Capítulo 2 - parte 1(não revisado)

Na Terra, o treinamento dos cadetes ia de vento em popa graças à nova máquina de ensino hipnótico, o indutor do conhecimento. Aqueles novos soldados entravam nos simuladores e faziam verdadeiras manobras nas naves virtuais, cada qual na sua função. Um computador muito especial avaliava o desempenho individual e coletivo. Dos novos cadetes, quem mais se destacava era o jovem Pedro Costa, que Daniel viu como um promissor e maravilhoso comandante de cruzador. Não deveria ser um Nobuntu, que era fora de série, mas certamente seria um dos melhores do Império.

O treinamento dos soldados do IS era um problema grave por falta de instrutores e de soldados já treinados para passarem suas experiências. Um mundo que nem conhecia mais armas, não estaria apto a se tornar uma potência militar da noite para o dia, mas era isso que a necessidade determinava e o Homem corria atrás do tempo perdido. Com o auxílio dessa nova invenção, a MIC, estes novos guerreiros saíam bem preparados para defenderem o Império, covardemente atacado à traição. Além disso, os fieis Dragões, monges Shaolin versados nas artes marciais, ajudavam a treinar as tropas em defesa pessoal.

Daniel também aproveitou para ensinar a esposa a controlar a sua força interior. mas, até ao momento, somente ele era capaz de aguentar uma carga plena dela, em especial depois que a sua mulher recebesse uma e absorvesse toda a sua energia, canalizando-a para dentro de si. Ele também já aprendeu como se fazia e descobriu que o seu poder interior podia ser multiplicado muitas vezes com esse recurso. Se, durante o combate terrestre em Terra-Nova, todos os Brancos tivessem jogado a sua carga no Daniel e ele houvesse absorvido a energia, o primeiro ataque ao adversário teria sido o último, eliminando os noventa mil soldados inimigos de uma só vez.

Era uma época um tanto tranquila, no meio daquele mar revolto de mudanças que o império vivia e o par passou um fim de semana delicioso na residência de praia, no Pará, lugar pelo qual ela se apaixonou de cara.

A casa, imponente e quase um palacete, era feita de pedra e mármore, com dois andares, sendo bela demais. Era construída sobre uma escarpa com cerca de setenta metros de altura, de frente para o mar, muito bonito. No andar de cima ficavam os quartos e, no de baixo, as salas, cozinha e escritório. Apesar da família usufruir da casa, ela pertencia ao Daniel por herança direta do bisavô, que lhe passou além da fortuna pessoal, a casa de Ipanema e a do Pará.

Ambos ocuparam o quarto principal que sempre foi o do Daniel desde pequenininho, já que as suas lembranças anteriores exigiam que ele usasse aquele recinto. De dia, preguiçavam à frente da bela piscina que ficava no jardim dos fundos, aquele que estava entre a casa e a falésia que despencava sobre o mar revolto. Era uma área relativamente grande, com um gramado muito bem ajeitado e alguns canteiros de flores. Para um dos lados, uma floresta de mata nativa descia até ao mar. A parte nobre da casa era feita virada para os fundos, onde, na frente, havia uma entrada social com um corredor para a sala principal, assim como as entradas de serviço. Notava-se muito bem que o arquiteto que desenhou aquele palacete há mais de mil anos, soube dar a devida importância para o interior. Daniela observava tudo aquilo com bastante atenção, maravilhada.

– Este é um lugar de sonho, Dan. Quando compartilhamos as nossas lembranças, soube que, na nossa vida anterior, vim aqui contigo duas vezes. Mas entre lembrar e viver isto outra vez é muito diferente.

– "É verdade" – anuiu o marido, distraído e passando para o plano mental. – "Uma vez eu fiquei passando protetor solar em ti e te provocando, enquanto conversávamos por telepatia. Depois, descobri que a tua mãe nos observava da varanda do quarto dela, fascinada por falarmos sem palavras, até que o teu pai confirmou para ela que podíamos nos comunicar assim."

– "E como sabes disso!?"

– "Na época li as mentes deles para saber se não estavam chateados pela nossa vida amorosa. Mas não, até que a tua mãe estava bem feliz por nos termos reencontrado após oito anos. Pena que foi tão curto."

– "Eu sei, mas a Jéssica apareceu e preencheu a lacuna."

– "É verdade, anjo, nós morremos aqui. Na verdade, não morremos, desligamos."

