Capítulo 3 - parte 2 (não revisado)

– Comandante, temos uma verdadeira rebelião na cidade. Cinco mil soldados estão nas ruas e muitos estão sendo mortos pelos rebeldes. E agora não são só os rebeldes. O povo uniu-se a eles em uma egrégora tão forte que os sodados estão cedendo e caindo um após o outro, senhor. As baixas são grandes demais.

– Mande mais cinco mil soldados. Só matem humanos rebelados. Não adianta conquistar um mundo e matar a população. Quem irá trabalhar para nós?

– Sim, comandante.

O subalterno retirou-se e o comandante pensou por algum tempo. Aguardava que a frota se posicionasse porque, assim que estivessem em órbita, mandaria descer mais cem mil soldados para impôr respeito. Uma boa demonstração de força deveria ser suficiente para submeter e dobrar a população.

Na cidade, os combates continuavam cada vez mais violentos e cerca de trinta rebelados sucumbiram aos invasores, mas ninguém desistia. Por outro lado, mais de mil soldados verdes já foram mortos e mil novas armas passaram para as mãos povo e dos rebeldes que ganharam um reforço, aumentando na mesma proporção e tornando a situação cada vez mais crítica para os alienígenas.

O pior, no entanto, eram os combates promovidos pelos primeiros rebelados, os que possuíam as armas de raios térmicos e as mochilas. Eram o que se poderia chamar de a força aérea de Terra-Nova e já derrubaram quase cem planadores do inimigo, que estava ficando carente de recursos.

O exército invasor recebeu um reforço de cinco mil lagartixas e as lutas ficavam cada vez mais encarniçadas, criando alguma dificuldade para os humanos. Mas, ao contrário do lógico, só lhes dava mais força, porque sentiam que estavam vencendo.

― ☼ ―

– Bem – principiou Daniel. – O ultimato que lhes dei termina amanhá às nove horas, daqui a dezesseis horas. Faremos um ataque em duas frentes. Descerei no planeta com duas naves auxiliares que carregarão as tropas. Com a arma de PEM instalada na Jessy A I, neutralizamos as naves que estão pousadas na superfície. Investiguei a tecnologia desse povo e sei que não são imunes à PEM. Outra vantagem nisso é que as armas das tropas de terra, pararão de funcionar porque os detonadores são elétricos. Entretanto, temos de os dominar em cerca de uma hora, já que após esse prazo os efeitos do disparo terminam, embora possamos fazer um novo disparo.

– Isso facilita as coisas para os nossos Dragões – disse o avô, pensativo. – Agora, é hora de extirpar o mal pela raiz.

– O segundo grupo, composto pela Jessy e as dez naves auxiliares que sobram – continuou o rapaz. – Emergem em cima deles e partem para o ataque. Deverá ser deixada apenas uma nave inteira, para fugirem e contarem que somos poderosos demais para eles.

– Infelizmente, meu jovem, não creio que isso vá acontecer em hipótese alguma – disse o doutor Chang. – Pelo tempo em que estive prisioneiro deles, acho que só uma derrota fulminante os fará recuar.

– Concordo com o senhor, doutor, mas sempre há uma esperança. Além disso, a derrota que sofrerão será radical. Vô, quanto tempo até à sua frota ficar pronta?

– Uns dois meses, creio eu. Aquela última modificação é pra lá de sensacional.

– Qual, o campo de refração?

– É, isso vai dar um tremendo susto nos sujeitinhos. Pena que não foi possível instalar nesta nave.

– Certo – disse Daniel. – Mas agora é a hora da força bruta, uma vez que eles não aceitaram trilhar outro caminho por mais que eu tentasse. Eu quero uma nave inteira para obter informações dos computadores e alguns prisioneiros. Assim sendo, não destruam as naves pousadas. A Jessy vai se concentrar em destruir a frota invasora no espaço, a menos que peçamos socorro. O comando de terra tratará do restante. Vô, o novo canhão de impulsos já foi instalado na nave?

