Capítulo 3 - parte 4 (não revisado)

Daniel avançou um pouco, acompanhado dos outros Brancos, e os tantorianos começaram a correr.

– Caramba, esses caras além de cabeças duras são desajeitados como sei lá o quê. Um de cada vez – disse Daniel para os parceiros. – Quem sabe eles criam juízo e não será necessária esta carnificina.

Caminhando lado a lado, os Brancos avançaram mais um pouco. Daniel foi o primeiro a atacar e começou a contrair os músculos. Daniela, que estava sentada na escotilha olhando, viu a beleza que era o seu marido e soltou uma sonora exclamação de espanto, abanando-se.

– "Que gato... que corpo..." – pensou ela, alegre.

Quando o golpe do Daniel foi desferido todo o grupo frontal de verdes foi parado como se tivesse colidido com uma barreira invisível, sendo a seguir projetado para trás com tamanha violência, que muitos voaram longe, todos mortos. Mais de mil soldados inimigos não se levantariam novamente. O avô foi o segundo a atacar e mais duzentos caíram ao chão. Os Vermelhos atacaram pelos flancos, enquanto os Brancos fizeram uma limpeza avançando sobre centro da formação tantoriana. Eles morriam aos milhares, mas não desistiam.

Observando a batalha, Daniela viu que um dos invasores apontou uma arma para as costas do João. Para seu horror era uma pistola de tecnologia terrestre, ou seja, iria disparar. Sem pensar, ela teleportou-se para a linha de frente e atacou o invasor, também usando a força interior e matando-o no ato. Quando o João viu, disse, sorrindo:

– Obrigado, prima. Tens a força dos Brancos! – Ela deu uma risada e saltou de volta, encontrando Daniel ao seu lado com ar muito infeliz.

– "Oi, amor. Paraste de lutar?"

– "Sim, não tenho prazer nisso. Sinto-me infeliz, mesmo estando coberto de razão. E são eles que estão se suicidando. Não foi por falta de aviso. Ainda assim, não desejo fazer isso, até porque os que lá estão dão conta do recado. Vamos prender os caras da nave? Sinto cerca de dez machos e cinquenta fêmeas lá. Não sei o que farei delas."

– "Deixa as coisas acontecerem a seu tempo, Amor. Vamos prendê-los. Isto tá virando um mar de cadáveres. Os Brancos estão recuando."

– "Eles dizimaram mais da metade dos lagartos. Ninguém sente prazer nessas mortes. Pelo menos os Dourados e Vermelhos são tradicionais na luta. Vem, vamos dar um fim neste capítulo."

Por um segundo ambos observaram o combate dos soldados da Terra, mais eficientes e fortes que os lagartos verdes. Se não fosse algo tão triste como o fato de tirarem as vidas dos adversários, poder-se-ia apreciar a beleza dos movimentos dos Dragões, manipulando as espadas com giros de corpo tão velozes que impossibilitavam os atacantes de os acompanharem. Mas, infelizmente, cada movimento desses terminava com um alienígena morto, geralmente trespassado pela espada energética, que cortava uma rocha como se fosse manteiga.

O casal, de mãos dadas, desceu em direção aos Brancos.

– Pelo jeito – disse o avô Daniel que viu Daniela salvando o sobrinho neto. – A minha nova neta tem o poder do Dragão Branco!

– A força interior independe do sexo, avô – respondeu Daniela, zangada.

– Calma, minha querida. – Ele deu uma risada. – Estava sendo carinhoso. Sei que o meu neto não se casaria com qualquer uma.

– É muito estranho ouvir um homem tão jovem falar em netos.

Nova gargalhada, desta vez muito mais estrondosa.

– Eu tenho mais de setecentos anos, querida. Sou o segundo filho do Daniel, aquele que conheceste na tua outra vida. A minha esposa, Daniela, era a filha daquela que foi a tua melhor amiga, a Cláudia.

Daniela engoliu em seco. O marido disse, contrafeito.

– Vô, o senhor ainda vai ficar surdo com esses berros, haja tímpanos. Já tentou usar isso contra os tantorianos? Deve ser mais eficaz do que a força interior. Nós vamos prender o pessoal da nave.

– Querem ajuda? – perguntou, após a nova explosão de risos.

– Não, são só dez "homens" e umas cinquenta fêmeas. Queria mesmo era que eles se rendessem e esta carnificina sem sentido acabasse.

– Eu entendo, meu querido. – Ele ficou sério. – Isto é horroroso, mas necessário. Nunca te esqueças de que nós é que somos as vítimas.

