Capítulo 4 - parte 4 (não revisado)

No planeta Tantor, o comandante aguardava o chamado que ocorreu naquele exato momento:

– Comandante, Ixmo, contatar o quartel pelo rádio.

Com um grande salto, o réptil colocou-se em frente ao equipamento e respondeu sem demora.

– Aqui fala o comandante Ixmo.

– Comandante, a frota já está reunida e aguarda na periferia do sistema solar tantoriano. As suas ordens são decolar e comandar o ataque. Destrua os humanos e conquiste o mundo deles.

Com um grande sorriso, o lagarto respondeu, feliz da vida:

– Será um enorme prazer, Almirante. Considere aquele mundo conquistado.

– Não retorne sem a vitória, comandante. O senhor tem trezentos mil aparelhos sob seu comando e mais duzentos mil em algumas horas.

– Com essa frota gigantesca, certamente os humanos serão incapazes de resistir ao nosso avanço. Quando devo partir, Almirante?

– Agora mesmo, Comandante, boa sorte.

– Obrigado, Almirante.

O tantoriano desligou o rádio e ainda ficou alguns segundos vendo a tela. Sentia-se feliz com a chance de comandar uma frota gigantesca, sabendo que foi por pura sorte que o investiram no comando. Na sua visão, aquela nave enorme não teria a menor condição de enfrentar o poderio que ia comandar. Ao fim de alguns segundos, ordenou.

– Tripulação, preparar para decolar, solicitar permissão para os controladores, prioridade um. Apressem-se que temos um mundo a conquistar.

Por todo o cilindro aqueles seres descendentes de répteis correram para os seus postos, sentando-se nas suas poltronas e apertando os cintos de segurança, enquanto um alarme de aviso tocava.

– Estamos prontos, comandante.

– Decolar. – O piloto apertou um botão e a nave começou a trovejar. Com o acionamento dos propulsores, línguas de fogo atingiram o chão, impulsionando a nave para cima. O comandante sentiu o forte impulso da aceleração, que era de mais de cinco g e comprimia a tripulação contra as poltronas acolchoadas. Devagar, a nave acelerava, atingindo velocidades cada vez maiores até que se libertou da atração gravitacional de Tantor. Os tripulantes, entretanto, ainda estavam submetidos a uma forte aceração, que seria mantida por três dias, sendo apenas neutralizada durante as refeições.

Atravessaram o sistema, cada vez mais velozes. Assim que atingiram a metade da velocidade da luz, os jatos foram desligados e a nave permaneceu em queda livre por um dia. Os fracos geradores gravitacionais conseguiam apenas manter algum peso interno.

– Comandante – disse o navegador. – Precisamos de começar a desacelerar para igualar as nossas velocidades.

– Podem executar a frenagem.

Mais uma vez os propulsores começaram com os seus rugidos e o forte peso passou a se fazer sentir com bastante intensidade.

Por mais dois dias ficam sujeitos ao peso da aceleração negativa, até que as velocidades se igualaram. O comandante olhava maravilhado para aquela frota monstruosa.

Até onde a vista alcançava, ele observava os cilindros de sessenta e oitenta metros de comprimento, formando dois grupos: um de trezentas mil unidades e outro de duzentas. Orgulhoso, o comandante passou à frente dos irmãos de raça.

– Chamar a frota no rádio – ordenou. Em todas as telas aparece o seu rosto. – Senhores, eu sou o comandante Ixmo e dirigirei a nossa poderosa frota contra os humanos que se atreveram a nos afrontar. Em seis horas, começaremos a acelerar e, em vinte horas, a segunda equipe avança. As coordenadas já estão nos vossos computadores. Boa sorte a todos.

Seis horas depois, trezentos mil aparelhos aceleraram com um impulso de seis g. Três dias depois, entram no hiperespaço, para a primeira etapa do voo para atacar Terra-Nova.

Satisfeito com o grupo que comandava, o comandante alienígena já se imaginava em uma parada militar sendo condecorado pelo Imperador em pessoa, após derrotar os terríveis humanos.

