Capítulo 3 - parte 1 (não revisado)
Daniel ficou fora cerca de uma hora porque adorava a avó e aproveitou para passar algum tempo agradável com ela, já que, da última vez ele e o avô saíram correndo para a Terra por conta da invasão.
Antes de se despedir, disse ao avô:
– Vô, quero lhe pedir um favor. Existe alguma nave antiga que possa ser usada para treinar a minha tripulação?
– Claro. Tenho algumas, querido.
– Ponha nela um canhão de calibre cinquenta e um campo de força, mas não um de supercarga.
– O que desejas fazer, Dan?
Com toda a calma, Daniel expôs para o avô as suas intenções, dando-lhe as instruções necessárias à execução do seu plano.
– Isso chega a ser diabólico, Daniel – disse o avô com uma tremenda gargalhada e arrancando uma careta do neto e a esposa.
– Que barbaridade, haja pulmões!
– Bem, para quando desejas isso? – perguntou o governador, voltando a ficar sério.
– Em alguns dias. Mandarei um sinal. Acho imprescindível para a boa formação da nossa tripulação. Talvez possa até vir a se tornar uma parte do nosso programa de treinamento avançado da frota do Império do Sol.
– De fato, Daniel, a ideia é boa – concordo o avô. – Boa demais, embora um tanto quanto perigosa, especialmente quando falamos de um couraçado como aquele. Acho que até com um cruzador já seria demasiado perigoso.
– Posso contar consigo, vô?
O governador abraçou o neto e disse:
– Se não puderes contar comigo, Daniel, não poderás contar com mais ninguém, isso eu te asseguro, meu querido.
– Obrigado por tudo, vô. Não sei se teria conseguido chegar aqui sem a sua ajuda – disse Daniel, apertando o avô.
– Claro que chegarias, meu querido. Jamais tive alguma dúvida a teu respeito.
– Adeus, vô, paz.
– Paz, Dan.
Após mais um abraço nos avós, Daniel desapareceu da casa deles, primeiro levando o avô para o espaçoporto para ele pegar o planador que deixou lá e, depois, retornando à ponte de comando da supernave.
― ☼ ―
Chamou toda a tripulação para a ponte porque alguns deles saíram para explorar a Dani. Na sala de comando, conversou com eles de forma descontraída e informal.
– Senhores, não temos muito tempo. Este brinquedo, como viram, está baseado nos mesmos princípios da Jessy, mas é muito maior e mais potente. Eu vou ensiná-los a controlar a nave de uma forma simples. Usarei um dom que tenho, que é sugestão telepática e hipnótica. Na Terra há programas prontos nas MICs para vocês saberem tudo o resto, já que, por hora, vou apenas ensinar a especialidade de cada um de vocês. Peço que derrubem as vossas barreiras mentais para facilitar o meu trabalho. Não se preocupem que não vou ler as mentes de vocês, apenas transmitir informações. Então sentem-se, relaxem, tirem as barreiras e não pensem em nada. Nobuntu, o senhor será o primeiro, já que exige mais tempo que os outros.
– Estou pronto, Almirante.
O gigante africano sentou-se e relaxou. Daniel projetou hipnoticamente todas as informações sobre a nave. Nobuntu aprendeu a andar em todos os compartimentos, descobriu como controlar a gigantesca obra que era aquele brinquedo. Vinte minutos depois, Daniel passou para o seguinte. Era um engenheiro de reatores, então ele apenas ensinou-o a se orientar na nave e sobre os super-reatores, que não diferiam muito dos da Jessy, apenas sendo bem maiores e muitíssimo mais potentes. Após dez minutos passou para o próximo.
Um por um, Daniel foi ensinando o manejo básico da nave. Ao fim de pouco mais de três horas, terminou a tarefa, bastante cansado.
– Senhores, vamos para a Terra.
– Tripulação a postos. Decolagem em cinco minutos – disse o comandante, irradiando alegria. – Check list.
– Engenharia ok, reatores prontos.
– Artilharia ok.
– Pilotagem ok.
– Navegação ok.
– Comunicações ok.
Dentro da gigantesca ponte, uma sala redonda com mais de quarenta metros de diâmetro, estavam os principais controles da Dani, exceto os armamentos que tinham uma sala própria no topo, assim como a engenharia, no centro da esfera, e o observatório astronômico que ficava um nível abaixo da ponte. No centro, em duas poltronas giratórias e num patamar ligeiramente mais alto, estavam o almirante e o comandante, este último dando as ordens.
– Comunicações, façam uma ligação com o espaçoporto de Vega XII. Eu mesmo falarei com eles – pediu o Daniel.
– Espaçoporto de Vega XII na tela, Almirante.