– Foi, querido, e é assustador. Temos dez mil bombas atômicas grandes e cem mil pequenas. Vamos atacar as naves com ele. Há dois instalados na Jessy.

– O que é isso? – perguntou o doutor Chang, que jamais ouviu tal nome.

– Trata-se da mais terrível e fenomenal arma que o meu neto projetou, doutor. Com ele, podemos contrabandear coisas para dentro das naves inimigos. No nosso caso, iremos mandar bombas atômicas.

– Mas como isso funciona? – perguntou o médico, espantado.

– Ele arremessa qualquer objeto pelo hiperespaço, materializando-o onde nós desejarmos, no caso, dentro das naves inimigas.

– Por Buda, que arma fenomenal, mas eu ainda estou curioso em saber onde arranjaram dez mil bombas atômicas.

– Fácil, doutor. O meu pai fez com que todas as armas de destruição em massa fossem retiradas da Terra, mas, prevendo riscos como este, não permitiu que fossem destruídas. Em Vega XII, há um verdadeiro arsenal delas, muito bem guardado.

– O seu pai foi um homem excepcional e muito previdente, governador.

– Obrigado pelo elogio, doutor. Sim, foi e continua sendo. O seu genro é o meu pai renascido. Ele lembra-se.

– Bem sei, governador, a minha filha já me disse isso, assim como ela também é a falecida noiva dele. Mas é uma coisa tão incrível termos essas informações, antes meras especulações de religiosos, que ainda não me habituei a elas.

– Tem razão, doutor. Acho que apenas eu é que já me habituei a isso – disse o avô com um olhar de profundo amor pelo neto. Após uns segundos, soltou uma estrondosa gargalhada.

– Caramba, vô – disse Daniel, tapando os ouvidos – o senhor acaba me deixando surdo. Acho que nós telepatas não precisávamos de ter ouvidos tão sensíveis.

Daniel não devia ter feito esse comentário, pois provocou nova gargalhada do avô que foi recompensada com uma careta geral dos participantes da reunião.

– Desculpem-me – disse o gevernador –, mas há muito tempo que eu não tinha o meu bom-humor restabelecido. E, agora, sinto-me tão bem que não me controlei.

Muitos dos presentes naquela reunião sabiam sobre a Jéssica e entenderam o que o governador disse, menos o pai da Daniela e Chien. Ela, usando a telepatia, transmitiu a informação para o pai e ele passou a entender.

― ☼ ―

Os combates intensificaram-se bastante porque os rebelados conheciam muito bem a cidade, ao contrário dos invasores, e conseguiam criar diversas emboscadas, promovendo uma verdadeira guerrilha urbana contra os alienígenas que não estavam habituados a ter resistência pela frente. Embora já tivessem morrido quarenta homens, o número de rebeldes armados subiu para mais de quatro mil.

– Comandante – chamou o ordenança, desesperado. – A situação está crítica e os nossos soldados são apanhados às dezenas. O pior é que os humanos pegam as nossas armas e o efetivo deles cresce cada vez mais. Corremos o sério risco de sermos derrotados.

– Mande os soldados recuarem e se posicionarem no espaçoporto. Concentre-os todos junto às naves. A frota já chegou e daremos um jeito neles em breve. Continuo achando desnecessário matar a população deste mundo. Mande fazer um levantamento de perdas. Em vinte horas, três naves vão descer com mais cem mil soldados, já solicitei o desembarque.

― ☼ ―

A alguns minutos-luz dali, a equipe continuava a sua conversa sobre o ataque aos invasores. Depois que todos os detalhes foram acertados, o Daniel aproveitou e contou-lhes sobre os humanos escravizados e os centurianos.

– Eles são incrivelmente poderosos, mas retraídos, e nós precisamos muito de amigos desses, embora não possamos fazer nada por agora. Bem, voltando ao ataque. Nobuntu, você comandará a Jessy. O meu avô comandará a Jessy A II porque desejo levar para a superfície todos os Brancos. São noventa mil soldados a se enfrentar. Eu comandarei a Jessy A I. O senhor deve ir à central de artilharia aprender sobre o armamento desta nave de modo a estar em condições de dar as ordens corretas no momento preciso.

