Capítulo 5 - parte 1 (não revisado)
Os últimos a sair foram o Daniel e a esposa, que vinham sempre de mãos dadas. Bastou aparecerem ao alcance da vista para que fosse ovacionados com um muitas palmas gritos e assobios.
– "E eu que só queria viver a minha vida na paz e tranquilidade, amor, bem anônimo" – transmitiu apenas para a mente dela.
– "Salvaste todo um planeta, senão o império, Dan, o que esperavas?" – respondeu, rindo. – "Além do mais, isso não faz mal a ninguém, apenas gostam muito de ti, não mais que eu, claro."
À frente daquela gente toda, estavam os pais dele e o imperador. O jovem par caminhava na direção dos pais. A mãe, com lágrimas nos olhos e sem aguentar esperar mais, correu a abraçar o filho, seguida pelo pai.
– Mãe, pai, esta é a Daniela Chang. Pedi para o avô nos casar, já que ele era o comandante interino da nave e tinha a autoridade necessária. Era ela com quem eu sempre sonhei.
– Nos sabemos, filho – disse a mãe abraçando a nora. – Perdoa-nos o que te fizemos, mas não víamos outra forma de te salvar. Bem-vinda à Terra e à nossa família, querida.
– Obrigada – afirmou a garota, retribuindo o abraço caloroso.
– Não falemos mais nisso, mãe, o que importa é que a encontrei.
– Olá, Daniela – disse o pai dele, abraçando-a. – Espero que gostes da família.
Caminharam de volta. Daniela viu o João abraçado a uma bela garota, também oriental e o marido levou-os até lá.
– Olá, Daniela – diz ele para a garota. – Esta é a Daniela. Acho que vamos ter alguma confusão com nomes por algum tempo, até nos acostumarmos. Dani, esta é a noiva do João.
– Oi, Daniela – disse a homônima, abraçando-a. – Que bom que se encontraram. Agora, o super-Dan está feliz de novo.
– Super-Dan? – Daniela retribuiu o abraço, rindo. De onde diabo veio isso?
– É uma brincadeira da mãe dele, mas encaixa como uma luva. Ele é super.
– Eu sei – disse Daniela, sorrindo feliz, abraçada ao marido que era só alegria. Depois, acrescentou. – Engraçado, mas o teu rosto não me é estranho!
– Gente – disse Daniel, interrompendo-os. – Agora não há tempo. Precisamos de nos reunir o mais rápido possível.
– Tens razão, bebê. Aí vem sua Alteza Ignominiosa, Saturnino I, Imperador do Sol.
O governante aproximou-se deles.
– Alteza – disse Daniel com uma vênia. – Terra-Nova está livre, mas temos de nos reunir o mais urgente possível. Sugiro agora, na sala da presidência.
– Claro, Almirante, concordo. E a senhorita é?
– Está é a minha esposa, Daniela Chang Moreira – disse o rapaz. Baixando a voz, continuou, sério e com um tom terrivelmente ameaçador, acompanhado com os olhos brilhando de forma assustadora. – Espero que, desta vez, mantenha os seus agentes bem longe dela.
– Você jamais me perdoará, não é? – perguntou o Imperador, magoado.
– Alteza, há muito que o perdoei pelo sofrimento que me causou, mas jamais esquecerei a estupidez que provocou uma morte prematura e desnecessária. Desculpe-me pelo comentário que fiz, mas é difícil de esquecer, senhor.
– Tem razão, Almirante. Só que, se prestar atenção, notará que os meus agentes não portam armas desde aquela época.
– Alteza – Daniel estendeu-lhe a mão –, ponhamos uma pedra nessa história.
O imperador pegou a mão do rapaz com lágrimas nos olhos e abraçou-o logo depois. Em seguida, abraçou a Daniela. Ela viu um homem não muito alto, esbelto, mas com pouca energia. Desde que descobriu os dons do dragão Branco, sabia identificar o grau de força interior e energia de uma pessoa. Ele era fraco, demasiado fraco, embora já tenha sido forte, só não entendia o porquê.
– Espero que sejam muito felizes, senhora Moreira.
