Capítulo 2 - parte 1 (não revisado)
O comandante alienígena, um sujeito que parecia um crocodilo ereto com cara de sapo e uma altura bastante avantajada, estava assombrado com as imagens que tinha à sua frente. Ainda não havia visto uma nave do Império do Sol deslocar-se porque estava naquele mundo há pouco tempo. O seu antecessor, morto por ter cometido um crime hediondo para a raça deles, havia-lhe falado disso. Só que, entre ver e ouvir, as coisas eram muito deferentes. Para piorar tudo, o poder destrutivo das armas dos humanos da tal de Terra era aterrador. As suas ordens de combate foram inúteis e nada podia penetrar aqueles campos de força fortes como nunca viu. Ordenou um ataque maciço com todas as armas de todo o contingente de naves sem qualquer resultado. Apavorado, observava trezentas das suas melhores unidades ficarem impotentes contra aquela nave esférica de apenas cinquenta metros de diâmetro que se movia no meio deles ignorando as armas inimigas e contribuindo para a destruição de alguns barcos. Apesar da nave dos seres da Terra ser maior em volume, jamais poderia ter a capacidade de enfrentar a frota presente. Embora a tonelagem dela fosse consideravelmente maior que as naves tantorianas, cilíndricas e de no máximo oitenta metros de comprimento por vinte de diâmetro, a superioridade numérica deveria ter esmagado os humanos. Mas, para seu desespero, viu os mísseis batendo na nave humana e desaparecendo em um campo luminoso. Jamais encontrara campos de força tão eficientes. Ele não conhecia os centurianos porque esse povo não saía do seu sistema e as naves tantorianas que dele se aproximassem eram sumariamente destruídas,ou seja, nunca retornou uma sequer, mas começava a acreditar que realmente aquele povo do tal planeta Terra era muito superior, tecnologicamente falando. A verdade era que há mais de dois mil anos que não se sabia nada do sistema solar Centúria. – Cogitava, enquanto tentava uma nova alternativa, sem sucesso.
– "Isso não pode ser real, não pode estar acontecendo. Estes humanos são terríveis" – pensava. No rádio, ordenou. – Atenção, frota, ataquem com tudo o que tiverem, mas concentrem o fogo sobre um único ponto da nave. Procurem atingir o anel central porque acredito que tenha muitos equipamentos vitais, principalmente os propulsores. O fogo concentrado deve enfraquecer o campo de força deles e, se tiverem sucesso, a nave deverá ser destruída com alguma facilidade.
A esfera de cinquenta metros de diâmetro realmente concentrava uma série de aparelhos vitais nesse anel de cinco metros de comprimento e quatro de altura. Era onde estavam os dez jatopropulsores direcionais de partículas e parte dos aparelhos dos campos de força. Os propulsores eram cilindros de três metros de diâmetro que se moviam em várias direções, podendo manobrar a nave para qualquer sentido. Além deles, havia oito propulsores de ar supercomprimido e aquecido que serviam para o voo atmosférico de modo a não poluir o planeta. Só que o comandante alienígena não tinha a mínima ideia do que era necessário para fazer desmoronar os campos de força dos humanos e a nave nem sentia o ataque. Nesse momento, ela passou a disparar os seus raios térmicos super-potentes, com um diâmetro de cinquenta centímetros e um alcance assustador.
Impotente, viu dez naves da sua frota gloriosa explodirem ou desintegrarem. Assustado, aguardou os resultados.
– Frota, recuar e reposicionar. Aguardem novas instruções. Deixem a nave em paz porque somos impotentes contra ela.
Com um suspiro tipicamente humano, ele encostou-se na sua cadeira de comando, muito preocupado. Se a frota de Tantor não aparecesse logo, estavam perdidos. Afinal, essa nave humana nada poderia contra cinco mil naves de guerra tantorianas, ou será que podia? A dúvida deixava-o martirizado e preocupadíssimo.
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– Senhor, destruímos dez unidades – afirmou o oficial de armas. – Os desintegradores são muito menos eficientes que os raios térmicos, mas a vantagem deles é que não sobram destroços de espécie alguma, pois as naves são reduzidas a pó atômico.
– Obrigado pela informação, André. Vamos fazer uma pausa.
Com uma curva fechada Daniel acelerou a nave e os propulsores chiaram perante o esforço exigido, disparando alguns alarmes, logo silenciados.
– Nobuntu, consegue fazer isto? – perguntou para o gigante negro, o comandante da Africa III, a nave que descobriu a invasão, arriscando-se para obter informações e chamar a Terra. Ele simpatizava demais com aquele homem.
– Sim, senhor, tenho uma boa experiência no manejo de naves de grande porte e treinei bem os comandos desta no simulador.
– Excelente, meu amigo. – Daniel sorriu e saiu da cadeira, passando-lhe o lugar de comando. – Assuma o comando da nave auxiliar e entre em órbita geoestacionária sobre a cidade de Terra-Nova. Mantenha-nos na defensiva, mas não use os campos de supercarga a não ser em caso de ataque porque não posso passar por eles ao teleportar. Serei catapultado de volta e terei dores horríveis, além de ficar indefeso. Eu irei lá para baixo verificar algumas coisas.