– "Como podíamos nos comunicar telepaticamente se eu não era portadora, Dan. Apenas tu a Jéssica e a Bianca?"

– "Não sei direito, princesinha. Os teus pais eram portadores, um recessivo e outro ativo de baixo grau. Logo, tu eras ativa, talvez no limite da fatalidade da primeira geração, como a Suzana, que o ultrapassava um pouco sem, no entanto, ter morrido. Por outro lado, Dani, nós tínhamos uma empatia gigante."

– "É impressionante as lembranças que tens, Dan!"

– "Algumas aparecem na hora em que conversamos. Vem, quero te mostrar o grande segredo desta casa, o motivo de temos conseguido salvar Terra-Nova com relativa facilidade."

Após fazê-la colocar uma roupa e sapatos, levou a esposa até ao escritório, onde abriu um alçapão que se escondia em baixo do tapete.

– "Vem, princesa."

– "Que é isso?"

– "Há um conjunto enorme de grutas aqui, muito maior que as de Terra-Nova. Vem que desejo mostrar-te algo muito importante."

Ambos caminharam por um corredor de rocha, estreito e escorregadio.

– "Amor" – questionou ela. – "Por que não nos transportas direto para lá, em vez de caminharmos este percurso tortuoso e escorregadio?"

– "Simples, Dani, porque quero que conheças o caminho físico. Se algo me acontecer, deverás assumir..."

– "Nem penses nisso, Dan. A promessa do nosso casamento inclui no melhor e no pior, etcetera e tal... até que a morte nos separe, lembras?"

– "Eu sei, amor, mas o bem maior prevalece sobre o indivíduo. Jamais te esqueças disto."

– "Tudo bem, Daniel" – agoniada ela apertou-se a ele, sabendo que tinha razão. – "Eu te amo tanto..."

– "Eu também, princesinha, por isso é que te mostro isto. Eu não acredito que me vá acontecer algo, mas o imperador é fraco e, se não formos nós a tomarmos as rédeas da defesa da humanidade, a raça humana pode dar adeus à vida. No mínimo à liberdade. Afinal, bem sabes do que os tantorianos são capazes."

– "É tão grave assim, Dan?"

– "É sim, princesa, ou esqueceste Terra-Nova?"

– "Jamais esquecerei, amor, temos uma memória similar e nunca me esqueço de algo, mesmo que seja um vislumbre."

– "Então, vem. A propósito, o irmão do Carlos, está bem caidinho por ti, sabias?"

– "Muitos estão, e daí. Também há muitas garotas caídas por ti ou és cego?" – perguntou, rindo. – "Muitas mais por ti do que eles por mim."

– "Eu não estou com ciúmes, lindinha, apenas constatava. Mas devo ser cego mesmo porque nunca noto uma garota caída por mim. Coitadas, devem ficar frustradas."

– "E eu, não notas?" – Perguntou, insinuando-se.

– "Tu és diferente, és a minha Danizinha do coração!"

Ambos riram e continuam o caminho, sempre muito juntos. Ele empunhava uma pequena, mas potente, lanterna que iluminava o caminho, descendo sem parar e a garota entendeu porque o marido disse que teriam de pôr roupas e sapatos. Após andar quase meia hora por verdadeiros labirintos naquelas cavernas, ela deparou-se com uma porta de aço. Daniel tocou nela com as mãos e ela abriu-se como que por encanto.

Uma luz profusa apareceu, deixando-a meio cega após tamanha escuridão. Abismada, olhou uma central similar a uma ponte de comando de uma pequena espaçonave. No meio disso, um robô apareceu. Ele virou-se, e viu o seu mestre e senhor.

– Oi, chefe, algum problema?

– Não, Joaquim, desde que a produção se mantenha ao máximo da velocidade e capacidade. Esta é a minha esposa, Daniela Chang. Deves-lhe tanta obediência quanto a mim.

– Então não foi obra do acaso aquela senha que o senhor me colocou quando era mais velho, chefe?

– Não, Joaquim, não foi. Tudo estava previsto, menos a pane no teu reator. Dá oi para a Daniela.

– Oi, Daniela, sou o Joaquim. Sabes, dizem que sou o androide mais velho do Império, já que tenho cerca de setecentos e cinquenta anos. Na verdade, está na hora de pedir aposentadoria. Afinal quanto tempo um robô tem de trabalhar com esse carrasco do seu marido até se aposentar?