Daniel fez um aceno com a cabeça e o par seguiu em direção à nave dos tantorianos. O avô olhou com aprovação. Assombrado, viu ambos erguerem-se no ar e voarem sobre o campo de batalha. Ele acompanhou o casal com o olhar, sorrindo e sacudindo a cabeça. Quando estavam de frente para a escotilha, desmaterializam-se para aparecerem na sala de comando, onde foram logo atacados pelos dez lagartos restantes. Eles desconheciam as palavras derrota e rendição. Daniel livrou-se do oponente com uma pancada forte que o projetou contra a parede, caindo inanimado, mas vivo. Já Daniela fez da forma mais simples. Usando a telecinésia, empurrou os atacantes contra a parede oposta.

– "Segura-os aí, meu amor, que já volto" – disse o marido, que pulou diretamente para a Jessy A I e retornou com dez algemas especiais.

– Vocês são prisioneiros do Império do Sol – disse Daniel na língua deles. – Na devida hora serão julgados e eventualmente condenados pelos vossos crimes.

– Nós não cometemos nenhum crime, humano.

– Tudo é uma questão de ponto de vista, comandante. Vocês invadiram um dos nossos mundos e mataram muita gente. Eu dei-vos várias oportunidades para desistirem de modo a evitarmos a guerra. Em vez disso, insistiram e provocaram demasiado sofrimento. Como estão no nosso território, ficam sujeitos às nossas leis, já que vencemos a guerra. Sabe, tantoriano, vocês são demasiado fracos, patéticos. Não possuem uma unidade, são incompletos. Basta ver como tratam as vossas fêmeas. Elas servem apenas para reprodução e prazer.

Enquanto falava, Daniel aproxima-se de cada um deles, imobilizados pela esposa e algemava-o, apertando bem a fita plástica.

– As fêmeas não servem para mais nada, são inúteis – respondeu o comandante, cheio de fúria.

– Está vendo o que digo? – perguntou Daniel que, sem esperar uma resposta, continuou. – Nós humanos, não somos assim. As nossas mulheres, por exemplo, são capazes de fazer tudo o que fazemos, trabalhamos em conjunto. No momento, ela mantém vocês presos. Não são meros objetos de prazer e reprodução. Quando queremos prazer, também damos prazer. Nós dividimos tudo, formando uma união. Essa experiência maravilhosa, vocês jamais terão devido ao vosso feitio. Dani, podes libertá-los. – Ele falava no idioma dos verdes, mas a esposa entendia porque absorvera todos os conhecimentos necessários ao compartilhar a mente com Daniel. Ela libertou-os do seu fluxo telecinético, mas já estavam bem algemados.

– Agora, vocês vão ficar aqui bem quietinhos enquanto revistamos isto.

De mãos dadas, como se estivesse passeando num parque, o casal saiu pela nave. Para eles a revista era muito simples: expandiam as mentes e procuravam evidências de algum pensamento. A única coisa que encontraram, foram os pensamentos das fêmeas. Quando acabaram fizeram o mesmo procedimento no cilindro ao lado, com os mesmos resultados, retornando para a sala de comando da primeira nave.

– Então só sobraram vocês, o comando que mandou para a morte milhares dos seus próprios elementos porque se recusou a aceitar a derrota. Venham. – Daniel ordenou e, como eles não obedeceram, levaram um empurrão telecinético que os atirou contra a porta, aos tropeções. – Eu estou sem paciência, então movam-se e bem rapidinho.

Incapazes de resistir, começaram a caminhar por conta própria. Saíram da nave e o jovem levou-os em direção à Jessy A I. Muito roxo, o comandante olhava para o chão em frente à escotilha da sua nave, um verdadeiro mar de cadáveres, todos tantorianos porque nenhum se rendeu, tendo lutado até ao último. O piso estava encharcado do sangue verde deles e tinha-se de caminhar com cuidado, já que estava muito escorregadio. Por mais que observasse e procurasse, ele não vislumbrou um único corpo humano o que, para ele, era uma coisa horrível de se ver. Em toda a história tantoriana, desde a Libertação jamais um humano foi capaz de os derrotar. O grupo andava com bastante atenção, quando o sol começou a escurecer. Estranhando isso acontecer em plena luz do dia, os invasores olharam para cima e depararam-se com a Jessy, descendo bem devagar com a imponência que lhe era devida, já que possuía o tamanho de uma montanha pequena. Os alienígenas param impressionados e ainda mais roxos do que já estavam. Ter visto a nave nas telas era uma coisa, vê-la descendo era outra bem diferente porque se tratava de uma esfera toda negra e assustadora de tão grande, cujo silêncio com que pousava amedrontava-os mais ainda porque não possuíam campos antigravitacionais tão eficientes a ponto de fazer isso. Daniel mudou de ideia e mandou-os aguardarem o pouso da nave. Quando ficou imóvel, ordenou-lhes que seguissem para ela. Erguendo o braço disse:

– Comunicador: chamar nave Jessy. – Quando a imagem da tela mostrou o comandante, continuou. – Nobuntu, como foram as coisas?

