Capítulo 4 - parte 2 (não revisado)

Daniel reuniu a equipe toda no auditório principal, onde cabia o dobro dos presentes com muita folga.

– Amigos, vocês já receberam treinamento parcial nas MICs. Sabem como andar aqui dentro, como se dirigir aos seus postos de combate, enfim, tudo o que é necessário, mas somente em teoria. Agora, nós vamos para a prática porque, do contrário, seremos uma presa fácil. Dez minutos após eu terminar vocês vão-se reunir no convés esportivo da nave e deverão se imaginar em uma rica e calma folga. Eu e o coronel Nobuntu, daremos o alarme e vocês deverão correr para os seus postos. Os chefes de seção dar-vos-ão as tarefas de cada um. Lembrem-se que cada segundo perdido é um segundo a mais onde o inimigo se aproxima da nave e a danifica ou até mesmo destrói. Os computadores avaliarão o desempenho e passarão para vocês o vosso próprio resumo. Cabe a cada um de vocês se policiar e melhorar o seu desempenho. Esta é a nossa primeira tarefa: a orientação. Em, no máximo, quinze dias, teremos de estar aptos a combater como uma única unidade, porque esse é aproximadamente o prazo final calculado para o inimigo retornar. Alguma pergunta?

– E se o computador nos achar satisfatórios logo no início dos treinos? Teremos de continuar com eles?

– Todos participarão dos treinos, sempre. Lembrem-se: somos uma unidade, ainda por cima da elite. Se o vosso desempenho se tornou satisfatório logo no início, tentem superar o próprio recorde. Quando todos estiverem cem por cento, os testes terminam.

– Notei a falta da doutora Chang – disse um dos médicos – isso não pode prejudicar a avaliação do computador?

– Não, doutor. A doutora Chang, não é segredo nenhum que é minha esposa, conhece esta nave como a palma da mão, já que temos contato mental constante. O desempenho dela já está classificado como cem por cento e ela está envolvida com uma pesquisa sobre o genoma dos tantorianos que, no momento, assume uma certa prioridade. A propósito, na ausência dela, o senhor fará o papel do médico chefe, para dar as ordens ao corpo médico. No seu gabinete, encontrará as instruções em um computador de mão.

– Sim, Almirante. Não quis criticar nada, senhor, era apenas uma questão puramente no interesse do desempenho geral.

– Eu sei, doutor, e sei que o senhor é muito amigo dela. Tenho a certeza que não a desejaria prejudicar. Afinal conhece a minha esposa desde que era uma menininha de oito anos. Mais alguma pergunta?

Não havia nenhuma e Daniel fez um sinal para Nobuntu. Ele aproximou-se e assumiu o comando.

– Senhores, dirijam-se para o estádio de esportes. Em meia hora será dado o alarme.

Um dos decks centrais da nave era a área de lazer. Naquela monstruosidade, aquele nível tinha um raio de seiscentos e cinquenta metros e, tirando os hangares, ainda sobrava muito espaço para o setor, que tinha piscinas, campo de futebol, jardins, quadras diversas e algumas outras coisas, como um belo clube e cinemas. Era tão bem projetado que até existia um sol artificial e um mini bosque porque a altura daquele andar era pouco maior que cem metros. Quem entrava ali, esquecia-se de que estava em uma nave espacial e foi esse o objetivo do seu construtor: providenciar um ambiente o mais relaxante possível. Apesar dos treinamentos nas MICs lhes terem colocado na memória aquele lugar, todos ficaram admirados com a maravilha artificial. A meia hora passou rápido e sirenes começam a tocar.

– "Atenção à tripulação" – disse o computador, com uma voz que parecia humana. – "Alarme grau um. O invasor acabou de surgir no sistema solar. Todos a seus postos. Alarme grau um."

Com uma praga, a maior parte dos homens começou a correr para os seus postos, crente que o alarme era real porque não imaginavam que a simulação fosse a esse ponto.

Correndo pelas esteiras rolantes e espremendo-se nos elevadores antigravitacionais, dirigiram-se aos respectivos postos de operação.

Os médicos foram os mais rápidos, assim como os tripulantes dos destroyers porque estavam mais perto. O doutor que fazia o papel da Daniela, distribuía as tarefas.

– Convés XII, ala leste, corredor L, setor XXXVII. Dois médicos e seis enfermeiros devem atender um grupo de feridos. Um dos tiros inimigos passou pelo campo de força e provocou uma explosão. Vocês – apontou as pessoas selecionadas na lista –, vão já para lá. Vocês – indicou mais dez deles –, preparem as salas de cirurgia e enfermagem...

– Atenção – gritou Zulu –, vinte especialistas devem ir imediatamente para a sala de artilharia e preparar os canhões para o contra-ataque. – Enumerou os nomes...

– Todos os marines para o hangar H I, o inimigo conseguiu penetrar na nave. Rechaçar o invasor imediatamente...

– Todos os destroyers preparem-se para decolar com a tripulação completa. Naves auxiliares, preparar para sair e fazer reconhecimento. Tripulações das navetas, prontidão de decolagem para busca e salvamento.

– Equipe da sala de comando, preparar a nave para uma decolagem de emergência. Engenharia, reatores a cem por cento. Artilharia, erguer campos de força.

– Oficiais de ciência, para os seus laboratórios ou cabines. Procurem lugares confortáveis e prestem atenção às telas e aos acontecimentos.

Todos os tripulantes faziam o que era ordenado. Os médicos até encontraram manequins simulando os feridos. Botões em toda a nave foram apertados e ela teria subido com uma velocidade arrebatadora se os controles não estivessem travados.

