Capítulo 2 - parte 2 (não revisado)

Na cidade, uma patrulha de tantorianos parou um grupo de cidadãos para os revistar e interrogar. O povo começava a ficar cada vez mais rebelde quanto aos invasores e não mais se dobrava com subserviência, ainda mais após verem que eles podiam e deviam ser destruídos. Irritado, um dos soldados atirou num dos cidadãos. A consequência desse ato foi sentida no mesmo instante porque vários raios térmicos cruzaram o ar com aquele tradicional crepitar similar ao de um raio caindo antes do trovão se formar e mataram a patrulha. Tão rápido como vieram, os rebeldes desapareceram, deixando apenas cadáveres no chão. Os cidadãos desapareceram do local num piscar de olhos, enquanto dois dos rebeldes desceram ao solo e levaram o ferido para o hospital, voando rápido. Felizmente, alguns médicos voltaram a trabalhar, embora às ocultas. Conforme as ordens do Daniel, não mais se submeteriam ou permitiriam uma incursão dos alienígenas. A ordem, agora, era atirar para matar, porque já passou o tempo de conversar e convencer por meios racionais.

Uma hora depois, apareceu uma centena de soldados, enchendo a rua com uma enxurrada de verdes. Investigaram o local sem nada encontrarem. Daniel estava no QG dos rebeldes, a cave de um restaurante de um amigo do Chien. Conversou com eles e deu algumas informações, além de instruções. Depois, saiu pela porta e caminhou pela cidade, despreocupado. Ele pretendia ver o comportamento dos soldados e provocar mais confusão. Só não imaginava que a sua futura ação interferiria de forma decisiva naquele povo de tal forma que as coisas iam ficar bem feias para o inimigo tão odiado.

A primeira coisa que notou foi que havia menos patrulhas, mas cada uma delas era sempre formada por, no mínimo, dez indivíduos, muitas de vinte ou mais verdes. Passou em frente ao prédio da central de comunicações e observou a destruição que fizeram nele. Algumas equipes de pessoas já começaram a remover o entulho e limpar o local, como se a população estivesse, aos poucos, voltando à vida normal. Continuou o seu passeio e, ao dobrar uma esquina, deparou-se com um grupo de trinta tantorianos, ignorando-os. Eles, desconfiados, mandaram-no parar, que sorriu para os invasores e disse:

– Tenha a bondade de ir pró inferno, meu velho, não enche o saco, desaparece, some, me perde, lagarto miserável.

– Como ousa falar assim com um representante da lei e da ordem?

– Você não passa de um invasor alienígena, seu monte de bosta. Não representa ordem alguma, batráquio. É um mísero pirata que deveria estar morto.

Furiosos, os soldados tentaram erguer as armas, chiando muito. Espantados, descobriram que elas não obedeciam, permanecendo nos coldres como se as tivessem colado.

– O que foi, seus inúteis – vários pedestres correram para longe, mas não deixaram de acompanhar nas esquinas, com apenas a cabeça aparecendo e um misto de medo e curiosidade por verem um jovem sozinho e desarmado desafiando todo um batalhão de invasores. Eles não acreditavam nos próprios olhos, mas o grupo dos demônios verdes não levava vantagem. – Não conseguem pegar as armas? Por que não me atacam com as mãos? Têm medo?

Os tantorianos desistiram de tentar pegar nas armas e avançaram sobre o rapaz. Ele, berrando de forma assustadora, atirou-se a eles, iniciando um combate violento e rápido. Logo nos primeiros segundos, vinte tantorianos caíram sob a força dos músculos do Daniel. Quando sentiu-se farto de lutar, recuou e desferiu um golpe dos Brancos sobre os restantes. Ele estava a uma distância de uns cinco metros quando usou a força interior em intensidade reduzida e, mesmo assim, os dez lagartos restantes foram atirados para trás com tanta violência que acabaram colidindo com o prédio que estava às suas costas e a uma distância razoável, com o corpo esmagado. A brutalidade foi tamanha que a parede o prédio rebentou parcialmente. Abismados, os nativos olhavam aquilo com um misto de admiração e respeito.

