Capítulo 6 - parte 2 (não revisado)
Quando chegou o festival dos Dragões, o ritmo diminuiu um pouco mas não parou. O ginásio estava cheio de espectadores porque muitos cadetes vieram ver, por determinação do General Lee que achou útil como aprendizado, e Daniel levou os amigos para sentarem-se perto dos Brancos. No penúltimo dia, uma esfera de mais de setecentos metros desceu no espaçoporto particular da Cybercomp e a Jessy agora tinha uma irmã gêmea, a Karina. O Almirante foi até à nave para receber o avô que o esperava à frente da escotilha. Ele trazia mais gente consigo e foi com muita alegria que Daniel viu a sua avó Carolina e os seus outros avôs. Não a via há bastante tempo porque, quando ela estava na Terra para as reuniões do congresso, vinham-se desencontrado. Já os avôs, encontrava-os sempre nos festivais dos Dragões. Abraçado à tia-avó Carolina de um lado e à avó Daniela do outro, seguiu com os demais para a administração.
– "Dani, avisa a mãe que os meus avós vieram todos de Vega XII, na nova nave. Vem para a presidência conhecê-los" – emitiu para a mulher.
– "Ok, anjo, já estou indo" – recebeu um beijo mental de volta e, quando a turma chegou, os pais do Daniel e a esposa aguardavam-nos lá porque a chinesa usou o transporte mais rápido, carregando a sogra de carona. Beijaram-se todos, até que Daniel lhes apresentou a esposa. Os três avós restantes olharam incrédulos para a moça, o que rendeu uma bela risada do avô Daniel.
– Eu não falei nada porque queria ver a vossa cara. Valeu a pena.
– Céus, Daniel – disse a avó Carolina para o irmão – mas é praticamente a mesma cara das fotografias, só que muito mais bela. E mais alta!
– E o mesmo nome! – disse o avô Henrique. – Casaram quando?
– Eu casei-os há duas semanas, na Jessy, quando fomos libertar Terra-Nova. Bem, vamos discutir uns detalhes. Sentem-se. Daniel, a frota de Vega XII está pronta. Cada um de nós administra um planeta com recursos consideráveis, na verdade, os planetas mais ricos do império. Então, eu convoquei os irmãos para ajudarem e já contatei os primos dos outros quatro mundos mais ricos. A tua encomenda ficará pronta em dois meses e já estamos fazendo plataformas de defesa global. Eu acoplei ao projeto original um campo de refração.
– Para que serve isso? – perguntou a mãe do Daniel.
– O objeto dentro do campo fica invisível – respondeu o Daniel. Sorrindo, acrescentou. – Eu devia ter pensado nisso. Foi uma ótima ideia, vô.
– Que encomenda é essa que tu fizeste ao teu avô, filho?
– Um segredo meu, verão quando for a hora. – O jovem sorriu matreiro e bastante satisfeito.
– Daniel, a frota decola manhã para a Terra e vai-se colocar ao teu dispôr.
– Isso é bom, vô. Agora, estamos mais protegidos. O senhor trouxe o campo de refração para a Jessy?
– Sim, o doutor Herbert já deve estar com ele. Com quantos inimigos podemos contar, Daniel?
– Segundo as informações obtidas do comandante tantoriano, cerca de cem a duzentas mil unidades. O prazo calculado é de aproximadamente quatro meses.
– Mamma mia! Esses caras não deixam por menos. Acho que as cinquenta unidades darão conta.
– Também acho e espero, sinceramente. Aquela gente de Terra-Nova não merece uma reprise do que lhe aconteceu.
– É verdade – disse Daniela. – São muito cruéis.
A família bateu papo por mais uma hora até se dispersarem. Quando se despediram, Daniel perguntou:
– Vão ao festival amanhã? Este ano prevejo uma surpresa bem interessante.
– Claro que vamos. Todos os Brancos estarão presentes. Por quê, queres meter porrada em todos nós de novo? – perguntou outro tio-avô, rindo.
Daniel apenas deu um sorriso malicioso e o seu avô soltou uma das suas estrondosas gargalhadas, o que lhe rendeu logo uma cotovelada da esposa.
– Mas que diabo, Daniel, deixas-nos a todos surdos, tchê.
– Um pouco de descontração faz bem, Daniela. – Ela abanou a cabeça, sorrindo. Sabia que o seu marido jamais deixaria de ser assim e não se importava.