Caindo na gargalhada, Daniela disse:

– Não sei, Joaquim, mas tu até que és bem legal.

– E a senhora é muito bela, Daniela. – respondeu a máquina, sorrindo como um ser humano, embora não fosse a imitação de um homem. – Realmente bela demais. Sorte do chefe que sou um robô, senão...

– Senão eu transformava-te em sucata, Joaquim – disse Daniel, fingindo-se de sério. – Primeiro passas uma cantada na minha bisavó, agora na minha mulher!

– Ora, chefe, naquela época já tinha dito que sou desprovido de órgãos sexuais. Elas não correm perigo.

– E o Fonseca queria desmontar-te por tal impertinência – disse Daniel, rindo muito. – Até parece que desejas que eu faça isso.

A máquina parou de falar e ficou quieta por um tempo. Daniela observava com atenção aquela obra de engenharia espetacular e acreditava que, se o robô tivesse feições mais aprimoradas, estaria prestes a chorar. Impressionada, prestava atenção naquela criação maravilhosa, sem par em todo o Império.

– Chefe, onde ele está? Sinto muita falta dele! Já me disse que agora habita outro corpo, mas eu queria vê-lo – disse a máquina, cuja voz era idêntica à humana. Repetiu. – Sinto muita falta dele.

– Vê-lo-ás, Joaquim, prometo-te. E tu bem sabes que jamais minto ou falto com a minha palavra.

– Obrigado, chefe.

– Joaquim, como vai a produção?

– De vento em popa – disse a máquina, usando uma gíria antiquíssima como se fosse a coisa mais natural. – Os canhões estão sendo montados sem parar.

– Mas deverás parar, Joaquim. – Daniel estendeu-lhe um pequeno cristal. – Modifica a programação da fábrica para estes modelos. Há mais duas fábricas produzindo estas armas, mas a tua é a mais eficiente. Então, apressa isso.

Com toda a delicadeza, a mão metálica capaz de torcer o aço pegou na delicada peça de quartzo e introduziu em um aparelho adequado.

– Sim, chefe. Os planos já foram transmitidos para as instalações robotizadas. Assim que a última leva for terminada, o novo lote será feito de acordo com os planos deste cristal.

– Ótimo, abre a porta das instalações que as quero mostrar à Daniela.

– Sim, chefe, mas tomem muito cuidado que aqui não há dispositivos de proteção para os seres humanos, já que é tudo robotizado.

– Eu seu, meu amigo, afinal, bem sabes que fui eu quem inventou isto.

– Obrigado por me chamar de amigo, chefe. Espero que se lembre disso quando for para eu tirar férias.

– Dar-te-ei férias quando a guerra acabar, combinado?

– Combinado, chefe.

– Mas há um senão. Terás de treinar um robô substituto.

– Farei isso com prazer, chefe. Não levará mais de dez segundos.

Com uma risada, o par saiu. À esquerda daquela sala circular abriu-se uma escotilha em forma de íris e apareceu um corredor, bem iluminado. O casal entrou e a garota olhava para aquelas instalações, fascinada. Era tudo muito limpo e silencioso. Ao chegarem ao fim do corredor, apareceu um pavilhão bastante grande onde havia várias esteiras de montagem.

Nestas, ela observa diversos robôs de forma humana, mas não androides, trabalhando e montando as variadas partes de canhões bipolares.

Daniel notou que já começaram a fazer os novos modelos, até então feitos exclusivamente em Vega XII. Mais ao fundo, uma esteira menor fabricava mochilas energéticas, também modificadas pelo rapaz. Estas tinham um reator consideravelmente mais potente e com o campo de refração adicionado. Assim, os soldados podem ficar invisíveis, sem falar que o campo de força embutido ficou bem mais eficiente, o que dava maior proteção contra armas inimigas.

Além disso, as novas mochilas eram muito mais estreitas, escondendo-se facilmente sob as roupas.

– Se não fosse esta fábrica, lindinha, teria sido muito mais difícil libertar Terra-Nova.

– É incrível, Dan. Como pode ter ficado em segredo por tantos anos?

– A única coisa triste foi o reator nuclear ter pifado. Ela ficou parada por cento e oitenta anos. Foi construída como um grande segredo, porque a humanidade ainda aprendia a se unir como uma só nação. O fato dela existir seria uma ameaça à frágil estabilidade política da época. Além disso, bem sabes como eu abomino as armas – afirmou, referindo-se à sua vida anterior e, também, à atual.