– Bando de imbecis – disse de si para si, em cantonês. – Só mesmo um lagarto estúpido para ousar desafiar a ira de um Grande Dragão Branco.

Alguns moradores tinham-se aproximado e ouviram a última parte do comentário. Os que eram de origem chinesa, aproximaram-se mais e ajoelharam-se perante ele.

– Levantem-se, irmãos – pediu ele, que não gostava nada que se ajoelhassem para si em posição tão subserviente.

– Mestre, obrigado por nos ajudar – disse um deles. – Podemos ser úteis em alguma coisa?

– Por favor, recolham as armas deles e levem aos rebeldes, mas sejam rápidos. Deixem os corpos aí mesmo e desapareçam de modo a que não vos possam pegar.

– Sim, mestre, mais uma vez, obrigado.

Daniel fez uma pequena mesura e saiu andando. Voltou a sentir a tristeza de ter morto, mas sabia que não lhe davam uma alternativa. Enquanto andava, começou a ouvir passos ao seu lado. Quando olhou, deparou-se com a sua falecida mulher, toda de branco, contrastando muito com os cabelos de um laranja intenso, quase fogo. Um dos homens que recolhia as armas, olhava para ele quando viu a moça surgir do nada ao seu lado. Boquiaberto, parou e observou.

– Oi, meu amor – disse ela. – Não fiques angustiado com isso que não vale a pena.

– Não tenho como não ficar, Jessy, são seres vivos!

– Precisas de separar as tuas emoções. Eles não merecem essa compaixão, não por hora, mas tu irás salvar a espécie no seu devido tempo, Dan. Vejo que estás melhor, agora que encontraste a tua verdadeira Daniela. – Ela sorriu.

– Tinhas razão, Jessy – respondeu meigo. – De fato eu apaixonei-me por ela mal a vi, mas ela é uma alma gêmea, da mesma forma que tu.

– Há mais outras, algumas das quais já conheces, inclusive os teus pais e futuros sogros.

– Mesmo assim, o meu amor por ti não desapareceu, Jessy. Às vezes isso é estranho para mim.

– Eu sei, anjo, mas agora esse amor está em outro plano e é assim que deve ficar. Em um futuro distante, vocês estarão comigo neste lugar maravilhoso porque, se cumprirem o vosso destino, também ascenderão. Será daqui a muitos séculos, mas aguardarei.

Ele sorriu para ela e parou de caminhar. Parados frente a frente, ela beijou-lhe os lábios e apertou-o contra si. Sabia que ele precisa desse carinho e, apesar de não fazer mais parte dos seres vivos, sentia um profundo amor por aquela alma tão bondosa e gentil, daquele que já foi o seu marido, apesar de ter sido por pouco tempo.

– Agora eu vou partir, mas, sempre que precisarem de mim, estarei de volta. Tu estás no caminho certo, mas não te afastes daqueles homens. Um dos alienígenas deu o alarme antes de morrer. Há uma patrulha enorme vindo para aqui e vai chegar em poucos minutos. Adeus, meu Dan, paz para ti.

– Paz, minha Jessy. Sinto muito a tua falta.

Ela afastou-se e sorriu. Devagar, uma luz branca muito intensa começou a lhe envolver o corpo, que desapareceu como se jamais tivesse estado presente. Os moradores que assistiam aquilo, ficam tão impressionados que se esqueceram da sua tarefa.

Daniel olhou para o lugar onde ela esteve por uns segundos e sorriu de novo. Depois, caminhou de volta os cinquenta metros que percorrera.

– Escondam-se já que há uma patrulha enorme vindo para cá. Esperem até que eu termine com eles.

Pegaram as armas que recolheram, quase todas, e correram em todas as direções, desaparecendo no meio dos edifícios. Como que por encanto, a rua ficou vazia exceto pelos cadáveres, embora centenas de olhos observassem tudo, escondidos.