No dia seguinte, o mais interessante do festival, o ginásio estava cheio porque todos queriam ver os combates dos Grandes Dragões Brancos.
Para surpresa do Daniel, o imperador estava presente, mas discreto, perto do seu pai. O avô dele sentou-se ao seu lado e, do outro lado, a sua Daniela, que vestia um quimono todo branco e fazia um contraste engraçado em meio ao grupo de Dragões Brancos que usavam casacos de um vermelho intenso. Junto à Daniela, ficavam os pais dela e a mãe dele, com as avós. Mais para o lado, estavam os convidados deles, colegas da escola e do João, que sentava ao lado da noiva e dos pais dela. Os Vermelhos eram os primeiros a combater. Eram em pequeno número porque muitos deles ficaram em Terra-Nova. Mas, como vários Vermelhos vieram para Porto Alegre por conta do conflito, havia uma quantidade razoável, embora somente noventa deles competissem no festival. Ao chegar a vez dos Dourados, os ânimos estavam mais altos. Eram poucos e competiam por desafio, como os Brancos. O que mais se destacava era o negro muito alto, com a pele tão escura que chegava a parecer azul, desafiado diversas vezes e sempre vencedor com imensa facilidade. Quando sorria, duas fileiras de dentes muito alvos faziam um contraste fenomenal. Era apelidado de Zulu pelos companheiros. Ao chegar a sua vez de desafiar, dirigiu-se para a arquibancada dos Brancos e ajoelhou-se.
– Mestres – falou em cantonês, devagar e com sotaque, mas correto. – Eu consideraria uma grande honra se mestre Daniel aceitasse o meu desafio.
– Qual de nós? – Perguntou o Daniel almirante, já que era o líder dos Brancos.
– Eu desafio mestre Daniel, Almirante da Frota do IS e o maior dos Dragões. – O silêncio que se formou foi imediato e constrangedor porque a maioria ali conhecia a fama dele.
– Por acaso está cansado da vida, meu filho? – perguntou o Daniel avô, muito sério. – Já se deu conta que nem todos os Dragões Brancos juntos podem derrotá-lo. E você, sendo um Dourado, acha que tem condições?
– Senhor, eu tenho a força interior e acredito que aguento o mestre Daniel. Por outro lado, trata-se apenas uma competição, um esporte e não uma luta de vida e morte. Mestre, aceita o meu desafio?
Daniel levantou-se, aplaudido por muitos, da mesma forma que o Zulu.
– Todos os desafios devem ser respondidos, mas espero que esteja certo do que disse, Zulu, porque eu não gostaria nada de o ferir.
Daniel tirou o casaco e foi para o tatame. Ele gostou do gigante de ébano desde que o viu competir no ano anterior. Nessa época, já previa um Branco nesse africano enorme, maior até que o comandante Nobuntu. Agora, torcia que assim fosse. Quem não conhecesse o rapaz, não teria dúvidas do resultado da luta porque Zulu tinha vinte centímetros a mais que Daniel, passando dos dois metros e dez.
Posicionaram-se e Daniel contraiu toda a sua musculatura, Muitas garotas suspiraram e abanaram-se, ou assobiaram, para diversão da mãe que tinha um orgulho infinito pelo seu filho.
– É igual ao bisavô – disse a Carolina para a mãe dele. – Eu ainda me lembro como o meu pai era ao competir. Um é o espelho do outro. Nem o meu irmão é tão parecido.
– São muito parecidos, sim. – Ambas olharam o início do combate.
Zulu atacou com uma velocidade estonteante, batendo na barreira do Dan que se mantinha na defensiva. Atacou incansável, tentando, em vão, achar uma brecha nas defesas do almirante. Este último passou a contra-atacar, começando a dar trabalho para o gigante e arrancando aplausos para ambos. A luta acelerou mais ainda, quando Zulu desferiu uma sequência mais violenta de golpes, mas aparados com facilidade. Ao mesmo tempo, atacou com a força interior, quase pegando Daniel de surpresa e fazendo com que recuasse uns dois metros de arrasto. O ki do negro era fortíssimo, tanto quanto o do primo. Daniel desferiu o seu ataque interior mais fraco e o pobre homem, atordoado, começou a correr para trás para não cair. Sem equilíbrio, acabou estatelado no chão, sacudindo a cabeça, mas com um sorriso franco no rosto. Daniel foi ajudá-lo e quando o Zulu levantou-se, recomposto, o almirante disse para a plateia:
– Senhores, temos mais um Grande Dragão Branco. – Lee aproximou-se para lhe dar um casaco de Branco, enquanto Daniel sentava-se no seu lugar.
