Capítulo 5 - parte 2 (não revisado)
No espaçoporto, uma procissão de astronautas entrava na Dani às pressas, mas sempre de forma ordenada. Em dez minutos, a nave estava pronta para decolar.
– Piloto, entrar em órbita.
– Mas e o Almirante, Comandante?
– Ele virá em breve, pode subir. Comunicações, solicitem uma janela para o espaçoporto cm verto para uma órbita geoestacionária sobre Porto Alegre.
– Estamos autorizados, comandante.
– Atenção à tripulação – o Coronel Nobuntu falava para toda a nave. – Estamos levantando voo com destino a Terra-Nova. Não se trata de um exercício. O inimigo voltou e tem um contingente de cerca de trezentas mil unidades. Por isso, peço que vocês agora deem o máximo de si. Do contrário, a raça humana está fadada à destruição. Obrigado a todos.
A gigantesca esfera começou a subir devagar, criando um eclipse do sol sobre a Cybercomp e, pouco depois, sobre a capital. Da janela, o imperador olhava para a nave e rezava para que Daniel tivesse razão.
Ela foi subindo lentamente, ficando cada vez menor, até que se tornou um pequeno ponto e desapareceu.
– Bem, senhor Moreira, vou para o palácio. Aguardo notícias vossas.
– Até breve, Majestade. Não se inquiete e confie no meu filho, ele sabe o que faz.
– Obrigado. Até mais.
― ☼ ―
Daniel foi para o escritório e pegou no computador de bolso da Jéssica que o avô já tinha devolvido ao entregar a nave. Depois, preparou mais algumas coisas no computador da casa e orientou os robôs. Quando terminou disse:
– "Vamos, amor?"
– "Estou pronta" – deram-se as mãos e saltaram para a nave que os aguardava em órbita. Na ponte de comando, os oficiais faziam as verificações finais.
– Coronel, rume para Terra-Nova que temos uns traseiros para chutar.
– Tripulação. Preparem-se para partir. Navegador, ponha as coordenadas de Terra-Nova no console de piloto. Acionar campos de força e refração. Partam afora mesmo.
A nave de mil e trezentos metros acordou para a vida. Reatores começaram a rugir no núcleo central do barco espacial, que acelerou com violência em direção ao espaço exterior. Após seis segundos quando atingiu a velocidade da luz, os campos de subespaço entraram em ação, rasgando o universo de quatro dimensões e fazendo a esfera gigantesca sumir do universo Einsteiniano, para penetrar no espaço intermediário de seis dimensões, rumando para o seu destino milhões de vezes mais rápido do que a luz.
– Não precisam de correr – disse Daniel. – Façam o percurso em duas ou mais horas. Coronel Nobuntu, Capitão Zulu e oficiais de artilharia, inclusive das naves auxiliares e destroyers, apresentem-se à sala de reuniões da ponte em meia hora.
Daniel saiu para fazer uma pequena inspeção pela super-nave. Satisfeito, constatou que tudo ali era perfeito e muito bem afinado. Na gigantesca central de engenharia, no núcleo da nave, vinte reatores de trinta metros de altura abasteciam aquele devorador de energia. Tratava-se de torres enormes, que mais pareciam prédios, dispostas em um círculo. De cinco em cinco metros de altura, a parede tinha uma plataforma que abraçava cada torre, enlaçando os reatores de forma a facilitar a manutenção. Dentro destes monstros produtores de energia, porções minúsculas de antimatéria criam reações nucleares infinitamente mais fortes que os antigos reatores de fusão a frio, além de serem livres de radiação. Trinta especialistas trabalham naquela sala circular de mais de cinquenta metros de diâmetro, alguns deles mas plataformas verificando a regulagem dos aparelhos. Após conversar um pouco com o engenheiro chefe, Daniel subiu para a ala médica, perto do centro da nave. Encontrou a sua Daniela com a equipe médica, fazendo a avaliação dos equipamentos e materiais recebidos por último, concluindo que aparentemente estava tudo em ordem. Ele beijou a esposa e pediu que ela o acompanhasse à reunião. Meia hora depois de ter saído da ponte de comando, entrou na sala onde já havia mais de cem pessoas aguardando. Quando o Almirante entrou, eles levantaram-se. Daniel ajudou a mulher a sentar-se e foi para a cabeceira da mesa.