O maioria da população que assistia, nada sabia do que ocorreu antes e viu aquilo como um agradecimento por parte do imperador. Uma grande salva de palmas preencheu o ambiente por alguns segundos enquanto a nata do império foi para a sala da presidência, ali mesmo, para discutir os problemas. Aos poucos, o espaçoporto ficava vazio. Apenas aquela esfera negra e imponente, que se estendia além das nuvens que estavam baixas, permanecia ali com a tripulação em prontidão total. Na sala da presidência da Cybercomp, o Daniel apresentou o seu relatório, contando tudo o que passou.
– ...de modo que eles são fundamentalistas extremistas e desejam escravizar ou destruir qualquer planeta de seres humanoides. Desta forma, não temos alternativa a não ser lutar e destruí-los. A tecnologia deles é bem inferior à nossa, mas têm muito mais recursos do que nós. Aprisionei duas espaçonaves deles. Uma está com o meu avô em Vega XII e a outra permanece na Jessy, de onde será descarregada para que possamos pegar os dados dos computadores deles. Eu já sei que ficam em um império estelar a cerca de sete mil anos luz daqui. Temos dez prisioneiros, entre eles o comandante. Andei explorando a sua mente e descobri uma coisa, o motivo deles nos odiarem tanto.
– Mas nem a exposição dos fatos os levou à razão? – perguntou a Alexandra, impressionada. – Nem mesmo essa derrota fulminante?
– Não, mãe. O motivo é o seguinte: eles, há cerca de dez mil anos, eram um povo tranquilo que vivia uma tecnologia semelhante ao nosso século XX. Então, um belo dia, surgiu uma nave do espaço. Receberam aqueles seres humanoides com cortesia e satisfação. Dois dias depois, foram atacados e escravizados sem a menor chance de defesa. O que essa raça que os invadiu fez, parece ter sido um horror, mas cometeram um erro muito grave. Subestimaram a inteligência destes seres, que aguentaram mais de mil anos de opressão, aprendendo em silêncio, absorvendo a tecnologia dos invasores. Rebelaram-se e destruíram-nos. Construíram naves no modelo dessa raça e rebentaram com o mundo de origem deles. Depois, pegaram todas as colônias e subjugaram-nas. Desde então juraram fazer o mesmo, ou seja, escravizar ou destruir qualquer humanoide mamífero.
– Que horror, como são primitivos! – disse a mãe.
– São mesmo. A matemática e a física deles não evoluiu nesse tempo todo, para nossa sorte. As naves são as mesmas de há milênios. Apenas aprimoraram a potência das armas, só que são muitos. Têm mais de um milhão de naves de combate. Ainda bem que estão em guerra com outra raça humanoide. Também descobri que há uma espécie que eles temem mais do que o diabo da cruz. Chamam-nos de centurianos e parece que eles têm uma tecnologia similar ou superior à nossa. Desejo conhecê-los, mas, por ora, devemos esperar. Junto com esses dez prisioneiros, pegamos cinquenta fêmeas da raça deles e fiz uma descoberta interessante com elas.
– É mesmo? – questionou o imperador.
– Elas são tratadas abaixo de cão, apenas para reprodução e prazer, mas notei que são muito mais inteligentes que os machos, não têm o mesmo preconceito racial e estão dispostas a serem nossas aliadas. Eu prometi que elas podiam ter um planeta para si, para recomeçarem. Por outro lado, dependem dos machos. Quando entram em ovulação, precisam de ser fertilizadas ou morrem em forte agonia. Logo, temos de manter os prisioneiros bem vivos. Eu tive uma ideia no caminho para cá, mas quero esperar antes de a pôr em prática. Para começar, vamos alojá-las em uma área residencial e determinar que não sejam maltratadas. Os prisioneiros deverão ser presos em uma residência. Basta criar um campo de força em volta. Simples demais. Não teremos hostilidades deles por cerca de um ou dois meses, talvez mais. Vão levar, pelo menos, duas semanas para voltar e outro tanto para retornar, mais o tempo de reunirem uma nova frota, que fica espalhada pela Galáxia, o que determina que cada nave leva pelo menos uma semana para acelerar e desacelerar até chegar lá, ou seja, temos mais de dois meses de paz pela frente. Assim sendo, decidi que vou tirar uma semana de folga com a Dani, a nossa lua de mel. Quando voltarmos, porei os meus planos em prática. Alteza, entre em cadeia galáctica e explique tudo para a humanidade. Por enquanto, estamos seguros e protegidos.
