Capítulo 4 - parte 5 (não revisado)

A cerca de seis mil anos-luz dali, uma frota enorme saiu do hiperespaço. Os cálculos de orientação para a nova etapa tiveram inicio. Enquanto isso, a frota deslocava-se à metade da velocidade da luz.

– Já chegaram os resultados do salto?

– Não comandante. Devem estar prontos em meia hora.

– Ótimo. Quero ser informado assim que vierem.

– Senhor – disse o navegador após quase uma hora – aqui estão os resultados. O erro foi de quinze minutos-luz. A próxima posição de salto será alcançada em oito horas.

– Nesse caso, vou dormir um pouco. Chamem-me assim que faltarem vinte minutos.

– Sim comandante.

O tantoriano levantou-se e saiu da sala.

― ☼ ―

– Temos duas comportas abertas – constatou Nobuntu. – Zulu, tu pegas a da esquerda com a tua equipe. Eu vou pela da direita.

Aproximaram-se da nave, cada equipe de um lado. O primeiro a chegar foi Zulu que, quando se aproximou da comporta, observou dentro do hangar com o máximo de cuidado. Ele estava vazio e não havia viva alma. Fez sinal para os companheiros seguirem-no e avançou. Sentiu de imediato a leve resistência ao seu deslocamento, provando que havia um campo de contenção atmosférica. Atravessou-o e olhou para o painel no pulso, comentando:

– Mas que nave bem antiquada, entretanto, têm campos de contenção de ar, porque há atmosfera respirável. Até parece com os nossos discos antigos – pensativo, continuou. – Estes seres pensam logicamente, logo a sala de comando deve ser a cúpula no topo do disco. Assim, temos de seguir para o centro. Como será que eles são?

Zulu calculou que seriam humanoides tal como ele, visto que os seres inteligentes tenderiam a fazer os robôs à sua imagem e semelhança. Aquelas máquinas não diferiam quase nada dos robôs da Terra, embora parecessem mais primitivos, por outro lado armados e protegidos. Os seres que os construíram deviam ser roxos de pele, ter formato humanoide com mãos de cinco dedos e cabeça talvez um pouco maior que o padrão humano. A única coisa maluquinha era ter vestido robôs com roupas, por sinal, horrorosas. Desistiu de pensar e tratou de ordenar o prosseguimento.

Pegaram um corredor que, na opinião do capitão, ia em direção ao centro, para a provável sala de controle. Mal entraram em uma sala, deparam-se com dois robôs.

– Cuidado – gritou um dos homens, empurrando um colega para o lado e sacando a arma. Sem perder tempo, atirou no robô mais próximo. Como ele não tinha os campos energéticos ligados, foi facilmente destruído, mas o segundo ativou a proteção e apenas cinco irradiadores juntos conseguiram acabar com ele. A temperatura aumentou um pouco e sereias de alarme de incêndio ecoaram na nave, enquanto os equipamentos de renovação de ar começaram a trabalhar com mais potência para eliminarem a fumaça.

– Vamos – disse o Capitão. – Temos que correr, senão seremos emboscados em três tempos.

Tentando orientar-se naquela nave, foram penetrando cada vez mais para o seu interior até que entraram em uma sala com mais de dez robôs que já os aguardavam e começaram a atirar.

Entrincheirados, ambos os lados lutavam encarniçadamente, sem conseguir resultados exceto pelo superaquecimento da atmosfera e um foco de incêndio logo controlado com os equipamentos da nave, cuja função era exatamente essa. Alguns homens começam a tossir com a fumaça.

– Quem está tossindo faça o favor de ligar os campos de força ou acaba morto – ordenou o capitão, zangado. – Quando sairmos daqui, vou recomentar um reforço no treinamento de vocês.

– Droga, assim não chegaremos a lugar algum – resmungou François, muito irritado. – Ainda bem que esses diabos atiram mal, senão já éramos.

– Não é estranho ter robôs atirando mal, Francois? – perguntou Zulu, desconfiado. – Será que não se trata de uma armadilha?

– É possível, capitão, mas também pode ser que a mira deles seja exclusivamente óptica e, com esta fumaça toda, não conseguem acertar direito. Até eu sinto alguma dificuldade.

― ☼ ―

Desde o início o comandante teve bem mais sorte. Foram caminhando, sempre atentos, sem encontrarem nada que fosse digno de atenção ou que lhes representasse perigo, nem mesmo robôs ou seres vivos. Da mesma forma que o filho, ele achava a nave demasiado familiar, mas concluiu que a disposição das estruturas das naves de diversas raças inteligentes seguiriam lógicas funcionais similares, sendo, por isso, semelhantes.

