não podia ser daquela frota, mas decidiu tirar isso a limpo.

– Atenção a toda a frota – ordenou, muito sério. – Façam a contagem das naves auxiliares. Vejam quem tem falta de uma.

Trinta segundos depois chegou a resposta.

– A frota está intacta, comandante. Não falta nenhuma nave nem há perdas até agora, embora alguns dos nossos tenham chegado a ficar com os campos de força solicitados em noventa por cento, especialmente as naves auxiliares.

― ☼ ―

O imperador mandou os tripulantes mergulharem em direção a Terra-Nova. Por precaução, ordenou-lhes que saíssem do espaço intermediário quarenta horas-luz depois do lugar do conflito. A sua intenção era apenas observar.

Os cadetes aprenderam muito bem os seus ofícios e a nave auxiliar saiu do espaço intermediário no lugar exato. No espaço, algo tão absurdo de imenso e vazio, a probabilidade de dois objetos se encontrarem era praticamente nula. Era muito mais fácil ganhar cinco vezes seguidas na loteria do que isso ocorrer, mas foi isso mesmo que aconteceu: a pequena esfera de cinquenta metros descobriu-se à frente de uma frota gigantesca.

Os cadetes, sem um comandante adequado e também sem qualquer experiência em combate, não sabiam o que fazer. Assustados, perguntam para o imperador.

– Alteza, e agora?

– Frear e voltar, depressa – respondeu, assustadíssimo. Não entendia como foi parar justo à frente da frota inimiga, pois não sabia que havia uma segunda equipe invasora de apoio ao inimigo. Olhou os cadetes nervosos, manipulando a nave para executarem as suas ordens. Apesar de tudo, notou como eles exerciam com perfeição as suas funções, sem perderem a calma.

Com toda a potência dos jatopropulsores de partículas, a nave parou em três segundos e começou a acelerar na direção oposta, mas não havia mais tempo. Foi alcançada pela frota inimiga que já vinha com metade da velocidade da luz. Mais de dez mil raios atingiram os campos de força da pequena nave, que desmoronaram no mesmo instante porque tinham deixado os campos de supercarga desligados, uma boa prova da sua inexperiência.

– "Meu Deus, o correto, seria acelerar e mudar de direção, jamais parar" – pensou um dos cadetes, embora tardiamente. O cadete da artilharia, sem esperar ordens, começou a atirar destruindo várias naves, mas era tarde demais. A pequena esfera perdeu os seus campos de força e, com um barulho enorme, os raios atingiram o casco, provocando uma destruição terrível e violenta. Várias explosões formaram-se no seu interior, sacudindo-a e atirando os cadetes ao chão. Quase que por milagre, a ponte escapou da descompressão explosiva graças aos sistemas automáticos que fecharam todas as comportas e escotilhas.

Apesar disso, uma explosão perto da sala de comando provocou grande destruição lá dentro. Dos vinte cadetes, quatro morreram, apanhados por vigas de aço retorcido, e um incêndio formou-se, alastrando-se e consumindo o oxigênio cujos renovadores de ar não mais supriam. A nave já não tinha mais energia e a única iluminação de que dispunham eram as chamas do incêndio, muito difícil de debelar.

A pequena nave auxiliar nunca mais voltaria a voar. Uma nova explosão pegou outros três cadetes e outra viga caiu sobre o imperador, que ficou gravemente ferido. O incêndio já ia estendendo as suas garras, alastrando-se, e a rota de fuga para as duas navetas planetárias que a nave possuía estava fechada. Eles sentiam-se condenados e desesperados, sem qualquer chance de salvamento, mas não se entregavam. O treinamento a que foram submetidos ajudava-os a tentar combater o incêndio, embora mais alguns poucos tiros do inimigo fossem o suficiente para a nave explodir. O consolo destes jovens era que ela levaria consigo muitos daqueles cilindros horrorosos. Na ponte de comando, deixou de haver gravidade artificial, dificultando mais anda o trabalho de tentarem se salvar, já que cada jato do extintor fazia com que o seu portador saísse voando para trás, devido à força de reação, fenômeno físico já conhecido há séculos, descoberto por Isaac Newton conforme ensinava a sua terceira lei da mecânica clássica.

Para infelicidade deles, ao recuar sob as ordens do imperador, a nave ia na mesma velocidade da frota atacante, ficando exposta e indefesa por ter o campo de supercarga desligado.

― ☼ ―

A equipe do Almirante era muito eficiente e, com os gritos de urgência, foram ainda mais rápidos. O grande couraçado mergulhou, desaparecendo de onde estava e percorrendo os milhões de quilômetros que os separam do objetivo em menos de dois segundos, emergindo a um quilômetro da nave atingida e frenando com toda a potência dos seus jatopropulsores de partículas, já com todas as comportas dos hangares abertas.

– Os destroyers devem sair imediatamente – gritou Daniel para a equipe. – Quero que rebentem com tudo à volta e façam um perímetro de defesa. Zulu, fogo à vontade nessa gente. Usem todas as baterias, inclusive os canhões de impulso.

– Sim, Almirante.

No mesmo instante, onze naves de guerra saíram e atacaram o invasor, provocando, de cara, a explosão de todas as naves mais próximas. Em seguida, formaram um anel de defesa em volta da Dani e da nave auxiliar, que ainda nem nome tinha. Isso impediu que mais tiros acertassem a pequena e desprotegida esfera.

Apavorados e tomados de surpresa, os tantorianos viram umas naves pouco maiores que as deles destruírem quarenta e quatro cilindros por segundo. Cada tiro dado por um destroyer era uma nave inimiga rebentada. Mas o gigante de onde saíram as naves menores provocava-lhes calafrios e medo, especialmente quando o couraçado começou a despejar o seu fogo. Nada podia resistir ao que desabou sobre eles e, num raio bem amplo, formou-se um vazio contendo apenas fogueiras atômicas dos restos dos cilindros inimigos.