– Filho, fizeste um trabalho maravilhoso. Vocês casaram-se no meio de um conflito. Vão e aproveitem esta semana. Acho que podemos encerrar a reunião porque já temos todos os fatos.
– Obrigado, pai – disse Daniel encostado à esposa, preparando-se para sair. – Vamos resolver este problema, tenho a certeza.
– Almirante – disse o Imperador, fazendo o casal parar. – Em nome da humanidade, obrigado.
– Alteza, não estou certo de estar capacitado a ser um almirante.
– Quem mais estaria, rapaz? – perguntou o imperador. – Quem mais teve a coragem e a determinação para enfrentar o invasor e derrotá-lo?
Daniel fez uma cara de sem jeito e desmaterializou-se, seguido pela esposa.
– Vocês já imaginaram como serão os filhos deles? – perguntou João, assoviando. – Eu nem quero pensar!
O pai do Daniel deu uma grande risada, coisa incomum, ao contrário do avô.
Daniel e a mulher materializaram-se no estacionamento. À frente deles, estava o carro mais bonito que a moça já viu.
– Amor, que carro lindo!
– Gostaste? Eu amo este brinquedo. Vamos – abriu a porta para ela.
Na autoestrada, Daniel mostrou o que o carrinho podia fazer e ela adorou. Quando chegaram aos limites urbanos, ele reduziu a velocidade. Passando perto de um shopping center, decidiu fazer uma coisa. Mudou de direção e estacionou.
– Vem, falta uma coisinha.
– Uma coisinha?
– Claro, amor, vem – levou a esposa para uma joelharia, comprou um par de alianças e um anel de diamantes.
– Adorei, amor. – Ela atirou-se ao pescoço dele. – Acho que fomos o primeiro casal da história moderna a casar sem alianças.
– Vocês casaram sem alianças? – questionou a moça do caixa, bastante espantada. – Mas por quê?
– Porque estávamos no espaço, em Terra-Nova – respondeu Daniela orgulhosa, abraçando o marido com carinho. – O meu Daniel veio nos salvar dos invasores.
– Foi o senhor que comandou a libertação? – perguntou o gerente, levantando-se e cumprimentando Daniel, que estava sem jeito. – É Daniel Moreira que o Imperador fez almirante?
– B... bem... e... era necessário salvar o planeta. E sim, sou eu, mas prefiro ficar no anonimato.
– Ele que projetou a espaçonave de combate que nos salvou. É graças a ele que a humanidade não está à mercê dos invasores.
– Foi o senhor que deu aquela reportagem no jornal há cerca de dois anos, não foi?
– Fui porque estava preocupado com isso e, pelo jeito, estava com toda a razão. Pena que nem todos acreditaram em mim porque teria sido muito mais fácil. Quanto vos devo?
– O senhor não nos deve nada, é cortesia da casa. Tenho familiares em Terra-Nova e estava apavorado. Graças a Deus, já falei com eles, depois que as comunicações foram restabelecidas. Devo-lhe muito mais do que estas alianças.
– Eu insisto, senhor.
– Recuso-me a receber seu pagamento. Aceite, por favor, pela minha família.
– Mas são joias caras e o senhor terá de desembolsar do seu pagamento. Eu sinto-me mal.
– A loja pertence-me, meu amigo. Leve as joias e desejo, do fundo do coração, que vocês sejam muito felizes para o resto das vossas vidas.
– Então, não tenho alternativa a não ser agradecer a sua generosa oferta, amigo – disse o rapaz, fazendo uma reverência.
Ambos foram a algumas lojas comprar roupas para a Daniela e o marido quase perdeu o fôlego quando a viu com um biquíni lindo.
Do shopping, Daniel levou a esposa para a sua nova residência. Ela adorou a casa e apaixonou-se pelos cães. Felizes, foram fazer a sua lua de mel mais do que merecida. Ao anoitecer, jantaram no restaurante favorito dele. A moça achou o lugar lindo, construído ao estilo chinês de há milhares de anos. O dono, como sempre, veio receber o rapaz.