Caminharam por vinte minutos sem serem incomodados, embora mantivessem sempre muito cuidado.

― ☼ ―

– Ali – disse um dos homens da tocaia. – Vários robôs estão saindo da Dani. Devem ter sido chamados. Fogo neles.

O tiroteio começou, mas as máquinas refugiaram-se de volta ao hangar e apenas uma delas foi destruída. Para não estragar a nave, eles moderaram no ataque.

― ☼ ―

– Capitão – disse François, agitado – eu vou tentar atacar os robôs pelo lado esquerdo. Vejo ali uma chance razoável.

– Toma cuidado, Tenente – aconselhou o superior. – Leva dois homens. Pega Marcelo e Joca.

– Ok, chefe. – O Temente levantou-se um pouco para executar a sua ação surpresa quando, de súbito, todos os robots pararam de atirar, ficando paralisados, com a cabeça abaixada.

– O que foi que aconteceu? – perguntou-se Zulu, estupefacto ante a súbita mudança. – Parece que esses diabos foram neutralizados!

– Não sei, mas é melhor corrermos para a ponte. Agora, definitivamente estão alertados.

– Na certa que estão, vamos.

O grupo muito bem armado desandou a correr pelos corredores da nave, algumas vezes perdendo-se e retornando, sempre com bastante a atenção para não cair em uma armadilha e sem encontrar resistência. Todos os robôs por que passavam, estavam desativados, inertes, dando o que pensar ao Zulu.

Quando dobraram um corredor, depararam-se com o comandante e sua equipe. À frente deles, um ser nitidamente humanoide caminhava sob mira de uma arma. Este tinha a pele verde, mas, fora isso, era idêntico a eles.

Chateado, Zulo pensou que errou ao imaginá-los roxos como os robôs.

― ☼ ―

O comandante Nobuntu, favorecido pela sorte, alcançou uma sala grande. Reconheceu logo a engenharia da nave, com dois reatores enormes.

Perto dos controles de um deles, estava um homem todo verde e que aparentava ter uma cabeça meio grande! De costas, o sujeito não os notou chegar e o comandante aproveito esses poucos segundos para o estudar. Devia ter um metro e oitenta, a pele verde, umas roupas de palhaço tão ridículas quanto as dos robôs e, fora a cabeça um pouco maior que o padrão, ele era idêntico a um humano dos cinquenta mudos do Império do sol.

Empunhando o irradiador térmico, disse:

– Tenho uma arma apontada para o senhor. Levante-se, ponha as mãos sobre a cabeça e vire-se.

Ele obedeceu, provando que não eram só as máquinas que entendiam português. Nobuntou olhou para o seu rsto e notou que tinha olhos bastante profundos e pequenos, como se viesse de um mundo com uma luminosidade muito forte. As orelhas eram levemente pontudas e as maças do rosto um pouco salientes demais. Novamente, não seria tão diferente de um ser da Terra.

– Quem é o senhor? – perguntou. – E como sabe o nosso idioma.

– Somos salanos – respondeu. A sua voz era muito anasalada e tinha um timbre difícil de entender, como se alguns fonemas da língua do Império fossem muito difíceis de pronunciar. – Sabemos a vossa língua porque já vimos estudando o seu povo há alguns anos.

– Por que nos atacaram? Se nos estudam, deveriam saber que somos um povo pacífico e amante da paz.

– Se são amantes da paz, por que têm uma nave de combate desse tamanho? – perguntou. – E, por que invadiram um dos nossos sistemas?

– Porque precisamos de nos defender contra uma invasão ao nosso Império. Além disso, não sabíamos que este sistema era vosso e achávamos que fosse desabitado. Estávamos fazendo treino de combate. Agora, diga-me por que motivo nos atacaram?

– Somente o capitão sabe disso.

– Quantos salanos estão nesta nave?

– Somos apenas quatro. Os outros estão na ponte.

– Desative os robôs agora mesmo.

– Não posso fazer isso.

– Tenente – disse Nobuntu. – Atire nos reatores. Vamos eliminar a energia desta nave.

– Se fizer isso, explodiremos todos. Este reator é de antimatéria. Suponho que conhecem isso.

– Então, desative os robôs. Não me interessa a forma como morrerei. Já chega o que fizeram ao nosso Almirante.

O estranho mexeu em um controle e todos os androides receberam ordens de ficarem em estado passivo.

– Agora, vamos para a ponte. E nada de truques, se quer continuar vivo, entendeu?

– Sim.

– Onde está o nosso Almirante?

– Não tenho a menor ideia...

– Então vamos para a ponte e siga na minha frente. Mantenha-se bem calmo que não o mataremos, pelo menos por enquanto.

