Capítulo 3 - parte 3 (não revisado)

– Olá. – João sorriu para o casal que se aproximava. – Já soube da notícia. Parabéns.

Abraçou Daniela e continuou:

– Bem-vinda à família, Daniela, mas acho que fizeste má escolha, muito má mesmo. – Ele sacudiu a cabeça. – Bem, sempre há a opção do divórcio...

– Estou certa de que não. – Ela sorriu para o marido com os olhos muito brilhantes.

– Atenção – disse Daniel, tornando-se mais sério. – Preparem-se para sair. A Jessy A I e II irão na frente e a Jessy segue com uma janela de três minutos. Todos usarão os campos de supercarga ligados. Agora, a briga é pra valer.

Na hora exata, as duas naves auxiliares saíram dos seus respectivos hangares e dispararam pelo espaço em direção à frota inimiga, que já se concentrava em volta de Terra-Nova. Seis segundos depois, estavam à velocidade da luz e mergulharam com a precisão de um microssegundo para emergirem na cara de uma frota de cinco mil duzentas e noventa naves.

– Caramba, são bem mais do que pensei – disse Daniel, preocupado. – Fogo à vontade. Jessy A II, as naves aguentam, no máximo, cerca de duas mil ogivas, então tenham cuidado.

As pequenas naves, voando à metade da velocidade da luz, porém reduzindo bastante, atravessaram a frota inimiga com os desintegradores acionados. Quarenta cilindros do inimigo volatizam ou foram destruídas pelo campo de supercarga, arremessados para o hiperespaço.

– Atenção, Jessy – disse ele para o rádio enquanto a nava fazia um parafuso para evitar muitos impactos diretos. – Temos alguns milhares de pássaros de rapina e acabamos de furar o bloqueio. Venham, não esperem que corremos perigo.

– "Confirmado, Almirante" – disse Nobuntu, sério. – "Jessy a caminho."

Nobuntou olhou para a equipe e disse:

– Piloto, aceleração de emergência, postos de combate: ao emergirmos, fogo contínuo mas cuidado para não acertarem as naves auxiliares. Jessys A III a XII, entrem em prontidão rigorosa e preparem-se para sair dos hangares tão logo saiamos do mergulho. Engenharia, ponha tudo nos reatores. Alerta vermelho, atenção para o combate em dez segundos.

Com as sereias de alarme ainda tocando, a esfera imponente saiu do seu esconderijo, perto da corona solar de Canopus, e disparou em direção ao seu destino.

― ☼ ―

Vários feixes de raios e mísseis atingiram os campos de força das pequenas naves, que já reduziram a velocidade para apenas alguns poucos quilômetros por segundo de forma a poderem penetrar na atmosfera do planeta, do contrário poderiam até ser destruídas na entrada.

– Solicitação do campo em vinte por cento, trinta por cento... oitenta por cento. Senhor, corremos grande perigo!

– O campo aguenta uma leve sobrecarga, calma – disse o jovem, acalmando a tripulação. – Oficial de armas, comece a atirar sem dó nem piedade. Trate de mandar estes sujeitos para o quinto dos infernos.

Enquanto as pequenas naves defendiam-se atirando e destruindo os tantorianos, embora com alguma dificuldade por causa da rota tomada, uma sombra negra, enorme, escondeu o sol dos cilindros inimigos, tal e qual um eclipse. Assombrados, os tantorianos olharam para as escotilhas e viram surgir nas traseiras deles um monstro todo negro, absurdamente grande. O colosso deslocava-se a uma velocidade inconcebível e, do nada, acionou vários jatos de modo a poder parar quase que em cima deles. Aquilo era uma coisa que não concebiam nem em sonhos. A surpresa foi de tal forma grande que descuidaram do fogo contra as pequenas esferas.

– Uma nave monstruosa apareceu no nosso flanco – disse o oficial de navegação da nave capitânia. – Estão a três milhões de quilômetros e três quartos da velocidade da luz. Só pode ser humana porque é esférica. Impacto com a frota em quinze segundos. Senhor – o oficial começou a ficar roxo. – Senhor, aquilo tem uma tonelagem tão grande que poderia engolir toda a nossa frota e estão saindo de dentro mais dez naves das pequenas!

– Voltar e atacar. Ela é o maior perigo – respondeu o comandante, mantendo a calma. – Concentrem o todo o fogo da frota sobre ela.

Os cilindros viraram-se e avançaram para a nave gigante, a maior fonte de perigo, ignorando as pequenas. A Jessy nem tomava ciência do ataque porque o fogo concentrado de cinco mil naves de guerra tantorianas não era nem perto do suficiente para abalar os seus campos de supercarga, muito mais potentes que os das naves auxiliares.