Daniel sentou-se no chão e aguardou, não precisando de esperar muito quando mais de duzentos "homens" apareceram. Ele observava aqueles seres de cerca de dois metros e vinte de altura, com o corpo verde, pernas curtas e braços mais longos, muito desproporcionais em relação ao ser humano, vestidos com uma roupa de um tipo de couro brilhante. A cabeça, bastante parecida com um sapo fazia com que, à primeira vista, parecessem muito feios e até assustadores, apesar do Daniel já não os ver assim porque poderiam até vir a ser agradáveis aos olhos, se fossem mais simpáticos e tolerantes. Para eles, a raça humana só servia para uma de duas coisas: ser morta ou escravizada. A patrulha chegou de armas na mão e olhou os companheiros mortos. Depois, observou o humano, sentado no chão.

– Quem fez isto? – perguntou um dos lagartos.

– Eu, alguma objeção?

– Quer que eu acredite que você fez isto sozinho e desarmado?

– Acredite no que quiser, idiota, mas eu jamais minto.

– Levante-se, está preso.

Ele levantou-se e olhou para o inimigo, que tinha uma arma apontada para si. Com as suas energias telecinéticas já travou os mecanismos de todas as pistolas do batalhão inteiro, anulando o circuito interno e impedindo que estas pudessem atirarpor algum tempo.

– Falar é bonito, mas quero ver como pretende prender-me. Vocês são muito poucos para poderem fazer isso, seus patetas.

Irado com a impertinência, o lagarto avançou sobre Daniel, crente que lhe ia dar uma sova. Quando estava perto o suficiente, ele usou o seu poder interior e o soldado foi projetado para trás com uma violência absurda, atropelando com o corpo mais de uma vintena de colegas que morreram na hora, tamanha era a potência da sua energia.

– Vocês não têm a menor condição de me derrotarem, seus bastardos inúteis e estúpidos. – Fazia questão de os agredir verbalmente para os desorientar ainda mais.

Eles apontaram as armas e atiraram, mas não dispararam, para seu grande espanto, como previsto. Conscientes da superioridade numérica, iniciaram um avanço sobre o jovem, que recuou e usou novamente o seu poder do Branco, matando todos na hora.

Olhou aquele monte de corpos no chão e logo depois viu os nativos aproximarem-se. Fez sinal para pegarem todas as armas e retirou-se, desgostoso. Andou mais umas centenas de metros e teleportou-se para a nave inimiga. Na sala do comandante, ele estava reunido com mais quatro tantorianos que, ao verem-no, calaram-se e pegaram as armas. Daniel, para não perder tempo, fez com que as armas adquirissem vida própria, subindo para o teto.

– Se vocês maltratarem a população ou atacarem mais alguém, sentirão a minha ira de tal forma que vos reduzirei a pó, entenderam? – pegou em um deles com o braço estendido e ergueu-o no ar, apertando-lhe o curto pescoço e chacoalhando-o sem dó nem piedade. Depois, atirou-o para o outro lado da sala, fazendo com que voasse os cinco metros que o separavam da parede, caindo desmaiado. – Agora vocês podem mandar uma equipe recolher os corpos daqueles idiotas que me ousaram atacar. Que isto fique de aviso, comandante: a minha bondade tem os seus limites e já avisei que vocês não são pário para nós, então não insistam, se querem continuar vivos.

Daniel desapareceu dali, à frente de cinco seres alienígenas desorientados. Libertas da influência mental deste, as armas caíram no chão. Devagar e ainda com muito medo do que viram, recolhem-nas e colocam-nas nos respectivos coldres.

– Mas que coisa mais maluca – disse o comandante.

– Estamos lutando com demônios e fantasmas, comandante. Nunca vimos um planeta humano assim.

– Nem eu – confirmou um terceiro. – O que pretende fazer?

– Por enquanto nada. Vamos aguardar a frota, mas, na dúvida, procurem não incomodar esses vermes.

Calou-se por algum tempo e depois acrescentou:

– Mandem uma patrulha de planadores para ver o que aconteceu.

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