― ☼ ―

A quinhentos anos-luz da Terra, a Dani permanecia parada em órbita de um planeta belíssimo. A maioria absoluta da tripulação estava nas diversas cantinas, muito descontraída e animada, conversando sobre o treinamento. Satisfeitos por terem sido elogiados, saboreavam as suas refeições.

Zulu, previdente, permanecia no seu posto, acompanhado de um oficial. Tinham combinado que seriam revesados em meia hora.

– Capitão – disse o tenente da artilharia, para Zulu. – Eu podia jurar que acabei de ver um pequeno reflexo nas telas.

– Onde? – O chefe olhou e nada viu. – Não encontro nada!

– Pois é, sumiu! – continuou o outro. – Mas tenho a certeza de que vi. Provavelmente uma pequena nave.

Zulu levantou-se e observou todos os computadores e sensores, sem nada encontrar, mas confiava nos seus homens. Assim, tomou uma decisão imediata.

– Erguer campo de força – ordenou, resoluto. – Pré-alarme para a nave, contatar o Almir...

No exato instante em que o tenente acionou o modo de pré-alarme, a nave sofreu um forte abalo, derrubando várias pessoas da tripulação.

As sirenes entram em ação soando em todos os corredores e salas da Dani. Com uma praga enorme, Daniel e Nobuntu levantaram-se do chão e começaram a correr para a ponte enquanto Nobuntu ordenava:

– Tripulação, todos para os seus postos. Setor médico, fiquem de prontidão. Artilharia, todos a postos. Computador, reporte.

– A nave sofreu um impacto com um raio gravitacional. Provavelmente, outro veículo espacial. Alguns equipamentos estão danificados – respondeu a máquina. – Atenção, entraram estranhos a bordo. Penetraram pelo hangar XII.

Os dois entraram na ponte às pressas.

– Todos os tripulantes devem preparar-se. Isto não é um exercício. Intrusos entraram a bordo pelo hangar doze. – Gritou o comandante através do intercomunicador. – Não usem armas térmicas nem desintegradores sob pena de destruírem a nave.

Por toda a esfera tripulantes correram pelos imensos corredores, abandonando as refeições pela metade e dirigindo-se aos seus postos em tempo recorde graças ao treinamento recebido nos últimos dias. Sentados nas suas cadeiras o almirante e o comandante iam dando ordens.

– Artilharia, erguer campos de força.

– Comandante, erguemos os campos no momento em que o tenente Vieira viu um pequeno reflexo nas telas. Quando fizemos isso, fomos atingidos de alguma forma e os campos de supercarga não obedecem mais.

– Engenharia – ordenou Daniel. – Identificar os problemas da nave.

– Sim, Almirante.

– Comandante – disse o piloto. – Os controles de pilotagem não respondem. Acabei de mandar rodar um diagnóstico e nada.

– Que enrascada... mas de onde diabo veio essa nave? Afinal, este sistema é desabitado!

– Almirante, tenho a nave inimiga nas telas. Estão em frente ao hangar doze, a cinco metros de distância do nosso casco, ou seja, estão dentro do campo de força. Se atirarem, estamos ferrados. O problema é que também não os podemos destruir, senão vamos junto.

– Identifique a nave.

– Forma de disco, com cento e vinte metros de diâmetro aproximado. Vejo alguns canhões de radiação semelhantes aos nossos, mas bem menores.

– Artilharia, fogo leve nela. Preparar um grupo de combate para abordar a nave e outro para defender a Dani.

– Eu adoraria, Almirante, mas nenhuma das armas responde. Alguns dos meus homens estão tentando identificar e resolver o problema. Outros, já mandei para enfrentarem os invasores.

– Obrigado, Capitão Zulu – disse Daniel. – Pelo menos não são os lagartos. Comunicações, tentem contato. Engenharia, dar apoio à artilharia para recuperar as armas o mais rápido possível. Senão ainda nos fritam aqui dentro. Entretanto, acredito que saibam que não podem destruir a nossa nave estando tão perto. Resta saber como podem ter conseguido neutralizar a Dani tão fácil.