– Boa noite, meu amigo. Soube que o senhor andou ocupado lá por cima – disse, falando em cantonês e fazendo uma reverência profunda. – O meu pai vive em Terra-Nova. Obrigado por salvar o planeta. Quem é esta bela moça?
– É minha esposa, Daniela Chang, amigo. Vejo que a casa está cheia. Ainda há algum lugar?
– Para o senhor, sempre temos um lugar. Já devia saber disso. A sua mesa jamais é ocupada.
– Fico lisonjeado, mas não quero que o senhor tenha prejuízo por minha causa.
– Senhor, não é uma mesa que me fará pobre. Já tenho muito mais do que preciso. – Fez sinal para um dos atendentes, o seu filho. – Leva o nosso cliente para a mesa dele.
De mãos dadas, o casal seguiu o rapaz. Ao sentarem-se, ouviram uma voz conhecida.
– Ei, bebê. Tu por aqui? – João levantou-se da mesa ao lado para abraçar o primo. Junto, estava a noiva e os pais dela, aguardando os pratos. – Sentem-se conosco.
Daniel pediu para o atendente juntar as mesas. Os pais da Daniela levantaram-se para cumprimentar o rapaz que, da noite para o dia, tornou-se o maior herói do Império senão de toda a história. Eles sempre gostaram dele quando teve um caso com a filha e respeitaram muito a sua honestidade ao terminar com ela. Sabiam de toda a história porque a Daniela contara tudo.
– Esta bela dama – disse João, sorrindo como sempre –, é Daniela Chang, esposa do meu querido primo. Estão em lua de mel. Eu tentei convencê-la a não se casar com ele porque achava que era melhor partido, mas não adiantou... ai, Dani, isso dói. – Ele deu uma risada.
Após os cumprimentos, o casal que sentou com eles. João estava muito feliz por retornar para a Terra e rever sua noiva.
– Então – disse a noiva do João para Daniel, falando em xangaiês com o amigo. – Encontraste o teu destino exatamente como me tinhas dito. Fico feliz por vocês, Dan. É bom ver a alegria de novo no teu rosto.
– Obrigado, Daniela, é bom voltar a ser feliz. Eu passei por uma época muito ruim, quando nos conhecemos, mas acabou tudo bem. E vocês, quando se casam? Olha que o João é mais escorregadio que uma enguia. – Ele sorriu.
– É, bebê, eu era bem escorregadio até descobrir a minha linda Dani – interrompeu João, alegre. – Agora é demasiado tarde. Caso amanhã mesmo, se ela quiser.
– Quando diabos tu aprendeste xangaiês?
– Tinha que aprender, senão como vou saber que ela está me xingando, pô? – O jeito do primo falar foi tão engraçado, fazendo cara de louco e arregalando os olhos, que Daniel e a esposa não aguentaram e riram bastante.
– Daniela – disse Nuan, falando em português. – És de Terra-Nova? O teu rosto é muito familiar.
– Não. Sou daqui da Terra, de Hong Kong. Meu pai foi convidado a chefiar uma pesquisa em Terra-Nova. Os nativos, embora não sejam portadores, vivem bem mais de duzentos anos. A ideia era descobrir uma forma de melhorar a qualidade de vida dos não portadores do resto do Império, embora a tendência seja que, em cerca de mil anos, não haja mais Sapiens. Fui para lá aos seis anos.
– Então o teu pai é um cientista. Qual a especialidade?
– Genética. Eu sou médica por influência dele e pelo meu dom.
– Qual é o nome dele?
– Nelson Chang.
– Meu Deus, como este mundo é pequeno!
– Por quê, senhor?
– O teu pai é descendente do Nelson Chang do século XXI, que ajudou a implantar o primeiro coração artificial na humanidade, antes dos implantes genéticos?
– Exatamente.
– A minha tetravó era irmã da esposa dele!
– O mundo é realmente pequeno, senhor. Daniela – disse a homônima. – Acho que, apesar de não haver laços sanguíneos, indiretamente somos como primas. Agora vejo porque o teu rosto me era conhecido. És a cara da May Ling Chang. – Ela lembrava-se de tudo o que viveu com Daniel de antes e de agora, após terem compartilhado as suas vidas.
– Garçom – disse João, feliz. – Traga o seu melhor champanhe que temos um casamento para comemorar.