– Tranquilas, Almirante. Lutaram até à ultima nave, mas não tiveram a menor chance de enfrentar este cruzador. As naves auxiliares estão em órbita, patrulhando o espaço. Como o senhor ordenou, deixamos apenas uma unidade inteira, mas eles tentaram lutar até assim. Só fugiram quando atiramos com o canhão térmico e danificamos o armamento deles. São muitíssimo lentos.

– Certo, chame as naves auxiliares e diga-lhes que pousem no espaçoporto. Eles vão levar semanas a voltar, talvez meses, se voltarem.

– Desculpe discordar, senhor, mas, após lutar com eles, cheguei à conclusão de que voltarão porque eles não aceitam a derrota.

– Nesse caso, serão exterminados, já que não vejo outra solução a não ser essa. Só rezo para que a nossa força seja suficiente. Comandante, peça para que recolham as duas naves alienígenas para dentro do hangar doze, mas com bastante cuidado porque há gente lá dentro: fêmeas tantorianas. Mande uma equipe levá-las para um dos grandes auditórios e não as tratem mal em hipótese alguma, exceto se atacarem. Nesse caso neutralizem-nas mas com cuidado para não as ferirem. Estamos indo para aí. Melhor, mande uma naveta para onde estou. – Daniel desligou e mandou que aguardassem.

O comandante tinha parado de olhar para a nave e viu o humano falar para um aparelho minúsculo que ficava no seu pulso. Como entendia português, acompanhou tudo, desde a ordem dada ao aparelho. Espantado, notou que não havia botões no relógio. As ordens eram vocais. Mais curioso ainda ficou, quando a imagem em miniatura de um humano todo preto surgiu no ar sobre o aparelho e ambos começaram a conversar. Ele jamais vira um aparelho de comunicação tão avançado e prático como aquele.

As pequenas naves auxiliares desceram devagar. O espaçoporto de Terra-Nova nunca vira tantos veículos do espaço juntos a não ser na época das colheitas. Como ninguém saiu das naves nem mostraram hostilidade, a população aproximou-se para olhar. Nesse momento, uma naveta saiu dela e desceu para pegar Daniel e a população viu o nome no casco, descobrindo que a Terra trouxera socorro. Aos berros e cheios de alegria, ovacionam os salvadores.

– Nobuntu – disse Daniel, entrando na sala de comando, após trancar os tantorianos na prisão da nave. – Mande alguém separar dez corpos em bom estado, trazê-los para a nave e congelá-los, para irem para a Terra. Depois, ordene a todos que saiam de perto e dê uma descarga de desintegrador com mínimo de potência no restante dos corpos. É a melhor forma de limpar isto antes que o início da decomposição comece a trazer doenças desconhecidas da nossa ciência. Peça ao meu avô para me encontrar no meu camarote daqui a três horas porque nós precisamos de descansar um pouco. Por último, meu amigo, mas não menos importante, muito obrigado, pois o senhor fez um excelente trabalho. Daniel e a esposa foram para o camarote, seguidos pelo olhar de admiração do comandante.

– "Acabou, Dan."

– "Infelizmente não, princesa, está apenas começando. Temo que eles só parem quando forem aniquilados de fato."

Ambos deitaram-se e dormiram por duas horas, o descanso mais do que merecido. Renovados, levantam-se foram direto para o banho. Mal terminaram de se vestir, o avô bateu à porta.

– Entre. – A porta abriu-se e o governador entrou. – Oi, vô, sente-se que preciso de falar consigo.

– Chutamos o traseiro deles, Dan – disse à guisa de cumprimento.

– Sim, chutamos, vô, mas os recursos que dispõem são enormes e tenho as minhas preocupações, sérias preocupações.

– Depois do que vi aqui, meu querido, sou obrigado a concordar contigo. Eles são fundamentalistas extremistas contra os seres humanoides. Lutarão até à morte, mesmo se a causa está perdida. Impressionei-me muito. Bah, tchê, isso chega às raias do insano, meu Deus!