– Pelo menos, encontraste-a e agora ela supre as nossas defesas. Fiquei fascinada com aquele robô, o Joaquim. Até parece que tem sentimentos, Dan! Se fosse como os modelos da nossa casa, passaria por um ser humano verdadeiro.

– Não parece, amor, ele tem. Acho que os seus algoritmos de inteligência artificial e os séculos de existência, conferiram-lhe algo mais do que uma simples máquina inteligente, embora ainda não possua o pensamento criativo porque não consegui desenvolver isso em um computador e olha que tentei durante centenas de anos. Em breve vou fazer uma reforma muito especial nele.

– O que pretendes fazer?

– O cérebro dele é um supercomputador externo ao corpo, pois a tecnologia da época não era capaz de fazer menor. Os hiperpicoprocessadores de doze centímetros de lado excedem este modelo em velocidade e capacidade de armazenamento por um fator de cem, no mínimo. Pretendo transferir todo o conhecimento dele para um desses novos modelos e dar-lhe um corpo idêntico ao humano. Ele sente, amor, é praticamente humano e vou-lhe dar este presente. Talvez eu consiga nele algo que venho pesquisando há tanto tempo: a verdadeira vida artificial.

– Isso vai ser bacana, mas, parece uma tarefa muitíssimo difícil.

– Se vai. Estou louco para ver a reação dele.

– Vamos tomar um banho de mar? – perguntou a garota, mudando de assunto com uma velocidade extrema.

– Claro, amor, com este calor será ótimo.

Os dois teleportaram-se para o quarto e trocaram a roupa, colocando sunga e biquini. Como não havia ninguém ali que os pudesse ver, ambos atiraram-se do penhasco de mais de setenta metros de altura e voaram em direção à praia, cheios de alegria com a sensação de queda livre.

– "É uma delícia usar os nossos dons telecinéticos para voar, Dan, dá uma sensação de liberdade indescritível."

– "Eu sei, princesinha, foi uma das primeiras coisas que aprendi a fazer e é mesmo muito gostoso. Sempre que ficava sozinho, eu voava por aí. Quando criança, muitas vezes teleportava para algum lugar deserto e brincava com os meus dons. Tratava-se de uma forma de treinar e me divertir. O pior era quando me esquecia do tempo e voltava muito tarde. O meu pai bronqueava bastante porque nunca contei sobre isto para ninguém a não ser à Jessy. Bem, agora já muita gente sabe, mas ainda prefiro não divulgar. Que descubram aos poucos."

Ambos curtiram muito o banho de mar, brincando como crianças, embora muitas das suas brincadeiras não fossem nada infantis.

Quando anoiteceu, preparam-se para retornar para Porto Alegre, relaxados e satisfeitos com o descanso. Não usaram qualquer espécie de veículo, apenas apelam para os seus dons miraculosos e teleportam-se para a sua casa, desaparecendo do Pará e surgindo no quarto, em Porto Alegre.

– "Gostaste da casa, Dani?"

– "Adorei, amor. Vamos jantar no restaurante chinês? Ele é tão gostoso!"

– "Vamos sim. Na verdade, é o meu preferido."

Como sempre, foram recebidos com toda a cortesia pelo dono, que nunca deixava de ter uma mesa para aquele rapaz de quem sempre gostou. Agora, entretanto, sabia que ele era um dos salvadores do planeta onde nasceu e, também, onde vivem os pais dele. Falando em cantonês, disse para o casal, fazendo uma reverência à moda chinesa, mas mais profunda que o usual.

– Boa noite, senhor e senhora Moreira, fico muito feliz de ter a vossa presença na minha humilde casa.

– Obrigado, meu irmão. – Daniel retribuiu a formalidade curvando-se para o proprietário. – Qual é a sugestão do dia?

– Hoje o senhor pode saborear um excelente frango xadrez, uma receita secreta da minha trisavó, recentemente reencontrada após mais de trezentos anos perdida. É um pouco diferente do tradicional, mas garanto que é muito bom.

– Acredito – disse Daniel com toda a honestidade –, que será mais um prato excelente, como todos os que desfruto na sua casa maravilhosa, meu amigo. Vamos experimentar.

O dono chamou um dos filhos para levar o casal à sua mesa.