Quando as taças foram servidas, o João levantou-se, estendendo a dele.
– Ao Almirante Daniel Moreira e à sua bela esposa Daniela, meus primos os quais amo do fundo do coração.
Quase todos os presentes ouviram isso e fez-se um silêncio súbito, que deixou Daniel desconfortável. Logo após, praticamente todo o restaurante levantou-se e ergueram os copos, não importando o que havia dentro. Sentindo-se um peixe fora d'água, Daniel viu aquela massa de gente pousar os copos e começar a aplaudi-lo, alguns até assobiando. Daniela, abraçada a ele, sorria angelicalmente e não se importava nada. Quando as coisas acalmaram e os presentes voltaram a comer, Daniel disse, falando um tanto quanto sério:
– Sabes, irmãozinho, és igualzinho à tua vida anterior. Falas demais. Só espero que ela te controle como foi antes.
– Que diabo dizes, tchê?
– Digo que devias parar de falar sobre mim, cara. Eu gosto de privacidade, tchê. Tu eras o meu maior gênio dos computadores, mas falavas demais embora sempre te fizesses de vítima só para te divertires, especialmente às minhas custas, é claro. O teu nome, nessa época, era Manoel Fonseca, que se casou com Bianca e ela era a Bianca. Casa logo e deixa de me incomodar.
O primo ficou em choque com a revelação. Logo depois, caiu numa gostosa gargalhada.
– Ainda sou um grande mestre da computação, Dan. Criei duas coisinhas que te esperam para depois da tua lua de mel. Aprendi bem a tua matemática, meu irmãozinho, e acho que vou desafiar-te no próximo festival.
– Tu não te atrevas! – Daniel assustou-se, erguendo a voz e olhando muito sério. – Quase morreste no ano passado. Além disso, desafiar-me não tem nada a ver com a minha matemática.
– Então desafio a tua esposa. – Ele riu. – Ai, amor, de novo? Beliscões doem.
– Deixa a minha prima em paz.
– Ok! Estava brincando.
O resto da noite foi tranquila e alegre, como o início. Quando se despediram o João declarou:
– Bebê, o churras está marcado para o próximo sábado e dane-se a vossa lua de mel. Afinal, faz tempo que a turma não se reúne e estamos com saudades. Levaremos as carnes. Adeus.
– Adeus, irmãozinho, esperaremos vocês – respondeu o primo, abraçado à esposa. Felizes, os dois saíram caminhando pela beira da praia. Ela olhou para ele com os olhos brilhando.
– "Sabes, quando vim para Porto Alegre no dia em que viajamos para Canopus, sentia como se esta cidade fosse o meu lar. Há algo nela que me puxa com tanta força! Na época, disse para o meu pai que aqui seria o meu destino. Só não imaginava o quanto, amor."
– "A capital é a mais bela cidade do mundo, talvez dos cinquenta mundos. Mas, sem ti por perto, não há alegria para a curtir. Eu te amo tanto, Dani."
– "E eu a ti, Dan" – beijaram-se ternamente esquecendo do mundo à volta. Após um tempo que não podia ser determinado pela razão, voltaram a caminhar para o carro, com vontade de ir para casa terminar o que o beijo começou.
A semana toda foi para os dois uma verdadeira lua de mel. No sábado, receberam os amigos que foram gentis com a Daniela, mas ela não escapou de alguns comentários brincalhões. O casal vestia um quimono branco e calças de seda, as roupas que o Daniel gostava de usar.
– Ei, e o jogo! – gritou um deles.
– "Dani, temos uma reputação a zelar. Que tal és dentro de água?"
– "Nado muito bem, amor. Eu gostava de desafiar o mar de Terra-Nova, que é muito violento, esqueceste?"
– "Vamos nos trocar então..." – Quando a oriental apareceu de biquíni recebeu uma série de assobios e pedidos de casamento e alguns dos rapazes foram premiados com muitos beliscões e tapas no lombo. Ela apenas sorriu e abraçou-se ao seu amado.
– Prontos para a surra? – perguntou Daniel. – Vocês têm seis a mais. Aposto que ganhamos de vinte a zero em quarenta minutos.
– Vamos ver, bebê.