– Bem. Eu pretendo ir para a Terra e gostaria que o senhor voltasse a Vega XII. – Daniel tirou o computador da Jéssica que ele carregava sempre consigo. – Aqui, neste computador, tenho dois projetos prontos e só confio no senhor para os fazer.

Ele ligou o aparelho e o avô arregalou os olhos.

– De onde diabo tiraste essa engenhoca tão limitada, meu querido? – perguntou, espantado.

– Era da Jéssica. Tenho um carinho muito especial por ele, que fez com que descobrisse que a minha Daniela não vivia na Terra.

– Desculpa, filho – disse, constrangido. – Mas que história é essa?

– Tudo bem, vô. Sobre isso, a Jessy apareceu para mim uma noite e mandou-me olhar o diário dela, onde relatou um sonho em que a Daniela apareceu. Bem, veja isto. – Na tela apareceu um disco com vários canhões. – Este disco é uma mini nave, como os nossos modelos antigos antes de adotarmos as esféricas. No interior, temos quatro super-reatores de antimatéria, um supercomputador, campo de super-carga e estes belos canhões que lançam raios térmicos e desintegradores com cinco metros de diâmetro. Terão também um par de canhões de impulso e jato propulsores. Chamei-as de plataformas de defesa global ou planetária, cuja função é policiar o espaço à volta do planeta de forma robotizada. A nave que se aproximar sem um código e for identificada como não pertencente ao Império, será volatizada. A ideia é fazer um cinturão delas em cada planeta do Império, mas, primeiro a Terra, que é onde fica a sede do governo. Todos os planos, inclusive a construção dos canhões, estão no computador. Para os computadores de controle, vamos usar a nova IA que o João me ajudou a desenvolver.

– Fantástico, querido – disse o avô. – A ideia é fenomenal. Há um planeta desabitado em Vega que é um cemitério de naves e acho que em Beltelgeuse há outro. Deve haver milhares de discos. Com isso, economizaremos muito tempo e recursos nas construções. Vou ver com Carolina ou Guilherme, em Mitris, quantas há.

– Sim, mas antes quero que me construa uma nave nova o mais rápido possível e em segredo. É isto.

O avô viu uma nave esférica aparentemente idêntica à Jessy, embora o seu olhar observador notasse várias diferenças. Ela tinha mais canhões, muitos mais, e a proporção dos canhões em relação ao tamanho da Jessy era bastante diferente.

– Mas esta nave tem cerca de mil metros!

– Não. Presumo que o senhor calculou em função do tamanho dos canhões. Estes aqui são muito maiores. Esta nave tem mil e trezentos metros de diâmetro. Terá vinte super-reatores de antimatéria e poderá pôr um mundo em ebulição. Preciso dela porque esta guerra durará anos a não ser que consigamos poder e amigos influentes. Pretendo usá-la para visitar os centurianos. Outra coisa, peço para o senhor construí-la para mim, em Vega porque não quero que o imperador Saturnino saiba disso. No fundo não confio nele, nem um pouco.

– Claro, Dan, quanto menos aquele paspalho souber, tanto melhor. Por acaso sabes onde esses centurianos vivem?

– Eu não, mas os computadores das naves apreendidas sabem e uma delas será descarregada em Vega XII para os seus cientistas. A outra, na Cybercomp.

– Caramba, mas é lógico. Mandarei construir esta nave. Levarei muito menos tempo porque noto que os moldes são similares. Talvez uns seis meses.

– Obrigado vô. Agora, vou ver as fêmeas dos lagartos. Temo que elas sejam vítimas da natureza. Vens meu amor?

– Claro, Dan, adeus "vô" – disse ela, sorrindo e dando-lhe um beijo no rosto.

– "Santo Deus, que garota espetacular. Esse rapaz sabe mesmo escolher. Karma, como diria o meu pai" – pensou o avô, de si para si, dando uma risada alegre. Ele estava sempre de muito bom humor. Levantou-se e foi para a ponte, mas sem pressa, caminhando pelas esteiras rolantes dos diversos corredores e apreciando a obra fenomenal que o neto criou.

Passou pela engenharia para verificar se estava tudo ok após o confronto.

– Tudo em ordem, senhor – respondeu o engenheiro chefe, um indiano simpático – jamais vi algo como esta maravilha do espaço.

– É mesmo uma maravilha, senhor Kama. Até breve.

– Até, senhor.

A meio caminho, o governador de Vega XII mudou de ideia e saiu da nave, indo procurar o seu amigo Roberto, governador de Terra-Nova.

― ☼ ―

Inteligência Artificial.


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