– Senhores, temos um conflito muito sério pela frente. A contagem feita pela nave de observação mostrou cerca de trezentos mil aparelhos. Para nossa sorte, a tecnologia deles é muito inferior, mas até mesmo esta nave teria dificuldades em aguentar o fogo concentrado de todo o inimigo. Digo isto para que tenham cuidado, especialmente vocês que vão usar as naves auxiliares e os destroyers. Eu gostaria que a equipe da doutora Chang não tivesse trabalho a não ser alguma dor de cabeça ocasional. Os pilotos das naves auxiliares devem ter cuidado redobrado. A nossa agilidade é o melhor amigo que temos neste momento. Mantenham os campos de força ao máximo da potência. Se tiverem precaução, não teremos baixas no nosso flanco. – Daniel parou de falar por um segundo e Daniela aproveitou para dar uma opinião:
– Sugiro que os artilheiros e pilotos durmam pelo menos oito horas antes dos combates – disse ela. – Assim, quando entrarem em ação, estarão descansados. Vou providenciar comprimidos para induzir o sono para vocês.
– Excelente – concordou Daniel. – Comandante, faça a nave parar e tornar-se invisível, ao chegar. Vamos seguir o plano da surpresa. A Dani só aparecerá na hora em que gerará mais impacto.
A belonave cruzava o espaço a uma velocidade fenomenal. Quando a reunião terminou, cada qual seguiu para o seu posto. Os elementos chave para o combate receberam um comprimido para dormir que deveria ser tomado dez horas antes do início. Chegaram ao destino e a nave tornou-se invisível. Como os tantorianos não tinham equipamento de superonda, eles comunicavam-se entre si com ela, muito tranquilos. Uma frota pequena, mas mortífera, aguardava os invasores. Faltavam trinta e seis horas para o contato.
― ☼ ―
Na lua, oitocentas naves decolaram, divididas em quarenta e nove grupos. Cada uma ia patrulhar um dos planetas do Império do Sol. A Humanidade não estava mais desprotegida e muito menos à mercê de conquistadores. Na Terra, o Imperador Saturnino andava muito nervoso porque tinha duzentas naves prontas para entrar em serviço, mas poucos oficiais. Continuava achando que eram demasiados inimigos para as poucas naves de defesa que lá estavam e pensava seriamente em mandar reforçar a frota do Daniel, mas tinha medo de cometer erros. Assim, aguardava, caminhando de um lado para o outro e roendo o pouco que lhe sobrava das unhas.
― ☼ ―
A hora da verdade aproxima-se. Quando faltavam dez horas, todos os oficiais artilheiros e pilotos dos destroyers e naves auxiliares, foram colocados a dormir. A Dani aguardava, pacífica e escondida, a dois milhões de quilômetros do planeta, invisível para o inimigo. Apenas os equipamentos sofisticados que o Daniel desenvolvera permitiam que as naves do IS se vissem em uma espécie de radar especial que operava acima da velocidade da luz. Todas as comunicações de super-onda estavam abertas e o Império, literalmente, parou para ouvir o que se passava nas naves da frota.
Os tantorianos já tinham rastreado a Jessy e as doze naves auxiliares em órbita. Ao verem apenas esse pequeno contingente festejaram a vitória por antecipação.
Na Dani e demais naves do IS, um novo abalo na estrutura do espaço-tempo foi sentido pelos sensores de longo alcance, quase tão intenso quanto o anterior.
– Almirante – disse Nobuntu, no intercomunicador. – Apresente-se com o máximo de urgência à ponte.
Daniel, que discutia com uma equipe de cientistas na divisão de pesquisas da nave, saltou logo para a ponte, preocupado.
– O que foi, Nobuntu?
– Um abalo a dois dias-luz, muito grande. Devem ter emergido muitas naves no setor.
– Isso significa – conjecturou o Almirante –, que mandaram reforços para esta frota. A coisa pode vir a se tornar perigosa, Coronel.
Nesse mesmo momento, trinta mil naves da frota inimiga destacaram-se para atacar a Jessy e as doze pequenas naves. João abriu os canais de rádio normais e falou no idioma do inimigo, porque todos os oficiais comandantes aprenderam o idioma com o auxílio da máquina de indução de conhecimento, equipamento que se revelou excepcionalmente útil:
– Atenção, tantorianos. Vocês estão invadindo o espaço do Império do Sol com uma atitude claramente hostil. Considerado o estado de guerra declarado por sua majestade o Imperador Saturnino, vocês têm trinta segundos para retornarem ou serão destruídos até à última nave. Foram avisados. Faltam vinte segundos.
O inimigo não respondeu e passou para a ofensiva. Na primeira salva que abalou os campos de força da grande nave, veio a resposta. A Jessy e as doze pequenas naves começaram a cuspir fogo contra os cilindros atacantes. No mesmo ato, seiscentas e cinquenta outras espaçonaves, tornaram-se visíveis. Os cinquenta cruzadores restantes, acabaram de se pronunciar, fazendo com que as trinta mil naves atacantes deixassem de existir em muito pouco tempo. Não eram páreo para os gigantes do espaço. O resto da frota inimiga permaneceu parada, avaliando o combate, mas não fez menção de fugir. João pegou no rádio e vltou a dizer:
– Tantorianos, retirem-se enquanto podem. Nós não vos queremos mal, mas destruiremos a sua frota, se necessário.