Daniel observava tudo e descobriu que tinha muito pouco tempo para salvar os sobreviventes. Se a navezinha explodisse, um pequeno sol ia formar-se ali e talvez nem mesmo a Dani sobrevivesse a uma aniquilação da quantidade de antimatéria que formava os quatro reatores da nave auxiliar, porque seria suficiente para rebentar um planeta. Desesperado, correu a um armário próximo e pôs uma mochila energética nas costas.

– Desativem os campos de supercarga, já.

– Almirante?

– Agora, eu não posso atravessar esse campo de força. Rápido, que tenho de salvar a tripulação. Deixem a ala médica de sobreaviso. Saltarei direto para lá com os sobreviventes que encontrar.

– Mas sem os campos...

– Os destroyers estão aqui para nos protegerem; desativem agora, é uma ordem.

– Desativar campos de supercarga. Atenção corpo médico, preparar para receber vítimas. Artilharia, prontidão total, estamos com pouca proteção. Atirem com tudo sobre o invasor e nada de pena.

A gigantesca nave disparava sem parar, aumentando bem mais a confusão nas fileiras do inimigo, mas Daniel não estava mais a bordo quando o Nobuntu olhou para o lado. Nem mesmo ouviu a segunda metade da frase. Mal viu que os campos foram baixados, saltou para a ponte da nave auxiliar, que estava um inferno.

Enquanto isso, a grande nave e as demais despejavam fogo como nunca os tantorianos viram na vida deles. Os lagartos começaram a se afastar, inutilmente, porque o alcance dos raios térmicos era de quase dois milhões de quilômetros e os canhões de impulso seis vezes mais.

Daniel apareceu na sala de comando da nave auxiliar, que estava parcialmente em chamas e com a atmosfera muito comprometida. Com apenas um vislumbre, avistou tudo o que devia ser feito. Num canto, doze cadetes lutavam contra o fogo com extintores de incêndio, já com dificuldade em respirar e tossindo muito. A fumaça atrapalhava a visão, mas descobriu mais dois homens caídos, com queimaduras graves e inanimados. Os sobreviventes, ao olharem um homem, mais precisamente o seu Almirante, aparecer do nada no meio da ponte, ficaram abismados.

– Esqueçam isso que não há retorno – gritou Daniel, expressando urgência. – Deem-se as mãos rápido e segurem aqueles dois. Vou levá-los por teleportação para a Dani. Esta nave vai explodir em breve.

Eles não esperaram segunda ordem. Abandonaram os extintores, que, com a ausência da gravidade artificial, permaneceram flutuando e deram-se as mãos. Daniel tocou no primeiro, transportando-os diretamente para a enfermaria da nave dele, onde uma dúzia de médicos e paramédicos aguardava. Os pobres cadetes, ao sentirem novamente a gravidade artificial, caíram no chão, arquejando e tentando absorver oxigênio em meio a fortes convulsões. A equipe médica precipitou-se sobre os feridos para os ajudar, enquanto o Almirante largava-os e saltava de volta. Não os ajudou porque sabia que cada segundo era precioso, além de que a equipe da sua esposa estava de prontidão e muito bem preparada.

– Almirante, a nave está prestes a explodir – informou o Coronel Nobuntu pelo rádio, aflito. – Temos de sair daqui ou também explodiremos junto.

– Esperem – disse ele com uma ordem lacônica e imperiosa, enquanto saltava de volta para a nave em chamas.

Viu um homem muito queimado, mas ainda vivo, preso a uma viga estrutural toda retorcida. O homem já estava condenado, mas Daniel não queria abandonar ninguém com vida. À volta, havia mais seis corpos, todos mortos. Com o campo de força da mochila, estava protegido contra o calor e a fumaça e não ousou desistir do moribundo. Contraiu a musculatura e, fazendo um esforço violento, retirou a viga que prendia o homem ferido, já moribundo. Com cuidado, mas sem perder tempo, segurou-o ao colo e saltou para a enfermaria.

– Coronel – gritou. – Mergulhar imediatamente. Avise os destroyers para se apressarem. Os reatores vão colapsar e a antimatéria vai-se aniquilar.

Como que combinado as naves terrestres desapareceram, para alívio da frota tantoriana que não teve tempo para comemorar a fuga dos humanos porque a nave auxiliar explodiu. Uma luz branca, de intensidade tão elevada que cegou temporariamente muitos dos tantorianos, começou a liberar energia, mas com tal violência que os fracos campos de forca dos inimigos foram incapazes de absorver. Os cilindros mais próximos começaram a esfacelar-se ante a reação atômica, explodindo sem parar e realimentando a destruição. A energia era tão intensa que um terço da frota inimiga desapareceu do mapa e um pequeno sol artificial começou a formar-se ali, a quase dois dias luz de Terra-Nova. Nesse momento, um violento abalo do espaço-tempo ocorreu, provocando uma fenda negra que tragou muitas das naves inimigas, também gerando um eco pentadimensional tão alto que assustou tanto o João que ele ficou pálido, pensando a que a Dani fora destruída.

Aflito, procurou contato com a nave, sem sucesso, porque todos estavam muito ocupados.

– Atenção para a tripulação – gritou, desesperado. – Preparar para uma aceleração de emergência em direção à nave capitânia. Sem em trinta segundos não responderem, iremos atrás deles.

– Confirmado, comandante.

3a lei de Newton: para toda a ação ocorre uma reação de igual intensidade e sentido oposto.


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