– Não respondem, senhor – constata o oficial de comunicações um tanto inseguro. Os fatos ocorridos fizeram com que quase todos estivessem amedrontados, mas nada demonstravam, graças ao treino.

– Nesse caso é comigo mesmo. – Daniel, muito seguro de si, levantou-se, abriu um armário a um canto da sala de reuniões e pegou uma mochila. – Basta teleportar para a nave deles e obrigá-los a abrirem o bico ou planto uma bomba atômica e já eram.

Enquanto vestia o equipamento, caminhava com toda a calma até à escotilha que, nesse momento, abriu-se dando passagem a dois seres desconhecidos. Abismados, os homens da ponte olharam os invasores que eram robôs humanoides todos roxos e de forma humanoide e usando umas roupas estranhas e de cores gritantes. Antes que qualquer um pudesse fazer ou dizer algo, o androide da frente ergueu um braço, mostrando uma simples pistola, e atirou no Daniel praticamente à queima-roupa, que caiu com um gemido. No seu peito, uma grande mancha vermelha começou a se formar, com o sangue jorrando para o chão.

– Ninguém se mexa – disse a outra máquina, também apontando uma arma para os demais. – Obedeçam e não serão feridos.

O primeiro homem mecânico pegou no Daniel e carregou-o dali para fora, fazendo uma pequena trilha de sangue.

Todos na ponte ficaram paralisados, em choque com o que viram e incapazes de uma reação a tempo. Quando a segunda máquina saiu, fechando a escotilha, o comandante começou a se dar conta da realidade.

– Meu Deus...

– Comandante – disse a voz do engenheiro, cujo rosto apareceu na tela com cara assustada. – Os invasores são androides, robôs de forma humana, praticamente iguais aos nossos, mas roxos de de roupas. Cerca de cinquenta deles invadiram a sala dos reatores. Não nos tratam mal, mas impedem-nos de mexer em qualquer coisa. Eles falam português com um sotaque estranho, mas perfeitamente compreensível.

– Já sabemos, chefe – disse Nobuntu, quase num murmúrio, muito aflito. – Estiveram dois aqui agora há pouco que nos pegaram de surpresa e, infelizmente, atiraram no Almirante. A probabilidade de estar morto é muito alta porque o tiro foi na região do coração e temos uma poça de sangue no chão. Um deles levou o corpo sem falar nada. Fecharam-nos aqui dentro.

Toda a nave ouviu o comunicado, fazendo-se um silêncio petrificante. No hospital, um dos médicos pensou na Daniela e, aflito, tranquilizou-se por ela não estar ali, mas conhecendo a menina tão bem, sabia que o choque seria demasiado forte, se é que algum deles sobreviveria para retornar à Terra. Revoltados, os tripulantes atacaram as desalmadas máquinas com as mãos nuas, mas os robôs eliminavam toda e qualquer resistência. Não usavam mais armas de fogo, mas tinham umas armas de choque cujos efeitos das fortes descargas elétricas os neutralizam por algum tempo. O fato de terem atirado no Daniel deu a entender que sabiam exatamente quem era a pessoa mais perigosa naquela nave.

Nobuntu tentou abrir a escotilha e encontrou um dos androides de guarda.

– Quem são os senhores? – perguntou. – Por que nos atacaram?

– Somos servos dos Salanos. Se não fizerem nada de suspeito, serão poupados. Os nossos senhores chegarão em breve.

– Então por que atiraram no almirante?

– Essa era a ordem – respondeu a máquina, erguendo uma arma de choques. – Agora retorne para dentro e aguarde.

A máquina nada mais falou, mas permaneceu apontando a arma até que o comandante, impotente, voltou para a sala de comando e fechou a escotilha.

Na artilharia, Zulu provocou um curto na escotilha para impedir que se abrisse por fora. De um armário de armas retirou uma mochila e uma pistola de raios térmicos.

