Capítulo 2 - parte 4 (não revisado)
Daniel apareceu na ponte da sua nave onde se deparou com o rosto do avô na tela principal. Ali, já conheciam o seu dom, motivo por que não deixava de o usar quando necessário.
– Olá, vô. Tudo bem? – perguntou o rapaz, sorrindo para o avô que tanto adorava. – Espero que não tenha algum problema?
– Tudo tranquilo, Dan, e tu?
– Aqui também está tudo bastante tranquilo, tanto que até me preocupo. Receberam as máquinas de indução do conhecimento que vos mandei?
– Sim, são fantásticas, querido. Parabéns, pois isso vai acelerar de forma drástica o treinamento dos nossos homens.
– Não fui eu quem a criou, vô e sim uma das nossas cientistas da divisão de psicologia. Aqui, esse brinquedinho acelerou bastante o treinamento dos cadetes.
– Com certeza. Bem, Dan, eu liguei porque a bichinha tá pronta. Só faltam alguns acabamentos que podem ser feitos aí na Terra. Tu queres vir buscá-la?
– Claro que quero, vô – Daniel deu uma risada –, mas que pergunta mais tola. Estou louco para vê-la ao vivo. Afinal, conhecê-la na tela de um computador é uma coisa, entrar dentro é outra bem diferente.
– Vens quando?
– Estarei aí em uma ou duas horas. Levarei cinquenta especialistas.
– Não é pouco, Dan?
– Não, essa nave pode ser controlada por um só homem, mas é bem melhor levar uma tripulação, já que se trata de um voo inaugural.
– Ok, aguardo no espaçoporto da cidade, até mais.
Desligaram a comunicação e Daniel mandou chamar o coronel Nobuntu.
– Boa tarde, Almirante – disse o negro com um sorriso e uma continência leve.
– Coronel, eu pretendo entregar o comando desta nave para o João.
– O senhor não está satisfeito comigo, Almirante? – perguntou o homem com o sorriso esvanecendo-se, triste por perder o comando daquela nave maravilhosa. Ele sentia-se como se tivesse levado um balde de água gelada no meio do inverno.
– Estou mais do que satisfeito, meu amigo, considero-o o melhor comandante que já vi e, justamente por isso, tenho outra tarefa para si. Selecione os cinquenta melhores especialistas que tiver e inclua o seu filho neles. Mande-os para a Jessy A I.
– Sim, senhor – confirmou ainda triste. – Posso saber onde vamos?
– Vega XII.
– Capitão João à sala de comando da Jessy, urgente – disse Daniel no comunicador. Este apareceu ao fim de dez minutos, sorrindo e descontraído.
– Fala, maninho – disse o João que não estava nem um pouco preocupado com o protocolo –, algum problema?
– João, a partir de hoje tu vais comandar a Jessy – o primo arregalou os olhos –, então começa a habituar-te a ela. Amanhã irás selecionar e escalar a tua tripulação, mas, por hoje, controlas a tripulação atual.
– Eu?! Mas o que diabo aconteceu? Estás descontente com o Nobuntu?
– Não, de modo algum, mas ele terá outro comando. Cuida da minha nave, irmãozinho.
– Cuidarei como se fosse a minha Dani – disse o primo, muito satisfeito de ter o comando de uma nave, ainda mais aquela, que ele ajudou a construir.
Daniel sorriu e saiu da ponte, procurando a sua Daniela.
– Amor, vou a Vega XII daqui a pouco. Volto ainda hoje, então não te preocupes, ok?
– Está bem, toma cuidado. – Beijaram-se e ele saltou direto para a ponte da Jessy A I. Lá, o Nobuntu ia chamando os especialistas pelo comunicador.
Um grupo de homens e mulheres caminhava pelo hangar da Jessy. Dentro deste enorme compartimento, uma esfera de cinquenta metros, apoiada em quatro colunas telescópicas, aguardava a sua tripulação, que entrava nela de forma ordenada.
Após dez minutos, faltavam apenas dois e, quando chegaram, Daniel disse.
– Comandante, fechar escotilhas e tomar rumo para Vega XII. Solicite prioridade militar na decolagem que desejo chegar lá em meia hora. – Muitos dos especialistas estavam excitados porque era a primeira vez que saíam para o espaço fora dos simuladores, mas eram os melhores alunos da academia.
– Tripulação a seus postos. Preparar a nave para decolar. Reatores.
– Reatores prontos e ligados.
– Navegação...
Após o check list, a pequena esfera de cinquenta metros ergueu-se no ar, devagar, saindo do hangar um da Jessy.
– Atenção, espaçoporto de Porto Alegre – disse o oficial de comunicações da pequena nave – Jessy A I, saindo do espaçoporto da Cybercomp com destino a Vega XII, solicitamos prioridade militar.
– Jessy A I, pode subir em sessenta segundos. Estamos desvianto o tráfego para liberar o espaço.
– Piloto, para cima em sessenta segundos. Aos mil metros, dê potência máxima nos antígravos. Navegação, prepare as coordenadas de Vega XII e ponha no console. Desceremos no espaçoporto da capital para apanhar o governador Daniel.
– Entendido, comandante.
A nave subiu de forma alucinada. Ao atingir o espaço, o piloto começou a informar a velocidade em décimos de c.
– Ponto cinco, ponto seis, ponto sete, ponto oito, ponto nove, mergulhar.