Não houve resposta.
– João – chamou Daniel na super-onda. – Deves ter notado um abalo enorme aí. Nós vamos lá ver o que é. Aguentas essa turma?
– Claro, tchê.
– Ok. Manda uma naveta invisível filmar e documentar tudo, para os registros do Império. Já volto, vou mergulhar para não perder tempo. Permaneceremos com o rádio aberto.
– Certo, Almirante.
– Atenção frota do Sol – disse Daniel. – Isto é uma ordem direta do vosso Almirante. O tempo de negociar e prevenir acabou. Ataquem imediatamente o inimigo. Fogo livre.
Daniel mandou que mergulhassem para emergirem a pouco mais de dois dias-luz, parando atrás de quem quer que tivesse aparecido. Ainda invisíveis, observaram a muitos milhões de quilômetros nada menos que cerca de duzentos mil aparelhos inimigos, já em um processo intenso de frenagem.
– Então o chefe batráquio está mesmo bravo conosco. Qual a contagem?
– O computador acusa duzentos mil, Almirante.
– É – Daniel comentou, rindo. – Eles têm mesmo respeito por nós, mas vamos ter de tirar o apetite dessa gente.
– Almirante, uma nave pequena acabou de se materializar em frente a eles! Parece ser uma nave auxiliar e só pode ser nossa porque é esférica, sem falar que não saltou e sim emergiu de um mergulho. Almirante, estão com os campos de supercarga desligados!
– Quem será o imbecil que fez isso? Meu Deus, eles vão ser destruídos! – perguntou-se Daniel, abismado. Com uma reação instantânea ele começou a gritar as suas instruções. O equipamento de super-onda estava ligado, sendo ouvido em toda a frota e até no Império, que acompanhava tudo, ansioso. – Atenção, tripulação, mergulho de emergência de uma hora-luz. Destino: nave auxiliar terrestre desconhecida. Jessy, não tenham qualquer contemplação. Há mais duzentas mil unidades aqui. Destroyers: quando emergirmos, saiam e deem fogo de cobertura, para recolhermos a nave auxiliar. Façam uma barragem de fogo. Destruam tudo o que puderem à nossa volta.
– Tarde demais, Almirante – disse Nobuntu, aflito. – Foram atingidos por mais de dez mil raios e já estão em chamas.
– Executar, rápido – gritou, desesperado.
A dois dias-luz dali, as naves terrestres começaram a avançar, vomitando fogo e bombas atômicas. A frota inimiga não tinha a capacidade de reagir tão rápido e os tantorianos iam perdendo nave após nave, volatizadas pelas armas superiores. Os cruzadores usavam os seus campos de supercarga para abalroar os cilindros inimigos, lançando-os ao hiperespaço em meio a violentas explosões. Era uma batalha digna de filmes de terror, sem a menor chance de salvação para o invasor que insistia em lutar. Os feixes de lasers dos verdes atingiam as naves sem provocar qualquer efeito exceto um belo fogo de artifício, enquanto os terríveis raios térmicos, cujo alcance e potência eram muito superiores, rasgavam os fracos campos defensivos tantorianos, fazendo com que explodissem um após o outro. Quando os cruzadores estavam no meio da frota inimiga, atropelando-os, e o fogo concentrado dos tantorianos era demais, mergulhavam para surgirem a dois segundos-luz de distância, dando a volta e reiniciando o ataque. Os céus de Terra-Nova assistiam a batalha pelos grandes relâmpagos, tão intensos que são vistos de dia. O povo daquele belo planeta parou tudo o que fazia para observar o céu, rezando pelos seus irmãos em uma grande comunhão.
A Jessy permaneceu em órbita, aguardando porque João estava muito preocupado com o que ouviu. Mais duzentas mil unidades contra uma só! Está certo que essa nave tinha mais poder de destruição do que toda a frota da Terra, mas planejava ir atrás do seu adorado primo. Antes, queria ver se a força tarefa dava conta do estrago. Pensava de quem seria a nave auxiliar que fez tamanha bobagem.
– Atenção, frota – ordenou, repentinamente. – Façam a contagem das naves auxiliares. Vejam quem tem falta de uma.
Trinta segundos depois vem a resposta.
– A frota está inteira. Não falta nenhuma nave e não há perdas até agora.
– Mas quem diabo terá feito tamanha idiotice?
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