– Tentem descobrir as falhas nas armas que eu vou tratar desses sujeitos.

– Capitão, tome cuidado para eles não descontarem na tripulação. Como pretende atingi-los?

– Eles são robôs e não seguem uma programação baseada na emoção, logo não vão descontar em ninguém. Vou tentar chegar à nave. – Com cuidado, abriu uma grade do sistema de renovação de ar. Os dutos eram espaçosos e o gigante de ébano conseguiu esgueirar-se pelos canais, procurando não fazer barulho.

Ele conhecia bem a nave e sabia muito onde podia sair sem chamar a atenção porque seria impossível conseguir alguma coisa arrastando-se por quilômetros de dutos e, após quase meia hora, saiu em um pequeno depósito. Chateado, notou que a mochila que carregava era de modelo antigo e não lhe permitia ficar invisível. Entretanto, imaginava que os robots deviam ter sensores capazes de detetar a energia das mochilas, mesmo invisível.

Precisava de ter cuidado, mas sabia que apenas os setores mais importantes estavam guarnecidos pelos invasores porque meia centena deles perder-se-ia naquela esfera com dezenas de milhares de compartimentos. Caminhando por corredores secundários, chegou perto do hospital e decidiu entrar para ver o estado das coisas. Com cuidado, verificou se ali não havia robôs e entrou, aliviado.

Doze homens, dez dos quais eram seus subordinados diretos, estavam deitados, ligados aos scanners. Procurou o corpo do Almirante, mas não estava lá. O médico chefe, substituto da Daniela, aproximou-se dele.

– Boa tarde, doutor, o que têm eles? – perguntou Zulu.

– Ficarão bem, Capitão – respondeu o médico, abatido e com o olhar triste. – Apenas fortes descargas elétricas. Ficaram furiosos quando souberam do Almirante e atacaram as máquinas com as mãos nuas.

– Ele está aqui?

– Não. Os invasores levaram o seu corpo, mas acho que deve estar mesmo morto.

– Meu Deus. Quem vai dar a notícia para a esposa e a família. Estavam tão felizes!

– Pelas regras será o comandante, isso se nos safarmos desta encrenca. Só não compreendo como puderam atirar nele para matar e os outros apenas os neutralizaram com esses choques elétricos. Até parece que sabiam direitinho quem era o elemento mais perigoso. O que me preocupa muito é o fato do Almirante ser o nosso polo de equilíbrio. Temo que esta notícia traga uma grande desgraça para o todo Império porque é nele que a humanidade deposita as suas esperanças. Sem falar que é ele que nos move. O imperador é um fraco, incapaz. Talvez o avô possa preencher esta lacuna, mas não com a facilidade que ele tinha.

– Eu sei, doutor. Ele era amado por todos. Não entendo como isto pôde ter ocorrido assim. Como disse, até parece que essas máquinas já conheciam o elemento mais perigoso. Sem falar que falam português – disse, pensativo. – Se nos safarmos e conseguirmos retornar, talvez seja melhor manter segredo da morte dele até rechaçarmos o invasor. Falarei com meu pai para irmos direto a Vega contatar o avô. Ele saberá o que fazer.

– Eles devem estar a estudar a Terra há algum tempo. Fomos apanhados de surpresa, Capitão.

– Não totalmente, doutor, quanto tempo acha que os meus homens precisam para se recuperar?

– Não vai demorar muito. A inconsciência dura cerca de trinta minutos e a recuperação mais uns dez. Eles estão aqui há quase meia hora.

– Ótimo, preciso deles.

– O que pretende fazer?

– Lutar, doutor, não vamos entregar esta nave sem luta. O maior legado que o Almirante nos deixou foi que somos uma equipe, então vamos agir como tal. É verdade que ele faz diferença, mas somos humanos e jamais desistimos, sem falar que a esperança é a última coisa que morre. Até ver o corpo do Almirante com meus próprios olhos, vou partir do princípio que ele pode estar vivo, então, vou lá buscá-lo antes que tenham tempo de receber reforços. O senhor deixe pronto um setor para o trazermos para aqui caso esteja vivo. Um Dragão Branco não é fácil de matar, doutor.