Daniel e Nobuntu olharam para os computadores de mão e sorriram. O desempenho médio foi excelente e a nave ficou de prontidão em doze minutos.

– Simulação terminada – informou o comandante. – Senhores o vosso desempenho foi muito bom, mas precisamos de melhorar. Quero que cada um consulte o seu equipamento pessoal onde está o relatório.

– Vamos repetir isto mais algumas vezes – continuou o Nobuntu. – Mas as ordens variarão sempre. De volta para a recreação.

Na segunda tentativa, levam apenas dez minutos para pôr a super-nave em condições de combate e o desempenho geral foi avaliado em noventa por cento.

Na quarta tentativa fizeram-no em sete minutos e o computador considerou o resultado excelente.

– Senhores – aqui fala o Almirante. – Estão de parabéns. Agora a tripulação está convidada a ir para as cantinas das suas seções e comer uma gostosa refeição, porque já é hora do almoço.

Felizes e relaxados, os tripulantes juntaram-se nos vários refeitórios, que ficaram lotados, e comeram enquanto comentavam o seu treinamento. Estavam todos descontraídos e, embora cansados, sentiam-se muito bem com os seus trabalhos.

Na sala de comando, Daniel e Nobuntu observavam nas telas do circuito interno. O Almirante deu uma risada e disse, muito satisfeito:

– Eles nem imaginam o susto que terão amanhã por esta hora.

– Vai mesmo fazer isso, senhor?

– Temos de estar prontos para tudo, Coronel. No momento não somos uma pacata nave de pesquisa e sim um poderoso couraçado de guerra que deve estar sempre preparado. Na verdade, dados os fatos atuais, até mesmo uma nave de pesquisa e exploração precisa de estar preparada para o inusitado. Além do mais, um belo susto no meio de uma refeição pode vir a ser o que precisam para entenderem a seriedade da coisa que pode estourar a qualquer minuto, independente do que estejamos fazendo.

– Tem razão, Almirante.

Depois do almoço, o Daniel falou de novo pelo intercomunicador:

– Senhores, nesta segunda etapa simularemos um ataque inesperado com a tripulação despreparada de uma das piores formas. Vocês vão para as vossas cabines e devem deitar-se nas camas. O aviso será dado quando menos esperarem. Para aumentar o efeito, devo informar que vocês ingeriram um leve calmante, inofensivo, mas que os fará ficar em estado de ligeira sonolência e os efeitos dele serão levados em conta pela avaliação. Assim sendo, dirijam-se para as vossas cabines e aguardem deitados. As ordens virão individualmente pelo comunicador de pulso.

A tripulação aguardou cerca de quarenta minutos e Nobuntu disparou o alarme. Vários dos tripulantes chegaram mesmo a adormecer, mas o calmante era de fato inofensivo. Apesar dele, a nave entrou em rigorosa prontidão em apenas nove minutos.

A equipe ficou nesses treinos durante a tarde inteira, até que pelas cinco horas, muito satisfeito com o desempenho geral, Daniel deu os exercícios do dia por encerrados.

– Meus amigos – disse ele. – Vocês são maravilhosos e sei que devem estar bem cansados de correr de um convés para outro. Já sabemos que conseguem orientar-se bem na nave o que é excelente. Amanhã, deverão apresentar-se às dez horas da manhã para o nosso primeiro voo. Os marines estão dispensados deste treino, porque trata-se de voo simples. Os técnicos e cientistas não, já que deverão resolver problemas com falhas simuladas. Obrigado a todos, bom descanso e sigam em paz.

A tripulação desceu e Daniel comentou com Nobuntu, elogiando a sua escolha:

– Muito boa turma, Nobuntu. Esta tripulação é simplesmente maravilhosa. A equipe do Zulu nem se fala. Superou todos os recordes.

– Veremos amanhã, durante a simulação de ataque. Se ninguém morrer de susto, estaremos bem preparados, Almirante.

– Esperemos que ninguém morra, não é? – Daniel deu uma gostosa gargalhada e acrescentou, manhoso. – Quem sabe eu morro.

– Como, senhor?

– Nada, meu amigo, estava brincando.

O comandante sorriu.

– Tenho fé neles, Almirante.

Despediram-se e Daniel desapareceu da ponte, indo para o hospital. Viu a esposa e o pai concentrados no seu trabalho. Ela, sem virar o rosto disse:

– Oi, amor, já estou terminando. Como foi o treinamento?

– Melhor impossível, boa tarde, pai, como vão as suas pesquisas?

– Oi, filho, vão muito bem.

– É, mas eu estou vendo a tua sacanagem com os pobres diabos para amanhã. – Disse Daniela, interrompendo. – Precisas mesmo de dar um alarme no meio de uma refeição? Ainda por cima um desse tipo?

– Temos de os avaliar sob pressão, Danizinha – respondeu o marido, divertido. – Além do mais, em uma nave de combate temos de estar sempre preparados, já que o inimigo não escolhe hora para atacar e, muito menos marca uma agenda.

– Nisso tens razão, Dan – virou-se para o pai. – Pai, eu vou-me embora com Daniel. Precisas de mim?

– Não. Vão em paz, filhos.

O casal retirou-se e o cientista continuou o seu trabalho, curioso, incansável. Empenhava-se de corpo e alma em salvar aquela raça da extinção, porque sabia que o inimigo precisava de ser neutralizado ou destruído a qualquer preço. Ele, como o genro, não apreciava a violência e, mesmo tendo sido vítima destes seres, desejava muito ajudá-los a se tornarem civilizados.

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