– Entendido, Daniel, conte comigo. – Sorrindo alegre, o gigante de ébano, um homem de mais de dois metros, sentou-se na cadeira de comando da pequena nave. Pequena, mas tão poderosa que não havia nada no Império que se pudesse opôr a ela, exceto pela nave-mãe.
Ele observou o jovem retirar-se acompanhado da namorada e sorriu para si mesmo. Era só graças a ele que a Terra não sucumbiria aos invasores. Sentia uma simpatia genuína pelo Daniel, sem saber que isso tornar-se-ia em uma profunda amizade que duraria vários séculos.
– "E agora, meu amor" – perguntou Daniela. – "O que pretendes fazer?"
– "Aguardar a minha nave. Se ela não chegar até ao fim do ultimado, atacarei a frota toda com esta nave, que já provou ser mais do que eficaz, ainda bem, porque eu estava preocupado, verdadeiramente preocupado."
– "Eu notei, amor." – Ela abraçou-o, muito feliz. – "Mas sempre tive fé em ti. Agora, és o salvador de Terra-Nova."
– "Bah, eu não sou salvador nem de mim mesmo!" – Daniel largou uma risada gostosa. – "E eu que nunca fui dado a chamar a atenção. Bem, vou saltar para o planeta e falar com o comandante batráquio para ver se ele caiu na real. Fica aqui para nos comunicarmos caso aconteça alguma modificação nas atitudes dessas lagartixas."
– "Claro, meu anjo, queres que eu diga alguma coisa ao comandante?"
– "Diz que fui à superfície e, se eu precisar de dar alguma instrução, fá-lo-ei por teu intermédio, se bem que posso transmitir direto para ele."
– "Ok amor, toma cuidado que não estou preparada para ficar viúva antes de me casar." – Ela sorriu, apertou-o com força e beijou-o, cheia de carinho. Ao ver o seu rosto, pensou em quantos anos passou sonhando com aquele homem, sem saber que ele era real e mais que isso, era a sua alma gêmea a qual jamais deixaria de ficar longe de si, tamanho era o amor que sentia, uma felicidade enorme.
– "Terei cuidado, lindinha." – Olhou para ela e voltou a beijá-la nos lábios. Sem se darem conta, ambos pensavam a mesma coisa e Daniel já sabia que alcançara a sua serenidade total.
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Em Terra-Nova, o comandante tantoriano estava desorientado e transtornado. Sozinho na sala de comando após expulsar de lá todos os oficiais, reprisou pela décima vez o filme da batalha. Precisava de ganhar tempo porque aguardava reforço e não sabia quais eram as futuras intenções do diabo da Terra. Desolado, voltou a ver a facilidade com que aquela esfera enfrentava a frota de trezentas unidades. Viu a nave atirar e cada tiro disparado pelos humanos era um cilindro a menos na sua frota, que ele julgava poderosa e imbatível. Eles não precisavam de dar um segundo disparo. Depois, a nave acelerou de um jeito que era impossível de compreender.
– "Esses malditos humanos deveriam ficar esmagados com o impulso da aceleração" – pensou. Um cálculo rápido do computador acusou mais de mil g.
– Nós usamos neutralizadores de inércia, comandante – disse Daniel, que chegou naquele momento e lhe leu os pensamentos sobre a aceleração. – Lá, não se sente nada.
– E como conseguem acelerar daquele jeito? – perguntou tão curioso que o tratou como se fosse um simples visitante, sem se abalar com a sua aparição.
– Simples, comandante, neutralizadores de massa e propulsores de alta performance. Gostou do meu barquinho? É apenas uma nave auxiliar, bem pequena. – Com as mãos fez uma mímica, colocando o dedo polegar e indicador afastados um do outro por um centímetro. – Na minha nave, transportamos doze dessas. Acha mesmo que pode enfrentar o poderio da Terra? Apenas um cruzador seria suficiente para destruir a sua frota patética, comandante, até o seu planeta inteiro, se fosse preciso. Lembre-se, meu caro, que faltam apenas nove dias para o ultimato se cumprir. Depois disso, não terei a menor contemplação com vocês. Afinal, não é por falta de avisos da nossa parte. Não entendo como não caem na razão. – Dizendo isto, desapareceu no ar.
A nave do Daniel orbitava em volta do planeta sem ser incomodada. Os lagartos aprendiam rápido e sabiam que ela era inexpugnável para o contingente que possuíam ali. Muitos comandantes começavam a perguntar de si para si se não seria melhor desaparecerem daquele sistema e esquecer tudo. Infelizmente, o seu fundamentalismo radical prevaleceu. Perder para humanoides era, para eles, inconcebível e inaceitável. Já chegava os malditos centurianos.
Ambos os lados aguardavam. Uma espécie de trégua surgiu entre eles, como a bonança que precedia a grande tempestade, tempestade aquela inevitável e prevista para breve.
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