Felizes e alegres, aguardam os pratos, quando João apareceu, junto com a noiva.

– Oi, bebê. Tu por aqui? – disse, sorrindo. – Pensei que estavas no Pará.

– E estava. Voltamos agora há pouco. – Daniel lembrou-se de uma coisa e disse. – Sentem-se conosco. Daniela, ficas com a Dani um momento? Vou roubar-te o João por alguns minutos. Importas-te de me acompanhar, irmãozinho?

– Claro que não me importo, bebê. Onde vamos?

– Ao Pará, quero te mostrar algo – disse Daniel.

– E como pretendes ir para o Pará por apenas alguns minutos?

Quando estavam na rua, em um lugar escuro, ele tocou no primo e ambos desapareceram dali para aparecerem na central de comando.

– Assim, maninho.

– Caramba, esqueci-me desse teu dom. É muito tri.

João, que nunca tinha ido para a fábrica secreta, ficou impressionado, de olhos arregalados, observando cada detalhe daquele local.

– Mas onde diabo estamos, Daniel? – Ele notou um robô velho virando-se para ambos.

– Oi, chefe – disse a máquina – voltou de novo? Algum problema?

– Estamos na minha fábrica secreta de armas, João. Joaquim, este é João, que já foi o Fonseca. Eu prometi que o verias, não prometi?

João olhou abismado para o robô que, lentamente, aproximou-se dele e abraçou-o. O jovem poderia jurar que a máquina choraria, se pudesse. Boquiaberto, acompanhou o diálogo do robô.

– Depois de tantos séculos, volto a encontrar meu carrasco. Hoje é um dia muito feliz para mim, João. Juro que sentia muito a tua falta...

– Alguém pode explicar-me o que está acontecendo?

– Ora João, eu e tu, na nossa vida anterior, criamos o Joaquim, a primeira forma de vida artificial e a mais perfeita de todas. Eras tu que sempre interagias mais com ele e ficou com saudades de ti e pedi...

– Mas parece um robô comum e dos velhos!

– Só que não é, maninho. Joaquim, João deverá ter o mesmo poder de comando que eu e a minha esposa, como era com o Manoel. Agora precisamos de voltar, mas ver-nos-emos em breve, ok?

– Sim, chefe, até breve, meu carrasco, tenho saudades tuas.

– Por que diabos ele me chamou de carrasco? – perguntou João, curioso, depois que retornam ao restaurante e já apreciavam os seus pratos.

– Porque ele interagia muito com Manuel, ou seja, o teu eu anterior, e aprendeu quase tudo contigo, embora ambos o tenhamos feito. Tu eras um danado de esperto que gostavas de te divertir às minhas custas te fazendo de vítima e a mim de carrasco. Ele aprendeu, João, e muito bem. Não fazes a menor ideia do que aquele robô é capaz. Nem mesmo os modelos novos que criamos para as espaçonaves chegam aos pés dele. Estou certo que, em breve, conseguirei algo próximo do pensamento criativo.

– Mas que robô fabuloso, Daniel.

– É, e foi criado em 2095. Só que o seu cérebro não está no corpo. É um supercomputador de quase oitocentos anos, cuja memória acumulou muita experiência. Na época, ainda não éramos capazes de criar os supercomputadores que temos hoje. Mesmo assim, ele é fenomenal. Acho que o vou modificar para se tornar independente do controle externo porque ele é maravilhoso. Basta transferir a sua programação e memória para um hiperpicoprocessador, cuja capacidade supera em muito o atual, mais de cem mil vezes, sem falar que o tamanho dele é de doze centímetros de aresta e cabe dentro da cabeça do Joaquim. Acho que será o meu próximo projeto.

– Ele poderia ser útil para aperfeiçoarmos a robótica – disse a noiva do João.

– E muito, amor, que máquina espetacular! Juro que pensei que ele ia chorar quando me abraçou. Aquele robô sente!

– Tenho a certeza que será uma grande surpresa, ainda mais do jeito que pretendo fazer as coisas. Vou precisar da tua ajuda, nessa hora, irmãozinho.

– Mas claro, bebê, terei o maior prazer com esse projeto, mas não adianta nada fazeres segredo.

– Não o farei, João, mas só mostrarei quando tiver o esboço. Desejo amadurecer os meus planos.

― ☼ ―

Ver Dragão Branco – O Despertar de Um Herói.


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