– "Porque diabo ele te chama de bebê?" – perguntou Daniela, meio chateada com o comentário.
– "É carinho, amor, não te zangues. Nós somos muito apegados e, quando eu era bebê, seguia o João onde quer que ele fosse. Ele amava-me como um irmão mais novo. Daí o termo e eu gosto."
Ela sorriu, compreendendo. Para variar, a equipe do João levou a surra de sempre e, depois do jogo, ficaram preguiçando ao sol até que Daniel levantou-se para fazer o churrasco, enquanto a turma conversava tranquila. Daniela acompanhou o marido, sentando-se ao seu lado. Ele estava com um sorriso que não lhe saía do rosto juvenil e nada no mundo lhe poderia tirar a paz de espírito que sentia nesse momento. Preparou o fogo e o churrasco com muita atenção e alegria.
– Dan – perguntou um dos amigos. – Como podemos ingressar na frota? Eu quero ajudar a defender o nosso Império.
– Estão abertas as inscrições para a frota. Precisamos de oficiais e cientistas. Qualquer um de vocês passaria bem fácil, mas tenham em mente uma coisa: não é nada agradável. Não pensem que é uma aventura pois não é. Perguntem para a Dani como foi porque ela perdeu bons amigos lá.
– É uma penas, mas o Daniel tem razão, gente. Muitos foram mortos de forma cruel, só para que o invasor consolidasse o seu poder sobre o planeta.
– A frota precisa de cerca de cinco milhões de especialistas e agora o nosso maior desafio é treinar gente para as naves – continuou Daniel. – Temos as naves, mas não temos tripulantes. Tenho apenas dois mil homens treinados para a Jessy, o dobro da tripulação necessária. O meu avô também está treinando alguns milhares. Mas as cinco mil naves do Imperador não têm quem as controle. Quem de vocês quiser se inscrever é bem simples, usem a uninet, [email protected]. Os melhores serão da minha nave. Quem se anima?
– Acho que todos nós, Dan, que bom que tu estavas prevendo isto – comentou um dos amigos.
– Vamos comer, galera?
– Ei, Dan – emendou o primo. – Falando sério, tchê, tens que atualizar esse repertório musical. Tem séculos e é bem chato.
– Já disse que adoro estas músicas. Além do mais, são mais de cinco mil, de vários tipos.
– Eu também gosto, meu amor. Nada de trocar. – Daniela sorriu, provocante. – Essas músicas me trazem lembranças muito gostosas.
– Sacanagem, vencidos pelo amor – disse João, rindo. – Mas um dia convenço-o. Que droga é essa que está tocando?
– Engenheiros do Havaí, eram ótimos.
– Podem até ser, mas o que falam é incoerente! Olha só isso: "... querem lutar pelo que amam, conquistar e destruir o que amavam tanto. Faça uma prece para Freud Flingston, acenda uma vela para Freud Flingston, sacrifique o bom senso no seu altar..." Isso não faz sentido algum, tchê. Que maluquice, quem é esse Freud Flingston?
– Só para quem não se liga em história, irmãozinho. Eles eram de uma época que havia muita tensão entre as nações do mundo. O povo vivia sempre pensando que poderia surgir a guerra final, o holocausto nuclear. E também havia demasiada violência urbana. Eles, que eram pacifistas, criticavam a sociedade e, obviamente, os termos eram os da época. Freud Flingston é um nome composto, feito de dois: Sigmund Freud, o pai da psicanálise que, entre outras coisas, dizia que tudo gira em torno de um pivot, geralmente o sexo, e Fred Flingston, que era um desenho animado dos anos de mil novecentos e setenta sobre uma família da idade da pedra e que possuía tudo o que havia do século vinte, como carros, televisões, geladeira, etc., tudo de pedra. Trata-se de uma grande e profunda crítica à sociedade da época, muito bem-feita.
– Tá bom, eu desisto.
Daniel sorriu e serviu os amigos que adoravam os seus churrascos. O resto do dia foi calmo e agradável. Sempre em paz, tranquilo.
― ☼ ―
Pai da Daniela noiva do João. Ver Ep. III – A Recuperação
Mãe da Daniela Chang original. Ver Dragão Branco I, o despertar de um Herói.
Engenheiros do Haway – Freud Flingston.
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