Na cadeira do comandante, Nobuntu liberou o controle de mergulho e a pequena nave o piloto executou a própria ordem, fazendo a nave desaparecer repentinamente do nosso continuum espaço-tempo, para mergulhar no espaço intermediário de seis dimensões. Na esfera, os jovens cadetes recém-formados observavam as janelas, cujo tom ficava de um cinza leitoso. Como não corriam riscos, as enormes janelas estavam descobertas, deixando ver o espaço mudado pela enorme velocidade por que a nave passa. Praticamente todas as estrelas desapareceram, ficando muito poucas visíveis. Uma delas, azulada e maior que as demais, permanecia no centro e tratava-se do destino desejado. A viagem para Vega XII foi curta, pois eram apenas trinta anos-luz.
– Atenção – disse o piloto ao fim de dezoito minutos. – Vamos emergir em trinta segundos.
Foi contando de cinco em cinco até aos últimos dez segundos, quando começou a contar de um em um. Ao retornar ao universo normal, estavam a apenas cinco minutos-luz do planeta XII.
– Bom trabalho, rapazes – disse Nobuntu. – O cálculo foi bastante preciso. Preparem-se para descer no porto da capital.
Quando pousaram no espaçoporto, o avô do Daniel aguardava-os. Ele entrou na nave e deu as instruções para o piloto.
– O estaleiro é a duzentos quilômetros ao norte.
– Estaleiro? – perguntou o comandante.
– Eles não sabem, Dan?
– Não, vô, ninguém sabe de nada.
– Quero ver a cara deles – disse o avô, irrompendo em uma gargalhada estrondosa e fazendo alguns deles taparem os ouvidos com uma careta de desagrado. Ao se aproximarem de uma cordilheira enorme, Daniel avô continuou. – Piloto, suba por cima da cordilheira que é do outro lado. Logo, logo terão uma rica surpresa.
Quando transpuseram o cume das montanhas, apareceu o estaleiro secreto, imponente, pois abrangia um vale gigantesco todo cercado de altos picos. O comandante olhou com atenção para o objeto que estava mais ao fundo e arregalou os olhos, não acreditando no que via, uma esfera de dimensões colossais e que eclipsava tudo o resto.
– MEU DEUS! – exclamou, abismado. – O que diabo é aquilo? Que monstro!
– Esse, Nobuntu, é o seu novo comando – respondeu Daniel, em tom amável.
– Minha nossa, Almirante, que nave é essa, de onde surgiu?
– Mandei fazê-la em segredo. Este é o primeiro couraçado do Império do Sol, Nobuntu. Tem mil e trezentos metros de diâmetro. Dentro, há onze naves de cem metros de diâmetro. Cada uma delas tem dez super-reatores de antimatéria, quarenta canhões bipolares muito mais potentes, e quatro canhões de impulso. Estas naves são chamadas de destroyers e o poder de fogo de cada uma delas bate a Jessy várias vezes. O couraçado também têm vinte naves auxiliares como esta, todas pesadamente armadas. A Dani, que é como o batizei, possui trinta canhões bipolares, mas cada um tem um raio de cinco metros de diâmetro, como os destroyers, sem falar em dez canhões de impulso. Por fim, carrega trinta navetas planetárias. Esta nave é o que temos de mais moderno e potente, Nobuntu, e ela pode dominar um planeta. Projetei-a enquanto estávamos em Terra-Nova. Gostaste?
– Almirante, esta é a coisa mais bela que já vi.
– Então não estás chateado de teres sido tirado do comando da Jessy?
Como resposta, o grande negro riu, mostrando os dentes muito alvos. Notava-se a alegria nos seus olhos castanho escuros, que parecia uma criança com um brinquedo novo. Os outros tripulantes que estavam na nave auxiliar observavam o monstro do espaço, boquiabertos e calados, num misto de veneração e respeito. Nenhum deles sequer imaginou que alguém fosse criar aquela monstruosidade.
– Claro que não, Almirante – finalmente respondeu.
– Há um hangar livre para naves de até cem metros. – Apontou o avô. – Entrem ali.
Quando a pequena Jessy A I pousou, Daniel convocou a tripulação para a sala de comando.
– Senhores, bem-vindos à Dani. Esta é a nossa nova nave e quero que se inteirem dela. Vou levar o meu avô para casa e visitar a minha avó. Daqui a uma ou duas horas, retorno e darei um treinamento relâmpago a todos vocês. Voltaremos para a Terra em breve. Sintam-se à vontade para explorar a nave.
– Certo, Almirante.
Daniel pegou na mão do avô e desapareceram no ar. Enquanto isso, os especialistas observavam a sua nova nave. A ponte de comando era idêntica à da Jessy, mas possuía quase o dobro do tamanho. Nobuntu sentou-se na cadeira do comandante e acionou algumas telas, todas holográficas e tridimensionais como a antecessora. A vista que ele tinha dali, a mil e trezentos metros de altura era impressionante porque a cordilheira era enorme e ele alcançava longe sendo tudo um gigantesco complexo industrial e científico, feito aos moldes da Cybercomp onde a natureza deslumbrante de Vega XII misturava-se com as construções. A paisagem daquele mundo era de uma beleza selvagem porque tratava-se de um mundo essencialmente vazio e virgem, deixado assim de propósito por escolha do governador que era apoiado incondicionalmente pela população há séculos. Sentado na poltrona, admirava aquela maravilha da tecnologia. Até há pouco tempo, não acreditava que fosse possível haver algo superior à Jessy e estava muito aborrecido por ter perdido o comando da sua nave. Mas agora sentia-se muito alegre, observando os controles da nave gigante e concluindo que seria fácil de se adaptar a ela, porque eram similares, quase idênticos aos da Jessy. Imaginou qual seria o poder energético que uma nave destas possuía e concluiu, após um breve cálculo comparando com a nave irmã, que poderia tirar um planeta da sua órbita, se fosse necessário.
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