Com um gemido, um dos homens levantou-se da cama, tremendo bastante como se estivesse curtindo uma bela ressaca.

– Que diabo. Até parece que fui atropelado por uma nave espacial das grandes! Oi, Capitão, desculpe, mas não me sinto muito bem para ficar de pé.

– Acalme-se, homem – disse o médico, que lhe injetou um analgésico e um estimulante. – O senhor recebeu uma tremenda descarga elétrica, então não tente bancar o herói até melhorar.

– Capitão – continuou o homem, esforçando-se para sentar com alguma dificuldade. – Os robôs saíram da nave com o corpo do Almirante. Nós ficamos furiosos e atacamos, mas fomos dominados. O Almirante está morto porque o peito dele era uma só mancha de sangue. Peço permissão para me levantar e voltar ao ataque, senhor.

– Nós voltaremos, François, mas de forma coerente – afirmou o Zulu. Ele ainda nutria dúvidas quanto à morte do Almirante, porque também era um Dragão Branco e sabia os recursos a que o chefe podia recorrer. Mesmo assim, precisava de ser levado o mais rápido possível para um hospital. – Tem a certeza que ele estava morto?

– Se o senhor visse, Capitão, não teria a menor dúvida. No lugar do peito havia um rombo enorme e puro sangue. Não sei o que será de nós, agora que ele se foi.

– Primeiro...

Com a conversa descuidaram-se da entrada da enfermaria e levaram um senhor susto ao verem a porta abrir. Para sorte deles, tratava-se do comandante e mais vinte homens.

– Capitão – disse ele – o que pretende fazer aqui?

– Vamos atacar a nave, senhor – respondeu para o pai. – Estou aguardando a recuperação dos meus homens. Vamos descer ao arsenal dos marines, pegar mochilas e espadas. Depois, vamos sair pelo hangar vinte. O comando dos robots está naquela nave. Se forem neutralizados, já teremos ganho a partida. Quero resgatar o corpo do Almirante porque acredito que possa estar vivo. Ele é um Branco, como eu.

– Vejo que o senhor pensou rápido de bem. Só que sairemos no hangar vinte e dois, porque preparei-o para não soar o alarme.

– Como chegaram aqui, senhor?

– Provavelmente pelo mesmo método que tu, filho, pelos dutos de ar.

Vinte minutos depois, os homens do Zulu já estavam em condições de batalhar.

– Como os marines fazem falta hoje – comentou Zulu. – Apesar dos nossos homens terem um treino razoável, eles é que são preparados para isto.

– É verdade, filho. Só espero recuperar o corpo do Daniel, nem que seja para o levar para a família.

– Todos queremos vingança, pai. Mas temos de manter a cabeça fria. – Ele falava como o Dragão Branco que era e o pai reconheceu que tinha razão.

Trinta e dois homens esgueiraram-se pela tubulação de renovação de ar do hospital, alguns praguejando baixo pelo aperto que passavam até que o capitão Zulu os mandou ficarem em silêncio sob pena de serem descobertos. Com alguma dificuldade, saíram em uma sala de manutenção do equipamento de climatização e abriram uma porta que dava em um corredor de serviço. Ele estava sempre vazio porque era usado para fazer manutenção nos maquinários da nave, mas, mesmo assim, tomaram todas as precauções, esgueirando-se em pequenos grupos. Um elevador antigravitacional levou-os aos níveis mais baixos, para o convés desejado, onde voltaram a pegar uma tubulação de ar e deslocaram-se mais cinquenta metros até ao arsenal, que também estava vazio. Como o Zulu supunha não havia elementos suficientes para guarnecer a nave e o fato dos robôs não terem ficado na ponte ajudava-os, já que não conseguiam acompanhar o que se passa na nave pelo sistema interno de vigilância. Se os papéis estivessem invertidos, o inimigo jamais conseguiria escapar. Entraram com o máximo de silêncio e cada um pegou um conjunto completo de armas: um irradiador térmico, um desintegrador, uma mochila e uma espada energética. Com os campos de força ligados, abriram a porta e espreitaram o corredor principal, por onde teriam de passar para chegarem ao hangar. Não avistando nada, foram caminhando com todo o cuidado e o mais rápido que podiam até um acesso aos corredores de manutenção.