– Sim, Almirante. – O comandante Nobuntu exalava felicidade ao receber o comando da nave dos seus sonhos, uma gigantesca esfera de setecentos e setenta metros de diâmetro, a maior nave concebida pelos seres humanos.

Terminada a reunião, Daniel levou a namorada para conhecer a mais poderosa nave do império e ela ficou bastante impressionada com o projeto dele. Passearam pelas esteiras rolantes e elevadores antigravitacionais por mais de duas horas. No fim, levou-a para conhecer o observatório astronômico, uma sala muito grande imediatamente abaixo da ponte. Ela estava vazia e com tudo desligado. Ao entrarem, uma luz vermelha, suave, iluminou debilmente o recinto. Quando ele ligou os projetores holográficos que preenchiam toda a parede circular, o teto e grande parte do piso, a moça ficou assustada porque viu metade da nave envolvida com as chamas intensas do sol muito branco de Canopus. Com um pulo de medo, agarrou-o.

– Amor, vamos pegar fogo! – explamou.

– Não, anjo, estamos perto do sol porque não seremos localizados, mas os campos de força protegem-nos facilmente. A linda jovem olhou para o outro lado, onde nada via por estar tudo negro. Daniel regulou o equipamento para mão mostrar o lado do sol e o universo passou a ser visível no outro lado da sala.

Abraçada ao namorado, ela curtia a beleza daquela imensa salada de estrelas.

– Como o universo é belo!

– É sim, Dani, ainda mais se tu estás perto de mim.

– É possível ampliar as imagens? – perguntou após um longo e ardoroso beijo. – Queria ver o Sol!

Levou a garota para uma mesa cheia de controles e procedeu a um ajuste nos telescópios automáticos. Ao fim de algum tempo, o setor do sol começou a crescer, como se preenchesse o interior da nave, e uma seta no ar apontou o Sol. Daniel pegou a mão dela e levou-a até ao ponto. Para quem não estava habituada àquela tecnologia podia estranhar muito porque pareciam caminhar no meio da Galáxia. Para ela, o sol parecia apenas mais um ponto, levemente amarelado, mas representava tudo o que desejava ver.

– Céus, como procurei essa estrela, achando que, ao vê-la, me sentiria mais perto de ti, Daniel.

Daniel fez um gesto com as mãos e centrou o sol dentro de um círculo criado pela união dos dedos polegares e indicadores. Aguardou dois segundos e uma ligeira piscada de luz foi o sinal. Após, ele afastou as mãos devagar. Para espanto da namorada, o setor inicialmente abrangido dentro das suas mãos começou a ampliar, acompanhando o movimento das mãos. Em poucos segundos, ela conseguiu ver os planetas e até as luas. Fascinada e divertida, disse:

– Caramba, bem que eu podia ter feito isso lá das cavernas. Ia expandir a imagem toda até aparecer a tua casa e ficaria a te observar.

Ele riu bastante e, terno, beijou a mulher por quem se apaixonou perdidamente. Depois, achou conveniente dormirem um pouco para manterem as energias altas, especialmente todos os Dragões que iam entrar em combate no dia seguinte.

Ela seguiu com o namorado para o seu camarote.

– Os teus pais não vão ficar apreensivos, princesa?

– Eu já sou maior há três anos, Dan – respondeu. – Além do mais, já nos conhecemos há muito tempo. Eu, por mim, já estava casada contigo.

– É isso que queres? – Ele puxou-a e beijou-a, enlaçando-lhe a cintura.

– Mas claro. – Antes que ela pudesse reagir, ele saltou e viram-se de frente à cabine dos pais dela. Apertaram no botão para se anunciarem e no outro lado a tela mostrou quem era.

O doutor Chang disse para a porta.

– Abra. – Ela deslizou e ambos entraram, ainda abraçados. Daniela nem o deixou abrir a boca, antecipando-se:

– Pai, mãe, nós queremos nos casar.