– Eu ia indicá-lo para Branco hoje, mas parece que ele se antecipou. – Lee sorriu.
– Zulu – disse Daniel. – É óbvio isso é um apelido. Qual é o seu verdadeiro nome?
– Eu sou Nobuntu, filho de Nobuntu com muito orgulho. Se o senhor permitir, gostaria de servir na sua nave.
– As portas da minha nave estão abertas para um homem tão corajoso. Qual a sua idade e o seu grau?
– Trinta anos senhor, sou noventa e três.
– Escute, meu amigo, não acha estranho me chamar de senhor já que você tem quase o dobro da minha idade?
O negro apenas sorriu. Os combates dos Dourados terminaram e foi a vez dos Brancos. O primeiro sorteado foi Daniel. Sorrindo bastante, ele desceu para o tatame.
– Eu desafio a minha esposa, Daniela Chang – disse, quando os Brancos todos já se levantaram e se prepararam para enfrentá-lo em conjunto, como era seu hábito.
Assustado, o pai perguntou:
– Escuta, Daniel, vocês brigaram hoje e estás com raiva dela ou tu pretendes ficar viúvo?
– Ele sabe o que faz – disse o avô, com uma tremenda gargalhada. – Deixa-o, filho.
Daniela desceu e preparou-se para o enfrentar.
– "Lembra-te que podes segurar um ataque com a telecinésia."
– "Sim, amor, mas não é uma trapaça?"
– "Não, amorzinho, telecinésia é uma força interior" – respondeu Daniel. – "Além disso és capaz de aguentar a pancada com força baixa."
Daniela atacou com uma ferocidade impressionante, arrancando aplausos de saída. O marido defendeu-se com facilidade e, com calma, contra-atacou. Brincaram assim com um sorriso em cada rosto, por cinco minutos, até que ela desferiu um forte ataque interior, fazendo Daniel arrastar para trás. A garota ganhou muita força nas duas semanas que se passaram e já tinha a velocidade de um Branco. O sorriso do Daniel era enorme, de amor e orgulho. Na tribuna, os Brancos exultavam, menos o pai do Daniel, que ficou mudo e de queixo caído, olhando o impossível. Daniel deu o troco, usando a força interior, mas num nível muito mais forte que o normal. Ela conseguiu defender-se, usando a telecinésia para rebater o golpe e provocando a destruição de uma boa quantidade de tatames. Os dois pararam e cumprimentaram-se, depois cumprimentaram a tribuna, bastante aplaudidos.
– Apresento-vos – disse ele, sorrindo feliz –, a primeira mulher com os poderes do Grande Dragão Branco da história da humanidade, a minha esposa Daniela. – "Mãe" – transmitiu-lhe, que assistia muito impressionada – "atira-me esse embrulho que está aí. Obrigado." – Pegou o pacote e tirou um casaco de Dragão Branco, que vestiu nela que estava só de camiseta para a luta.
O avô Daniel levantou-se e todos ficaram em silêncio, esperando um pronunciamento solene.
– Crianças, só espero que vocês não se zanguem muito um com o outro, senão não vai ter casa que aguente – afirmou, irrompendo numa enorme gargalhada, acompanhado pelo público que achava aquele homem espetacular.
Daniela, como novo membro do grupo, ficou por último, depois do Zulu.
– "Dan, não preciso mais de bloquear um ataque de força interior" – explicou ela. – "É como uma explosão poderosíssima de energia. Eu posso absorvê-la e canalizá-la. Olha no meu espírito como é."
Ele aprendeu no ato e afirmou, impressionado:
– "Dani, a força absorvida é fenomenal. Tens de tomar muito cuidado. O que tu absorveste dá-te o quase mesmo poder que eu tenho. Se eu o usasse, nem os Brancos sobreviveriam ao impacto."
– "Ainda não controlo a força."
– "Amanhã, ensino-te isso."
Quando o avô do Daniel foi sorteado, levantou-se sorrindo e lançou o seu desafio:
– Desafio a minha querida neta, Daniela.
Daniel ergueu-se e disse:
– Ela não pode fazer isso agora, vô.
– Por quê?