– Lembrem-se de uma coisa – disse Zulu. – As pistolas não devem ser usadas dentro da nave. Se possível, usem apenas as espadas. Os campos de força vão-nos proteger.

– Sim, senhor – responderam os homens.

– Assim espero – complementou o comandante. – Infelizmente não sabemos a potência das armas deles, mas a que usaram contra o Daniel era apenas uma pistola de projeteis, semelhante às nossas. Mesmo assim, não custa ter uma certa cautela. Na nave inimiga, não interessa o estrago que vão fazer, mas tenham cuidado para não explodirem os reatores. Eles estão demasiado perto de nós.

Voltaram a subir pelo elevador antigravitacional e entraram no deck dos hangares. Agora, todo o cuidado era pouco porque não podiam esconder-se. Tomaram rumo ao local desejado e, quando estavam prestes a chegar, dois robôs apareceram.

– Alto ou atiramos.

– Vão na frente que eu pego estes – gritou o capitão. – Rápido que eles devem ter rádios.

Enquanto os outros corriam, desembainhou a espada e pôs-se à frente das máquinas.

– Renda-se ou seremos obrigados a feri-lo.

– Já fizeram isso com o almirante. Quero ver se podem fazer comigo, seus pedaços de lata.

As máquinas disparam as suas armas elétricas, mas o campo eletrônico colidiu com as defesas da mochila, provocando um espetáculo luminoso, porém inofensivo.

Com a espada, Zulu desferiu um golpe violento em um dos robôs e já girando o corpo para atingir o outro, mas, para sua total surpresa, os androides possuíam campos de proteção embutidos nas máquinas. A espada colidiu com o campo e foi desviada, provocando uma dor intensa no pulso do pobre capitão.

Descobrindo que a arma era inútil, ele recuou dez metros e fez uma experiência. Usando a força do Dragão Branco, desferiu um potente golpe e as máquinas foram atiradas para trás, voando cerca de vinte metros.

Zulu, satisfeito, reiniciou a sua caminhada atrás dos companheiros, quando ouviu um ruido. Olhou sobre os ombros e começou a correr para o hangar, soltando uma sonora praga, tão grande que faria uma freira desmaiar. Os outros aguardavam-no.

– Eles têm campos de força. Talvez possam ser destruídos por tiros concentrados de duas ou mais armas térmicas, mas colocaríamos o corredor da nave em ebulição.

– Nesse caso continuemos e lutemos dentro da nave deles ou la fora – disse o comandante.

Zulu provocou o travamento do sistema automático da escotilha do hangar, simulando uma fuga de atmosfera. Sabia que isso ia apenas retardá-los, mas qualquer segundo de vantagem era melhor do que nada. Dentro do local havia uma pequena naveta. Abriram a comporta exterior e graças aos campos de contenção o ar não foi expelido para o espaço em uma descompressão explosiva, impedindo Dani de perder pressão atmosférica. O mais rápido possível, os homens atiraram-se para fora da nave e posicionaram-se.

Regularam os geradores de gravidade artificial e ficaram em pé sobre o casco. Zulu fechou a escotilha exterior e eles ergueram voo, sempre rentes ao casco negro da nave gigante até que avistaram o disco.

Pararam e avaliam a situação. Usando o mínimo de potência dos rádios conversavam sobre a ação a ser tomada. Com a intensidade utilizada, os campos eletromagnéticos dos rádios só alcançariam cinco metros.

– Formem três grupos. – Nobuntu separou os homens. – Um de vocês ficará aqui e tentará abater os robots que surgirem. Concentrem vários irradiadores.

– Sim, Comandante.

― ☼ ―

Convés.

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