– Está bem, vocês venceram – respondeu o homem, caminhando acompanhado dos captores e deixando Nobuntu ainda mais preocupado.

Eles subiram dois níveis e entraram em um corredor. Mal passaram em uma esquina, deram de cara com o outro grupo.

– Macacos me mordam – resmungou Francois, um homem baixo e atarracado, mas dono de uma força descomunal. Olhou para o comandante e sorriu. – Apanharam um passarinho. Como ele é feio, mon Dieu! Parece até um pequeno papagaio, com essa cor! Imagino que os robôs pararam por vossa causa.

– Isso mesmo – afirmou Nobuntu. – Onde é a maldita sala de comando?

– No próximo corredor.

– Vamos, siga na frente e já sabe: se deseja ficar vivo, controle os seus impulsos.

No final do corredor pararam em frente a uma escotilha espaçosa. O salano aproximou-se da porta, que se abriu automaticamente, e entrou. Atrás dele, o grupo de assalto penetrou na sala de rompante e armas em punho, agachando-se e apontando para todos os lados.

― ☼ ―

O engenheiro chefe não permaneceu inativo. Embora os robôs não os permitissem mexer na nave, não o proibiram de falar com o computador. Falando em hindu, ele ia analisando os circuitos da Dani.

– Não há nada de errado com os circuitos – pensou alto, após dialogar com a máquina por cerca de meia hora. – Computador, use os rastreadores para procurar algum tipo de campo energético que não seja normal.

– Há seis focos de campos energéticos cuja assinatura assemelha-se a um campo de supercarga.

– Localize esses locais e informe em uma tela.

A tela apareceu na frente do engenheiro chefe que logo identifica o problema.

– Mas isso devem ser geradores de interferência que drenam a energia da nave! – constatou, espantado. – Computador, localize algum grupo de tripulantes que tenha condições de chegar aos dispositivos.

– Há dez homens no casco externo da nave, senhor.

– Algum deles fala algum idioma diferente do português?

– Vários, quatro deles falam inglês.

– Tente fazer uma ponte de rádio com eles e traduza para o inglês o que eu disser.

– Pode falar senhor.

– Atenção aos tripulantes no casco externo. Aqui fala o engenheiro chefe Aditia Kami. Respondam em inglês.

Na quarta tentativa, recebeu uma resposta.

– Chefe, estamos em pleno combate com um grupo de máquinas alienígenas e não podemos dar atenção.

– Senhores, vocês têm de nos ajudar. Localizamos os equipamentos que provocaram a pane na nave e somente vocês podem tirá-los de lá. – Este explicou o que devia ser feito.

– Ok, vamos destacar quatro elementos para retirarem os objetos. O que faremos com eles?

– Vejam se é possível desativá-los porque precisamos deles para criar uma defesa contra novos dispositivos do gênero. Se não for possível, destruam-nos.

– Aguarde a nossa resposta.

O chefe agradeceu e disse para o computador.

– Computador, quando os circuitos forem normalizados, mantenha a nave de tal forma que não se note nada, mas prepare-se para reativá-la em poucos segundos.

– Confirmado.

Depois destas ordens, mandou o computador avisar a artilharia e a ponte que a nave estaria operacional em pouco tempo. Sabendo que o substituto do capitão Zulu era alemão e o imediato chinês, ordenou à máquina que usasse os idiomas nativos de ambos. A resposta veio muito rápido, avisando ao engenheiro que se preparasse e os avisasse quando o maquinário voltasse à ativa.

Falando em mandarim para o computador, o imediato mandou-o entrar em modo automático e preparar-se para executar uma aceleração de emergência de mil quilômetros, erguendo os campos de supercarga assim que ordenado.

O tenente Kaatz informou que os seus homens estavam prontos para atacar, embora o imediato pedisse que se refreasse pois havia um comando de abordagem na nave disco.

Quinze minutos depois, o chefe recebeu um chamado em inglês.

– Achamos os dispositivos e desligamos – avisou o oficial que estava no casco.

– Obrigado, tenente. Computador avisar o imediato que estamos operacionais. Obrigado.

Nesse momento, todos os robôs ficam inativos sem qualquer explicação, porque eles desconheciam o que se passava na nava do inimigo. Sem perder a oportunidade para a ação, o imediato ordenou:

– Computador: agora, aceleração de emergência. Artilharia, erguer campos de supercarga – gritou o imediato com urgência na voz para não perder a chance. – Tenente Kaatz, mande os seus homens neutralizarem os robôs, mas deixe um no console de tiro. Assim que eu iniciar contato, dispare uma salva que passe rasante à cúpula no topo. Comunicações, chamar a nave disco.

― ☼ ―

Mon Dieu – Francês. Meu Deus.


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top