– Porque ainda não aprendeu a controlar a força, ela pode matá-lo.
– Mas a força que ela usou em ti, não ia fazer mais do que cócegas em mim!
– Está enganado, vô. A força que ela usou em mim seria perigosa para o senhor. Entretanto, eu aprendi os dons dela e ela os meus. Quando ataquei Daniela, usei uma força média, suficiente para matar qualquer Branco aqui presente. Ela aprendeu a absorver a energia e acabei de assimilar como funciona. Dani tem o meu poder interior, mas sem controle algum. Seria a sua morte instantânea. Se quiser, posso demonstrar como é porque tenho a capacidade de aguentar essa carga.
– Então mostre, filho, estou curioso.
O casal desceu para o tatame e ficou de frente a frente. A distância entre eles era de dez metros. Ela atacou-o com toda a força e Daniel não quis absorver para deixar patente o efeito devastador do golpe da esposa. Por isso, foi arremessado a mais de vinte metros de distância, rolando outro tanto pelo chão, atordoado. A garota, desesperada, correu até ele e abraçou-o, chorando.
– Dan, o que foi que eu fiz!
– Calma, anjo – disse, levantando-se ainda muito tonto. – Eu não me defendi nem absorvi, mas posso aguentar a minha própria força.
Os dois voltam para a tribuna e o silêncio era completo, com os cadetes de olhos esbugalhados.
– Avô, até que ela aprenda a controlar a força interior não poderá competir a não ser comigo.
– Entendo, querido, retiro o meu desafio. Nobuntu, aceita o combate, filho?
– Com muita honra, senhor.
Os combates sucederam-se, mas sem a beleza fenomenal que tinham os do Daniel. No fim do dia, houve o tradicional banquete onde, na mesa dos Brancos, a alegria era grande. Lá, além deles, estavam familiares e convidados.
– Ei, Dan – disse um dos amigos. – O teu churrasco é bem mais gostoso, mas este aqui está muito tri.
– Mas será que isso é jeito de falar com o seu almirante, cadete? – Questionou Daniel, brincalhão, fazendo cara de zangado.
– Desculpe, Almirante Dan, insisto no meu comentário. – Corrigiu o amigo, fazendo uma continência desleixada.
– Ora, cadete, mais uma insubordinação dessas e mando o senhor combater com a minha esposa.
– Prefiro ficar um mês sem tomar banho, senhor – afirmou ele, que era paranoico por limpeza. – Não me leve a mal, mas tenho muito amor pela minha vida, Almirante.
Os amigos não aguentaram e caíram na risada.
– Alteza – disse Daniel. – Presumo que ainda não havia visto os Grandes Dragões combaterem.
– Foi a coisa mais espetacular, Daniel, ou devo dizer Almirante Daniel. Eu não gostaria de enfrentar a sua esposa. – Nova risada.
– Alteza, duzentos destes homens derrotaram noventa mil soldados inimigos. Eles são a elite e treinam desde pequenos. Já está no sangue. Entende agora quando eu dizia que os seus agentes eram incapazes?
– Mas como posso arranjar gente assim?
– Programas de treinamento. O templo Shaolin, por exemplo, é o maior centro deles fora da China. Ajude-os, financie-os, como nós fazemos. Eles dependem da Cybercomp para sobreviver. Mas jamais treinam alguém com propósitos hostis. Somente por esporte, disciplina e defesa.
– Entendo, conversaremos a respeito.
– Como o senhor desejar, Alteza. Fale com o mestre Lee, mas prepare-se. Nenhum deles esqueceu-se da Jéssica, especialmente depois que descobriram que ela realmente era a reencarnação da minha bisavó. Argumente que a sua intenção é justamente evitar que algo similar ocorra de novo.
– Por que não usou esse seu poder naquele dia para evitar a tragédia?
– Primeiro eu estava em comunicação telepática com o meu pai. Posso me comunicar com um cérebro bloqueado, mas exige uma certa concentração. Por isso a Jessy olhava por mim. Depois, eu não poderia matar gente inocente. O meu golpe mataria todos. O agressor e os demais agentes; é contra os meus princípios.
– Entendo Daniel. Acho melhor não falarmos mais nisso. Sinto muita dor no coração.
– Eu também, Alteza.
O churrasco foi agradável e bem apreciado. Apesar da ameaça da guerra, aproveitaram para, naquele momento, esquecerem disso.
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