– Aqui fala o almirante Daniel. Em cinco minutos, um couraçado espacial pertencente à frota de combate do Império do Sol vai alçar voo dos estaleiros da Cybercomp. A nave é gigantesca e temos pouco pessoal para pilotar. Solicito que seja interrompido todo o tráfego aeroespacial desta região até sairmos da órbita de Vega XII de forma a evitarmos um acidente potencial que poderia ter consequências devastadoras. É prioridade militar.
– Solicitação recusada, senhor. Você não tem a autoridade necessária para isso.
– Estamos em guerra, meu caro controlador; eu sou o Almirante Supremo do Império do Sol e agora estou dando uma ordem direta. Acho melhor atender e logo, porque esta nave vai subir em quatro minutos e, se acontecer algum acidente, farei com que seja levado a uma corte marcial, entendeu?
– Desculpe, Almirante, todo o tráfego da cidade já está sendo desviado – respondeu o homem suando frio e engolindo em seco.
– Obrigado. – Daniel desligou. – Comandante, assuma.
– Piloto, pronto para decolar. T menos quarenta segundos.
Os potentes reatores entraram em funcionamento, causando uma pequena vibração na nave, logo compensada.
Na hora exata, a enorme esfera ergueu-se devagar, usando os seus antígravos. Qualquer aceleração mais intensa implicaria em um furação de tamanho considerável devido ao volume absurdo grande da nave. Silencioso e majestoso, o gigante do espaço foi-se erguendo por cima da cordilheira, subindo sempre como um gracioso balão de mil e trezentos metros de diâmetro. Nas telas, observavam o solo do planeta ficar cada vez menor e mais liso, consequência da altitude. Em pouco tempo, todo o continente tornou-se visível, encolhendo cada vez mais. À medida que subiam, a curvatura do planeta começou a ficar visível, primeiro como uma foice, ficando cada vez menor, até que era do tamanho de uma simples lua, mas repleta de azul, tal como na Terra. Quase nenhum dos tripulantes prestava atenção nisso, mas Daniel, sempre atento a tudo, não perdia a oportunidade de observar o espaço em volta, maravilhado por essas pequenas obras da Criação. Jamais se cansava de as apreciar, porque o que mais desejava era explorar o Universo.
― ☼ ―
Na torre de controle, um eco grande surgiu nas telas dos radares.
– Lá está a nave do almirante – disse um dos controladores de tráfego. Contrariado continuou. – Não sei para quê tanto alarde de parar todo o tráfego daqui. Ele vai nos dar um trabalho dos diabos com esta fila enorme de naves desviadas. Às vezes acho que eles esquecem que nós temos tanto movimento quanto a Terra. Que cambada de arrogantes!
– Já olhaste as especificações da nave no radar? – perguntou o seu colega e amigo.
– MINHA NOSSA! – comentou o primeiro controlador, soltando um berro involuntário. – Aquilo é imenso! Mil e trezentos metros de diâmetro!
– Acho que o almirante foi bem ajuizado em solicitar o desvio do tráfego, não concordas, meu amigo? Um monstro daqueles, dirigido com poucos tripulantes... Eles não podem guarnecer todos os postos.
– Mas quem será que fez aquilo? – perguntou, já esquecendo toda a contrariedade que tinha sentido.
– Só pode ter sido a Cybercomp a mando do governador, que é um dos donos da empresa. Afinal a nave saiu de lá, sem falar que ele fez as cinquenta naves iguais à que defendeu Terra-Nova, lembras-te?
– Tudo bem, mas será que foi o neto que projetou isso? – questionou o colega, enrugando a testa. – Um cara sozinho e ainda tão jovem! Tenho sérias dúvidas.
– Só pode, carra, afinal foi ele quem projetou a outra!
– Caramba, que genialidade! – comentou o controlador, impressionado. – Não é à toa que o fizeram almirante!
– Podes ter certeza. Eu tenho acompanhado de perto o congresso porque me interesso muito por política e esse rapaz já provocou mudanças radicais só com os conselhos que deu ao imperador.
– Eu não costumo assistir, mas vi uma entrevista que ele deu para o canal duzentos, se não me engano. Por sinal, aquele refresco que ele falou é delicioso. Só que achei que essa história de todas as sugestões que o imperador levou ao congresso serem obras dele, fosse um pouco de exagero do telejornal.
– Meu caro, eu tenho quarenta anos e nunca vi o imperador fazer algo que preste em todo este tempo. De repente, essas mudanças tão geniais e radicais! Ele jamais seria capaz daquilo porque é muito fraco e decadente...