– Mas filha, vocês mal se conhecem!

– Aí é que vocês se enganam. Nós já nos conhecemos desde outras vidas e temos muitas lembranças, inclusive da anterior, na qual morri antes de nos casarmos. Além disso, falamo-nos desde que nascemos. Não, mãe, já nos conhecemos há muito tempo, séculos até. Apenas tínhamos perdido o contato um com o outro.

– Muito bem, se vocês desejam isso, queremos que sejam muito felizes. Quando pretendem?

– Pode ser agora – respondeu Daniel, sério. – O meu avô é capitão interino da nave e, como tal, tem o poder necessário para nos casar. Vocês acompanham-nos?

– Mas claro. Afinal é a nossa filha, rapaz. – Caminharam pelos corredores da nave para encontrarem o avô na sala de comando.

– Vô, queremos pedir um favor, se não se importar.

– Querem que eu case vocês?

– Como sabe? – perguntaram ambos ao mesmo tempo, assombrados. O avô deu uma nova gargalhada estrondosa, fazendo os presentes cobrirem os ouvidos.

– Está escrito nos teus olhos, filho e em ti também, minha linda. És mesmo o meu pai, Daniel, só ele para fazer algo assim. Venham, vamos a isso.

Meia hora depois estavam casados.

– Só tu, Dan, casas às portas de uma guerra e passas a lua de mel no comando de uma nave de combate.

– Não temos escolha, vô. Creio que esta guerra será longa e desgastante. Até amanhã.

O casal desapareceu no ar, para a intimidade da cabine. No final, não dormiram grande coisa, mas estavam mais felizes do que nunca. Quando se levantaram, tomaram um café rápido e saltaram diretamente para o comando da Jessy A I. O primo dele e a equipe de desembarque já estavam por lá, aguardando o comandante que chegou com a esposa e um sorriso enorme no rosto. Os seus olhos brilhavam muito.

― ☼ ―

– Os lagartos retiram-se – disse um dos rebeldes aos berros, pousando com o seu grupo na praça central da cidade, em frente ao hospital. – Podíamos dar-lhes caça.

– Não – respondeu o chefe, mais comedido. – Estaríamos cometendo suicídio. Lá não há lugares para fazermos tocaia e são cerca de noventa mil lagartixas. Se todos os rebelados tivessem as nossas armas, seria diferente.

– Mas o que faremos, então?

– Vamos manter a cidade limpa. Patrulhamos tudo e matamos qualquer um desses batráquios que aparecer. Mestre Daniel vai atacar em poucas horas.

– Combinado, vou organizar um grupo para procurar feridos e retirar os corpos antes que apareçam doenças por aqui – disse o prefeito com uma arma dos inimigos na mão e um grande sorriso no rosto. – Acho que nunca me senti tão jovem como agora.

Com um grande mutirão feito pelos cidadãos de Terra-Nova, começam a se reorganizar, transportando feridos, removendo os mortos e empilhando os corpos dos invasores para serem cremados em uma vala. A contagem feita às pressas trouxe o resultado: cento e vinte mortos e mais de duzentos feridos. Os dois hospitais da cidade estavam abarrotados de seres humanos, mas ninguém se arrependeu. Vários voluntários ajudavam no tratamento deles porque havia poucos médicos e enfermeiros. A capital daquele mundo sofreu um grande revés, mas tirou uma lição disso e a sensação de união que sentiam era muito forte, praticamente uma fraternidade. Em todos os lugares, só se viam sorrisos, exceto por vários parentes dos mortos e feridos, que estavam entre a primeira leva de voluntários nos hospitais. Não choravam a morte deles, os primeiros grandes heróis daquele mundo tão distante da Terra, porque ainda não era hora para prantear, mas desempenhavam as suas funções, serenos e corteses para com os sobreviventes.

― ☼ ―

PEM – Pulso EletroMagnético. Basicamente emite um impulso eletromagnético ultra potente que desliga todos os aparelhos que usam energia elétrica.


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