A Jessy A I pairava no espaço, parada, e abriu todas as frequências de rádio normal e super-onda. Daniel começou a falar, primeiro em português e depois em tantoriano.

– Tantorianos. Aqui quem fala é o Daniel Moreira, do planeta Terra, Almirante eleito líder supremo da frota de combate do Império do Sol. Tendo em vista a invasão que vocês fizeram a um pacífico planeta humano e tendo ignorado todos os avisos de retirada e soluções pacíficas, eu, com o meu poder de representante direto do Imperador do Sol, Saturnino I, declaro agora estado de guerra entre o Império do Sol e o Império de Tantor. Preparem-se para serem exterminados.

Cortando a comunicação, as duas naves auxiliares iniciam uma descida violenta em direção ao espaçoporto. A meio caminho os aparelhos cilíndricos pousados começam a bombardear as pequenas esferas sem sucesso. Os lagartos dispararam toda uma bateria de mísseis, imediatamente desviados para o hiperespaço, felizmente, pois a radiação atômica teria provocado estragos catastróficos sobre a cidade.

― ☼ ―

Perto do espaçoporto, vários rebeldes observavam os soldados, não se desse o caso deles mudarem de ideia e fazerem uma incursão maciça que, em vista da superioridade numérica, seria o fim da cidade.

Espantados, observaram uma bateria de mísseis saírem das duas naves e subirem para o espaço.

– Acho que o prazo de ultimato acabou e o mestre Daniel vem com tudo para cima deles – disse o líder do grupo de observação.

– Espero que eles resistam ao ataque deles – afirmou outro.

– Só o que podemos fazer, é observar, meu amigo, mas tenho a certeza que aquele homem não brinca em serviço. Afinal já tivemos fortes provas disso.

Eles ouviram um barulho assustador e olharam para cima. O que viram, fê-los congelar o sangue nas veias porque duas bolas de fogo gigantescas desciam do céu com uma velocidade inconcebível e justamente naquela direção. Alguns dos rebeldes, apavorados, acreditavam que fossem as naves do Daniel atingidas e caindo. De qualquer forma, haveria um risco grave e eles já não tinham tempo de sair dali para se abrigarem.

– PROTEJAM-SE – gritou o líder, assustado. – Aquilo vai provocar um furacão enorme, isso se sobreviermos à queda das naves!

Eles procuraram agarrar-se a qualquer coisa sólida, mas não paravam de olhar e foi com surpresa e alegria que viram as naves da Terra pararem a sua queda violenta com uma rapidez incrível e já perto do solo, apenas dez metros de altura, mas o vendaval que dali surgiu teve a violência de um pequeno tornado e varrendo os tantorianos que levaram algum tempo a reagir. Ambas as Jessys liberam as colunas telescópicas e pousaram lado a lado, começando a despejar gente.

– Dragões Vermelhos e Dourados – disse o líder rebelde, muito satisfeito com o que observava. – Agora, sim, esses verdes vão apanhar muito. Vai ser lindo de ver.

― ☼ ―

– Canhão PEM, fogo sobre o espaçoporto – disse Daniel. O oficial da artilharia disparou a arma silenciosa. Ali nada aconteceu, mas, nas naves paradas em terra, todos os aparelhos eletrônicos cessaram de funcionar sem a menor explicação. Somente os equipamentos do Império eram imunes a isso desde que essa arma fora criada.

– Amor, o que faz esse canhão?

– Elimina toda a atividade eletrônica. Nem as pistolas deles funcionam mais porque usam dispositivos elétricos para o detonador. Agora, será Dragão contra tantoriano. Mano a mano. Foi esta arma que te matou na outra vida, Dani. Eu resgatei-a do inimigo.

― ☼ ―

No espaço, a Jessy começou a atacar e, sem explicação, duas naves explodiram sozinhas.

Ao mesmo tempo, doze feixes de pura destruição rebentaram mais uma dúzia de naves. Para assustar ainda mais o inimigo, as dez naves pequenas que haviam saído antes abriram fogo contra a frota, onde cada raio era mais uma nave destruída.

Um após outro, os aparelhos tantorianos iam caindo como moscas, eliminados sem contemplação pelo cruzador da Terra e as suas naves auxiliares. O inimigo teve a sua chance de se retirar em paz.

– Fogo sobre a frota – disse Nobuntu, falando sem o menor remorso. – Destruam tudo o que estiver no caminho, mas não se esqueçam de deixar uma nave intacta.