– E o nosso governador faz pouco do imperador sempre que este vem com alguma coisa para o Parlamento – continuou o controlador, após uma pequena pausa. – No início ele afirmou ao congresso que tudo aquilo tinha um forte cheiro de Daniel Moreira e o imperador confirmou, dizendo que não importava de quem era a ideia, desde que fizesse bem para a humanidade. Depois, sempre que o imperador vinha com uma novidade, o governador Daniel dava uma gargalhada, como que um pequeno aviso.
– Céus, e que garganta ele tem! – respondeu o outro com uma careta. – Uma vez ele riu de uma bobagem que eu falei quando pediu autorização de pouso e fiquei com os ouvidos zunindo por umas doze horas, mas ainda acho que é o melhor governador dos cinquenta mundos. Basta ver que somos os mais ricos e prósperos do Império, exceto pela Terra, Ric.
– Concordo contigo, Michell. Sabes, ele seria um imperador maravilhoso. Simplesmente maravilhoso.
– Quem, o governador?
– O governador Daniel seria sim, um ótimo imperador, mas o almirante talvez viesse a ser o maior de todos.
– Sem exageros, amigão.
– Espera e verás. Muita coisa vai mudar em breve e eu prevejo isso. Depois desta guerra jamais seremos os mesmos e o imperador não tem forças para manter as rédeas do governo. Principalmente depois do assassinato. Vai cair de certeza, até porque o nosso governador e os irmãos dele fazem questão disso.
– Que assassinato!? – perguntou o colega abismado porque quase não havia crimes no Império. – Nunca ouvi falar em assassinatos!
– Mas tu és mesmo um alienado, Michell – afirmou o amigo rindo. – O imperador tinha uma sobrinha que era esposa do almirante. Resumindo tudo, por causa de uma idiotice do Saturnino os dois foram presos no palácio e acusados de traição ao Império do Sol. Quando o almirante declarou que a prisão era ilegal e virou-lhe as costas, indo com a mulher para casa, um dos guardas atirou nele. Ela meteu-se na frente e levou dois tiros no coração.
– Meu Deus! Pobre rapaz. Será que é por isso que o governador passou a fazer forte oposição ao imperador, inclusive com todos os Moreiras?
– Exato, e não só os Moreiras. Ele tem quarenta e quatro governadores em oposição. Os restantes são neutros, mas alguns já tendem para a oposição. O único apoio real que o imperador tem é o Primeiro-Ministro, que não possui força suficiente para manter o equilíbrio do poder. O Saturnino vai cair como uma pedra e merece nada menos que isso. Escreve o que te digo.
– Somente o Primeiro-Ministro é que o apoia?
– Não. Talvez não acredites, mas o almirante apoia-o.
– Mas como? Eu, no lugar do almirante, já tinha morto o imperador...
– O almirante é um garoto, mas, como nós, um portador. Só que não é um portador comum, porque não existe um único Moreira abaixo de noventa. Dizem que esse rapaz é cem. Ele raciocina como um homem adulto há muito tempo e sabe que uma revolução nesta fase tão delicada por que passamos seria o nosso fim. Pensa na união acima de tudo, até mesmo acima dos seus interesses pessoais. Como te disse, seria o maior dos imperadores.
– É, parece mesmo que ando meio alienado.
– Bem, meu caro, quando a guerra acabar eu não queria estar na pele do imperador. Embora eu ache que o rapaz o tenha perdoado, o governador Daniel não o tolera. Acho que só o almirante é que não permite que o avô dê um golpe de Estado e o destrua. Ele tem um domínio muito grande sobre o governador, sendo o único que o consegue impedir de agir contra o trono.
– Por que será que o governador não o tolera?
– Há uma história que vazou de que o almirante, o neto dele, nasceu com lembranças da sua vida anterior. Dizem que ele já falava outras línguas quando bebê.
– Mas o que isso tem a ver? – perguntou o amigo. – Sem falar que me parecem tolices.
– Ele é a reencarnação do pai do governador.
– Que exagero...
– Pode até ser. Mas ao conhecer a sobrinha do imperador, reconheceu-a como a esposa renascida e o avô dele apaixonou-se de cara pela moça, em que reconhecia a mãe. Ou seja, para o governador, o imperador é responsável pela morte da sua mãe, entendeste?
– Cara, isso é muito complicado e provavelmente pura especulação.
– Nem tudo. Eu tenho em casa algumas coisas que posso te mostrar, como fotos das duas mulheres e mais uma coisa: quando a garota morreu, a história vazou. Eu consegui uma cópia do vídeo da segurança do palácio. As revelações são assustadoras, ou eram, porque agora são a mais pura realidade. Se quiseres, mostro-te hoje de noite.
– Mas claro que quero.
– Combinado. Tu levas a cerveja.
― ☼ ―
Maquinas Indutoras do Conhecimento.
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