― ☼ ―

O comandante tantoriano estava com o couro muito roxo, sinal que se encontrava nervoso ao extremo. Jamais sonhou que os humanos fossem tão poderosos, embora não fosse por falta de aviso. Primeiro, ele viu com satisfação a pequena nave fugir quando a poderosa décima frota chegou ao sistema. Só que, horas depois voltou não uma, mas sim duas daquelas naves tão terríveis. Elas furaram o bloqueio com uma facilidade assustadora, destruindo várias unidades tantorianas na passagem. Resistiram ao fogo concentrado da frota, embora ele tenha notado que, por um momento, os campos de força assumiram um tom avermelhado, o que devia significar uma sobrecarga se formando. Depois, do nada, surgiu aquele monstro assustador que passaria a povoar os seus pesadelos por muito tempo. A sua frota nada pôde fazer e ele viu, com desespero, as naves cilíndricas explodindo uma após a outra. Isso tudo, depois de ouvir a declaração de guerra.

As pequenas esferas desceram com uma rapidez inconcebível, para só reduzirem a velocidade perigosamente perto da superfície. O fogo que as naves estacionadas lançam sobre elas, nada pôde fazer. Um verdadeiro vendaval aconteceu no espaçoporto, provocado pela velocidade enorme que as duas esferas desenvolviam.

– Decolagem de emergência – gritou para o piloto. – Rápido, decolar.

Mesmo um tantoriano, que não aceitava a derrota para os humanoides, tinha um instinto de preservação e ele prevaleceu sobre o orgulho, mas já era tarde porque nada aconteceu. Toda a nave ficou sem energia, às escuras.

Fora derrotado sem nem mesmo ter tempo de começar a lutar de verdade. As duas pequenas naves, agora ele entendia quando o humano lhe disse que era apenas uma pequena nave auxiliar, pousaram a trezentos metros de distância.

Os tantorianos eram tudo menos covardes. Ao verem a luta perdida, juntaram todo o contingente de pouco mais noventa mil guerreiros no campo, prontos para atacar os humanos.

Das duas esferas saíam homens que se perfilavam em arco, abrangendo uma área razoável. Eram os Vermelhos posicionando-se na periferia do campo. Depois, desceram os Dourados. Cada um deles comandava quarenta Vermelhos, sendo que Lee pegou o último lote. Por último, apareceram os seis Brancos, todos vestidos a rigor. Os Vermelhos carregavam espadas e estavam com uniforme completo. Olhar aquela massa imensa de homens preparando-se para combater era uma coisa, mas, olhando de onde estavam os rebeldes, eles eram uma porção minúscula da quantidade de seres que iam entrar em batalha.

– Será que eles podem vencer? – perguntou um deles, meio preocupado.

– Facilmente – respondeu outro. – Aqueles ali são Brancos. Vocês vão ver o desastre que vai ser para os demônios alienígenas.

Um alto-falante da nave berrou para os invasores na língua deles.

"Tantorianos, estão cercados. Tiveram a vossa chance de se retirarem. Agora, somente os sobreviventes poderão retornar. Aqueles de vocês que se renderem, serão poupados. Do contrário, enfrentarão a destruição sumária.

Têm trinta segundos para decidir."

Os invasores começam a avançar. Não acreditavam que noventa mil soldados pudessem ser derrotados por pouco mais de duzentos. Simplesmente andavam sem pressa em direção aos Grandes Dragões. Na mente de um tantoriano, era inconcebível ser vencido por um humano.

― ☼ ―

Os observadores no terraço do edifício da administração portuária olhavam o grupo de Dragões, alguns bem incrédulos.

– Caramba, são pouco mais de duzentos! Ainda estou preocupado.

– Já disse que só os Brancos seriam suficientes. – Insistiu o chefe.

Os homens notaram que os noventa mil lagartos espalham-se em um grupo compacto, mas enorme. Enquanto um deles, o chinês, tinha uma fé inabalável nos Dragões, os outros quatro ficavam com uma certa dúvida. Escutaram a mensagem da nave na língua dos inimigos, sem entenderem nada, mas concluíram que se tratava de um ultimato. A vaga verde de soldados começou por avançar sobre o exército de Dragões que estavam dispostos em grupos que formavam meias luas, ao longo da largura do campo de pouso. Os Brancos começam a avançar na dianteira, seguidos dos demais.

Abismados, os rebeldes viram Daniel contrair a musculatura e avançar um passo, muito rápido, atacando alguém que poderia estar a um metro dele. Só que não havia nada à sua frente, exceto os lagartos a uns de dez metros.

O que olharam era inconcebível porque um grande grupo de verdes foi atirado para trás com muita violência, morrendo na mesma hora e levando vários outros que estavam atrás só com o impacto.

– Minha nossa! – comentou um deles. – Matou perto de um ou dois milhares deles sem sequer lhes tocar!

– Esses são os Dragões...

– Tá, já sei – interrompeu o amigo, fascinado.

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